Já não é novidade para ninguém que ao longo de muitos anos, neste país andava um grupo de chicos-espertos bem identificados e completamente desligados com o que de mais de recto, honesto e sério se devia fazer para melhorar a gestão do país. Não lhes interessava o cumprimento das leis que eles próprios faziam ou mandavam tricotar e aprovar, depois de concertações rechonchudamente remuneradas; passavam por cima de tudo e de todos, colocavam em sentido as instituições do Estado encarregues de fazer valer os direitos da maioria, enfim, era um sem fim de atropelos e desmandos que um país de mais de 1 milhão kilómetros quadrados se resumia a meia dúzia de herdades transformadas em “ninhos de marimbondos”.
Era essa gente que detinha as chaves do passado, do presente e do futuro de uma Nação; que era proprietária dos seus recursos, os bancos, empresas e um sem fim de meios colocados à sua disposição para que fosse capaz de produzir, inclusive, “o ar que as pessoas respiravam”, conforme disse um daqueles seres torpes, esses, sim, paridos por eles, transformados em seus porta-vozes. Constituiram-se em “donos disto tudo”, os magnatas de índole duvidosa, desde sempre protegidos por quem se dizia defensor dos direitos da maioria que lhe sustentou no poder, mas que, afinal, era silenciada e amordaçada num meio de pobreza extrema.
É com esta gente que o povo foi capaz de conviver e suportá-la, sem que pudesse levantar o seu grito de indignação e se alguns mais corajosos o fizessem, logo se esbarravam com leis claramente contrárias ao espírito e à letra de uma Constituição da República considerada das mais modernas e democráticas do mundo.
Foi preciso suportar todas as dores de crescimento de uma democracia frágil e de uma sociedade civil amedrontada que , pouco a pouco, foram dando sinais de que algum dia a fanfarra daquela “gente” poderia ser parada. E, assim, há pouco tempo se foi fazendo luz nos partidos políticos, nas organizações de massas conscientes, nas associações sócio-profissionais desligadas do “sistema” daquela “gente”; na imprensa, na academia e , completamente transformada, Angola vai sendo vista com alguma seriedade no mundo. Ainda que de forma lenta, lá isso é verdade, mas que o país mudou…mudou!
E “aquela gente”, hoje, vai sendo encostada às cordas, depois de ter dado tantos pontapés a quem se lhe aparecesse pela frente, esmagando-os com as promessas mentirosas e com o chicote da repressão cínica, bastas vezes sem sangue e lágrimas, mas na mesma eficazes; transformando muitas mentes sadias em meros robôs, espantalhos políticos e militares servidores dos seus interesses corporativos. Não deixaram “nada para contar história do deve e haver”. Colocaram o país no início do fim de uma desgraça geral; um inferno do qual a maior parte já dava sinais que de lá jamais poderia sair. De resto, quase já ninguém se importava quem fosse penalizado nas urnas, mais importava, sim, quem estivesse no poder.
O desânimo era evidente nos dias vividos de medos e de muita incerteza. Já poucos acreditavam que um dia, por exemplo, tanta gente fosse obrigada, hoje, a declarar os seus bens!E a coisa é mais para cumprir…Não há muitos dias, a notícia chegou ameaçadora, aterradora e ao mesmo tempo inesperada, pelo menos para alguns que ainda acreditavam no “tesoureiro do costume” heróico e imortal. A notícia que teimava em não surgir durante mais de trinta anos dizia, num resumo dramático, que os titulares de cargos públicos deviam imediatamente declarar os seus bens! E lá vinha a data, decisiva e incontornável: até ao dia 22 de Abril de 2019!.
E quem eram estes indivíduos que deviam “prestar declarações”, obedecer à lei, andarem às direitas, sem truques e tricas? Pois são também os nossos digníssimos titulares de cargos políticos, de cargos de direcção e chefia e demais gestores públicos, incluindo de empresas públicas e empresas de domínio públicos. Objectivo? Simples:Todos eles, com carácter urgente, são obrigados, a remeterem à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) ou ao Serviço Nacional de Contratação Pública (SNCP) “as declarações de interesses, de bens e de rendimentos e de imparcialidade, confidencialidade e independência, conforme o caso”.
Ora, e se cumprirem, o que teremos?Certamente mais transparência., mais ética, mais verdade e mais País.E certamente aquela gente terá menos espaço para travar o rumo pretendido pela maioria: simplesmente um “país bom para se viver”.Desta vez… a sério! Abril/2019
P.S.- São memórias, apenas simples memórias…
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