Ponto de Ordem

TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO OU ZANGA DE COMPADRES?

Victor Aleixo
victoraleixo12@gmail.com

O passado dia 25 de Novembro em S.Tomé e Príncipe ficou tristemente marcado por uma propalada tentativa de golpe de estado orquestrada por meia dúzia de indivíduos que tentou tomar de assalto o quartel-general das forças armadas das ilhas.

As informações oficiais provenientes do governo chefiado por Patrice Trovoada davam conta, nas primeiras horas do dia, de que houve, de facto, uma tentativa de golpe de estado, entretanto frustrada pelas forças governamentais que detiveram imediatamente um ex-líder do parlamento, mataram três dos assaltantes e obrigou a que o chefe do Estado Maior das forças armadas pedisse demissão a um primeiro-Ministro que também foi acusado pela oposição de ser o testa de ferro da intentona militar.

Trovoada negou categoricamente tais acusações, tendo dito à agência Lusa que  não sabia como é que um governo  vence as eleições com maioria absoluta e onze dias depois de tomar posse, com todos os responsáveis dos serviços das forças de defesa e segurança nomeado pelo anterior governo, procura fazer um golpe de estado contra si próprio… “O nosso objectivo fundamental é construir um país melhor para os são-tomense, mas sobretudo os mais necessitados. Qual é o meu problema em me envolver nesse cenário macabro… Enfim, como é que eu podia? Não sei, sinceramente. Não consigo interpretar o que está por detrás dessas difamações, disse o primeiro-Ministro, que já tinha pedido apoio na investigação do imbróglio a Portugal que chegou a enviar equipas da Polícia Judiciária e do Instituto de Medicina Legal, bem como às Nações Unidas e à comunidade internacional.

No fim desta história, S.Tomé e Príncipe vê a sua imagem desgastada, numa altura em que mais precisa de apoio dos seus parceiros para acudir a crise económica e social grave que atravessa.

Recordo que três dos quatro assaltantes e um tal de Arlécio Costa, pertencente ao tristemente célebre batalhão Búfalo foram mortos quando, note-se, encontravam-se detidos pelas autoridades militares, facto que mereceu a condenação veemente de organizações internacionais ligadas à defesa dos direitos humanos.

No fundo, houve uma peleja entre compadres interna, que custou vidas humanas, manchou as eleições legislativas realizadas recentemente, em que justamente o partido de Trovoada (a ADI)  foi vencedor e o eterno rival MLSTP ficou uma vez mais a ver navios.

Os ânimos naquele país pequeno com pouco mais de trezentos mil habitantes já estão alterados há muito tempo, e esta ´´tentativa de golpe de estado` não é a primeira, pois na altura em que o Presidente Fradique de Menezes assumiu o cargo, registara-se outra, com a participação de elementos ligados ao batalhão Búfalo de triste memória.

Golpe de Estado ou não, este incidente colocou S.Tomé na lista de países considerados politicamente instáveis do continente africano, confrontado com a miséria extrema, governos inseguros, corruptos mergulhados em conflitos  internos graves, sem uma organização do estado decente e lamentavelmente com registos de golpes de estado que se tornaram uma rotina em alguns casos.

No fundo, persistem muitas dúvidas sobre o que aconteceu em S.Tomé e Príncipe…  Se terá sido mesmo uma tentativa de golpe de estado ou um ajuste de contas entre rivais partidários. Sim, paira também no ar o receio que o país, que alcançou a independência em 1975, sob a liderança do MLSTP de Pinto da Costa, não consiga abraçar definitivamente a democracia, a tranquilidade necessária para que encontre finalmente as vias do desenvolvimento sócio-económico, numa altura e que se aguçam os apetites de algumas potências como a Nigéria e mesmo Taiwan ou a China em relação às fortes hipóteses de se explorar petróleo no país..

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