Na espuma dos dias

LUANDA TREME, TREME… E CAI! UMA CIDADE ABANDONADA ENTRE A DEMAGOGIA E A PALERMICE

Escrito por figurasnegocios
Por: Édio Martins
(edio.martins@netcabo.pt)

Assistimos, faz pouco tempo, a mais um episódio de desmoronamento de um edifício na Av. dos Combatentes, mais um depois de outro de má memória, que aconteceu em 2008, com o desabamento do edifício da DNIC (Direcção Nacional de Investigação Criminal), Causou 24 mortos.

Parece ser coisa pouca, mas não é! E o que se tem feito? A resposta só não é nada, porque sempre se declara “a constituição de uma comissão para levantamento do estado dos edifícios”. Fiscalizações reais e sérias? Nada! Manutenção, reparações de estruturas, substituição de redes de águas dos edifícios? Nada!

Os responsáveis e, a ver bem, todos nós por conivência e apatia (para não ser mais rude), sabem bem dos tanques de água nas varandas dos edifícios, os geradores, a ocupação de terraços tornados habitações e as remodelações aleatória dentro dos apartamentos e das lojas nos pisos térreos, as rupturas de canos de redes de águas, o fissuramento de paredes, a abertura de rachas, descalçamento de pilares, as escadas sem corrimãos, os pisos semi partidos, as galerias com pavimentos abatidos, os ferros à vista das lajes dos tectos… e muitas, muitas mais maleitas.

Também sabem, sabemos, que tudo isso se desmultiplica com todo o tipo de “obras” sem fiscalização, sem orientação técnica, numa aparente anestesia colectiva, possivelmente acreditando que Deus é angolano. Será? Não estará já farto de tanto descalabro, de tanta falta de bom senso, de tanta ignorância arrogante, de tanta politiquice e de tanta falta de competência técnica e acção, na gestão da cidade?

Todos sofrem diariamente a constatação evidente disso, na cidade do cimento e na cidade auto-construída dos inúmeros bairros.

E, sejamos honestos, este estado de (des)graça que nos alerta para o perigo de desabamento, também, dos edifícios construídos mais recentemente, no pós-independência, não é necessário ser “especialista” para se perceber que “construções” raramente obedecerem às regras fundamentais nas suas fundações e estruturas. Não nos esquecemos de muitas construções feitas pelos chineses, um pouco por todo o país…

Com Luanda à cabeça, mas, qual pandemia, infectando todo o país, assistimos a um desastre arquitectónico. É o que nos preparamos para deixar às gerações futuras!

A gestão de cidades/territórios é complexa, exige competência, experiência técnica, currículos verdadeiros e consistentes. Tem sido assim? Governantes com envergadura técnica para a gerir? Com formação académica, obra feita, experiência comprovada? Não, nada disso! As escolhas continuam a ser políticas, sem qualquer meritocracia, bastando a cartolina do M.

Luanda treme, treme-lhe o esqueleto, bamboleiam-lhe os alicerces, está exausta… e cai! Está a cidade e estamos todos nós, cidadãos. Todos sofrem, na cidade do cimento e na cidade auto-construída dos bairros.  Basta!

Uma cidade abandonada entre a demagogia e a palermice! Estamos Juntos!

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