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Moçambique

Escrito por figurasnegocios

ESTADO ISLÂMICO ATACA décimo DISTRITO DE CABO DELGADO

Os activistas armados de inspiração ‘jihadista’ e presumivelmente associados ao Estado Islâmico (EI) movimentam-se, violentamente, já lá vai mais de uma semana, no décimo distrito da província nortenha moçambicana de Cabo Delgado, alvo de ataques armados brutais desde Outubro de 2017.

Texto Refinaldo Chilengue
Fotos Arquivo FN

Aabertura da “frente de Ancuabe” foi confirmada pelo próprio Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, num incidente de coordenação com a Polícia da República de Moçambique (PRM), cujo porta-voz oficial local horas antes havia desmentido a acção macabra dos atacantes na zona.

Curiosamente, o segundo ataque contra Ancuabe ocorreu na noite de quarta-feira, após o governador de Cabo Delgado ter apelado as populações a regressar às suas casas, garantido que tinham sido repostas as condições de segurança. Testemunhas referem que após a investida armada assistiu-se na zona a um ambiente de “agitação e fuga em debandada” de muitos residentes.

No dia 11 de Junho as autoridades decidiram introduzir escoltas militares entre Muepaze e o cruzamento de “Silva Macua”, na província de Cabo Delgado, devido à deterioração dos níveis de segurança, situação que começa a ameaçar a capital provincial, Pemba, já que estes incidentes acontecem a aproximadamente 100 quilómetros desta.

Os ataques ocorridos no início deste Junho, os jihadistas executaram uma série de decapitações, incluindo três elementos militares e paramilitares, estes últimos a soldo de uma unidade económica estratégica com investimentos estrangeiros.

O avanço dos ‘jihadistas’ em direcção ao Sul de Cabo Delgado parece ser um duro golpe na esfera económica de Moçambique, depois de os grupos armados terem logrado, em 2021, paralisar as actividades dos projectos de gás natural em Afungi, distrito de Palma, em especial de todos os trabalhos preparatórios a cargo da Área 1, liderada pela Total, e retirada do pessoal expatriado.

A paralisação dos projectos de gás natural em Afungi, distrito de Palma, em especial de todos os trabalhos preparatórios a cargo da Área 1, liderada pela Total, e retirada do pessoal expatriado, é considerada uma vitória “estratégica” para os jihadistas.

Aparentemente, o desígnio dos atacantes neste esforço é paralisar empreendimento económicos, nomeadamente as duas explorações de grafite pertencentes à Syrah Resources e à Triton Minerals. Balama, pertencente à Syrah, é a maior mina de grafite de Moçambique, situada a cerca de 90 quilómetros de Montepuez e a pouco mais de 160 quilómetros de Meluco e Ancuabe.

Com um prazo de exploração de 50 anos e uma produção anual de cerca de 350 mil toneladas de grafite, o empreendimento foi inaugurado em 2018 iniciando a exportação em Janeiro de 2019, implicando um investimento de USD 250 milhões.

A subsidiária Twigg Exploration and Mining Limitada é a responsável pelas operações de mineração, numa superfície de 100 quilómetros. O escoamento da produção é feito a partir do porto de Pemba, capital da província de Cabo Delgado.

A actividade da mina esteve suspensa durante cerca de um ano em 2020-2021, em virtude da volatilidade do mercado internacional devido à pandemia de covid-19. A operação é alimentada pela água proveniente da barragem de Chipembe, localizada a 12 quilómetros de distância.

Aos olhos de alguns observadores, as movimentações no sentido Norte-Sul indiciam uma possível intenção dos grupos armados de escaparem às zonas mais militarizadas e se reorganizarem através da escolha de novos alvos “económicos”, abordando distritos até agora secundários e sem antecedentes de ataques.

O actual quadro é ainda interpretado por analistas como indício de que os atacantes estarão a conseguir contornar o bloqueio imposto aos canais de reabastecimentos em material e reforços humanos imposto pelas forças estrangeiras quando entraram em accao em Julho de 2021 e alimentam especulações sobre os novos objectivos dos grupos armados e sobre a indisponibilidade das forças da SAMIM – Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para confrontos directos com os grupos armados.

Consta que em Nangade, onde a população civil tem sido violentamente atacada, as células armadas têm-se mobilizado e se desdobrado aparentemente sem resistência da parte dos militares da Tanzânia e Lesotho que patrulham a região.

A situação mantém-se volátil, com a identificação de movimentações de células armadas para Quissanga, sede do comando distrital da PRM, Meluco e Ancuabe, mais frequentes após as ofensivas das forças ruandesas em Palma, Mocímboa da Praia e Macomia, onde algumas das bases improvisadas terão sido destruídas. Para além do distrito de Meluco, Ancuabe faz fronteira com Pemba a Oeste e Metuge a Norte.

As decisões de investimento e aumento da produção, tanto da Syrah como da Triton, assentam em novos contratos com clientes estratégicos que irão assegurar a compra da produ

A norte-americana Tesla, maior companhia de automóveis eléctricos do mundo, assinou um acordo em Janeiros deste 2022 para a compra de 80% da produção da mina de Balama a partir de 2025.

A matéria-prima será exportada para a principal unidade de produção da Tesla, situada em Vidalia, Louisiana (EUA). O recurso à grafite moçambicana cumprirá um dos objectivos da Tesla, de redução da dependência da matéria-prima chinesa.

Sabe-se que a Triton, por sua vez, chegou recentemente a acordo com a companhia chinesa Yichang Xincheng Grafite que passará a comprar anualmente 10 mil toneladas, negócio que está assegurado para os próximos anos. Embora fortemente dependente dos clientes chineses e com capitais chineses na sua composição, nomeadamente a JIGAO Information & Technology de Hong Kong (31%), entre os principais accionistas contam-se também a SG Hiscock & Company (australiana) e investidores norte-americanos como o JP Morgan e Citigroup.

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