Como mediador, João Lourenço (Angola) obteve um princípio de diálogo entre Félix Tshisekedi (RDCongo) e Paul Kagame (Ruanda). Thisekedi diz aceitar. Analistas exprimem cepticismo quanto ao possível engajamento do Ruanda na pacificação, antevendo um “diálogo de surdos”. A guerra continua. A morte de dois soldados sul-africanos da missão da SADC na RDC gera polémica. A oposição pede a retirada dos 2.900 efectivos do contingente enviados para o território da RDC.
Texto: Manuel Muanza
Fotos: Arquivo F&N
A LUTA DE JOÃO LOURENÇO – Uma actualização dos acontecimentos na RDC pela estação francesa RFI faz menção à iniciativa recente do mediador, João Lourenço (chefe de Estado Angolano).
A agência oficial angolana ANGOP veiculou como resultado a aceitação por Tshisekedi do princípio de um encontro com Paul Kagame, seu homólogo do Ruanda, a quem atribui a responsabilidade pelo apetrechamento em armas e logística do grupo rebelde congolês M23.
Após discutir com Tshisekedi, Lourenço terá agendado conversa com Paul Kagame sobre o assunto, indicou a RFI. O compromisso obtido por João Lourenço, em Luanda, materializa as visões debatidas na cimeira da União Africana, a 18 de Fevereiro, em Addis-Abeba (Etiópia), baseadas no chamado “Roteiro de Luanda”.
TSHISEKEDI-KAGAME: HAVERÁ PAZ? – Sem precisar outros detalhes do conteúdo da fala de Lourenço com ambos os estadistas, para a fonte, apagar a “escalada do conflito no Kivu do Norte” terá sido o propósito.
Segundo a rádio RFI, citando a parte congolesa, a RDC mantém-se irredutível às condições que impôs ao Ruanda: a retirada imediata das tropas ruandesas do território congolês, a cessação das hostilidades e o acantonamento dos rebeldes do M23.
O diálogo entre Tshisekedi e Kagame parece suscitar pouca esperança para a pacificação.
Tal é o cenário previsto pelo editorialista togolês Jean-Baptiste Placca, para quem “o Ruanda e a RDC já não se limitam a uma violência verbal. Estão num espectro de um diálogo de surdos”.
Paul Kagame procura deslocar o debate para outro campo, sustentando a ideia segundo a qual a RDC integrou nas fileiras das suas forças armadas insurgentes ruandeses hutu das FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda), acusados de genocídio (de 1994) contra os tutsi.
Para Kagame, as FDLR perpetram actualmente assassinatos e raptos no Ruanda.
Se a RDC acusa Ruanda de sustentar M23, este devolve à RDC a responsabilidade pela protecção dos tutsi congoleses. Ruanda acusa também a RDC de usar o tribalismo e de estar em conluio com as FDLR contra tutsi ruandeses. “A isto chama-se diálogo de surdos. Se é que há diálogo”, exemplifica Jean-Baptiste Placca.
Uma declaração de Félix Tshisekedi, adotada como manchete da publicação online Africanews, completa o quadro do cepticismo em torno de um frente a frente entre os dois estadistas:
“Não discuto com o M23”.
As palavras de Tshisekedi são uma mensagem clara para reiterar o papel secundário da rebelião na guerra e reafirmar a responsabilidade do Ruanda no conflito.
Thisekedi fez tais declarações em conferência de imprensa, em Kinshasa, numa primeira aparição perante os jornalistas depois da sua vitória nas últimas eleições.
AJUDA À RDC E POLÉMICA EM PRETÓRIA – A morte de dois soldados sul-africanos da missão da SADC na RDC alimenta uma polémica opondo a oposição ao governo de Cyril Ramaphosa, chefe de estado.
A oposição pede a retirada dos 2.900 efectivos do contingente enviados para o território da RDC, argumentando não estar equipado e treinado para o “complexo” contexto e cenário do conflito congolês.
Recorde-se que África do Sul partilha com Malawi responsabilidades pela missão militar da SADC instalada na RDC para apoiar este país na guerra contra os rebeldes, nomeadamente o grupo M23.
No Leste da RDC está também um contingente das tropas do Burundi.
Estas realizam uma missão à margem da SADC, à luz de um acordo bilateral com as autoridades congolesas.
No meio do luto, Thandi Modise, ministro da defesa sul-africano, tentou acalmar as famílias dos soldados integrados na missão militar da SADC, afirmando terem recebido treino adequado para garantir o regresso em vida à casa.
Em Kinshasa, o ministro da defesa, Jean-Pière Bemba, assumiu estar a RDC a esforçar-se para as tropas da SADC estarem em segurança durante a missão no país.
Em Windhoek, quatro chefes de estado da região SADC concertaram visões com a intenção de coordenar as actividades militares dos contingentes destacados na RDC.
Segundo a RFI, os líderes da SADC desejam realizar um “mandato mais ofensivo” para a missão militar na RDC. Tratam-se dos presidentes Cyril Ramaphosa (África do Sul), Félix Tshisekedi (RDCongo), Lazarus Chakwera (Malawi) e Évariste Ndayishimiye (Burundi).
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