Dossier

Batalha do Cuito Cuanavale: A MAIOR BATALHA EM ÁFRICA DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Escrito por figurasnegocios

A Batalha de Cuíto Cuanavale foi o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988.O local da batalha foi o sul de Angola, na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o exército sul-africano. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. É considerada também a segunda maior batalha de terreno do século XX, superada apenas pela batalha de Kursk.

Seguindo uma série de tentativas frustradas de dominar a região em 1986, oito brigadas da FAPLA realizaram uma ofensiva, conhecida como “Operação Saludando Octubre” em Agosto de 1987 contra as bases da UNITA em Jamba e Mavinga, contando com apoio de armas e tanques T-62 soviéticos, bem como unidades motorizadas cubanas. A África do Sul, que fazia fronteira com Angola por meio do território em disputa da actual Namíbia, estava determinada em prevenir que as FAPLA ganhasse controle da região e permitisse que a Organização do Povo do Sudoeste Africano atuasse no local, o que colocaria o regime do Apartheid em cheque.

Ambos os lados do conflito reivindicaram vitória, e até hoje as narrativas e memórias sobre a batalha são objecto de debate. Não obstante, o evento tornou-se o ponto de viragem decisivo na guerra que se arrastava há longos anos, incentivando um acordo entre Sul Africanos e Cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.


Prelúdio
A GUERRA CIVIL ANGOLANA

Até 1975, Angola foi um dos territórios coloniais africanos do Império Português tal como Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, regidas por Portugal. No entanto, surgiu uma guerra de guerrilha entre o governo colonial e três movimentos revolucionários armados, a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), com um acréscimo no norte, na região de Cabinda levada a cabo pela FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda), um movimento separatista) que reclamava a independência autónoma de Cabinda em relação a Angola.

Angola foi só uma das frentes da Guerra do Ultramar, durante a qual, o estado português tentou manter os seus territórios coloniais ao contrário da tendência das outras nações europeias como a Grã-Bretanha e a França que estavam a entregar a independência gradualmente às suas colónias.

O prelúdio da guerra civil angolana, tem a sua origem em 1974 quando se deu em Portugal a Revolução dos Cravos, derrubando o regime salazarista. A junta militar que ocupou o poder provisoriamente, decidiu acabar a Guerra do Ultramar mas deixar as tropas nas colónias até à sua independência. No entanto, devido a pressões internas, decidem abandonar Angola até o outono de 1975, sem que nenhum dos movimentos revolucionários estivesse no controle da nação. Uma decisão problemática que afectou o desfecho da guerra civil em Angola.

O MPLA NO PODER

Em Agosto de 1975 o MPLA controlava onze das quinze províncias de Angola, incluindo a capital Luanda e a cidade de Cabinda, sendo por isso a escolha óbvia para tomar o poder em Angola. No entanto, a decisão de Portugal de entregar o poder aos três movimentos, provou ser um erro crasso, dando inicio à Guerra Civil Angolana. A 10 de Novembro uma ofensiva da FNLA que tinha o apoio do Zaire com um reforço do exercito zairense de 1 200 soldados, num célebre confronto que viria do norte de Luanda que ficou conhecido pela Batalha de Quifangondo não aconteceu por ordem dos USA a FNLA. Os USA mandaram a FNLA recuar e não engajar em luta armada.

Nos anos seguintes, o governo do MPLA e as suas forças militares lutaram contra guerrilheiros armados pelo Zaire, Estados Unidos da América e pela África do Sul, até que em 1984 a FNLA de Holden Roberto reconheceu a derrota, mantendo-se no entanto a guerra contra a UNITA de Jonas Savimbi.

Até 1987 entraram no conflito angolano outras nações e organizações interessadas, ao lado do governo angolano encontravam-se as FAR (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Cuba), o braço armado do ANC (African National Congress), Umkhonto we Sizwe e a SWAPO (South West Africa People’s Organization), ao lado da UNITA estava o exército sul africano e os seus aliados.

URSS

A participação da União Soviética no conflito angolano, limitou-se a um grupo de conselheiros militares soviéticos colocados em Angola, à formação de quadros superiores em território da URSS e à ajuda em armamento militar. As relações entre os dois países nunca foram totalmente claras, havendo suspeitas de envolvimento soviético numa tentativa de golpe de estado, preconizado pelo Ministro do Interior do MPLA Nito Alves, culminando num período negro da história angolana conhecido por Fraccionismo.[21] Não obstante esses desentendimentos, estiveram presentes na batalha conselheiros soviéticos que tiveram um papel muito importante na organização das FAPLA e na planificação da batalha.

FAR

A intervenção da FAR começou apenas com 652 tropas de elite na Operação Carlota, uma manobra militar levada a cabo em Novembro de 1975 contra a incursão sul africana, porém com a expansão da guerra nos anos seguintes Cuba, a pedido do governo angolano, reforçou as suas forças militares de uma forma permanente, tendo participado na batalha de Cuito Cuanavale 15 000 tropas cubanas. A força cubana em Angola chegou a ter 36 000 tropas activas.

A JAMBA

Os EUA não reconheceram o governo angolano, acusando-os de comunistas, receando que Angola se tornasse uma ponta de lança da União Soviética em África. Henry Kissinger, Secretário de Estado dos Presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, chegou mesmo a afirmar que o governo do MPLA era uma ameaça à liberdade em África. Nos anos oitenta a administração de Ronald Reagan promoveu a guerra de guerrilha nos países com ligações ao Bloco de Leste, em países como a Nicarágua e Angola. Já desde 1977 que os Estados Unidos da América apoiavam a UNITA, vindo a reforçar esse apoio no governo Regan. Um dos projectos mais importantes da ajuda americana foi a Jamba-Cueio, o refúgio e quartel-general das forças da UNITA no sudoeste de Angola. Na Jamba-Cueio, Jonas Savimbi, líder da UNITA, construiu uma base militar bem defendida para lutar contra o governo MPLA e criou um mini-estado.

Em 1985 na Jamba-Cueio, Savimbi foi o anfitrião da Internacional Democrática, um encontro de chefes de alguns movimentos anti-comunistas través o mundo, oficializando dessa forma o seu mini-estado. A presença semi-oficial de um mini-estado criado pela UNITA em território angolano era considerado uma afronta ao governo de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola à altura do conflito. Em 1987, o governo angolano decidiu eliminar esse mini-estado e retomar o controle do sudoeste angolano. O resultado foi a batalha de Cuito Cuanavale, uma povoação situada na Jamba-Cueio na província do Cuando-Cubango.

A BATALHA DE MAVINGA

A primeira acção militar da campanha do governo angolano, foi a ocupação da antiga base portuguesa de Mavinga, onde estavam sediados 8 000 guerrilheiros da UNITA, porem até a chegada das forças angolanas, Mavinga recebeu um reforço de 4 000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos. Mavinga foi o primeiro passo no caminho para a Jamba-Cueio e para penetrar a Faixa de Caprivi.
O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4 000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada Operação Modular foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper.

O CERCO DE CUITO CUANAVALE

Sabendo que caindo Cuito Cuanavale o inimigo seguiria para Menongue, uma base aérea importante do governo, as FAPLA restabeleceram-se aí, retendo com dificuldade o avanço da UNITA e das SADF. As três brigadas sobreviventes da força original barricaram-se a leste do Rio Cuito, do outro lado da povoação de Cuito Cuanavale, aguentando as forças rivais durante três semanas, sem blindagem nem artilharia para se defenderem e sem provisões. O presidente de Cuba Fidel Castro, a pedido do governo angolano, enviou mais 15 000 soldados de elite para ajudar ao esforço da batalha, dando o nome a essa movimentação de tropas de Manobra XXXIº Aniversário das FAR. Com o reforço cubano, o número de tropas no país passava de 50 000. A 5 de dezembro de 1987 o primeiro reforço militar chegou ao posto das FAPLA em Cuito Cuanavale.

Entretanto, os soldados angolanos recebiam um novo treino para se adaptarem às novas armas mais avançadas fornecidas pela União Soviética, enquanto os seus colegas das FAR preparam as defesas para resistir às investidas do inimigo. Os defensores cavaram trincheiras, barricadas, e depósitos para helicópteros, embora a pista de aviação estivesse intacta, os observadores das forças inimigas impedia a aterragem de aviões em Cuito Cuanavale. A ponte sobre o rio havia explodido a 9 de Janeiro e para poderem atravessar o rio, os cubanos construíram uma outra ponte de madeira, apelidada de “Pátria ou Morte”. Os defensores aproveitaram todas as armas disponíveis, desde as dos tanques imobilizados, às dos soldados sepultados pela terra nos ataques de artilharia.

Entretanto, as SADF aproveitaram o impasse para trazer reforços,[39] levando a cabo cinco assaltos contra os postos angolanos nos meses seguintes, não conseguindo vencer os defensores. Uma das situações que ajudou imenso a UNITA, foi a estação das chuvas que atrasou o avanço das tropas vindo de Menongue, através de caminhos lamacentos, carregados de minas anti-pessoais pela UNITA e de emboscada. Quando o grosso dos reforços chegaram, já tinha começado a batalha final.

Os assaltos de UNITA prosseguiram até 23 de Março de 1988, levando as tropas defensoras a recuarem para os arredores de Cuito Cuanavale, onde sofreram bombardeamentos de artilharia da SADF, localizadas nas colinas de Chambinga, nos meses seguintes.

DESFECHO

O impasse militar de Cuito Cuanavale foi reclamado por ambos os lados como uma vitória. O lado angolano afirmou que com a defesa de Cuito Cuanavale, em situação precária e situação inferior, impediram a invasão do território angolano, pelas forças da África do Sul. Porém na África do Sul os partidários da guerra proclamavam como triunfo o facto de o exército deles menos equipado mas melhor treinado ter impedido o avanço do comunismo.

Em Dezembro de 1988 o MPLA e a UNITA, assinaram o Acordo Tripartido na cidade de Nova Iorque, acordando com a retirada das forças estrangeiros do conflito angolano,(42)levando, consequentemente, à independência da Namíbia e à democratização da África do Sul, culminando com o fim do regime do Apartheid.

O historiador Piero Gleijeses, professor da Universidade John Hopkins, de Washington, escreve a respeito: “Apesar de todos os esforços de Washington (aliado ao regime do apartheid) para impedir-lhe, Cuba mudou o rumo da história da África Austral (…). A proeza dos cubanos no campo de batalha e seu virtuosismo à mesa de negociações foram decisivos para obrigar a África do Sul a aceitar a independência da Namíbia. Sua exitosa defesa de Cuito foi o prelúdio de uma campanha que obrigou a SADF (Força de Defesa Sul-Africana) a sair de Angola. Essa vitória repercutiu para além da Namíbia”.


General Francisco Furtado:
‘’DIA DA LIBERTAÇÃO DE ÁFRICA’’ É UMA JUSTA HOMENAGEM AOS COMBATENTES ANGOLANOS

O Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar da Presidência da República considerou que consagração do 23 de Março como “Dia da Libertação da África Austral” foi a mais justa homenagem aos bravos combatentes angolanos, que se bateram para que Angola continuasse una e indivisível, exercendo a sua influência nos Estados da Região Austral do continente e para criação de um ambiente de paz e estabilidade que permita a consolidação das nossas jovens democracias.

“Não podemos esquecer que, hoje, uma das estratégias da SADC, é a de garantir o bem-estar económico, a melhoria dos padrões da qualidade de vida, a liberdade e a justiça social, preservar os alicerces inabaláveis do Estado Democrático e de Direito, a segurança para os povos e a integridade territorial dos países´´, disse o General Furtado, no momento em que discursava no acto central das comemorações  sobre a efeméride ocorrida exactamente na província do Cuando Cubango, palco da célebre Batalha  do Cuíto Cuanavale que, segundo o governante, conferiu à República de Angola a responsabilidade de contribuir para o processo de pacificação dos  conflitos em África e na Região Austral em particular, interpretando outra profecia do saudoso Presidente António Agostinho Neto, segundo a qual “Angola é e será por vontade própria trincheira firme da revolução em África”.

´´Esta heróica província, à semelhança da martirizada província vizinha do Cunene que mais de 2 terços do seu território esteve ocupado militarmente pelas forças do regime do Apartheid entre 1981 a 1987 são dignas merecedoras de muitas homenagens.

Desponta para esta província importantes projectos estruturantes, a juventude já desfruta de infra-estruturas escolares de reconhecida valência, tudo isto está alicerçado no sacrifício empreendido pelos nossos combatentes em defender cada palmo da parcela do território angolano. Aqui no Cuito Cuanavale foram erguidas infra-estruturas de importante valor histórico e cultural que colocam esta localidade e toda região sudeste e sul de Angola no patamar de verdadeiros pólos de atracção e desenvolvimento turístico do país e da rota do turismo internacional.

O executivo liderado pelo Presidente João Lourenço continuará a prestar especial atenção ao desenvolvimento dos municípios desta região sudeste do país e ainda no decurso deste ano 2023 iniciarão as obras de construção das estradas nacionais número 280, 170 e 140 respectivamente, entre Cuito Cuanavale-Mavinga, Caiundo-Cuangar numa extensão de mais de 200 Kilometros, incluindo as pontes que ligarão estes município aos municípios e mais a leste, nomeadamente Mavinga e Rivungo, bem como serão realizadas outras obras até a fronteira leste com a vizinha República da Zâmbia e importantes infra- estruturas aduaneiras e comerciais nas localidades fronteiriças com a as Repúblicas da Namíbia e da Zâmbia, o que irá facilitar a circulação rodoviária entre os municípios da parte sudeste e leste da província para facilitar a circulação de pessoas e bens, concomitantemente realizar trocas comerciais benéficas entre os 3 países’’, revelou o Ministro de Estado.

Para si, com as obras estruturantes em curso e a desenvolver na província do Cuando Cubango, haverá um incremento significativo nas trocas comerciais com as Repúblicas da Namíbia e da Zâmbia. ‘’Ainda no decurso deste ano iniciarão as obras da segunda fase deste histórico monumento e de requalificação deste importante município, com destaque para a área de Samaria e da célebre região do Triângulo do Tumpo.

Como é sabido, a província do Cuando Cubango é das mais afectadas  pelas acções de minas, porque foi nesta região que estiveram envolvidos durante a guerra e principalmente no decurso da Batalha do Cuito Cuanavale 3 Exércitos convencionais, nomeadamente as FAPLA, as SAF da África do Sul e as FAR de Cuba, bem como duas grandes composições de forças guerrilheiras das FALA-UNITA e do PLAN da SWAPO”, lembrou, acrescentando que as missões de desminagem dos traçados das vias rodoviárias e das vastas áreas de terras aráveis na província prosseguem , para permitir a realização das obras nas estradas, o reassentamento das populações e o desenvolvimento de projectos agropecuários e a agricultura familiar em várias localidades desta região sudeste de Angola.

O General na reserva exprimiu a sua satisfação por voltar a encontrar velhos companheiros de luta ‘’que ajudaram a escrever páginas importantes da nossa história recente, para juntos constatarmos as melhorias, ainda tímidas, mas seguras e progressivas que vamos empreendendo nestas paragens, contrariando o passado penoso, por qual este povo heróico do Cuito Cuanavale passou, durante longos períodos’’.

Na  ocasião exortou  aos jovens a lutarem e manterem a mesma coragem, entrega total no esforço do desenvolvimento sustentável de Angola, partindo do pressuposto de que cada um no seu local, quimbo, aldeia ou cidade, desenvolva, no âmbito das suas capacidades, algo para o engrandecimento e valorização da sua actividade.

A procura de outros lugares para viver, deixando para traz a terra mãe, não deve ser o apanágio de um bom cidadão. O bom cidadão é aquele que luta para bem do seu país, não vacila perante adversidades.

Foi este espírito que emanou os jovens de ontem, o que permitiu que hoje possamos viver na diferença, mas num ambiente de sã convivência e de irmandade. Devemos manter bem alto o flutuar da nossa bandeira nacional, levando-a além-fronteiras, dando o nosso incondicional apoio ao compromisso e disponibilidade para honrar a missão que foi conferida à Sua Excelência Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, na 16ª Cimeira Extraordinária sobre Terrorismo e Mudanças Inconstitucionais em África, em que foi designado Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação’’, salientou.

Considerou  que o envio de um contingente de forças da Componente de Operações de Apoio e Manutenção de Paz das Forças Armadas Angolanas para a Região Leste da República Democrática do Congo, para fiscalizar o cumprimento da cessação das hostilidades em toda a região Leste da RDC e assegurar as áreas de acantonamento das forças militares do M23 é ‘’um acto inscreve mais uma vez a grandeza do nosso povo e do seu líder, pelo que, devemos todos, de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste unirmo-nos para o êxito desta honrosa missão e vermos os irmãos da região leste da República Democrática do Congo a viverem em paz’’, afirmou, expressando os agradecimentos do povo angolano ao povo cubano, ‘’pelo apoio e solidariedade nos mais distintos momentos do nosso percurso de luta, defendendo Angola e o seu povo’’.


A “mãe ” de todas as batalhas, suas razões e consequências para a libertação da África Austral
CUITO CUANAVALE: A INVASÃO, A RETIRADA E A VITÓRIA FINAL

“Operação Modular” era o codinome para as operações militares de 1987 dos sul-africanos em Angola. O objectivo desta operação era capturar o reduto militar dos angolanos em Menongue, para estabelecer um governo provisório da UNITA em Angola. Isso deveria melhorar a imagem da UNITA nos EUA e dar credibilidade à ideia de que a UNITA tinha mais de dois terços de Angola sob seu controle.

O Cuito Cuanavale não era estratégico no sentido militar, mas tornou-se significativo pelo facto de ter sido aqui que os angolanos decidiram fazer a sua defesa contra os sul-africanos.  Cuito Cuanavale tem uma pequena base aérea e durante o período do colonialismo português os sul-africanos usaram o aeródromo para as suas operações de contra-insurgência.

Entre 1985-1987, houve mais de 900 violações do espaço aéreo e mais de 40 ataques terrestres.  Nos primeiros seis meses de 1987, houve 75 ataques aéreos e 33 ataques terrestres.

Os sul-africanos estavam de facto testando as defesas de radar que os angolanos construíram e que ajudaram a neutralizar a Operação Askari.  De sua parte, os sul-africanos justificaram esses ataques, alegando que estavam tentando impedir uma nova infiltração da SWAPO.

Após 21 anos de luta, as SADF falharam no seu objectivo político de destruir o Exército Popular de Libertação da Namíbia – a SWAPO.  A República Sul-Africana realizou obras de construção e a logística para esta operação ficou em evidência com a movimentação de camiões pesados que transportaram o equipamento pesado, tanques e artilharia para a fronteira angolana com a Namíbia.

De Julho a Setembro, os caças mirage da SADF realizaram missões contra posições angolanas enquanto equipas de construção de estradas abriam caminhos para a artilharia pesada.  Em vez de esperar que os sul-africanos atacassem, as forças angolanas partiram para a ofensiva para expulsar as forças da UNITA de Mavinga e Jamba.

Os sul-africanos intervieram com 9 batalhões de 9.000 soldados.  Cinco dos batalhões eram unidades brancas regulares da SADF, incluindo o 61º, o 91º e o 101º.  Os outros quatro batalhões eram unidades mistas de namibianos das forças territoriais.  Duas dessas unidades se amotinaram no calor da batalha, dizendo que estavam sendo usadas como carne de canhão para defender a UNITA.

Uma grande batalha ocorreu no rio Lomba quando as SADF se chocaram com as forças das FAPLA, ambas com armas ofensivas.  Depois de uma batalha feroz, os angolanos recuaram para Cuito Cuanavale onde foram cercados.

Os comandantes das SADF esperavam avançar em retirada (e isso seria como os ataques cirúrgicos do Líbano), mas no final de Dezembro, os sul-africanos perderam mais de 230 soldados e a UNITA mais de 1.000.

Os sul-africanos perderam mais de 41 aeronaves, três helicópteros e mais de 31 veículos. Foi um duro golpe para um exército que não podia comprar armas no mercado aberto, mas por debaixo da mesa.  Com essas pesadas perdas, a estrutura de comando operacional da Operação Modular quebrou.

Os ideólogos queriam comprometer mais tropas e equipamentos, enquanto aqueles que estavam cientes do efeito da morte de jovens  em Angola sobre a população branca eram mais cautelosos.  A quebra da estrutura de comando exigiu a intervenção pessoal do Presidente Botha que teve de viajar para dentro de Angola para avaliar se a sociedade sul-africana deveria enviar mais tropas ou continuar lutando com as forças já mobilizadas nas margens do rio Cuito, enquanto os angolanos se organizavam para travar uma guerra defensiva.

Mais significativamente, quando o Presidente da África do Sul viajou para a frente dentro de Angola, os angolanos solicitaram aos cubanos que os ajudassem na defesa de Cuito Cuanavale.  Os angolanos estavam encurralados em Cuito Cuanavale enquanto as SADF realizavam bombardeios tremendos.  Mas, neste caso, o radar da linha defensiva dos angolanos estava operacional e os sul-africanos estavam nas margens do rio Cuito bombardeando o Cuito Cuanavale sem cobertura aérea. As forças angolanas tomaram a iniciativa na batalha, mas recuaram após a batalha inicial no rio Lomba.

Fidel Castro havia constatado um erro, mas o carácter da guerra foi moldado pela forma como a estrutura do exército angolano foi construída, e pelo armamento de tanques, artilharia pesada, jactos e radares sofisticados que tinham sido comprados como recursos para a guerra

O Estado angolano investiu pesadamente  neste tipo de sistema de armas e aumentou seus gastos com defesa após a introdução dos mísseis Stinger. Os gastos com defesa e segurança mais que dobraram no período de 1982-1985, colocando um fardo tremendo na economia dilacerada pela guerra.  Em 1985, os gastos com defesa foram de US$ 1,5 bilhão ou 37,9 por cento do total dos gastos do governo.

Em 1987, o estado angolano gastava pelo menos 50 por cento das despesas do governo em defesa. A guerra esgotou a sociedade angolana, adiando a reconstrução social que vinha sendo discutida desde 1975.

Rede de Radares  – Havia mais de 75 conjuntos de radares móveis de sete tipos diferentes, baseados em 23 locais formando à base de uma rede abrangente de comando e controle.     Foi a eficácia desse radar que deu aos angolanos a capacidade de abater os aviões do sul.  Nem com os sul-africanos a experimentar o avião israelense sem piloto poderia penetrar nas defesas de radar das FAPLA. Mas os pesados gastos com armas sofisticadas também significavam que os soldados de Angola eram limitados em sua flexibilidade e resposta aos sul-africanos.  Assim, no cerco de Cuito, as forças da SWAPO fizeram muitos combates e algumas operações de reconhecimento.  Quando as SADF não conseguiram avançar, a UNITA atacou mais a Norte, em Muhango, para abrir outra frente. Muhango foi capturado porque os angolanos tinham colocado todos os seus esforços no confronto com os sul-africanos.

Swapo e ANC – A SWAPO participou nas batalhas de Cuito, enquanto os guerrilheiros do ANC em Angola se chocavam com elementos da UNITA em Malanje e Uíge.  A intensidade do confronto depois de Outubro de 1987, atraiu os cubanos que haviam sido posicionados estrategicamente ao longo de uma linha defensiva na linha férrea de Benguela.

Os angolanos solicitaram mais assistência dos cubanos para defender Cuito Cuanavale.  Os cubanos calcularam que, se Cuito Cuanavale caísse e os sul-africanos conseguissem tomar Menongue, as  suas próprias tropas seriam atraídas para a batalha.  Assim, para reverter a ofensiva sul-africana em Cuito, os cubanos enviaram mais tropas para Angola em Dezembro de 1987.

Os Cubanos e Cuito Cuanavale – O envolvimento cubano na guerra angolana na Operação Carlota em 1975, também marcou a própria transição de Cuba em termos militares.  As relações militares anteriores de Cuba com os movimentos de libertação nacional na África foram assentes  na guerrilha.  Che Guevara havia realmente lutado no Congo e Cuba mantinha relações de longa data com os principais movimentos de libertação.

As batalhas com os sul-africanos em 1975-76 foram batalhas convencionais com soldados regulares e entre 1975-1988 mais de 300.000 soldados cubanos serviram em Angola. As tropas cubanas foram destacadas para proteger áreas estratégicas.  Apesar dos esforços dos sul-africanos para atrair os cubanos para o combate após a Operação Protea, os cubanos mantiveram sua postura defensiva bem longe dos contactos militares com as SADF.

Um especialista em defesa dos Estados Unidos sobre a África Austral observou: “A postura defensiva cubana foi confirmada durante a grande penetração sul-africana de Agosto/Setembro de 1981, quando uma declaração oficial da imprensa cubana alertou que as forças cubanas “iriam entrar em acção com todas as forças disponíveis se os sul-africanos se aproximassem as suas posições defensivas.”  Da mesma forma, em Julho de 1982, Fidel Castro declarou que, se as tropas sul-africanas atacassem profundamente Angola e alcançassem nossas linhas, “lutaremos com todas as nossas forças contra essas tropas”.

A Operação Modular Hooper em 1987 foi uma dessas invasões e com o transporte aéreo de suprimentos americano em Kamina, a introdução de mísseis Stinger e a visita do presidente Botha à zona de guerra, os cubanos decidiram que sua posição militar estava ameaçada e despacharam tropas de elite da 50ª  divisão mecanizada em Cuba para reforçar a defesa do Cuito Cuanavale.  Fidel Castro declarou que a própria defesa de Cuba ficaria  vulnerável pelo envio de mais de 15.000 dos mais experientes caças para Angola.

Tão confiantes de que iriam capturar o Cuito Cuanavale, a UNITA divulgou declarações à imprensa dizendo que o Cuito Cuanavale tinha caído para a UNITA.  No entanto, ao não conseguir romper as posições defensivas dos angolanos, os sul-africanos dispararam mais de 20.000 projécteis de 155 mm por dia.  A imprensa cubana descreveu o longo cerco de Cuito Cuanavale da seguinte forma:

“Os cubanos foram obrigados a aceitar o desafio e lutar no terreno escolhido pelos sul-africanos enquanto tomavam medidas para atacar o inimigo em outra direcção.  A 13 de Janeiro deste ano houve uma ofensiva sul-africana ao Cuito Cuanavale e outro grande ataque a 14 de Fevereiro onde foram utilizados 150 viaturas blindadas.  O segundo ataque foi frustrado por um pequeno grupo de tanques.  Em 25 de Fevereiro, 1º de Março e 23 de Março, ocorreram os três últimos ataques que foram repelidos com pesadas perdas para o inimigo.  Milhares de minas foram plantadas que destruíram muitos tanques sul-africanos.  A ofensiva militar foi destroçada pelos angolanos e cubanos.”

Os sul-africanos travavam uma guerra convencional nas profundezas de Angola, uma guerra baseada nos princípios do ar e da batalha em que as forças terrestres eram integradas à força aérea.  Mas a ofensiva não pôde prosseguir uma vez que a força aérea sul-africana perdeu a superioridade aérea para os Mig-23 pilotados por cubanos e angolanos.

Os drones israelenses dos sul africanos não estavam adequados para o terreno, se o tipo de operação cirúrgica que eles planejaram não tivesse sucesso.  Assim, após quatro meses de cerco às margens do rio Cuito, as forças cubanas/angolanas repeliram o cerco e tomaram a iniciativa militar, quando milhares de tropas e equipamentos ficaram atolados de Novembro a Março.

Tendo repelido a ofensiva sul-africana, cubanos e angolanos abriram uma nova frente avançando da secção sudoeste de Angola cercando as forças sul-africanas.

Sul-Africanos encurralados -Tão confiantes estavam os cubanos e angolanos que pela primeira vez havia mapas para mostrar as posições das forças cubanas/angolanas no sul de Angola, ocupada pelos sul-africanos e pelos elementos da UNITA desde a Operação Protea em 1981. Para consolidar o seu controlo sobre o Cunene, os cubanos construíram em menos de dois meses duas pistas de aterragem completas com hangares e instalações de manutenção.

A força aérea das forças cubanas/angolanas estava agora, a poucos quilómetros da fronteira Namíbia/Angola.  Nas palavras de Fidel Castro, “ao avançar mais de 200 quilómetros, nossas unidades blindadas, fortemente apoiadas por armas antiaéreas, foram se afastando de nossas bases aéreas.  Tínhamos de construir uma base aérea o mais depressa possível, e digo-vos com satisfação que se alguma vez houve lugar onde se fez um esforço maior do que o que temos visto aqui no nosso país nos últimos dias foi aí na Cahama.  Em questão de semanas, nossas tropas e nossos trabalhadores da construção civil construíram um aeródromo de 3.500 metros de comprimento e, como não era suficiente em questão de semanas, um segundo foi construído”.

Presos e atolados com seu equipamento pesado, os sul-africanos em Junho de 1988 tentaram escapar  do cerco e atacaram as forças cubanas/angolanas em Tchipa em 27 de Junho de 1988. Num confronto decisivo que selou o desfecho da guerra convencional de 1981-1988, os sul-africanos foram derrotados e mais de vinte e seis recrutas brancos morreram nesta batalha.

Numa batalha aérea sobre a barragem de Calueque, os sul-africanos foram atacados pela força aérea angolana, confirmando que os dias de controle sul-africano dos céus haviam acabado.  Foi uma estranha reviravolta na história, pois foi dessa mesma barragem que os sul-africanos lançaram sua invasão em 1975.

Uma humilhação esmagadora – “A morte dos recrutas brancos intensificou a oposição dentro da África do Sul, pois as famílias começaram a enterrar os jovens que morriam em uma terra distante. Um jornal sul-africano chamou a derrota dos sul-africanos de “uma humilhação esmagadora”. “O exército mais forte da África não tem superioridade aérea certa numa guerra que mais se assemelha às trincheiras do Somme do que a guerra de contra-insurgência mais familiar dos tempos modernos”, revelou.

As reviravoltas em Angola intensificaram o movimento anti-guerra na África do Sul com mais de 143 conscritos se recusando a servir nas SADF.  As batalhas em Cuito Cuanavale foram as mais ferozes na África desde a Segunda Guerra Mundial.

Após o fracasso da ofensiva de Março de 1988, os sul-africanos foram forçados a encaminhar-se  à mesa de negociações.  Por isso, as negociações se arrastaram por meses em quatro locais diferentes, Londres, Cairo, Congo Brazzaville e Nova York.  Foi só depois da derrota ‘humilhante’ em Calueque, a 27 de Julho, que os sul-africanos aceitaram um conjunto de princípios sobre a sua retirada da Namíbia.  Um jornal britânico disse correctamente que, no que dizia respeito a Julho, os sul-africanos tinham duas opções: um cessar-fogo ou a rendição. Em 1988, todas as forças sul-africanas com seus equipamentos cruzaram de Angola para  a Namíbia.

A Operação Modular e a batalha de CUITO CUANAVALE foi um ponto de virada na história militar da África.

Conclusão – A derrota dos sul-africanos em Cuito Cuanavale combinou a derrota militar do apartheid com o debate político e ideológico em curso sobre a questão das ideias de independência e soberania africana.  Em diferentes pontos e tempos na história da humanidade, dois conjuntos diferentes de ideias se chocam, e esse choque de ideias teve de ser travado no campo de batalha.

Cuito Cuanavale foi o fulcro do embate entre as ideias de supremacia branca e de libertação africana.  As SADF lutavam para inverter a maré da história e nesta conjuntura não podiam mobilizar abertamente apoio externo para a sua causa. As ideias do apartheid tinham sido promovidas na África do Sul juntamente com o feitichismo das armas no contexto da militarização da sociedade sul-africana.  As experiências das primeiras incursões da SADF nos Estados da linha de frente levaram à crença de que o exército poderia invadir e criar destruição em outros estados com impunidade.  A SADF também foi encorajada pela introdução dos mísseis Stinger e pelo apoio americano à UNITA, que era de facto apoio à SADF.

A Estratégia Total tornou-se contra-producente, pois as informações disponíveis para os Institutos de Estudos Estratégicos especializados eram baseadas nas informações falsas fornecidas pela campanha de desinformação da Rádio África do Sul transmitida pelos Estados da Linha de Frente.  O clima ideológico dos anos oitenta compôs a perspectiva da sociedade sul-africana.

As sociedades industriais ocidentais podiam mobilizar sua população com base no patriotismo, na democracia e no anticomunismo, mas o estado sul-africano queria sustentar um exército industrial quando a sociedade não era democrática , as massas de negros se opunham ao Estado e a verdadeira causa da guerra na região da África Austral certamente não era o comunismo.

No Ocidente, os cidadãos estavam dispostos a subsidiar as forças armadas por meio de impostos e morrer para defender o sistema social. Na África do Sul, os líderes militares do Conselho de Segurança do Estado esperavam apoiar as necessidades económicas e militares de um exército industrial a partir da estreita base da população branca.

Nenhuma sociedade com um exército tão grande quanto a SADF poderia travar uma guerra contra uma base tão estreita da sociedade.  Daí que as perdas nas margens do rio Cuito e no Calueque repercutam por toda a sociedade fortalecendo as forças anti-guerra e democráticas da Campanha Fim do Recrutamento (ECC).  apelando à sociedade para uma maior contribuição para a recuperação do complexo industrial militar.

Os gastos com defesa na África do Sul aumentaram de R4,3 bilhões em 1986 para mais de 10,3 bilhões em 1989. Esse nível de gastos com repressão exigiu um esboço de como reestruturar a economia sul-africana para lançar as bases para uma reestruturação pelo capital para fortalecer as forças de controle para lidar com um futuro governo liderado por uma maioria negra.

Um grande passo adiante na desmilitarização da África Austral será o desenvolvimento de um programa de conversão económica para que as actuais fábricas do complexo industrial militar sul-africano sejam reequipadas para atender às necessidades daqueles que produzem a riqueza da sociedade.  Uma componente essencial da reestruturação da agenda política e intelectual da região para além do trabalho de advocacy.

Os sul-africanos, juntamente com o apoio da mídia, tentaram apresentar as mudanças na liderança da África do Sul após Botha como reformas substanciais, a fim de mascarar o impacto dramático do cerco de Cuito Cuanavale nas forças armadas e na política da África do Sul.  Para que as forças populares democráticas transformem a base política da sociedade, as lições de Cuito Cuanavale devem ser compreendidas para além da concepção mediática de que o problema era a retirada das tropas cubanas de Angola.  Tendo decidido negociar em vez de se render, os sul-africanos com a ajuda dos EUA esperavam salvar através das negociações a humilhação do cerco no Cuito Cuanavale.

Os sul-africanos, com o apoio dos EUA, tentaram apresentar as negociações como centradas na retirada das tropas cubanas de Angola, mas a realidade é que, tanto para os EUA como para a África do Sul, o cerco de Cuito Cuanavale e a derrota do Sul , a África exigia uma nova estratégia para mobilizar os líderes africanos conservadores para levar o apoio à campanha anticomunista em Angola.

O envolvimento das forças cubanas foi a chave para toda a questão da ligação tal como foi apresentada na mídia americana, mas o exemplo cubano teve consequências muito mais profundas no contexto da relação de longo prazo entre a libertação africana e o socialismo.

No final das campanhas de guerrilha na fase anticolonial, os exércitos guerrilheiros da Argélia ao Quênia herdaram o estado colonial e falharam em desenvolver as bases políticas das lutas de guerrilha para capacitar o povo.  A experiência cubana apontava para uma forma alternativa de fazer política.

Para o povo angolano, as experiências da guerra convencional podem representar-se como um factor destrutivo, confirmando a desestabilização forjada por forças externas e pelas formas políticas que podem sustentar a UNITA, ou podem ser a base para a desmilitarização da sociedade onde a forma socialista  do MPLA começa a desenvolver um conteúdo emancipatório para desencadear a participação e expressão popular na política.

As experiências de nacionalização e militarismo em outras partes do Terceiro Mundo e da África fizeram com que os militares e a burocracia consumissem uma parcela desordenada do produto social.  Durante a guerra, quando o estado gastava mais de 50 por cento do orçamento em armamentos, o povo poderia ser exortado a sofrer privações e escassez, desde que houvesse um inimigo externo visível na forma das SADF ocupando as províncias do sul.

Em Angola, como em Moçambique, a desestabilização e a guerra adiaram e obscureceram as questões da reconstrução e da democracia.  Estas duas sociedades foram alvo de grandes disrupções após a derrota do colonialismo português.

A liderança política havia expropriado aquelas forças com capacidade de prolongar a propriedade capitalista individual dos meios de produção. A nacionalização e a declaração do socialismo, entretanto, não capacitaram as classes produtoras nem criaram uma mudança significativa na base produtiva  dessas sociedades.

Havia a anomalia dos angolanos lutando contra os americanos que estavam ao mesmo tempo lucrando com os recursos petrolíferos de Angola.  A nacionalização em todo o Terceiro Mundo tem sido a base da consolidação das forças burocráticas.

Angola candidatou-se para aderir ao FMI em 1987, mas os EUA opuseram-se à candidatura angolana como forma de forçar mudanças económicas que forneceriam a base para as relações neocoloniais.

O exército angolano foi capaz de derrotar o exército sul-africano, mas isso a longo prazo pode ser uma batalha mais fácil do que enfrentar a fraqueza herdada da sociedade.  Os legados do domínio português significam que a burocracia está ligada aos problemas de diferenciação racial. Sob a hierarquia racial deformada entre brancos, mestiços, assimilados e a massa de camponeses e trabalhadores africanos, o problema da raça reteve o potencial da sociedade  pois o Estado não previa a reprodução social da grande maioria.  Novas orientações sobre a língua e a base cultural do estado irão envolver as energias da sociedade enquanto elementos externos procuram restringir a unidade e independência dos povos angolanos.

As cisões e divisões do MPLA desde o seu início reflectiram as realidades sociais mais amplas de uma sociedade a recuperar do colonialismo, da guerra e da crise do capitalismo em África e o militarismo disfarçado de retórica radical.

Seja qual for a escolha, cabe ao povo angolano procurar consolidar a sua independência e entrar na construção da sua história.

* “THE SIEGE OF CUITO CUANAVALE”,  By :  HORACE CAMPBELL
The Scandinavian Institute of African Studies, 1990
Traduzido do Inglês para Português por Eduardo Cussendala com ajuda do Google translate . O texto foi reproduzido na página do facebook deste internauta activo, a quem agradecemos pela lembrança do facto.

Sobre o autor

figurasnegocios

Deixe um comentário