A ascensão da economista Vera Daves de Sousa para Ministra das Finanças de Angola sempre foi um ponto de disputa entre aqueles que, sentindo-se preteridos, alimentam o ressentimento de não terem sido escolhidos ou verem os ´seus´ ocuparem o cargo.
Por: Helvêncio Gamboa ⁄ Fotos: Arquivo F&N
Vera Daves, cujo nome é respeitadíssimos entre os pares quer dentro quer fora do país, passou a ser alvo dos títulos de blogues e murmúrios de corredores como se fosse culpada por crimes alheios, apenas por estar no lugar certo, mas também apetecível.
Os argumentos a roçarem o rasteiro apontam a “juventude” e consequente “falta de experiência” como a causa da desgraça de Angola. Nessa procura incessante de motivos, ainda que sem provas irrefutáveis, o caso AGT caiu como um presente para os detractores da jovem, como se a gestão danosa fosse uma epidemia transmissível pelo ar que se respira. Na lógica dos adversários de Vera, muitos deles também do Presidente João Lourenço, ela passou a cérebro da trama, como se ela fosse omnipresente. Aliás, nem Deus, que é digno deste título, fora capaz de impedir o homem de pecar.
O mais curioso é que, para quem presta atenção à trajetória de Vera, a narrativa da inexperiência desmorona antes mesmo de se levantar.
Aos 43 anos, esta angolana já trilhou um caminho que poucos percorreriam numa vida inteira. Ela não caiu do céu para a cadeira de Ministra.
Antes disso, havia Vera no banco, Vera na Comissão de Mercado de Capitais, Vera na Secretaria de Estado e, claro, Vera como técnica do Ministério das Finanças. Dizem que ela é jovem demais? Pois, deixem-me recordar: José Eduardo dos Santos assumiu a Presidência da República com 37 anos, e Augusto da Silva Tomás quando assumiu a pasta de ministro das Finanças tinha 38 anos. Isso porque, em Angola, ser jovem não é um pecado, nem impeditivo para o que quer que seja.
Mas o caso de Vera Daves não é sobre idade. É sobre desconforto. É sobre o incômodo de ver uma mulher, da geração pós-independência, destacar-se com competência num espaço que muitos acreditam reservado para outros — os homens, os mais velhos, os mais coniventes, os menos disruptivos.
E não se enganem: o mérito de Vera não se limita ao discurso elegante ou às entrevistas bem conduzidas. Os factos falam mais alto. Foi ela quem liderou o processo de estabilização macro-económica da economia angolana. Foi ela quem garantiu que Angola antecipasse pagamentos de Eurobonds e negociações bem conseguidas com gigantes como o FMI e o Banco Mundial. E foi ela, também, que recebeu aplausos internacionais ao ser nomeada a melhor Ministra das Finanças de África. Alguém inexperiente conseguiria isso?
O que parece ter despertado ainda mais ódio, no entanto, foi o caso recente da AGT. Ora, se técnicos da instituição cometeram irregularidades, como pode isso ser culpa da Ministra? Será que os crimes de funcionários devem ser colados à testa de quem lidera uma pasta tão complexa? E ainda mais intrigante: até hoje, nenhuma prova foi apresentada que ligue Vera a esses indivíduos apontados como suspeitos. Mas quem precisa de provas quando o objetivo é manchar uma reputação?
Estes ataques revelam algo mais profundo. Não são apenas sobre irregularidades ou suposta inexperiência. São sobre algumas pessoas que ainda resistem a aplaudir o sucesso de uma jovem mulher que ousa ser excelente. É o velho conflito geracional, mas também a inveja escondida sob críticas disfarçadas de moralidade.
Vera incomoda porque, ao contrário de muitos, não chegou ao topo carregada por meio de alianças políticas questionáveis. O seu percurso é técnico e meritocrático. É alguém que estudou, trabalhou, errou e acertou, e agora ocupa o lugar que conquistou com suor. E, claro, isso fere os egos de quem esperava que o jogo permanecesse o mesmo.
Mas a Vera não é apenas uma Ministra eficiente. É uma contadora de histórias e uma defensora dos pequenos ganhos. O tom calmo, mas firme, de quem sabe que liderar em Angola não é para os fracos. É um exercício de equilíbrio entre as expectativas de um povo que anseia cada vez mais desenvolvimento e as pressões de um sistema que ainda carrega vícios do passado. E, mesmo assim, ela segue, entrega resultados e simplesmente ignora quem tenta reduzi-la a estereótipos.
O que os críticos precisam entender — e talvez isso doa um pouco — é que Vera Daves representa uma nova Angola. Que ganha mais força com as reformas implementadas pelo Presidente João Lourenço. Uma Angola de técnicos bem formados, de mulheres em posições de destaque, de jovens que não aceitam o “status quo”.
Se há algo que precisa de ajustes no sistema, que se critique com base em factos, não em preconceitos.
No final, o que mais assusta é perceber que o verdadeiro problema não é Vera Daves, mas o que ela simboliza. Simboliza competência, mudança e o incômodo de saber que o mérito, afinal, pode triunfar. Que aqueles que trabalham duro, que estudam e que acreditam num futuro melhor podem chegar lá.
E isso, meus caros, é algo que os inimigos do progresso têm dificuldade em aceitar. Até lá, talvez devêssemos celebrar que, faça chuva ou faça sol, há quem esteja disposto a carregar o peso de liderar Angola rumo a um futuro melhor.
Deixe um comentário