Dossier

Terrorismo em Brasília: O DIA EM QUE OS BOLSONARISTAS DEPREDARAM OS PODERES

Escrito por figurasnegocios

Sedes dos 3 poderes foram destruídas num ataque sem precedentes na história do Brasil. Lula decretou intervenção na segurança do DF, e Alexandre de Moraes afastou governador por 90 dias.


Bolsonaristas radicais, golpistas e criminosos invadiram e depredaram no passado dia 8 de Janeiro o Congresso Nacional , o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, em Brasília.

O ataque às sedes dos 3 Poderes e à democracia é sem precedentes na história do Brasil. Os terroristas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objectos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.

O prejuízo ao património público, de todos os brasileiros, ainda não foi calculado. Até o fim da noite daquele dia fatídico,  mais de 500 pessoas haviam sido presas.

O presidente Lula, que estava em SP no momento dos atentados, voltou a Brasília à noite e decretou intervenção federal para assumir a segurança pública do Distrito Federal, onde está Brasília. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, afastou do cargo por 90 dias o governador do DF, Ibaneis Rocha.

Dias mais tarde, o ex-ministro da Justiça do Brasil detido quando aterrou em Brasília na sequência da tentativa do golpe de Estado. Anderson Torres era à data dos ataques secretário de Segurança de Brasília. O responsável pelo esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios é suspeito de ter actuado de forma a não evitar invasão.

O ex-governante foi ouvido durante a tarde por um juiz para que fosse avaliado se existiam eventuais ilegalidades em relação à sua detenção. A sessão, conduzida pelo desembargador Airton Vieira do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morais, terminou oito horas depois para mais tarde ser levado para uma unidade da Polícia Militar, conforme revelou  a Folha de S. Paulo, que acrescentou que o ex-governante deverá prestar novos depoimentos.

Anderson Torres foi “recebido” à chegada ao Brasil pela Polícia Federal, para que pudesse ser detido na sequência da invasão aos Três Poderes no passado dia 8, em Brasília. Torres era à data dos ataques secretário de Segurança do Distrito Federal, responsável pelo esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios.

Segundo as autoridades, esse esquema de segurança não foi preparado de forma proporcional, tendo havido uma conivência e omissão por parte do então secretário de Segurança, que acabou exonerado no próprio dia. Recorde-se que as autoridades tinham informação antecipada de que este ataque iria acontecer — foi, por isso, também detido o comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Fábio Augusto Vieira.

Foi por tais indícios que Alexandre Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, decretou a prisão do ex-governante do Executivo de Jair Bolsonaro.

Anderson Torres viajou na madrugada deste sábado a bordo de um aparelho da companhia brasileira GOL, vindo da Flórida, EUA, onde estava de férias com a família, tal como o ex-Presidente.

Assim que chegou ao Brasil,mas antes de ser detido formalmente foi levado ao Instituto Médico-Legal da capital brasileira para fazer o “exame corpo delito”, para que depois fosse formalizada a prisão decretada pelo Supremo.

Segundo noticiado pela imprensa brasileira, Anderson Torres ficou detido no Complexo Penitenciário da Papuda, numa ala destinada a agentes da Polícia Federal (a sua profissão de origem) — conhecida como a “Papudinha”.

Regresso após ultimato – O regresso do ex-ministro aconteceu horas depois de o actual titular da pasta ter deixado claro que o tempo estava a esgotar-se. Flávio Dino, actual ministro da Justiça e Segurança Pública, disse que as autoridades aguardariam um curto espaço de tempo para que ele se apresentasse às autoridades voluntariamente e assim aconteceu .

Caso a apresentação não se confirmasse, por intermédio dos mecanismos internacionais, vamos deflagrar (…) os procedimentos voltados à extradição, uma vez que há ordem de prisão”, ameaçou  o actual ministro.


Documentos comprometem
TORRES: O GOLPISTA

Nas buscas realizadas à casa do ex-ministro, após o ataque a Brasília, as autoridades encontraram uma minuta de um decreto que teria o objectivo de instaurar o estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral e, assim, conseguir alterar o resultado das eleições de 2022.
No seu Twitter, Anderson Torres chegou a reagir às buscas, no dia 12, dizendo que os documentos foram revelados “fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra [si]”.


No Palácio do Planalto
TERRORISTAS URINARAM E DEFECARAM

Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, conversou com jornalistas logo após ao assalto à Brasília e revelou que terroristas bolsonaristas urinaram e defecaram no Palácio do Planalto, um dos alvos da onda de depredação a prédios dos Poderes públicos no passado dia 8 de Janeiro.

“O pessoal [que testemunhou o ataque] disse que parecia um bando de pessoas com ódio, fora de si, um bando de zumbi”, afirmou. “Corriam pelos corredores, quebravam tudo, urinavam, defecavam nos corredores, dentro das salas”.

Nas redes sociais, o ministro já havia revelado que radicais roubaram armas e munições de dentro do Palácio do Planalto. Além disso, algumas obras de arte foram danificadas e outras completamente destruídas.

No dia 8, apoiadores de Bolsonaro invadiram as sedes dos Três Poderes – o prédio do Congresso Nacional e o do Supremo Tribunal Federal também foram vandalizados – e deixaram um rastro de destruição.

O presidente Lula (PT) decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. Já o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o afastamento por 90 dias do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e remoção de acampamentos bolsonaristas em todo o País.

Entretanto, um dia depois, um grupo de bolsonaristas radicais colocou fogo em pneus, madeiras e lixo para provocar um bloqueio na Marginal Tietê, uma das principais vias expressas de São Paulo, complicando o trânsito.

Motoristas parados pelo bloqueio publicaram vídeos nas redes sociais, que mostram o trânsito interrompido e a barreira de entulhos incendiados.


Imprensa internacional reage
FOI UM “ASSALTO À DEMOCRACIA, “UM GOLPE” !!

Os ataques feitos por terroristas aos prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), foram destaque na capa dos principais jornais do mundo. Na maior parte dos veículos de comunicação internacional, o assunto foi a manchete – título da notícia mais importante do dia. Em todos, é destacado que os actos criminosos foram realizados por um grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A manchete do The Washington Post, jornal dos Estados Unidos, afirma que “Repartições do governo do Brasil foram atacadas”.

A imprensa brasileira continua a destacar que mais de 1500 pessoas terão sido já detidas, inquiridas e prontas para serem julgadas proximamante em diferentes regiões dos estados da República. A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal informou que 904 homens e 494 mulheres presos nos ataques aos prédios dos Três Poderes foram encaminhados para penitenciárias.

Os presos homens foram levados para o Centro de Detenção Provisória do Complexo da Papuda e as mulheres para a Penitenciária Feminina do DF.

A maior parte dos bolsonaristas foi presa no acampamento em frente ao quartel-general do Exército de Brasília —desmontado por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), um dia após os ataques.

Audiências de custódia devem ser encerradas até domingo (15). O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) informou que o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou que os juízes façam audiências em sistema de mutirão. Segundo o conselho, outras 599 pessoas foram liberadas após serem fichadas. (…).

Como são os presídios? A Papuda é o maior complexo penitenciário de Brasília, formado por quatro unidades, com capacidade de 5.300 detentos, mas reúne 12 mil pessoas, enfrentando superlotação. O complexo já abrigou presos famosos, como Marcola, considerado líder do PCC (Primeiro Comando da Capital), e os ex-deputados José Dirceu e José Genoino, presos após investigação do Mensalão. Já a Colmeia possui dois blocos — um para prisão provisória e outro para regime semiaberto.

Os detidos pela Polícia Federal foram levados à Academia Nacional de Polícia para uma triagem de investigação do órgão. Instalados dentro de uma quadra poliesportiva coberta e com amplo gramado aberto, os detentos e seus advogados reclamam de falta de direitos humanos.
A advogada Nalva Brito afirmou que o local está “parecendo um campo de concentração nazista”. “É comida estragada, maus-tratos”, disse a respeito do tratamento da PF, que disponibilizou bicicleta ergométrica aos detentos.

(…) A maioria das pessoas levadas à academia da PF estava no acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Segundo os cálculos da polícia, 300 foram detidos na Praça dos Três Poderes no domingo e 1.200, no QG, no dia seguinte. O agrupamento no Exército começou no fim de Outubro, quando Bolsonaro perdeu as eleições. Manter milhares de pessoas durante mais de dois meses exigiu infra-estrutura para garantir o atendimento de necessidades básicas. O acampamento se mantinha com um esquema que envolvia caminhões-pipa enchendo as caixas d’água todas as manhãs, geradores garantindo energia eléctrica e serviço de limpeza.


Apontado por Lula
QUEM É O NOVO COMANDANTE DO EXÉRCITO?

Segundo um levantamento da Defensoria Pública da União, em ao menos seis casos, Moraes estabeleceu a prisão preventiva, contrariando a posição do Ministério Público, que havia recomendado a liberação da pessoa ou outras medidas, como prisão domiciliar.

Num relatório sobre os direitos humanos desses presos, a Defensoria Pública da União argumenta que a lei 13.964/2019, ao alterar o Código Processo Penal para eliminar a possibilidade de prisão “de ofício” pelo juiz, na prática “vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva, ou imposição de medidas cautelares diversas da prisão, sem o prévio requerimento do Ministério Público, seja no curso da investigação criminal ou do processo”.

No entanto, a decisão de Moraes não é totalmente inovadora nesse ponto, pois há um precedente de 2022 do STJ, estabelecendo que, se houver pedido do Ministério Público por outras medidas cautelares mais leves que a prisão, o juiz poderá optar por prender o investigado, sem que essa decisão seja considerada de “ofício”.

Há ainda, porém, outras controvérsias na detenção massiva dos suspeitos de crimes no 8 de Janeiro. Na avaliação da DPU, a acção contra centenas de pessoas a partir da decisão genérica de Moraes resultou em prisões que não cumpriram os trâmites previstos na lei e deveriam ser imediatamente revertidas.

“No decorrer das audiências de custódia realizadas, observa-se uma grande quantidade de autos de prisão em flagrante deficitários, isto é, não instruídos com a documentação indicada no artigo 304 e seguintes do Código de Processo Penal, tais como oitiva do condutor (autoridade que efectua a prisão), testemunhas e exame de corpo de delito”, destaca o relatório da Defensoria.

“Assim, em atenção à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que reconhece o auto de prisão em flagrante como acto de formal documentação, a manutenção das privações de liberdade mesmo diante dos autos de prisão sem os documentos exigidos por lei, configura quadro que deve ser sanado pelo imediato relaxamento das prisões efectuadas em desacordo com a legislação”, diz ainda o documento da DPU.

Já Rafael Mafei, da USP, considera que as centenas de prisões foram necessárias para identificar os potenciais criminosos, já que houve uma “turba de milhares de pessoas tentando um golpe de Estado”.

Se não houvesse uma acção imediata, diz, as pessoas retornariam para suas casas em diferentes cantos do país, dificultando a acção da Justiça na apuração e punição dos graves crimes cometidos no 8 de Janeiro.

“O correcto a se fazer nesse caso, quando há suspeita de uma pessoa que está cometendo um crime ou que acabou de cometer o crime, é recolher essa pessoa, levar até um lugar onde ela fique à disposição das autoridades, até que se possa avaliar a participação dela naquele episódio, minimamente, e decidir se ela precisa ficar preventivamente presa ou não”, afirma Mafei.

“O que você não pode é, depois de avaliar a participação daquelas pessoas, manter preso quem a lei manda que seja solto, que responda o processo em liberdade”, acrescentou.


CONTROVÉRSIAS ANTERIORES

Apesar de defender a actuação de Moraes na reação ao 8 de Janeiro e, de modo geral, na condução dos inquéritos que passaram a investigar ataques à Corte e ao Estado Democrático de Direito desde 2019, o professor da USP critica algumas decisões do ministro, como a operação contra empresários bolsonaristas em agosto de 2022.

Na ocasião, Moraes autorizou a apreensão de celulares e o bloqueio de contas bancárias e de perfis dos empresários nas redes sociais após uma reportagem do portal Metrópoles revelar que eles teriam apoiado um possível golpe de Estado em conversas em um grupo de WhatsApp.
Para Mafei, as medidas “parecem excessivas”, já que não houve uma investigação prévia à operação que indicasse uma articulação concreta dos empresários para de facto empreender um golpe de Estado.

“Teve gente que sofreu restrições ou coações por condutas no grupo de Whatsapp que eram absolutamente insignificantes. Pareceu-me uma medida principalmente com papel intimidatório em relação a pessoas que estivessem cogitando algum tipo de apoio mais explícito a iniciativas golpistas o que não é o uso próprio daquelas medidas legais”, analisa o professor da USP.

No geral, porém, Mafei considera que a actuação de Moraes tem sido correcta no enfrentamento de sérios ataques e ameaças ao Estado Democrático de Direito. E, na sua avaliação, há um apoio das instituições a essa actuação, já que o plenário do STF têm confirmado decisões do ministro e o Congresso não tomou medidas para contê-lo, como instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigá-lo ou abrir um processo de impeachment, embora haja dezenas de pedidos nesse sentido apresentados no Senado.

“Então, existiu uma ameaça real, a grande ameaça que já houve à ordem democrática de 1988, porque ela tem estrutura, tem financiamento, tem liderança política, tem uma articulação comunicacional, tem pessoas dispostas a agir e, inclusive, se submetendo às consequências mais graves”, avalia o professor.

“E há um conjunto de dispositivos legais que está sendo interpretado não pelo Alexandre de Moraes (isoladamente), mas pelo Supremo, com apoio das outras instituições, de maneira a reagir a esses ataques”, reforçou.


Condenação veio de todos os cantos do globo
LÍDERES MUNDIAIS CONDENAM TENTATIVA DE GOLPE

Líderes de diversos países condenaram a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, ocorrida recentemente. Em postagens nas redes sociais, chefes de Estado e de Governo manifestaram solidariedade e ofereceram apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A vontade do povo brasileiro e as instituições democráticas devem ser respeitadas! O presidente Lula pode contar com o apoio incondicional da França”, escreveu, na rede social Twitter, o primeiro ministro francês, Emmanuel Macron.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também condenou os ataques. “Condeno o ataque à democracia e à transferência pacífica do poder no Brasil. As instituições democráticas do Brasil têm todo o nosso apoio e a vontade do povo brasileiro não deve ser prejudicada. Estou ansioso para continuar a trabalhar com @LulaOficial”, escreveu no Twitter.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também se pronunciou. “Todo meu apoio ao presidente Lula e às instituições eleitas livre e democráticamente pelo povo brasileiro. Condenamos veementemente o assalto ao Congresso brasileiro e pedimos o retorno imediato à normalidade democrática”, postou.

Presidentes latino-americanos também repudiaram os actos antidemocráticos em Brasília. “Toda minha solidariedade a Lula e ao povo do Brasil. O fascismo decide dar um golpe. As direitas não puderam manter o pacto da não violência. É hora urgente de reunião da OEA [Organização dos Estados Americanos] se quiser seguir viva como instituição e aplicar a carta democrática”, escreveu o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que fez a postagem poucos minutos após a invasão ao Congresso Nacional.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, considerou “inadmissível” a ocupação da Praça dos Três Poderes. “Ataque inadmissível aos três poderes do Estado brasileiro pelos bolsonaristas. O governo brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse covarde e vil ataque à democracia”, postou Boric nas redes sociais.

“Como presidente da Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos] e do Mercosul, ponho em alerta os países membros para que nos unamos nesta inaceitável reacção antidemocrática que tenta se impor noBrasil. Demostremos com firmeza e unidade nossa total adesão ao governo eleito democraticamente pelos brasileiros que encabeça o presidente Lula. Estamos junto do povo brasileiro para defender a democracia e não permitir nunca mais o regresso dos fantasmas golpistas que a direita promove”, escreveu Fernández.

ONU – Em nota, a Organização das Nações Unidas (ONU) também condenou os ataques em Brasília e manifestou preocupação diante do ocorrido. “A ONU condena veementemente qualquer ataque dessa natureza, que representa uma séria ameaça às instituições democráticas. A ONU pede às autoridades que priorizem o restabelecimento da ordem e que defendam a democracia e o Estado de direito”, diz o texto.


Antigo aliado diz que golpe de Estado foi debatido em reunião com Bolsonaro
MARCOS DO VAL DISSE QUE BOLSONARO QUERIA SABOTAR A ELEIÇÃO

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse numa transmissão ao vivo nas suas redes sociais que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado. Em entrevista à revista Veja, o parlamentar detalhou que Bolsonaro o procurou em 9 de Dezembro do ano passado propondo uma forma de tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se manter no poder.

A ideia de Bolsonaro, segundo contou o senador, era que Do Val gravasse uma conversa sua com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moares, com o objectivo de descredibilizar o ministro. Isso seria o pretexto para executar o golpe.

“A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi”, contou à Veja.

O parlamentar disse à revista que tem uma boa relação com Moraes, iniciada quando o ministro ainda era secretário de Segurança Pública de São Paulo, no governo do hoje vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Naquela época, Do Val ainda não era senador e foi contratado para oferecer um treinamento para a polícia paulista. Ex-militar do Exército Brasileiro, o senador fundou o Centro Avançado em Técnicas de Imobilizações (CATI), que realiza esse tipo de serviço.

“Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita”, afirmou.

Em entrevistas posteriores, às emissoras GloboNews e CNN Brasil, Do Val mudou detalhes de sua versão, afirmando que o presidente apenas escutou a ideia, mas não o coagiu a participar. O plano teria sido apresentado, no encontro, pelo então deputado federal Daniel Silveira.
Ainda segundo o senador, Bolsonaro teria assentido com a cabeça e, ao final, dito apenas que esperaria por uma resposta de Do Val sobre sua possível participação. “Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise económica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis”, disse também.

Segundo o relato do parlamentar, o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) participou do encontro sobre o golpe. Na sua avaliação. Bolsonaro teria sido instigado por ele a fazer essa proposta.

“Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu”, contou ainda Do Val.

Silveira foi preso nesta quinta-feira (02/02) por determinação de Moraes, mas a decisão não cita fatos relacionados à denúncia de Do Val. O motivo da prisão é que o ex-deputado, cujo mandato parlamentar acaba de se encerrar, descumpriu as condições impostas para que pudesse estar em liberdade, ao voltar a ameaçar ministros do STF, danificar a tornozeleira electrônica e continuar levantando dúvidas sobre as urnas electrónicas.

Moraes preside inquéritos no STF que, desde 2019, investigam aliados e filhos de Bolsonaro, além do próprio ex-presidente, por possíveis ataques ao Supremo e envolvimento em movimentos antidemocráticos como a invasão das sedes dos três Poderes no dia 8 de Janeiro. Por isso, é visto como um inimigo por bolsonaristas.

Até à publicação dessa reportagem, Bolsonaro ainda não tinha se pronunciado sobre as acusações do seu antigo aliado. O presidente está vivendo na Flórida.

Do Val chegou a anunciar que pretendia deixar seu mandato, mas posteriormente recuou da decisão e disse que continuará no cargo . Já Do Val anunciou na madrugada desta quinta-feira que pretende deixar seu mandato e voltar a viver nos Estados Unidos.

“Após quatro anos de dedicação exclusiva como senador pelo Espírito Santo, chegando a sofrer um princípio de infarto, venho através desta, comunicar a todos os capixabas a minha saída definitivamente da política”, escreveu em suas redes sociais.

“Perdi a convivência com a minha família em especial com minha filha. Não adianta ser transparente, honesto e lutar por um Brasil melhor, sem os ataques e as ofensas que seguem da mesma forma. Nos próximos dias, darei entrada no pedido de afastamento do senado e voltarei para a minha carreira nos EUA”, disse ainda no comunicado.

Também sobre o assunto, Do Val recuou ao longo do dia, dizendo que teria desistido de renunciar. Entretanto, a Polícia Federal solicitou ao STF autorização para interrogar Do Val a respeito das declarações. O ministro Alexandre de Moraes autorizou a oitiva.


Advogado diz que Bolsonaro pediu novo visto
EX-PRESIDENTE QUER FICAR MAIS SEIS MESES NOS EUA

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) pediu às autoridades americanas um visto de turismo que lhe permita permanecer mais seis meses nos Estados Unidos. A informação foi confirmada à BBC pelo advogado de Bolsonaro, Felipe Alexandre. “Ele dedicou 34 anos de sua vida ao serviço público e gostaria de tirar uma folga, clarear a cabeça e aproveitar como turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será seu próximo passo”, afirmou Alexandre.

Segundo o advogado, Bolsonaro permanecerá nos EUA enquanto seu pedido estiver sendo considerado. O visto de turismo B1/B2 permitiria que ele permanecesse nos EUA por até seis meses.

Bolsonaro ingressou nos EUA no dia 30 de Dezembro, enquanto ainda era presidente do Brasil, e apresentou ao oficial de imigração na Flórida um visto A-1, documento diplomático destinado às autoridades em visitas oficiais.

Ele deixou o Brasil antes do fim de seu mandato e não transmitiu a faixa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu a Presidência do país no dia 1° de Janeiro.

De lá pra cá, a situação jurídica de Bolsonaro se complicou: além das investigações que já enfrentava, Bolsonaro agora é alvo de inquéritos por uma possível incitação à insurgência de seus apoiadores no 8 de Janeiro e por possível negligência de seu governo em relação aos indígenas yanomami.

Bolsonaro nega que tenha tido qualquer participação no ataque à Praça dos Três Poderes, que disse ser uma manifestação “que foge às regras”. E acusou as denúncias sobre desnutrição grave dos yanomami de ser uma “farsa de esquerda”.

A permanência de Bolsonaro nos EUA tem causado mal-estar na base democrata do presidente Joe Biden no Congresso. Há duas semanas, dezenas de congressistas pediram em carta a Biden que o governo americano não permitisse o uso do território americano como “refúgio” por Bolsonaro.

O deputado democrata americano Joaquin Castro, do Texas, disse à BBC News Brasil que o pedido de visto deveria ser negado. Ele afirmou que Bolsonaro “é perigoso e não deveria ser autorizado a permanecer nos EUA”.

No fim de semana, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, afirmou que ele poderia voltar ao Brasil “amanhã, daqui 6 meses ou nunca”. Bolsonaro chegou a ser internado na Flórida por uma obstrução intestinal, complicação decorrente da facada que ele sofreu em 2018.
O médico de Bolsonaro no Brasil, António Macedo, chegou a dizer que ele precisaria se submeter a novo procedimento cirúrgico, mas, segundo Flávio, o pai está em boas condições de saúde.(BBC News Brasil e BBC News em Washington).

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