Por Vítor Norinha
A região da Árica subsaariana, incluindo as cinco principais economias, Angola, Gana, Quénia, Nigéria e África do Sul, estão expostas a incertezas decorrentes da política dos EUA. Refere um estudo do segurador Crédito y Caución que todas aquelas economias estão expostas à possibilidade de alterações no seu acesso preferencial ao mercado dos EUA, ao impacto das ajudas internacionais e às novas tarifas.
Com efeito, a Lei do Crescimento e Oportunidade para a África dos EUA, ou a Africa Growth and Oportunity Act (AGOA) que oferece acesso isento de impostos ao mercado norte-americano para certos países subsaarianos, tem previsto expirar em setembro próximo e atualmente não está claro que a nova administração americana decida algo em termos de futuro. Se se mantiver a atual situação o acordo acaba em setembro, refere o mesmo estudo.,
A expetativas é que os EUA continuem a dar tratamento preferencial aos países mais estratégicos em termos geopolíticos e geoeconómicos, sendo que a África do Sul – cujos responsáveis fizeram visitas recentes à Casa Branca e onde foram confrontados com a informação relativamente a um alegado genocídio de agricultores brancos com expropriação de terras – poderá ser particularmente prejudicada. Está em causa a sua indústria automóvel e a potencial perda de 200 mil postos de trabalho.
Diferente é a situação de Angola e do Quénia que, segundo a mesma fonte, “têm as melhores perspetivas de permanecer no acordo devido às possibilidades que oferecem de acesso a metais e minerais raros. O Quénia é particularmente relevante por causa da sua cooperação militar em servir os interesses de segurança nos países vizinhos, enquanto o Gana e a Nigéria são relevantes pelo potencial no fornecimento de petróleo e gás.
Em termos de tarifas o país com mais dificuldades no relacionamento com os EUA é a África do Sul devido ao seu excedente comercial o que fez com que os EUA impusessem tarifas gerais de 31%, a par de uma nova tarifa de 25% sobre o setor automóvel que seja exportado para os EUA, incluindo viaturas completas e peças. A administração Trump está, no entanto, a considerar vir a excluir tarifas sobre bens que possam importar de África e que sejam críticos para a sua indústria como o petróleo, gás, produtos farmacêuticos e semicondutores. Angola, mais uma vez, pode ser um dos países beneficiados.
As ajudas à cooperação pagas pelos EUA também poderão estar em causa, e aqui o maior prejudicado pode ser a Nigéria que financiou um quinto do seu orçamento nacional de saúde com ajudas vindas dos EUA, e que, entretanto, sofreram cortes quer deste país, quer de outros países da Europa ocidental.
Um último aspeto que pode fazer regredir as economias subsaarianas e onde se inclui Angola, está no custo da dívida pública destes países e que foi indexada, em termos de taxas de juro, à dívida pública norte-americana. Angola, assim como o Quénia e a Nigéria, emitiram obrigações soberanas internacionais em 2024 e não estão previstos novos cortes de taxas de juro por parte da Reserva Federal norte-americana. Isto significará dívida cara e que impossibilitará o crescimento das economias. Ainda assim, os espanhóis do segurador Crédito y Caución antecipam um crescimento do Produto Interno Bruto médio das economias subsaarianas da ordem dos 3,8% em 2025, um ponto percentual acima da média global mundial.
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