Conjuntura

A instabilidade na região da CEDEAO: OS MOTIVOS DOS SUCESSIVOS GOLPES DE ESTADO

Escrito por figurasnegocios

Na sexta-feira, 29 de Setembro transacto, estoirou mais uma desagradável notícia. Notícia? Nem tanto, na raridade espacial e ortodoxia jornalística. Pois, em termos concretos, duplicou tão-somente o golpe de Estado no Burkina Faso. O capitão Ibrahim Traoré, de 34 anos, derrubou o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, na chefia da junta militar. Ou, seja, um retoque do cenário de 24 de Janeiro passado, que viu a força militar abolir o poder do então presidente eleito, Rock Marc Kaboré.


Por: Siona Casimiro

Pretexto alegado por Traoré: desvio do ideal do Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR). Tal anseio consistia em acabar com a insegurança no país. De facto, o motivo tem sido estrutural na quase uma década  de existência do regime civil, liquidado em Janeiro. Somara, num balanço de sete anos, teve acima de 2 mil mortos e 1,5 milhão de deslocados internos. E, num   só dia de Novembro de 2021, o famigerado massacre d’Inata traduziu-se em 53 vítimas, entre as quais 49 gendarmes. Em verdade crua, aqueles militares sertanejos andavam  armados face a uma incursão jihadista.

Enquadramento na Região – Inverterá a liderança do jovem capitão Traoré tal panorama? Nada de tão incerto, pelo profundo enquadramento numa região tão instável como o Sahel, no presente. De 2020-2022, quase uma dezena de aventuras análogas deram-se na vizinhança, abarcando o Mali, a Guiné-Conacri, o Chade e a Guiné-Bissau. E o contágio ressente-se nos isolados recantos de sossego aparente, que são o Senegal, a Côte de Ivoire, o Gana e a gigante Nigéria. Estes Estados têm alavancado, pelo menos, a viabilidade e credibilidade da Comunidade dos 15 Estados da África Ocidental (CEDEAO), nomeadamente Benin, Burkina Faso; Cabo Verde, Cote d’Ivoire, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Guiné Conakri, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal e Togo. Mas, têm conseguido jogar este papel sem ilusão, como sobressaiu no discurso do presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, em Março passado: “A região da África Ocidental está de volta às manchetes internacionais pelas piores razões”, disse na cimeira da CEDEAO, que acolheu. Exortou à “tolerância zero” perante golpes militares.

Na esteira, se pode mencionar um eco deste apelo, mesmo na longínqua Angola, localizada na África Central e Austral. Notavelmente, ressoou o vozeirão do Presidente João Lourenço, no repúdio da peripécia de Ouagadougo de Setembro passado. “Na qualidade de Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África, condenamos veementemente este acto e exortamos os golpistas burkinabes a facilitarem o trabalho das actuais autoridades da transição, voltado para o cumprimento do cronograma de transição que prevê o regresso à ordem constitucional, até 01 de Julho de 2024”, afirmou numa mensagem o chefe de estado angolano , datada de 3 de Outubro.

Confluência de factores – A eficiência de tamanha expressão de solidariedade, o porvir dará a sua medida. De momento, tudo embrulha-se na confluência dos factores endógenos e exógenos, que determinaram a contrariedade histórica, nomeadamente:

  • A exasperação da pobreza do Sahel, nos avatares de um país encravado.
  • Os idosos interesses neocoloniais da França (ora, alvo escaldante de uma histérica xenofobia de fácil manipulação).
  • As sequelas da queda do regime de Kadafi na Líbia, que estrangulou os esquemas de emigração, pelo Mediterrâneo, dos jovens frustrados.
  • O aproveitamento estratégico do jihadismo, veiculando os apetites islâmicos (idos do Egipto, Arábia Saudita e Emiratos Árabes Unidos).
  • A emergência da hegemonia chinesa, em afirmação de uma superpotência, ainda que em “soft power”.
  • A fragilidade da União Africana.

Sendo perpéctua a esperança de uma alternância… a ver vamos a sequência do filme. Tanto mais que as forças montantes da mutação, também têm crescido no rodopio dialéctico do continente e do globo. (Luanda, 22 de Outubro de 2022).

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