Na espuma dos dias

ESTÓRIAS, COM AS FARMÁCIA EM PANO DE FUNDO 0 Há que diga estória… e quem diga história!…

Escrito por figurasnegocios
Por: Édio Martins
(edio.martins@netcabo.pt)

Possivelmente, muitos de nós já viram os dois termos escritos, tendo ficado na dúvida. Perante tal dúvida, cabe-me esclarecer que “estória” está habitualmente associada a contos populares, tradicionais ou curtas narrativas, podendo ser reais ou de ficção, enquanto que “história” pode referir-se ao conjunto e exposição de factos, escritos ordenadamente, sobre acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado e das diversas nações, países ou localidades em particular; ou ainda à biografia de uma personagem, ou ao estudo de uma ciência específica.

Ao percorrer os bairros mais precários existentes nas periferias das cidades angolanas como Luanda ou, neste caso mais particular Lobito e Benguela, damos conta da existência de muitos estabelecimentos de venda de medicamentos, entre “farmácias”, ervanárias e depósitos, a trabalharem de forma ilegal e a comercializarem produtos de origem duvidosa e nas situações mais “espantosas” que se possam imaginar. Não basta ser proibido!

À parte dos perigos e dos riscos graves que esta actividade pode representar para a população, muitas vezes os mais frágeis entre os frágeis, tenho de admitir que estes locais são mananciais riquíssimos de estórias, genuínas, muitas vezes com raízes profundas na ruralidade/abandono do nosso povo, que não teve, nem tem ainda, a instrução por todos merecida. Nos tempos idos, infelizmente, a escolarização não fazia parte da trajectória da vida das pessoas. E hoje? Teimosamente a situação persiste calamitosa e continuamos a hipotecar o nosso futuro, com tantas crianças e jovens com um acesso precário à instrução/educação.

Estas estórias, estes pequenos relatos de situações à volta do “serviço de farmácia”, com valor etnográfico, se fossem compilados seriam grandes contributos para entender a importância destes “serviços” mais finos, de maior proximidade de e com os cidadãos que substituem, por incapacidade total, o Estado ausente e ou totalmente alheado…

Muitas vezes estas estórias estão associadas a “bilhetinhos”, na sua maioria escritos pelo som…como no exemplo abaixo, que pede Água Oxigenada e Azul de Metilene…

Ou o bilhete que o vizinho, de véspera, ia pedir, a quem passasse por uma “farmácia”, para lhes levar os seus “precisos”…

Problemas de hemorroidal eram a queixa…

Angola como terra de paradoxos que é, a história repete-se! Temos, mais uma vez, as Farmácias de UNS, novas, modernas e bonitas farmácias informatizadas e, para lá do asfalto, no infinito da poeira, estas farmácias “informais”, por vezes denominadas de farmácias de 3.ª classe, carentes em quase tudo à excepção da capacidade de “driblar a lei” e fazer a venda clandestina… Para muitos cidadãos é a resposta possível!

Fica um misto de sensações: de um lado a riqueza humana e etnográfica que estes pontos do território representam e, por outro, a profunda tristeza indignada a que o desleixo e a incapacidade do Estado submetem muitos e muitos concidadãos nossos. Mereciam mais e melhor! Estamos Juntos!

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