A Mota-Engil vai continuar a apostar fortemente no mercado angolano, não apenas em investimento (de negócio), mas também na formação das pessoas, disse Carlos Mota Santos, presidente da construtora, à margem do debate do International Club de Portugal (ICPT) que decorreu em Lisboa, e onde o gestor foi o spreaker.
Por:Vitor Norinha (vnorinha@gmail.com)
“O mercado angolano é, e continuará a ser” um dos nossos mercados importantes, é o nosso mercado de génese”, disse Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil SGPS, à margem do recente debate em Lisboa promovido pelo ICPT, depois de questionado sobre as perspetivas para Angola. Acrescentou: “Estamos a assistir a uma evolução muito positiva sob a liderança do presidente João Lourenço e, em termos de engenho e sorte temos conseguido participar naqueles que são os projetos mais importantes em termos de infraestruturas de Angola”. Frisa que a Mota-Engil vai continuar a apostar fortemente neste mercado, “não só em termos de investimentos mas também em termos de formação de pessoas e da actuação da nossa delegação”.
No evento do ICPT Carlos Mota Santos, que vai na terceira geração em termos de gestão, tem no seu DNA a actividade internacional, tendo a empresa sido fundada em 1946 e começado por trabalhar exclusivamente em África. E, só em 1973 é que iniciou atividade em Portugal.
E para ter sucesso, acrescentou o gestor ao descrever as características do grupo, é necessário “escala”, para logo de seguida acrescentar que “uma empresa sem escala não tem hipótese num mercado competitivo”. Disse ainda que em termos de empresas de capital português na construção civil, existe apenas uma nas 100 maiores. E o sector ficou de tal forma competitivo que se em 2006 existiam em Portugal 25 grandes empresas do sector da construção e engenharia, hoje existe apenas 11. Acredita que o desaparecimento das companhias ficou a dever-se ao problema da escala e da ausência da cultura das fusões por parte dos empresários.
Em termos de presença no sector da construção em África, a Mota-Engil é apenas superada pelas empresas francesas e acrescenta que o valor da marca “Mota-Engil” é superior ao valor da marca país, algo que é contrário quando se fala de empresas francesas ou brasileiras.
E em termos de internacionalização para África e América Latina o grupo Mota-Engil tem privilegiado a promoção de parcerias locais, seja de capital ou meramente de indústria. Confessa que “hoje o grupo tem uma abordagem por mercados e por projecto”, com serviços para mineração, engenharia de portos ou de pontes. Aliás, em termos de “mining contracts” em África a empresa trabalha a exploração de minas em todas as fases, e trabalha com clientes “tier 1” no ferro, cobre ou ouro. O objectivo tem sido o desenvolvimento deste tipo de projectos de longa duração e que são pagos em moeda forte. Nesta área estão a trabalhar mercados do Mali e da Guiné-Conacri e pretendem desenvolver o mesmo tipo de projectos nos mercados de Angola, Moçambique e na América latina. No ambiente o grupo domina 60% do mercado português e está nos mercados core de S. Paulo e Belo Horizonte, no Brasil, e está bem posicionado em Angola, Moçambique a Costa do Marfim. O plano é sempre levar a engenharia à frente e depois desenvolver outras áreas, como o ambiente ou a parte de “mining”. E para o futuro imediato o mercado de “procurement” é altamente atraente, obrigando os fornecedores a fazer os stocks e sublinha que nos tempos actuais mais do que comprar equipamento o objectivo é alugar equipamento.
Mercados ou oportunidades – E acrescenta que dos 23 países onde trabalham a abordagem pode ser “como mercados ou como oportunidades”, sendo que uma das características que diferencia o grupo de outros é saber analisar um mercado e “conseguir tomar a decisão de sair”. O grupo, recorda, tem uma facturação externa de 5,3 mil milhões de euros, equivalente a 2,5% do PIB português e 5,7% das exportações.
E dentro dos três pólos de actuação, África, América latina e Europa, tornou-se relevante o crosseling pois a Mota-Engil é o maior grupo português na área ambiental, sendo uma das áreas com melhor rendibilidade. E entre os fatores críticos para a internacionalização está a qualidade, sendo que a fidelização é difícil, sendo a Mota-Engil, como referimos, reconhecida pela sua marca e não por ser portuguesa, frisando que “não há conotação com o país”. Por outro lado, a companhia tem apresentado soluções engenhosas em termos de financiamento ao cliente ou ao projecto, sendo esta uma das “razões de sucesso, a par da inovação”. Por outro lado, as parcerias locais significam ter incorporação local a nível de fornecedores de projetos, de materiais e de recursos humanos, muito embora o grupo tenha contrato com 6500 portugueses em 60 mil colaboradores totais a trabalhar fora de Portugal. E, para este sucesso outro factor relevante tem sido a criação de valor para as comunidades locais e daí o trabalho levado a cabo pela Fundação António Manuel da Mota e que está activa em todos os mercados internos e externos com actividade social.
Na actualidade a Mota-Engil é a terceira construtora em volume na África subsariana com apenas 20% da actividade a ser produzida em Portugal e dos 3,8 mil milhões de euros de vendas em termos de construção sem incluir o ambiente, apenas 8% tem origem em Portugal. E as expectativas para 2023 são as melhores com a perspectiva de mais 20% em termos de facturação alavancados na actividade internacional, sendo que na actualidade a América latina representa a maior fatia dos negócios com 40% do bolo, seguido de África com 31%, e da Europa com 29%.
Os condicionalismos no sucesso internacional está, segundo Carlos Mota Santos na falta de previsibilidade dos mercados, sendo que o mercado interno que deveria alavancar e potenciar a estratégia é onde essa imprevisibilidade é mais acentuada. Por outro lado, os falhanços da concorrência aconteceram com o colapso do mercado europeu que os levou a internacionalizações apressadas, nomeadamente para Angola, considerada o El Dorado, e onde faliram. O gestor considera que grandes mercados como Angola, Moçambique ou o México são previsíveis, sendo que a estabilidade destes mercados “não pode ser (analisada) pelos nossos critérios” e adianta que temos de saber que “as regras do jogo não se alteram a cada dois anos”. E por último, regista-se uma falta de capacitação dos recursos humanos que torna as operações menos eficientes. E o gestor comparou os incentivos à internacionalização em Portugal versus Espanha, onde neste país os planos não se alteraram mas em Portugal o valor acrescentado bruto do sector está em 2019 abaixo do registo de 2004. E deu mais um número com apenas quatro das 30 maiores empresas de construção civil do mundo a terem mais facturação no exterior do que no mercado interno. Por último como condicionalismo para a actividade está a falta de escola, com a Mota-engil a contratar quadros externos que são formados em Portugal.
E entre as necessidades imediatas para o sector da construção civil e obras públicas que pretende continuar a internacionalização está a necessidade de linhas de financiamento de seguros de crédito dedicados à internacionalização, e atribuídas tanto a PME como a grandes empresas. Por outro lado, é necessário a afirmação do banco de fomento, da diplomacia económica e o alargamento da base geográfica dos créditos à exportação para além dos importantes Palops.
Por último, o presidente da Mota-Engil SGPS mostra-se satisfeito com a parceria feita com os chineses da China Communications Construction Company (CCCC), que detêm 32% da companhia cotada na Bolsa de Valores de Lisboa. Salienta que “os dois anos como accionista criaram uma relação forte em confiança na gestão”. Frisa que o grande volume da carteira de encomendas actual resulta “numa percepção por parte dos clientes que hoje temos uma capacidade superior com o gigante chinês”. A parceria tem permitido avançar com companhias ligadas a comboios “mas sobretudo tivémos acesso ao mercado gigantesto de procurement”. Carlos Mota Santos reforça que não se sente incomodado ou pressionado pelo facto de por detrás do CCCC estar o Estado chinês.
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