Dossier

Corredor do Lobito COCOMOTIVAS A ESPERA DE ANDAR NOS CARRIS DE ANGOLA, RDC E ZÂMBIA

Escrito por figurasnegocios

O Presidente da República de Angola, João Lourenço testemunhou a transferência do Estado para o consórcio Lobito Atlantic Railway, composto pelas empresas Trafigura (Suíça), Vectorius (Bélgica) e Mota Engil (Portugal) e convidou os seus homólogos da RDC, Felix Tshisekedi e da Zâmbia, Hakainde Hichilema.

Os três presidentes, ao discursarem na cerimónia, destacaram a necessidade de optimizar a integração regional tendo em vista o desenvolvimento social e económico de Angola, RDC e Zâmbia, através de trocas comerciais.

O Presidente João Lourenço foi o primeiro a discursar apelando à mobilização de recursos para Auto-estradas para ligar a região.

“Para estarmos ligados também a Namíbia e África do Sul”- desafiou Lourenço após ter afirmado, em relação a essência do acto, que o Corredor do Lobito vai dinamizar as exportações na região sul do Continente.

Com as Zonas de Comércio Livre no horizonte, tanto para a SADC como para o continente, à semelhança dos seus homólogos, Lourenço acrescentou que as potências mundiais tem os olhos no Corredor do Lobito, que pode lançar bases para o Desenvolvimento africano.

“E a nós africanos,que cabe garantir que se aproveitem todas as oportunidades para a criação de riquezas e empregos para os jovens”.-sustentou.

Já o Presidente da RDC, Felix Tchissekedi destacou a transportação de matéria-prima condicionada ao longo de vários anos devido a conflitos armados. Assinalou que a Trafigura, um dos concessionários, vai reabilitar 400 quilômetros de linha para ligar as regiões de Katanga e Dilolo.

O Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema lembrou a importância na transportação de mineiros mas alertou que existem outros negócios, mormente nos domínios da agricultura e do turismo.

Os três países têm, juntos, economias que valem mais de 200 mil milhões de dólares.


Transferência da concepção dos serviços ferroviários e da logística de suporte do Corredor do Lobito, seladas no princípio de Julho, sete meses depois do acordo para a Agência de Facilitação do Transporte de Trânsito, ocorreu com um investimento norte americano de 250 milhões de dólares, alinhavado e empresas chinesas fora de cena ao contrário de algumas fontes que adivinhavam a contenda.

Com efeito, as empresas Trafigura, da Suíça, Vecturis, belga, e Mota Engil, portuguesa são donas do empreendimento, investindo cerca de 584 milhões de dólares para o andamento do Corredor, mormente as infraestruturas, vagões, locomotivas e outras operações técnicas e administrativas. Na verdade, o governo angolano tentou dividir o “bolo” mas as empresas chinesas, desde há muito que conquistavam, tencionam juntar os serviços ferroviários ao Porto Comercial,afinal o objectivo do Corredor do Lobito.

Vencedor do concurso público internacional para a gestão e exploração do Terminal Polivalente de Contentores e Carga Geral, aberto em Maio de 2021, o consórcio China International Trust Investiment Corporation (CITIC) e Shandong Port Group (SPG) decidiu-se a abandonar o Porto Comercial do Lobito,por sua conta e risco,  numa medida associada à repulsa, pelo facto de não ter conseguido, ainda no Corredor do Lobito,a concessão dos serviços ferroviários, formalmente ao consórcio europeu que recebeu as chaves do empreendimento.

O Ministro dos Transportes, Ricardo D’ Abreu. confirmou o facto que adivinhava-se o prolongar um braço de ferro entre chineses e norte-americanos no maior Corredor de Desenvolvimento do País, a via para as exportações do mineiro da República Democrática do Congo e da Zâmbia.

A rentabilização do potencial mineral dos chamados “países encravados” resume, aliás, a luta das maiores economias mundiais, com o Governo angolano a tentar encontrar pontos de equilíbrios.

Aos chineses, só o Porto Comercial, que recebeu investimentos de 1,247 milhões de dólares em dois terminais e um porto seco, não bastava, mas os norte-americanos não viam com bons olhos os concorrentes asiáticos na exploração do transporte ferroviário, que tem, como se sabe, a sua marca, as locomotivas da General Electric. Tanto assim que, consumada a saída do consórcio chinês, a administração norte-americana acenou com um investimento de 250 milhões de dólares, menos de metade do que a Lobito Atlantic Railway (LAR), formada pela Trafigura, Vectorius e Mota Engil, necessita para criar infraestruturas e adquirir meios rolantes.

“Era intenção das autoridades ter no Porto os chineses e este mesmo concessionário (Europeu), como acontece, na exploração dos serviços ferroviários e da logística e suporte do Corredor do Lobito”-assinala uma fonte por nós contactada, admitindo mesmo que tenha havido interferência política nos concursos públicos.

Basta lembrar que o grupo filipino ICTS, inicialmente dado como vencedor pela Comissão de Avaliação do concurso na empresa portuária, chegou a contestar os resultados, falando em manipulação do desfecho.

Ao abordar a mudança no Porto do Lobito, o ministro dos Transportes, Ricardo D’Abreu optou por não avançar as motivações dos chineses mas assinalou que o concessionário dos serviços ferroviários fica também com a gestão do terminal de minérios, com capacidade para absorver três milhões e 600 mil toneladas por ano.

Minutos antes, ao intervir no acto oficial de transferência da concessão dos serviços ferroviários e da logística e suporte do Corredor do Lobito, o governante tinha destacado a presença de empresários americanos,há uma semana, nas instalações do Porto do Lobito como sinónimo de confiança no projecto.

As explicações dadas nesta visita indicam que o investimento americano a favor da LAR será processado por via de um banco da África do Sul,que teve empresários seus integrados na missão ao Corredor do Lobito.

Falhas técnicas na linha férrea do CFB – Carlos Mota Santos, da Mota Engil, confirmou à nossa reportagem o que vinha noticiado, de que serão feitas correcções técnicas ao longo da linha. Alegadas insuficiências são associadas à pilhagem do material como o aço e travessas (madeira) na reabilitação dos 1330 quilómetros de linha, executadas pelos chineses da R20, empresa que esteve ao lado da CITIC e da Sinotrans, no concurso para a gestão dos serviços ferroviários.

“Sim, é verdade que poderemos efectuar estas correções “-sintetizou, ao apontar, lacônico, para o plano de desenvolvimento da rota em Angola.

Este documento, com sete pontos, indica que partes da linha serão reforçadas com 500 mil toneladas de balastro de via, estando em perspectiva outros ajustes técnicos, essencialmente para que sejam atendidos comboios mais longos.

A compra de 1555 vagões, 35 locomotivas, desenvolvimento de um novo caminho de ferro até ao Porto Mineral e reforço de pontes de metal são outras acções inscritas no documento. São, em síntese, as bases para uma concessão de 30 anos, prorrogável mediante objectivos, um deles a construção do ramal ferroviário de ligação à Zâmbia, que pode valer ao consórcio mais 20 anos de exploração.

Mas esta empreitada, a de ligação do município do Luacano (Moxico)à região do Jimbe (Zâmbia), pode ser levado a cabo fora dos “eixos da concessão”, dependendo sempre da disponibilidade financeira dos governos angolano e zambiano.

Da RDC, chega já algum manganês ao Porto do Lobito, em quantidades muitíssimos inferiores às projectadas para o futuro imediato, que passam por 4 milhões/ano, incluindo a mercadoria da indústria pesada e agricultura.

Nestas contas entram produtos que farão o sentido inverso aos minerais da RDC e Zâmbia, saindo, portanto, das províncias bafejadas pelo Corredor Benguela,  Huambo, Bié e Moxico, em direcção aos “países encravados”.

Por aqui se percebe o apelo,mais um, de quem vê nesta iniciativa o regresso às origens, quando existiam 12 composições diárias do Lobito ao Luau.

“Levamos logística para o Shaba (RDC), nomeadamente a cera do Moxico e outros produtos de Benguela, como o sisal e a pasta de papel, regressando com o minério que era exportado para a Europa e Américas”-lembra José Severino, Presidente da Associação Industrial Angolana,que encontrou no CFB, em 1959, o seu primeiro emprego. Convicto de que “vamos partir do zero”, o industrial sublinha que o País tem de reactivar a produção de sisal, uma matéria-prima que vai substituindo o plástico e a pasta de papel, uma vez que são gastos 400 milhões USD/ano nas importações para embalagens, livros e cadernos.

“Temos de produzir mais sal, proteger e apoiar mais os salineiro”-frisa José Severino. Por algum motivo, aliás, o programa de aceleração da diversão da economia, que conta com 300 milhões de dólares do Banco Mundial, tem foco no apoio a empresas que se encontram no perímetro do Corredor do Lobito.


Contrato de Transferência da Concessãodos Serviços Ferroviários e da Logística

CONSÓRCIO NA MÃO DA MASSA!

A nova concessão terá um prazo de 30 anos-podendo ir até ao prazo de 50 anos caso o concessionário opte por construir o ramal de Luacano (Moxico) a Jimbe (Zâmbia)-tem como prémio de assinatura um valor de 100 milhões de dólares.
4 de Julho de 2023, deverá ficar certamente na história da economia angolana. Tudo porque nesse dia foi assinado o contrato de transferência da concessão dos Serviços ferroviários e da logística de suporte do Corredor do Lobito entre o governo de Angola e os representantes do consórcio Lobito Atlantic Railway.

Na presença dos presidentes de Angola, RD Congo e da Zâmbia, em representação do Executivo angolano assinou o ministro dos Transportes, Ricardo D’Abreu, enquanto pelo consórcio LAR os representantes da Trafigura, Julian Roland, da Mota Engil, Carlos Mota Santos e da Vecturis, Éric Welfare.

A vaga de concessões não é, porém, uma novidade na história económica do CFB. Trata-se antes de uma inevitabilidade comprovada há mais de 100 anos. Em 1902, o então governo português, representado por Antônio Teixeira de Sousa, à época ministro da Marinha e do Ultramar, outorgou um contrato de concessão para a construção e exploração da linha férrea de Benguela-valido por 99 anos,terminou em 2001, tendo revertido para o governo de Angola.

Mas a nova concessão que terá um prazo de 30 anos-podendo ir até ao prazo de 50 anos caso o concessionário opte por construir o ramal de Luacano (Moxico) a  Jimbe (Zâmbia)-que tem como prémio de assinatura um valor de 100 milhões de dólares (dos quais 40 % vai para a Conta Única do Tesouro e os restantes 60% cobrirá as despesas dos projectos em carteira do Ministério dos Transportes), possui números muito mais avantajados. Para tanto, valeram as reformas executadas pelo governo no domínio das infraestruturas que aos olhos do consórcio garantem condições para execução de serviços extraordinários, nomeadamente no Porto do Lobito e CFB.

O Terminal de Mineiro do Porto do Lobito é um verdadeiro “porta aviões” portuário de carga e descarga em que tudo parece ter sido desenvolvido a pensar essencialmente na imensa riqueza mineral da República Democrática do Congo. A infraestrutura, que vai ficar sob gestão do consórcio do Corredor tem uma ligação directa à rede ferroviária, possui capacidade para movimentar três milhões de toneladas média ano e recebe navios de até 50 mil toneladas. Atendendo que tem um calado de 15,30 metros, ”terá um papel fundamental nos próximos tempos”, resume o PCA do Porto do Lobito, Celso Rosas.

“O caminho de ferro de Benguela tem o privilégio de contribuir para uma transformação profunda da geografia económica “-jura de pés juntos António Cabral, PCA do CFB, que parece ter razões de sobra.

Se é verdade que ao concessionário vencedor caber-lhe-á, segundo os termos do contrato, assumir o transporte de grandes cargas,com maior predominância para minérios e combustíveis,ao passo que o serviço público de transporte é o valor que será investido em equipamentos e material circulante, é um valor adicional correspondente a 4 milhões de dólares em actividades diversas no transporte de passageiros e de pequena carga permanecerá sob gestão do Caminho de Ferro de Benguela, também é certo tal só acontece pelo facto de ter havido um investimento avultado na maior linha férrea de Angola.

Fica a lista do que se fez com o investimento de 1,9 mil milhões de dólares. O investimento permitiu a compra de 50 locomotivas, carruagens e vagões e serviu também para a reabilitação da linha férrea centrando as prioridades nas substituíções das travessas de madeira para de betão e nos carris de 30 kg por eixo para 50.Ao mesmo tempo, resultou na construção e reabilitação das 67 estações ferroviárias de passageiros,na instalação de infraestrutura de telecomunicações por via da extensão de um cabo de fibra ótica e no alojamento de um sistema de sinalização/telecomunicações por cantonamento interposto.

Para tornar o Caminho de Ferro de Benguela (CFB) mais rentável, o consórcio pretende, numa primeira fase, renovar as 67 estações do comboio e da linha férrea para a RDC, revitalizar a escola de formação ferroviária, o investir em obras sociais ao longo da linha e ainda construir o ramal para a Zâmbia, bem como a gestão do Terminal Minério do Porto do Lobito.

Deverão ser investidos 450 milhões de dólares, dos quais 256 milhões de dólares em infraestruturas,73 milhões de dólares em equipamentos e material circulante é um valor adicional correspondente a 4 milhões dólares em actividades diversas, além de outros números significativos que dizem respeito  às previsões do transporte de carga, que apontam para 1.677,70 toneladas nos primeiros cinco anos de concessão, 2.982,31 no 10.ano e 4.972,23 toneladas no 20. e 30. anos.

Os cálculos do governo apontam que a exploração do Corredor do Lobito pode vir a representar uma contribuição para o Produto Interno Bruto estimado entre 1,6 a 3,4 mil milhões de dólares.


AS EMPRESAS DO CONSÓRCIO

MOTA ENGIL

  • Faz parte do ranking dos 30 maiores grupos europeus de construção, marcando presença em mais de 30 países entre a Europa, África e América Latina.
    Instalada em Angola desde 1946 no mesmo mês e ano em que foi fundada, em Portugal.Em 1952, a empresa executou a primeira grande obra pública no território angolano,à época sob administração colonial portuguesa: o Aeroporto Internacional de Luanda.

VECTURIS

  • Está presente em países africanos, como a República Democrática do Congo, Tanzânia, Camarões, Madagascar, Costa do Marfim, Burkina Faso e Argélia; também no Brasil, Rússia e Paquistão.
    É uma operadora ferroviária com actividades de transporte ferroviário (passageiros, minérios e carga comercial). É de origem belga.

TRAFIGURA

  • É um grupo holandês. Líder em distribuição de metais e minerais em todo mundo,a organização não governatal (ONG) Suíça, Public Eye designou -a como sendo uma holding em que o petróleo representava 67% do lucro em 2015, tendo Activos físicos de quase 40 mil milhões de dólares,incluindo minas, navios, tanques de armazenagem, bombas de gasolina e oleodutos.Líder em distribuição de metais e minerais em todo mundo.

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