Dossier

Guerra na Ucrânia: UM TERRAMOTO GEO-POLÍTICO EUROPEU COM “CHEIRO” A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

Escrito por figurasnegocios
Texto: Carlos Miranda
No momento em que escrevíamos estas linhas, oito dias após a guerra ter iniciado na Ucrânia, variados engenhos explosivos rebentavam, de noite ou de diam, na capital do país. De Kiev e de outras importantes cidades teriam deixado as suas casas mais de um milhão de pessoas, maioritariamente mulheres, velhos e crianças , deixando para trás um rasto de destruição, e sem perspectiva de regressar em paz . Enquanto isso, em pelno menos duas outras grandes cidades, como Kherson ou Kapriv, veículos militares e soldados russos fortemente armados as ocupavam, depois de combates violentos, resultando daí centenas de mortos e feridos de ambos os contendores.

Oito dias depois, ainda se ouviam explosões originadas por mísseis russos, diversos equipamentos de comunicação deitados abaixo, a energia eléctrica e o abastecimento de água cortados e milhares de pessoas a viver em bunkers ou na imensidão dos túneis dos metrôs, por sinal um um dos mais profundos do mundo, ou em outros lugares subterrâneos , grande parte dos quais construídos durante a Segunda Guerra Mundial.

Devido à forte guerra informativa, desencadeada pelas duas partes em conflito directo e das grandes estações noticiosas televisivas, de imprensa e de rádio mundiais, nesta altura nada estava claro sobre o número de mortes causadas por esta guerra, nem sequer se sabia, ao certo, quantos edifícios e instalações militares de Kiev teriam sido arrasados. O que se sabe é que de nada saiu de positivo sobre as negociações entretanto timidamente reiniciadas entre as duas partes em conflito para se chegar, no mínimo , a um acordo de cessar fogo. Este cenário possibilitaria, em primeiro lugar, abrir um corredor , no sentido de os civis partirem para locais muito mais seguros, talvez até para o lado que mais ataca e menos sofre….

O que se sabe é que iniciou-se um novo ciclo selvático de se resolver a maka geo-política, se calhar de conquista de todos os sistemas económico-financeiros, tecnológicos ou mesmo a burra necessidade extrema de se voltar a construir um novo muro que, reza a história, dividiu o mundo entre o Leste resistente e o Ocidente europeu conquistador. O resultado é o recrudesceder de ódios não esquecidos e acordos que num dia não muito distante foram assinados entre prolongados “tchin-tchins” de vodka russo ou cerveja ucraciana, almofadados com hambúrgueres de Nova York ou caviar de Moscovo.

Neste dia – 3 de Março em que fechávamos a edição, os médias informavam que a cidade de Kiev esteve literalmente sem dormir, pois durante mais de quarenta e oito horas esteve à “espera” da invasão e captura final, pois um enorme “comboio” de veículos militares russos preparavam-se para entrar e impor a força do poder de quem tem em sua posse o maior arsenal nuclear do mundo.
No sul, segundo informou a BBC, já tinham caído a cidade portuária de Kherson e a cidade portuária de Mariupol. No nordeste, registavam-se bombardeamentos pesados em Kharkhiv, a segunda maior cidade da Ucrânia .Mais de um milhão de pessoas já tinham fugido da Ucrânia desde o início da invasão, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU); um número que certamente foi aumentando, à medida que as forças russas foram avançando, com sucesso convincente, sobre Kiev. Kharkhiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, continuava a ser alvo de bombardeios e prestes a ser controlada.

No meio de tanta guerra informativa, foi revelado que a Rússia tinha sofrido fortes baixas militares durante o ataque à Ucrânia, com 498 soldados mortos e mais de 1.597 feridos. Isto dito pelas autoridades de Kremlin… Do lado do governo da Ucrânia, afirmava-se , por sua vez, que as baixas russas foram muito maiores . Kiev afirmava ter matado 5.840 soldados russos. A Rússia também declarava que mais de 2.870 militares ucranianos foram mortos e cerca de 3.700 ficaram feridos. Kiev, mais tarde, calou-se; deixou de fornecer números em termos de baixas militares.

Entretanto, o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a Acnur, previa que este conflito poderia provocar mais de 12 milhões de pessoas desalojadas ou com necessidade de receber ajuda. Até 03 de Março, calculava-se que mais de 2 mil civis perderam a vida, as equipas de resgate apagaram mais de 400 incêndios que eclodiram após bombardeios russos em todo o país e desarmaram 416 explosivos.

Com a devida vência, nas páginas que se seguem tentaremos fornecer o maior número de informações possível para que se tente perceber esta guerra instalada na Europa , certamente inesperada, provavelmente estúpida, mas concretamente devastadora para o futuro de todas as nações, quer as envolvidas directamente como indirectamente num combate, que pode desembocar numa guerra nuclear. So corrémo-nos nos despachos da BBC Brasil,cujos conteúdos diários mereceram, e continuam a merecer, uma acentuada audiência e o reconhecimento sincero da mestria dos seus correspondentes. Vamos analisá-los?


Rússia invade Ucrânia
DEZ QUESTÕES PARA ENTENDER A CRISE

Texto: Julia Braun
Da BBC News Brasil em São Paulo
A Ucrânia foi invadida no dia 24 de fevereiro por comboios russos chegando de todas as direções. Desde então, há relatos de ataques em todo o país, com mortes de militares e civis. Após meses negando qualquer intenção de atacar seu vizinho, o presidente Vladimir Putin ordenou o ataque militar em larga escala e adentrou as fronteiras ucranianas por terra, mar e ar.
À medida em que o número de mortos aumenta, Putin é acusado de colocar em risco a paz no continente europeu. Putin colocou a força nuclear estratégica da Rússia em “alerta especial” — o nível mais alto. Os Países europeus e EUA reagiram com sanções e ajuda à Ucrânia, mas já manifestaram que não pretendem enviar tropas para conter a invasão russa. A seguir, a BBC News Brasil reuniu os principais tópicos necessários para entender o conflito e as perguntas que ainda precisam ser respondidas nos próximos dias.
  1. Quais as justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia?

Vladimir Putin anunciou uma “operação militar” na região de Donbas, no leste da Ucrânia, em um pronunciamento televisionado na manhã do dia 24 de fevereiro.O presidente russo disse que estava intervindo como um acto de legítima defesa. Segundo ele, a Rússia não queria ocupar a Ucrânia, mas sim proteger a população local de um genocídio e desmilitarizar e “desnazificar” o país. Putin afirma com frequência que a Ucrânia está sendo tomada por extremistas desde que seu presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi deposto em 2014 após meses de protestos contra seu governo.

Após a queda do chefe de Estado ucraniano, a Rússia invadiu e anexou a região da Crimeia, no leste do país. A movimentação desencadeou uma rebelião separatista nas regiões de Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes apoiados por Moscou lutam desde então, em uma guerra que já custou 14.000 vidas. No final do ano passado, Putin passou a enviar tropas para as regiões de fronteira com a Ucrânia e no dia 21 de fevereiro — três dias antes da invasão — reconheceu a independência das duas regiões separatistas.

O líder russo ainda afirmou que os acordos de Minsk, acordados em 2014 e 2015 entre Ucrânia e Rússia para estabelecer um cessar-fogo, já não eram mais válidos. Para além das acusações de extremismo, Putin há muito resiste ao movimento da Ucrânia de aproximação com instituições controladas pelos americanos e europeus, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Ele exige garantias que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro e, ao anunciar a invasão da Rússia, acusou a Otan de ameaçar “nosso futuro histórico como nação”. Putin quer ainda que a Otan abandone totalmente sua presença militar no leste europeu, que inclui também exercícios militares regulares na Lituânia, Letônia e Estônia. Esses ex-estados soviéticos passaram a fazer parte da aliança militar comandada pelos Estados Unidos e Europa, ampliando ainda mais os temores de Moscovo de perder o controla sobre a região.

  1. Por que a invasão ocorreu agora?

É difícil saber exactamente qual a estratégia do governo russo nesse momento. Mas a resposta para entender por que Putin escolheu agir agora pode passar pelo equilíbrio de poder.Enquanto se aproxima cada vez mais da Otan e da União Europeia, a Ucrânia vem se fortalecendo lentamente e conseguiu reconstruir seu exército desde a anexação da Crimeia em 2014.

O conflito há oito anos e as lutas separatistas desde então também serviram como uma valiosa experiência no combate contra as forças russas.Ao mesmo tempo, as Forças Armadas russas também se encontram em sua melhor forma desde a Guerra Fria.

As finanças públicas de Moscovo estão equilibradas, com as reservas do Banco Central atingindo US$ 640 bilhões, segundo a revista Forbes. O total é um recorde para o país e equivale a 17 meses de receita integrais obtidas com as exportações nacionais. Dessa forma, é possível que Putin acredite que este é o melhor momento para agir do ponto de vista militar. O líder russo também parece acreditar que tem condições de arcar com os custos do conflito e das inevitáveis sanções.

  1. O que a Ucrânia diz sobre o ataque?

Desde que a Rússia deslocou suas primeiras tropas para a fronteira com a Ucrânia, o governo do presidente Volodymyr Zelensky tem protestado contra os avanços e pedido apoio da Otan e outros aliados. Pouco antes do anúncio de Putin sobre a invasão, o líder ucraniano foi enfático ao afirmar que um ataque ao seu território poderia “marcar o início de uma grande guerra no continente europeu”.

Zelenski disse que tentou entrar em contato com Putin, mas o líder russo se recusou a atendê-lo. O ucraniano rejeitou as alegações do Kremlin de que seu país está tomado por extremistas ou representaria alguma ameaça à Rússia, e disse que uma possível invasão iria custar milhares de vidas.

“Você diz que somos nazistas, mas como um povo pode apoiar os nazistas sendo que demos mais de oito milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo?”, questionou Zelensky em um discurso televisionado, fazendo referência às disputas da Segunda Guerra Mundial.

Quando o ataque se tornou uma realidade incontestável, a Ucrânia decretou lei marcial — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e cortou relações diplomáticas com a Rússia. O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa na Ucrânia que desejasse.

Com o avanço de forças russas na direção da capital Kiev, autoridades locais pediram à população que faça todo o possível para resistir às tropas invasoras. Os ministérios da Defesa e do Interior passaram a pedir a moradores de Kiev que “nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo”.

Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema internacional de transferência bancária Swift. Putin quer que a Otan interrompa sua expansão e retorne ao tamanho que tinha em 1997

  1. Quais os interesses russos nas Províncias separatistas?

O decreto de reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk permite que a Rússia construa bases militares e envie tropas russas em “missões de paz” para as duas regiões. Os líderes dessas separatistas solicitaram apoio militar russo depois do reconhecimento de sua independência.

Tecnicamente, os militares russos agora têm sinal verde para entrar na área disputada, que além de ser historicamente ligada a Moscovo por laços culturais e políticos, também representa um ganho do ponto de vista econômico e estratégico para Rússia.

Ambas as províncias estão localizadas no chamado “cinturão da ferrugem” da Ucrânia, uma área rica em minerais, principalmente aço. Donetsk e Luhansk também fazem parte de uma região conhecida como bacia de Donbass, na fronteira com a Rússia, que abriga vastas reservas de carvão.

Devido à sua localização geográfica, a área ainda constitui uma via natural de acesso à Crimeia, península anexada pelo Kremlin em 2014. Grande parte da população da região fala russo, fato que é um dos principais argumentos do Kremlin para justificar seu apoio aos insurgentes da região.

  1. Há risco de uma 3ª Guerra Mundial?

Por pior que seja a situação entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a Otan e a Rússia. Ao que parece até o momento, a linha vermelha para a Otan é se a Rússia ameaçar algum de seus Estados membros.

Quais as chances de conflito na Ucrânia se transformar em 3ª Guerra Mundial?

De acordo com o Artigo 5º da organização, a aliança militar é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado. A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar — algo que Putin está determinado a impedir.

Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia — que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos — são todos membros da Otan. Esses governos estão claramente temerosos de que as forças russas possam não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de “ajudar” minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países.

Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu. Mas quão preocupado você deve estar? Segundo especialistas que estudam o tema, enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala. “Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus”, disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22/2) à BBC.

  1. Quais as chances do conflito se transformar em disputa nuclear?

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse colocou a força nuclear estratégica da Rússia em “alerta especial” — o nível mais alto. Putin disse que as nações ocidentais tomaram “ações hostis” em relação à Rússia e impuseram “sanções ilegítimas”.

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, reagiu ao anúncio de Putin afirmando que em nenhum momento a Rússia esteve sob ameaça da Otan. A Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, o que desperta temores em todo o mundo de um conflito violento. A apreensão em torno dessa questão se tornou ainda maior depois que Moscou organizou um exercício militar com armas nucleares na última semana e as forças armadas russas avançaram contra a planta nuclear desativada de Chernobyl, próximo à cidade fantasma de Pripyat, nesta quinta-feira.

Mas segundo especialistas em segurança e política nuclear, não há motivos para pânico no momento. Por ora, acredita-se que o conflito atual não deve escalar para uma guerra envolvendo outras potências tão facilmente, e a Ucrânia não possui um arsenal nuclear próprio.

“Putin disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça nuclear”, diz Alexander Lanoszka, professor de Relações Internacionais da Universidade de Waterloo e especialista em segurança nuclear.

“Mas há um interesse comum de todas as partes de restringir esse conflito à Ucrânia, então eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste momento”. Segundo o especialista, as armas nucleares estão sendo usadas pela Rússia neste contexto apenas como ameaças para barrar qualquer intenção dos EUA ou outra potência de interferir no confronto.

A Rússia, assim como outros países que têm apoiado a Ucrânia como os EUA, o Reino Unido, e a França, assinaram no início deste ano um tratado em que se comprometem na prevenção de uma guerra nuclear e contra a corrida armamentista. Essas nações também são signatárias do Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP), válido desde 1970.

  1. O que a população russa pensa sobre a invasão?

A invasão é recente e é difícil saber exatamente como a população russa enxerga os últimos acontecimentos na Ucrânia. Mas desde que a tensão começou a escalar na região, a popularidade de Vladimir Putin cresceu na Rússia. Levantamento do centro independente Levada Center mostra que atualmente cerca de 69% dos russos aprovam o governo do presidente, contra 61% em agosto de 2021.

E se 29% dos russos desaprovam o governo de Putin hoje, 37% o reprovavam há cerca de seis meses.Uma outra pesquisa divulgada também pelo Levada Center na última terça-feira (22/02) mostrou ainda que 45% dos russos apoiam a decisão do presidente de reconhecer a independência das Províncias de Donetsk e Luhansk.

Nas redes de televisão e jornais estatais, controlados pelo Kremlin, a invasão também é retratada com tons positivos. Já entre activistas e jornalistas independentes se multiplicam as expressões de rejeição e revolta. Uma petição organizada pela repórter Elena Chernenko, do jornal local Kommersant, reuniu assinaturas de 100 outros jornalistas que condenam a operação militar russa. (…)

  1. Que países condenaram e que países apoiaram a Rússia?

A invasão russa provocou reacções fortes na Europa e nos Estados Unidos — com a interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin “escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano”.

Num pronunciamento no primeiro dia da invasão, o americano ainda anunciou novas sanções contra a Rússia que atingem as transações do governo russo em moedas estrangeiras e bloqueiam os ativos dos quatro grandes bancos russos. Biden também reiterou que as forças dos EUA “não estão e não estarão” envolvidas no conflito entre Rússia e Ucrânia. Quais são os países aliados da Rússia de Putin?

Nas redes de televisão e jornais estatais, controlados pelo Kremlin, a invasão também é retratada com tons positivos. Já entre activistas e jornalistas independentes se multiplicam as expressões de rejeição e revolta

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar “chocado com os eventos horríveis na Ucrânia” e que Putin “escolheu um caminho de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem provocação”.

Johnson anunciou ainda as sanções que o Reino Unido aplicará à Rússia, entre elas o congelamento de ativos de indivíduos e de bancos russos e a exclusão destas instituições do sistema financeiro britânico, veto a financiamentos ou empréstimos a empresas russas, proibição de que a companhia aérea Aeroflot pouse no Reino Unido, suspensão das licenças de exportação de itens que podem ser usados para fins militares, de alta tecnologia e de refinamento de petróleo, além de outras medidas.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou o “ataque irresponsável” da Rússia, dizendo que “coloca em risco inúmeras vidas de civis”. Jessica Parker, correspondente de política da BBC, informou que a União Europeia (UE) poderia, em represália à Rússia, suspender parte de seu acordo de facilitação de vistos com o país como parte de seu novo pacote de sanções.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Rússia corre o risco de um “isolamento sem precedentes” por sua ação militar na Ucrânia. “Condenamos veementemente o ataque injustificado da Rússia à Ucrânia”, disse.

França, Alemanha, Itália, Polônia, Espanha e outras nações europeias também condenaram a ação. Japão e Austrália classificaram a acção como uma violação das normas internacionais.

Mas apesar dos muitos posicionamentos contrários, a Rússia possui aliados que manifestaram apoio directo e indirecto à Moscovo.Os principais parceiros russos pertencem a um bloco chamado de Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), que além da própria Rússia inclui Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

Belarus concordou em receber milhares de soldados russos em seu território a partir de 2020, e essas tropas apoiaram a ofensiva contra a Ucrânia na manhã desta quinta-feira, usando suas posições para fogo de artilharia. Os governos da Síria, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irão também se pronunciaram de forma favorável à Rússia, fazendo coro às acusações de Moscovo contra a Otan.

A China, por sua vez, vem se aproximando cada vez mais da Rússia, apesar de nunca ter apoiado diretamente uma incursão na Ucrânia. Numa colectiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, evitou usar a palavra invasão. O diplomata disse ainda que Pequim entende as preocupações de segurança da Rússia.

  1. Qual foi a reação do Brasil?

No Brasil, as respostas oficiais do Executivo à invasão começaram com manifestações do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do vice-presidente, Hamilton Mourão.  Em conversa recente com a imprensa , o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil manterá “neutralidade” no conflito.

A declaração de Bolsonaro contradiz o voto dado pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Na sexta-feira (25/2), o Brasil foi um dos 11 países a votar para condenar a invasão da Rússia à Ucrânia. “Não tem nenhuma sanção ou condenação ao presidente Putin”, disse Bolsonaro . “O voto do Brasil não está definido e não está atrelado a qualquer potência. Nosso voto é livre e vai ser dado nessa direção. A nossa posição com o ministro Carlos França é de equilíbrio. E nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá”.

O Itamaraty divulgou uma nota em que não condena explicitamente as acções russas, mas afirma que o país acompanha as operações militares na região com “grave preocupação” e pede a “suspensão imediata das hostilidades”. “O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”, diz um trecho da nota divulgada pelo MRE.(…)

O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que o Conselho de Segurança deve agir urgentemente diante da agressão da Rússia. “O enquadramento do uso da força contra a Ucrânia como um ato de agressão, precedente pouco utilizado neste Conselho, sinaliza ao mundo a gravidade da situação”, afirmou.

  1. Como o Brasil pode ser afectado?

Segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil, os principais efeitos da crise na Ucrânia serão sentidos na economia brasileira. Esse impacto pode chegar aqui na forma de um aumento na inflação e na alta nos preços do petróleo e seus derivados.

A Rússia é actualmente um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o conflito militar e a imposição de sanções podem paralisar a produção e a exportação da commodity. “Uma invasão deve ser respondida com sanções mais graves do que as que já estão sendo aplicadas actualmente. Isso impacta directamente na subido dos preços do petróleo e, consequentemente, no aumento dos preços dos combustíveis no Brasil”, afirmou o economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, à BBC News Brasil.

Por sua vez, o aumento no preço do petróleo impacta directamente na inflação mundial e, consequentemente, na brasileira, que já vem sofrendo uma alta desde o ano passado. Economistas apontam ainda que a imposição de sanções contra a Rússia pode prejudicar indiretamente o mercado nacional, em especial o agronegócio brasileiro, que tem a Rússia como sua principal fonte exportadora de fertilizantes.

“Com as sanções ou até a perda de capacidade de exportação russa, os fertilizantes se tornam mais caros e a rentabilidade dos produtores brasileiros cai, afectando sua capacidade de continuar a ampliar a oferta nos próximos anos”, avalia Maílson da Nóbrega.

Tudo isso pode ainda impactar diretamente no resultado das eleições presidenciais, marcadas para outubro, já que o peso de problemas econômicos e inflação alta costuma sempre cair sobre o chefe de Estado actual.(…)


Sim ou não?
QUAIS SÃO AS CHANCES DE REBENTAR A III GUERRA MUNDIAL

Texto: Frank Gardner
Repórter de Segurança da BBC News
Vamos directo ao assunto: estamos testemunhando o prelúdio da 3ª Guerra Mundial? Convenhamos, isso é o que muitas pessoas estão perguntando e pensando diante das recentes ações do Kremlin contra a Ucrânia — e que desencadearam uma enxurrada de denúncias e sanções por parte do Ocidente.

A resposta é: não. Por pior que seja a situação na fronteira entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a aliança militar Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia. Aliás, enquanto os EUA e o Reino Unido observavam nos últimos anos a Rússia montar uma força capaz de invadir a Ucrânia, eles rapidamente retiraram seu pequeno número de conselheiros militares.

“É uma guerra mundial quando americanos e russos começarem a atirar uns nos outros”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, no início deste mês, prometendo que não enviaria tropas americanas para a Ucrânia sob nenhuma circunstância.Mas líderes ocidentais ainda temem que a Rússia possa estar pronta para realizar uma invasão da Ucrânia em uma escala ainda maior.

O quão preocupado se deve estar ainda depende de vários faCtores — quem você é, onde você está e o que a Rússia fará em seguida.Se você é um soldado ucraniano da linha de frente no leste da Ucrânia, claramente a situação é extremamente perigosa. E para milhões de ucranianos, o medo de como a crise afetará seus cotidianos está sempre presente.

Apenas o presidente Putin e seu círculo íntimo de confiança sabem o quão longe ele pretende levar essa crise. Enquanto a acção da Rússia se concentrar em Donestsk e Lugansk, mesmo a movimentada capital ucraniana Kiev, e outras cidades, não estarão a salvo de ataques. Mas a linha vermelha para a Otan e o Ocidente é se a Rússia ameaçar algum Estado membro da Otan.

De acordo com o Artigo 5 da Otan, a aliança militar ocidental é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado. A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar — algo que Putin está determinado a impedir.

Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia — que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos — são todos membros da Otan. Esses governos estão claramente nervosos com o facto de que as forças russas podem não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de “ajudar” minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países.

Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu. Mas quão preocupado você deve estar? Enquanto não houver conflito directo entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala.

Não vamos esquecer que a Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, então os riscos são estratosfericamente altos. A velha máxima da Guerra Fria de “Destruição Mutuamente Assegurada” (MAD, em inglês) ainda se aplica. “Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus”, disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22/2).

Mas o imprevisível aqui é o estado de espírito de Putin. Muitas vezes descrito como friamente calculista, como o enxadrista e lutador de judô que é, seu discurso na segunda-feira (21/2) parecia mais o de um ditador raivoso do que o de um estrategista astuto. Chamando a Otan de “perversa”, ele disse com todas as letras que a Ucrânia que não tinha o direito de existir como uma nação soberana independente da Rússia. Isso é preocupante.

O Reino Unido não é o único país a punir a Rússia com sanções — os EUA foram mais longe e a Alemanha, por exemplo, adiou a aprovação do enorme gasoduto Nord Stream 2 da Rússia. Mas o Reino Unido foi pioneiro nas sanções. A Rússia já tem um plano para reagir às sanções. As empresas ocidentais na Rússia provavelmente sofrerão. Mas tudo pode piorar bem mais, se Putin assim quiser.

A vingança pode vir na forma de ataques cibernéticos — algo sobre o qual o Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido já alertou. Muitas vezes difíceis de atribuir ao governo russo, esses ataques podem ter como alvo bancos, empresas, indivíduos e até infraestruturas nacionais fundamentais.

O problema agora é que, após anos de declínio das relações com Moscovo, inclusive com o envenenamento de dissidentes russos em solo britânico, a confiança mútua entre a Rússia e o Ocidente é quase zero. E esse é um cenário perigoso em meio à crise em curso na Ucrânia.


China entre os mais fortes
QUAIS SÃO OS ALIADOS DE PUTIN

A invasão russa à Ucrânia provocou reações fortes do Ocidente — com a interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.Mas nem todos os países repudiam a iniciativa de Vladimir Putin. Alguns líderes manifestaram apoio direto à Moscou. Em meio à uma das maiores crises militares e políticas na Europa nos últimos anos, quem são os aliados da Rússia?

O Pacto de Varsóvia foi um importante bloco formado em 1955 pela então União Soviética com outras nações na sua esfera de influência – uma reação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — que fora criada na década anterior. Tanto o Pacto de Varsóvia quanto a Otan tinham o mesmo objetivo: garantir que todos os Estados membros reagissem militarmente a qualquer agressão a outro Estado membro.

Alguns dos países que assinaram o Pacto de Varsóvia nem existem mais, como a Alemanha Oriental e a Checoslováquia. E outros que assinaram o pacto soviético hoje estão na Otan e se opõem a Putin: é o caso de Hungria, Romênia, Bulgária e Polônia (além de Eslováquia e República Checa, que formavam a Checoslováquia).

O país da OTSC com acção mais decisiva nesta crise é Belarus, que coordenou exercícios militares junto com a Rússia. Durante os exercícios, a Rússia e Belarus posicionaram tropas nas suas fronteiras com a Ucrânia. Mais de 30 mil soldados russos estão posicionados em Belarus. Parte da invasão da Ucrânia está acontecendo via Belarus.

O governo de Belarus vem enfrentando protestos de oposição nos últimos anos. No ano passado, centenas de imigrantes tentaram deixar o país em direção à Polônia, que faz parte da União Europeia. O presidente Alexander Lukashenko, frequentemente chamado de “o último ditador da Europa”, controla Belarus há 26 anos e conta com o apoio de Putin. No final do ano passado, ele jogou hóquei no gelo com Putin durante visita à Rússia — principal parceiro econômico do país.(…)

A OTSC foi justamente a autoridade invocada para justificar as tropas russas no Cazaquistão. Apesar de ser visto como um país com ligações próximas à Rússia, o Cazaquistão não reconheceu a independência de regiões separatistas da Ucrânia, surpreendendo a muitos. As autoridades do Cazaquistão vêm tomando medidas para evitar a desvalorização da moeda nacional, que está sofrendo impactos da crise na Ucrânia.

O Cazaquistão também recusou um pedido russo para que enviasse tropas à Ucrânia. Essa posição cautelosa também foi tomada por outros dois países da OTSC aliados de Putin: Quirguistão e Tadjiquistão.

Síria – O governo da Síria foi explícito em seu apoio à decisão da Rússia de reconhecer as duas regiões controladas por separatistas apoiadas por Moscou no leste da Ucrânia como independentes. Putin é um dos maiores aliados de Bashar al-Assad e a participação russa na guerra na Síria foi tida como fundamental para manter o líder no poder.(…)

Uma autoridade russa disse que falou com Bashar al-Assad e que o líder sírio prometeu reconhecer as duas regiões, assim como a Síria já fez com a Ossétia do Sul e Abecázia em 2008. Putin é um dos maiores aliados de Assad desde 2011, quando uma sangrenta guerra civil eclodiu na Síria. A participação russa foi tida como fundamental para manter Assad no poder, e a Rússia ainda possui bases militares no país.

Venezuela – Na América do Sul, o regime venezuelano de Nicolas Maduro é um dos principais aliados da Rússia. Na terça-feira, após Putin reconhecer a independência de regiões separatistas da Ucrânia, mas antes da invasão russa, Maduro declarou: “A Venezuela está com Putin, está com a Rússia, está com as causas corajosas e justas do mundo, e vamos nos aliar cada vez mais.”

“O mundo pensa que Putin vai ficar parado sem fazer nada, sem tomar medidas para proteger seu povo? É por isso que a Venezuela expressa seu total apoio ao presidente Vladimir Putin em seus esforços para proteger a paz na Rússia, na região.”

A Rússia é um importante parceiro comercial da Venezuela e mantém laços estratégicos com o país. Os russos são alguns dos principais fornecedores de equipamentos bélicos para as forças militares venezuelanas, que receberam nos últimos anos caças supersônicos e tanques de guerra. Além disso, o país também vende grandes quantidades de outras armas, como fuzis.

A presença de equipamento militar russo em um país dentro da América Latina é vista com preocupação por autoridades americanas. Em janeiro de 2019, durante protestos contra o regime de Maduro que acabaram em confrontos, o presidente Putin demonstrou apoio ao líder venezuelano e eles conversaram por telefone.

Um comunicado divulgado pelo Kremlin após o telefonema diz que Putin “enfatizou que a interferência externa destrutiva é uma grande violação das normas fundamentais do direito internacional”.

Cuba –  Putin mantém laços cordiais com os cubanos, numa postura que lembra, em alguma medida, a histórica relação entre Cuba e a ex-União Soviética. A Rússia continua como um dos principais parceiros comerciais de Cuba e um dos maiores críticos do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos ao país. Nos últimos anos, a Rússia enviou ajuda humanitária para Cuba enfrentar a pandemia de covid-19.

No dia 24 de janeiro, enquanto a crise russo-ucraniana aumentava, Putin e o presidente de Cuba, Miguel Diaz Canal Bermudes, tiveram uma conversa por telefone, em mais uma demonstração de proximidade entre os dois. Após a invasão da Ucrânia, Cuba emitiu uma nota na qual não menciona os russos, mas critica duramente os EUA por impor “a expansão progressiva da OTAN em direção às fronteiras da Federação Russa”.

“O governo dos EUA vem ameaçando a Rússia há semanas e manipulando a comunidade internacional sobre os perigos de uma ‘invasão maciça iminente’ da Ucrânia. Os EUA forneceram armas e tecnologia militar, enviaram tropas para vários países da região, aplicaram sanções unilaterais e injustas e ameaçaram com outras represálias”, diz a nota de Cuba.

A agência de notícias Reuters afirmou que a declaração de Cuba foi feita poucas horas depois de a Rússia concordar em adiar até 2027 o pagamento de dívidas de Cuba com Moscou. Em visita recente a Cuba, o presidente do Duma (o Parlamento russo), Vyacheslav Volodin, disse: “Eles [os EUA] não querem ver uma Rússia forte, eles não querem que a Rússia seja autossuficiente, e o mesmo para Cuba, eles não querem ver um povo livre, eles não querem ver um país independente”.

Nicarágua –  Outro aliado de Putin é Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro marxista que comanda a Nicarágua desde 2007, tendo chegado ao poder anteriormente em 1979, durante a Guerra Fria.  Ortega foi um dos primeiros líderes mundiais a apoiar a posição da Rússia sobre a Ucrânia. Ele defende que o presidente Vladimir Putin está certo ao reconhecer duas regiões controladas por separatistas apoiados por Moscou como independentes.

“Tenho certeza de que, se eles fizerem um referendo como o realizado na Crimeia, as pessoas votarão para anexar os territórios à Rússia”, disse Ortega, outro líder latino-americano próximo a Putin que combate a influência dos EUA na região.

E a China? – A postura da China tem sido mais ambígua. O país se posicionou contra a invasão da Ucrânia — mas em diversos outros temas o governo de Pequim está alinhado com Moscou. Putin visitou a China poucos dias antes da guerra.

Neste mês, o principal diplomata da China, Wang Yi, disse em uma conferência na Alemanha: “A soberania, a independência e a integridade territorial de qualquer país devem ser respeitadas e salvaguardadas. A Ucrânia não é exceção.” Wang Yi vem mantendo conversas tanto com o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, quanto com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

Em seus pronunciamentos públicos, o governo chinês vem instando todos os envolvidos a diminuir as tensões na Ucrânia. Poucos dias antes da invasão da Ucrânia, Putin encontrou-se com o presidente chinês Xi Jinping, durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. Um comunicado conjunto divulgado após o encontro não fez referência à Ucrânia, mas criticou a expansão da Otan — entidade que ambos os países acusaram de possuir uma “mentalidade de Guerra Fria”.

Os dois países também se manifestaram contra o pacto de segurança Aukus, entre Austrália, Reino Unido e EUA — uma iniciativa para a Austrália construir submarinos nucleares, vista como uma forma de contrabalançar o poderio da China na Ásia.

Durante a visita, a Rússia disse que apoia a política de Pequim sobre Taiwan, afirmando que se trata de uma província separatista que eventualmente fará parte da China novamente.

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