PREÇO DO “OURO NEGRO” ACONSELHA APOSTA NOUTROS SECTORES DA ECONOMIA
Texto: Juliana Evangelisa Ferraz
O petróleo volta a ser notícia depois do preço do Brent ter registado uma recuperação de 1,85 USD nos últimos meses e situou-se acima dos 100 USD nos mercados internacionais, qualificando-se como o preço mais alto registado nos últimos sete anos. Este comportamento em alta resultou do impacto das sanções económicas impostas à Rússia nos sectores de energia, transporte e finanças pelos registos de conflitos com a Ucrânia.
A aceleração do preço do petróleo tem suscitado ao nível dos mercados expectativas, uma vez que, se os conflitos e sanções à Rússia perdurarem, os impactos serão de tal ordem que os especialistas estimam que o preço do barril de petróleo ultrapasse os 120 USD. Portanto, com a tendência altista, os maiores mercados de produção terão de criar novas estratégias de sustentação pelo facto deste aumento suscitar também a alteração de outras commodities energéticas, nomeadamente da Gasolina, gasóleo e do gás natural, sendo que muitos países já optaram em preparar a base de ajustamentos destes combustíveis para comercialização no mercado. Nota: Preço do Brent em Março/Abril. Fonte-Investing.com
Portanto, a oscilação do preço destas commodities afectam sobremaneira a economia Chinesa o maior consumidor de energia do mundo, que nos últimos anos tem registado taxas de crescimento acima de 7 porcento, com excepção ao ano de 2020 devido a pandemia da Covid-19. Porém, a China também aumentou a utilização de gás natural, em substituição do carvão em processos termoelétricos.
Esta medida insere-se no cumprimento da politica de redução da emissão de poluentes e na política de médio e longo prazo de transição energética da China. Por outro lado, a valorização do petróleo tem surtido um duplo efeito para alguns países como por exemplo, o Brasil que passam por uma profunda desvalorização cambial, portanto, o preço sobe, não apenas porque a commodity em si tem um preço elevado, mas sobretudo porque o dólar também afigura-se mais caro.
A economia nacional ainda é muito dependente da exploração de recursos naturais, o petróleo ainda representa cerca de 80% da receita pública, 98% das exportações. Com a cotação actual do petróleo, será importante aproveitar as vantagens provenientes destes encaixes financeiros que são situacionais e temporários, pois a economia é dinâmica, hoje a conjuntura é favorável e amanhã poderá ser adversa.
Uma das características no plano da economia internacional é a interdependência e assim, a subida sistemática do preço do crude é de todo benéfica para os países produtores, no entanto, poderá certamente causar a depressão dos países não produtores que dependem fortemente do petróleo, pois a indústria e sectores como o agricola e transportes, são fortemente dependentes deste recurso. Portanto, com a depressão e consequente paralisação destas economias o procura do petróleo poderá ressentir com uma quebra significativa, podendo o preço do barril recuar.
Assim, é também importante referir que o efeito da guerra no leste europeu, poderá afectar o preço dos alimentos, nomeadamente o preço do trigo produzido pela Rússia e Ucrânia por se qualificarem como grandes produtores a escala mundial. Esta situação, segundo os analistas pode criar consequências ainda desconhecidas em termos de produção e logística em consequência das sanções económicas, com impacto no nível de transações comerciais com os grandes compradores de trigo.
De acordo com a FAO (Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) a alteração do padrão da procura de cereais (consumo humano vs consumo Industrial) situou-se em 181 pontos no índice mensal de preços de alimentos, valor mais alto nos últimos cinco anos, sendo que este aumento a nível mundial representa cerca de 2,1%, em comparação ao ano anterior. A ONU alerta que a comunidade internacional tem de agir rapidamente no sentido de se garantir acesso a alimentos, evitar a interrupção dos financiamentos dos países evitando os cortes das cadeias de fornecimento.
No entanto, admite que os diversos programas de combate à fome não têm sido bem implementados, e previne que é imprescindível retirar cerca de 100 mil pessoas da situação de desnutrição, para que se atingir em 2030 a meta de eliminação total da fome no mundo. Pois de entre outros males, que arrefecem a economia mundial, aumenta cada vez mais o nível de desemprego e o sub-emprego (principalmente nos países desenvolvidos, com taxas de 15% á 20%).
Para a economia nacional as perspectivas que se desenham no curto prazo, mais do que esperar pelo boom do sector petrolífero, é importante que se continue as reformas económicas de forma a criar um nível de abertura mais interessante da economia, permitindo a entrada de fluxos de Investimento Directo Estrangeiro não apenas concentrados no sector petrolífero mas que oriente para outros sectores desde o financeiro, indústria, de forma a fomenter o desempenho das operações de importação e exportação, com vista a melhorar o índice da balança comercial .
Assim, a alteração de um modelo de desenvolvimento excessivamente focado na importação de matérias primas e bens de consumo, deve dar lugar a criação de um paradigma baseado na eficiência dos factores de produção interna com vista a exportação.
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