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República Democrática do Congo: COOPERAÇÃO REGIONAL OU FALÊNCIA DO ESTADO?

Escrito por figurasnegocios

Tshisekedi pediu ajuda dos exércitos de países vizinhos para liquidar a rebelião, mas críticos vêem nisso um efeito contrário : Rwanda e Uganda estarão a aproveitar a presença em terra da RDCongo para apoiar a rebelião do M23.Apesar de dispor de 14.000 efectivos, entre militares e agentes da polícia, a MONUC (Missão da ONU) vê-se incapaz de impedir as actividades dos rebeldes contra as comunidades, forçando Tshisekedi a buscar outras soluções.

Texto Manuel Muanza / Fotos Arquivo FN


Recentes vagas de manifestações provaram haver um crescente desejo dos congoleses de antecipar o fim da presença da MONUC na RDCongo, prevista oficialmente para 2024. Autoridades e alguns sectores da sociedade acusam a MONUC de não produzir resultados visíveis na protecção dos civis, taxando-a de ineficácia em relação aos grupos armados.

O mais recente apelo à recusa da presença da organização proveio do presidente do Senado da RDCongo, Modetes Bahati Lukwebo. O dignitário exprimiu-se publicamente a favor da cessação do mandato dos contingentes da ONU.

Por sinal, tais declarações foram feitas por ele repetidas vezes em visita às regiões assoladas pelo conflito, nomeadamente Kivu-Norte e Kivu-Sul.A posição que Lukwebo ocupa na escala do estado congolês alimenta a crença nos rumores segundo os quais as manifestações e os actos de violência perpetrados contra os efectivos da MONUC terão sido mandatados por entidades do poder central em Kinshasa.

O clima de tensão nas relações entre o estado congolês e a MONUC agravou-se com a morte de 36 civis e de quatro efectivos das forças da manutenção da paz da ONU. A tais acontecimentos havidos em Uvira, Butembo e Goma, marcados também por pilhagens às instalações da MONUC, somou-se ainda a morte de três civis baleados por militares do contigente da ONU, na localidade de Kasidi.

A tese sobre o desejo de pôr fim ao mandato da MONUC que se situa no centro da análise da situação tem sido privilegiada, sobretudo pelo facto de as autoridades terem exigido a expulsão do porta-voz da MONUC, Mathias Gillmann, em Julho último.

A cólera de Kinshasa deveu-se à linguagem usada por Gillmann, ao minimizar, numa comunicação pública, a importância dos investimentos da ONU e das forças armadas congolesas destinados a combater os rebeldes do M23 (Movimento do 23 de Março).

Tshisekedi em apuros – Deve-se a este clima de tensão o recurso do presidente Félix Tshisekedi a uma coligação das forças armadas dos países da região (Estados da Áfica Central -EAC) para combater a rebelião.

No país, tal solução tem vindo a ser interpretada como um certificado de nulidade do papel do estado congolês. Para outros, depois de várias localidades terem caído nas mãos da rebelião do M23, Tshisekedi viu por terra abaixo o seu plano de estabilização do país e fez recurso à ajuda externa.

Tshisekedi pretende liquidar os movimentos rebeldes M23 e ADF. Para isso, fez acordo com o vizinho Uganda para juntos combaterem os rebeldes ugandeses da ADF (Forças da Aliança Democrática).

Em relação às operações para liquidar a rebelião do M23, Tshisekedi negociou com o Rwanda. Entetanto, numa reflexão veiculada na publicação online Digital Congo, o articulista Théodore Ngangu entende haver vozes que denunciam o carácter duplo do vizinho Uganda.

Em texto intitulado «a coligação rwanda-ugandesa reforça posição ao lado dos terroristas do M23»,Théodore Ngangu escreve : «Uganda combate os ADF no Norte ao lado das FARDC (exército da RDCongo) e apoia os terroristas do M23 no Sul em conluio com o Rwanda».

Citando um responsável da sociedade civil, o jornalista indica que o exércico do Rwanda (RDF- Forças Rwandesas de Defesa) e o do Uganda (UPDF- Forças de Defesa do Povo Ugandês) aproveitaram a sua presença autorizada em terras da RDCongo para « reforçarem a sua posição ao lado dos insurgentes do M23», em vez de ajudarem Tshisekedi a liquidar os rebeldes.

Um responsável das forças armadas congolesas (FARDC) foi citado como tendo reconhecido as dificuldades para enfrentar os rebeldes ugandeses do ADF. Segundo Digital Congo, o major-general Camille Bombele, coordenador das operações conjuntas com os ugandeses (UPDF), anunciou recentemente a prorrogação das investidas por mais dois meses na região de Beni. Trata-se da quarta prorrogação das operações designadas «Shujaa» iniciadas a 30 de Novembre de 2021.

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