Na espuma dos dias

NÃO É POLÍTICA ?

Escrito por figurasnegocios
Por: Édio Martins

No acto de massas realizado no Huambo, a 14 de Maio 2022, no quadro da pré-campanha para as eleições gerais previstas para Agosto próximo, João Lourenço abriu o discurso, enquanto Presidente do MPLA, referindo-se ás acções do dia anterior, realizadas na qualidade de Chefe de Estado, materializadas pela entrega de algumas infra-estruturas no Bailundo e na Cidade do Huambo.

Lembrou o centenário (este ano) do nascimento do Presidente António Agostinho Neto, recordando as suas sábias palavras, quando este afirmava que “o mais importante é resolver os problemas do povo”. Com esta afirmação Agostinho Neto sintetizava a essência do que é, ou deve ser, a política e que, desde a Antiguidade Clássica, tem sido centro de debate e reflexão de grandes pensadores como Aristóteles, Hobbes, Maquiavel, Russel, Locke, Marx, Engels, Max Weber e tantos outros.

A política e a crise que a assola deve-nos fazer reflectir sobre o problema da ética na política. Nenhuma profissão é mais nobre do que a política porque quem a exerce assume responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de competência.

A atividade política só se justifica se o político tiver espírito republicano, ou seja, se as suas ações, além de buscarem a conquista do poder, forem dirigidas para o bem público, que não é fácil definir, mas que é preciso sempre buscar. Um bem público que variará de acordo com a ideologia ou os valores de cada político, mas o qual se espera que ele busque com prudência e coragem. E nenhuma profissão é mais importante, porque o político pode ter uma má influência sobre a vida das pessoas maior do que a de qualquer outra profissão.

E a ética da responsabilidade leva em consideração as consequências das decisões que o político adota. Em muitas ocasiões, o político pode ser colocado frente a dilemas morais para tomar decisões. Mas, o político ciente, de sua obrigação com a ética da responsabilidade, sabe que não deve subverter seus valores e, muito menos aqueles que apresentou para seus eleitores.

Já na parte terminal do discurso JLo referiu “Caros camaradas,… Nem só de política vive o Homem e, por esta razão, eu vou mudar de assunto. Não vou falar política, não vou terminar com política, vou terminar este comício, anunciando uma grande alegria para a província do Huambo” anunciando que “antes de Agosto vamos dar início à construção de um grande estádio de futebol na Cidade do Huambo” afirmando, ainda, “minha missão é construir o estádio, a missão da senhora Governadora é determinar se o estádio vai ficar com o Mambroa ou se vai ficar com outros”, concluindo “esperar que, em Agosto, em vez de se dirigirem a um comício, que se dirijam a uma Assembleia de Voto para garantir a vitória do Glorioso MPLA”.

Estou confuso! Problema meu? Ou nosso?

O que pode levar o JLo a dizer que a mais pura política não é política? “Resolver os problemas do povo” – a falta de um estádio de futebol – com a construção de um grande estádio de futebol na Cidade do Huambo, com dinheiros públicos, não são uma declaração e um acto político? Claro que sim, indubitavelmente! Estamos juntos!

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