O Parque Regional de Chimalavera, situado entre Benguela e o Dombe Grande, representa uma das áreas naturais com maior potencial turístico e ecológico da província. No entanto, uma visita recente realizada ao local com intuito de fotografarmos e filmarmos a zona, expõe uma realidade desoladora: o abandono quase total por parte das entidades responsáveis, nomeadamente o Ministério do Ambiente.
O acesso ao parque é o primeiro obstáculo para qualquer visitante. O trajecto final dos 2km desde a estrada, conta com cerca de 500 a 600 metros de condições precárias, repleto de buracos e ravinas, tornando-se praticamente intransitável para veículos ligeiros. Esta limitação de acesso já demonstra a ausência de manutenção básica em algo que deveria ser prioritário em qualquer estrutura de acolhimento turístico.
Ao chegar ao local, a situação agrava-se. Não havia qualquer presença de guardas ambientais identificados ou uniformizados, tal como se esperaria de um parque sob tutela governamental.
Em seu lugar, três jovens (1 rapaz e 2 jovens) — sem qualquer identificação institucional — ocupavam a área do jango, atualmente inoperacional, e quando questionados informavam sobre o funcionamento das casas de alojamento, alegando que estas “funcionam todos os dias”.
-Esta afirmação levanta uma questão crucial: se as instalações não estão formalmente concessionadas, quem está a lucrar com a sua utilização?
Informamos que pretendíamos visitar o parque e o objectivo era fazer conteúdo para divulgar o mesmo, ao que nos foi indicado que a cobrança é de 4.000 kwanzas por pessoa para entrada no parque. Foi justificado o valor com o “regulamentado”. Contudo, não é emitido qualquer recibo, sob o argumento de que “o tinteiro acabou”. Mais grave ainda, não há qualquer prestação de serviço associada ao valor cobrado — não há transporte, não há guias, não há qualquer estrutura organizada.
Importa destacar que o próprio Ministério do Ambiente investiu, em anos anteriores, na infraestrutura do parque, cedendo as casas de apoio, os Bungalows de alojamento e adquirindo equipamentos que hoje estão aparentemente ao abandono ou em uso sem controlo. Esses investimentos públicos, realizados com o objectivo de valorizar e dinamizar o ecoturismo e a conservação ambiental, estão hoje em risco de completo desperdício.
Apesar da negligência, o parque ainda abriga uma rica fauna local, destacando-se as conhecidas cabras de leque, babuínos, répteis e muitas aves que continuam a habitar o planalto, mesmo sem vedação em todo o seu perímetro. A ausência de fiscalização coloca também esta biodiversidade em risco.
A conclusão impõe-se: o Parque de Chimalavera precisa urgentemente de uma gestão competente, comprometida e com autonomia para revitalizar e proteger este espaço natural.
Está mais do que provado que o Ministério do Ambiente não possui condições operacionais ou logísticas para gerir este parque. A ausência de fiscalização, transparência e compromisso institucional é um reflexo de um modelo de gestão ineficaz, que ameaça não só o património natural, como a reputação da própria tutela ambiental em Angola.
É tempo de repensar a governação das áreas protegidas. O Chimalavera merece mais — e o sector do turismo agradece.
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