Na espuma dos dias

ELEIÇÕES 2022: É CASO PARA DESCONFI(N)AR?

Por: Édio Martins

Percebemos a existência de um grande consenso, tanto no país como no exterior, acerca da importância das eleições gerais previstas em Angola, neste ano de 2022. Importância que advém, não só da expectativa que “todos” colocam no “renovar” da esperança, mas também devido ao que essas eleições significam, no quadro jurídico angolano: escolher tudo – o poder legislativo (Assembleia Nacional); o Presidente da República (Chefe de Estado; Chefe de Governo e o Comandante-em-chefe das Forças Armadas).

Entre afirmações e fragilidades, João Lourenço e o MPLA foram ziguezagueando ao longo dos últimos 5 anos – ora umas vezes guinadas à direita, ora outras vezes viradas à esquerda…, mais ao menos populistas, mais ao menos tecnocratas, mais ao menos elitistas. Um pouco de tudo!

Desconfiança da opinião pública da luta contra a corrupção, que tem visado pessoas do anterior regime, discriminadamente – vingança pessoal/política, ou uma limpeza estrutural? O domínio judicial em Angola não é inteiramente independente do poder político – malformação congénita ou propósito objectivado?

Incapacidade de travar/inverter a dinâmica de declínio económico e questões externas como a pandemia de covid19 – inevitabilidade ou incompetências e matumbices? A “desactualidade” do ‘software’ do MPLA, que foca realidades do passado angolano que hoje em dia têm uma relevância muito restrita para a grande maioria da população angolana, cujas preocupações estão relacionadas com a actualidade (…fome, miséria, desalento…) – paleontologia política ou uso excessivo do retrovisor?

Em comum com a oposição (e os activistas), o MPLA não parece capaz de mobilizar, de forma consistente para um projeto político de futuro, essa entidade mítica – a juventude – altamente frustrada e com perspectivas de vida muito limitadas – insensibilidade ou cegueira social/política?

Perante tamanhas evidências é tempo para desconfi(n)ar?

Em Angola, 2022 será um ano de “temas quentes”, com alegrias e tristezas de amigos e outras gentes. Será um tempo repleto de peripécias, que retratará de forma “cómica” ou dramática o flagelo que vivemos com máscaras (as físicas e as outras), vacinas, acções que ninguém fiscaliza, explicações loucas e repetidas histórias (para os mesmos males), cada vez mais amadurecidas. Haverá, certamente, muitas coisas para contar em época de desconfi(n)ar…

Eleições, um dos momentos mais aguardado por todos chegou: vamos desconfiar (ter falta de confiança; duvidar; desconfiar de alguém) e, pouco a pouco, reafirmar a nossa liberdade anterior. Vamos desconfinar (tirar ou sair de isolamento ou clausura = desenclausurar, libertar, soltar) a esperança! Com isto, é muito natural que sensações como a ansiedade, alguns receios, medos e dúvidas se manifestem e, atenção, têm uma justificação.

O cérebro é reptiliano: acomoda-se e evita a mudança. Inicialmente, podemos sentir que é preferível a continuação do “estado de coisas” que temos vindo a “levar” nos últimos anos /décadas, mas a mudança é necessária… E a ansiedade faz parte deste processo.

Respeitemos as nossas limitações. Muitas vezes, sentimo-nos ansiosos por pensar muito no futuro, o que gera medos, fazendo com que se sofra por antecipação. Mas, até quando vamos deixar que a ansiedade nos limite?

O ser humano não gosta de incertezas e, em geral, é muito resistente a mudanças. Vários estudos afirmam que o ser humano prefere, muitas vezes, viver num desconforto que já é conhecido do que ter de gerir novas e incertas realidades.

Os angolanos iniciam o ano de 2022 na expectativa, tendo em conta o debate político, em torno das eleições gerais, que devem decidir a continuidade ou a renovação da liderança do país, que precisa vencer o subdesenvolvimento.

Desconfi(n)ar com responsabilidade. Precisa o país e os angolanos agradecem. Estamos juntos!

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