Na espuma dos dias

HÁ MALES QUE VÊM POR BEM?

Escrito por figurasnegocios

“Há males que vêm por bem”. Este ditado popular sempre me soou a consolo, tal como o “Boda molhada, boda abençoada”, parece ser uma espécie de conforto às pessoas pelas suas desilusões.

O ser humano tem uma espécie de condescendência para o mal, temos uma certa resistência em aceitar as coisas más, mesmo quando morre um ente querido justificamos a morte com frases feitas que se ouvem nos óbitos: “acabaram-se os seus trabalhos”, “não sofre mais”, “agora está em paz”… mesmo que por dentro sintamos revolta pela sua perda.

Quanto mais acompanhamos o viver e o sentir dos nossos irmãos, um pouco por todo o país, mas com especial incidência na periferia das maiores cidades – Luanda, Benguela, Lobito, Huambo e Lubango – mais colhemos sobre a sua enorme dimensão humana, capacidade resistência/resiliência (que quase parece infinita) necessária para vencer todos os alçapões que se vão abrindo… o que faz da vida de cada um, de cada família, uma pesada “prova de obstáculos”! Imaginam o que sempre fica a “bailar” na minha mente? Não podia ser diferente neste encetar de 2025, 50 anos depois da independência?

“Tentar encontrar sentido no mal”. Temos a mesma reação com outros problemas e obstáculos da vida, a nossa forma de resignação ao que não conseguimos mudar é tentar encontrar sentido no mal, é procurar o lado positivo do negativo, fazemos uma espécie de balanço para continuarmos equilibrados. Aqui vem ao de cima a ancestralidade, sempre muito presente, forte e genuína no nosso povo.

Quando a balança é carregada com demasiados pesos negativos sentimos dificuldade em equilibrá-la e sentimo-nos tristes, perdidos, curvamo-nos um bocadinho e seguimos cabisbaixos com o peso que acarretamos nas costas. Muito de nós pensamos que com o fim da guerra (colonial, depois fratricida…) deixava de haver lugar para tristezas tão pesadas, mas o agora, infelizmente, contraria-nos. E porquê? Vislumbram-se culpados? Claro que sim!

“Depois da tempestade vem a bonança”. Há alturas na vida em que não há frases feitas que nos ajudem, o típico “não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe” deixa de fazer sentido, a máxima que “depois da tempestade vem a bonança” parece uma miragem, pois sentimos que o mal, os infortúnios sucedem-se uns aos outros sem nos darem tempo de respirar.

Claro que para alguns (não são necessários nomes…) a vida sorriu-lhes, mas a esmagadora dos angolanos pouca ou nenhuma “bonança” (que podemos traduzir por melhor saúde, melhor educação, melhor assistência social, menos fome…) sentiu depois de toda(s) a(s) tempestade(s) porque têm passado.

Dos males que nos acontecem existem aqueles a quem não conseguimos atribuir culpas, acidentes, avarias, peripécias próprias da vida, mas há outros que têm culpados, culpados assumidos e convictos, porque há pessoas que descaradamente e despudoradamente vivem para fazer e ver o mal dos outros. Fazem-se valer do poder(zinho) que arrogantemente capturaram.

Motivadas por inveja, cobiça, maldade, mesquinhez e, sobretudo, ganância, interferem na vida dos outros como se as pessoas fossem marionetas num espectáculo que controlam ao seu ritmo, sem respeito ou consideração pelo que as suas atitudes vis fazem à vida dessas mesmas pessoas, que não são bonecos de madeira e trapos, são carne, ossos e sangue com ideias, sentimentos e pensamentos – são angolanos!

“Há males que vêm por bem?” O bem que aqui expressamos é o devir (do latim devenire, chegar), é um conceito filosófico que indica as mudanças pelas quais passam as coisas e NÓS devemos agarrar esse bem com unhas e dentes.

Estamos Juntos!

 

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