Com eleições presidenciais previstas para Dezembro, a popularidade de Félix Tshisekedi está em baixa. A oposição acusa-o de priorizar interesses pessoais e culpa-o pela relutância da rebelião no Leste. É-lhe também atribuída a prática de nepotismo, instrumentalização da justiça e parcialidade da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI). O arcebispo de Kinshasa, cardeal Fridolin Ambongo, espera um ambiente eleitoral sem “tensões sociais e políticas”, desejando tal cenário como fruto da visita e da bênção do Papa Francisco. Mas, na região oriental do país, rebeldes do M23 conquistam terreno e o grupo islâmico Daesh marca presença com explosões de engenhos.
Por: Manuel Muanza / Fotos Arquivo FN
À porta das eleições presidenciais de Dezembro próximo, Félix Tshisekedi, chefe de estado, sofre acusações da oposição, entre as quais a de ser responsável pelo agravemento da insegurança com o avanço da rebelião no Leste da RDCongo.
Três figuras-chave da oposição, nomeadamente Martin Fayulu, Matata Mpoyo e Denis Mukwege responsabilizam-no, ainda, pela instrumentalização da justiça.
A corte suprema congolesa decidiu, em 2022, assumir a condução do dossier sobre acusações de infracções cometidas pelo antigo primeiro-ministro Matata Mpoyo durante o exercício das funções.
O processo contra Matata Mpoyo tem a ver com o projecto de apoio a um parque agro-industrial (província de Bandundu, a Sul da RDC), o “Parc de Bukanga Lonzo”.
A pretensa instrumentalização da justiça por Tshisekedi resulta do facto de a corte suprema, em anúncio público a 18 de Novembro 2022, se ter pronunciado incompetente para julgar o caso, vindo mais tarde contradizer-se assumindo-se competente para tal.
Em Janeiro, Tshisekedi viu-se abandonado por um dos integrantes da plataforma mobilizadora da sua luta política. O senador Bijoux Goya invocou como motivo uma das acusações lançadas pelos três opositores, atribuindo a Tshisekedi a culpa pela insegurança no país. Fez igualmente alusão ao tribalismo e à imparcialidade na abordagem das questões internas.
Apesar da deserção, algumas personalidades de relevo prestam-se a apoiar a União Sagrada de Félix Tshisekedi. Tal é o caso de Jeannine Mabunda Lioko, ex-apoiante do partido de Joseph Kabila (PPRD – Partido do Povo para a Reconstrução e Democracia). Também o ex-porta-voz do parlamento (e até então uma figura do PPRD), Evariste Boshab Mabuj-ma-Bilenge, declarou apoios a Tshisekedi depois de ter criado um partido (AAC – Aliança para Acções de Cidadania).
Balkanização da RDC: rebeldes em voga
Ao invocar a insegurança, a oposição a Tshisekedi refere-se ao aumento das investidas do movimento rebelde M23 (Movimento de 23 de Maio) e dos grupos armados ugandeses ligados a ADF (Aliança das Forças Democráticas do Uganda).
Organizações da sociedade civil na região do Sul-Kivu subscreveram um memorado ao Secretário-geral da ONU, para, segundo elas, “alertar” a classe política sobre o perigo de “balkanização” do país. Ao mesmo tempo, realizaram marcha pacífica, em Bukavu.
“Pretendemos despertar as consciências patrióticas e dizer não à balkanização do nosso país”, segundo dizeres de Jean-Chysostome Kijana, um dos líderes, publicados pela estação Radio Okapi.
Face à escalada, o arcebispo de Kinshasa (capital da RDC), cardeal Fridolin Ambongo, exprimiu o desejo de ver um clima eleitoral, em Dezembro, “sem tensões sociais e políticas”. Disse acreditar no resultado da bênção do Papa Francisco, augurando o advento de um ambiente propício para “eleições credíveis, transparentes e equilibradas”.
A igreja reitera apelo à paz, mas no Leste um consórcio de organizações cívicas reportou a movimentação de grupos armados ligados à rebelião ugandesa da ADF.
As colunas rebeldes tomaram posições nas regiões de Beni (Norte-Kivu), diz a fonte citada por Okapi.
Vários ataques atribuídos a ADF foram registados contra aldeias nas regiões de Ituri e Bunia, fazendo mortos entre civis.
Combates foram assinalados entre as forças congolesas (FARDC) e os rebeldes de M23, entre os quais nas regiões de Ndondo e nas linhas da frente, nas localidades Masisi, Rutshuru.
Os rebeldes instalaram armas pesadas em outras localidades, entre as quais Kitobo e Nyakabingu, onde se situam as colinas de Nyakabingu, propícias para posições de artilharia.
Os rebeldes do M23 cortaram a ligação rodoviária entre a cidade simbólica de Goma e a de Butembo, depois de terem tomado de assalto a vila de Kitshanga (Norte-Kivu).
Kinshasa acusa o vizinho Rwanda, dirigido por Paul Kagame, de fornecer apoios à rebelião do M23.
Um comentarista do jornal La Tempête qualificou de “malogro” para Kagame o anúncio de corte de ajuda de Londres a Kigali, mas os efectos da notícia ainda tardam em produzir efeitos no campo de batalha.
Segundo o jornal congolês, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte cortou “definitivamente” a ajuda de 21 milhões de libras (26 milhões de euros) ao Rwanda a partir de Dezembro de 2022 devido ao apoio de Kigali à rebelião M23. Enquanto isso, surgem novos focos de violência como é o caso de grupos fundamentalistas.
Daesh ganha terreno
O grupo islâmico Daesh reivindicou um ataque à bomba contra a igreja de Kasindi, em Beni (Norte-Kivu), em pleno culto dominical, onde morreram dez pessoas, a 15 de Janeiro.
Dez dias depois, uma bomba artesanal, também atribuída a Daesh, explodiu num mercado em Kalinda, informou o jornal Le Potentiel.
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