África

GUERRAS E ELEIÇÕES EM ÁFRICA EM 2024

Escrito por figurasnegocios

No Mali, o presidente da transição, coronel Assimi Goita, anunciou a intenção de promover diálogo interno entre malianos, para a paz e reconciliação. A coligação CSP-PSD (Quadro Estratégico Permanente para a Paz, Segurança e Desenvolvimento), que reúne os movimentos armados, rejeita a oferta. A missão da ONU despediu-se simbolicamente, facto gerado pela exigência junta instalada no poder, em guerra com jihadistas.

Textos: Manuel Muanza /Fotos: Arquivo NET

Abdel Fattah al-Buran (exército nacional) e Mohamed Hamdan Daglo “Hemedti” (Forças de apoio rápido), generais rebeldes, aceitaram encontrar-se, com a promessa de discussão sobre um cessar-fogo no Sudão. Mas o general Abdel al-Buran impôs condições: as milícias devem desocupar imóveis que converteram em bases militares nas cidades e vilas.

A acusação feita pelos Estados Unidos da América, qualificando ambos de actores de crimes de guerra, poderá perturbar o processo de pacificação.

Em Ouagadugu, o capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar, apelou os cidadãos de Burkina Faso para a contribuição aos esforços da guerra contra terroristas. Traoré iniciou a reestruturação das forças armadas, dará subsídios e seguro de vida aos integrantes da defesa popular.

Félix Tshisekedi, vencedor (73,41 por cento) das eleições na RDCongo, promete restabelecer a paz no Kivu-Norte, província controlada em parte pela rebelião do M23. O processo eleitoral, cujos resultados foram validados pela corte suprema a 9 de Janeiro de 2024, foi marcado por episódios de hostilidade.

Diálogo no Mali: ONU foi-se embora – O coronel Assimi Goita, presidente da transição no Mali, convidou rebeldes e formações políticas para um diálogo interno da paz e reconciliação.

Em reacção, a rebelião armada coligada (CSP-PSD – Quadro Estratégico Permanente para a Paz, Segurança e Desenvolvimento) rejeitou a oferta.

Para Mohamed El Maouloud Ramadane. porta-voz da rebelião, o anúncio da junta no poder invalida os acordos de paz de 2015 entre rebeldes e o governo sob a mediação internacional.

“Não vemos como substituir o acordo por um diálogo nacional”, comentou para a rádio francesa RFI.

Segundo o convite do coronel Goita, lançado por ocasião do ano novo, para o diálogo são inegociáveis os princípios fundamentais de “unicidade, laicidade do estado e a integridade do território”. Note-se que tais princípios são enunciados na nova constituição do Mali e nas cláusulas do acordo de paz de 2015.

MINUSMA, missão da ONU, abandonou Mali, após ser tida pela junta militar de como fracassado o engajamento na luta contra os jihadistas. Em Bamako, os contingentes hastearam simbolicamente a bandeira, dez anos depois (2013) da implantação, informou a agência noticiosa francesa (AFP).

Os militares, no poder desde 2020, são acusados de impor obstáculos artificiais às operações da MINUSMA, tais como proibições de voos. Para a junta militar, a missão da ONU intrometeu-se excessivamente em questões ligadas aos direitos humanos, embora se trate de um domínio inscrito no seu mandato (antecipado para 31 de Dezembro por decisão do Conselho de Segurança, a 30 de Junho, e a pedido do Mali).

A retirada dos capacetes azuis (cerca de 15.000 efectivos) acontece enquanto crescem actividades de grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. As desavenças no seio da aliança dos grupos rebeldes (Coordenação dos movimentos de Azawad CMA -criada em 2014) favorecem a expansão dos jihadistas. O líder do Movimento para a salvação de Azawad (MAS), Moussa Ag Acharatoumane, afastou-se da coligação CSP-PSD (Quadro Estratégico Permanente para a Paz, Segurança e Desenvolvimento) que alberga os movimentos armados do Mali. Recusa-se, inclusive, de combater contra a junta. Já GATIA (Grupo Touareg Imghad e Aliados), outro braço rebelde, saiu da coligação em Julho. Estes rebeldes independentistas do Norte do Mali são signatários dos acordos de paz de Alger (15 de Maio e 20 de Junho de 2015).

O país está praticamente dividido em ilhas. Os rebeldes do Grupo de apoio ao Islamismo e aos Muçulmanos (JNIM – acrónimo em árabe) impus uma interdição de acesso a civis e às missões humanitárias à histórica cidade e a região de Tombuctu. Desde Outubro do ano passado, os habitantes estão privados de bens essenciais, segundo um relatório das ONG’s citado pela imprensa internacional.

Talvez paz no Sudão  – Os generais Abdel Fattah al-Buran e Mohamed Hamdan Daglo (“Hemedti”), envolvidos na guerra no Sudão, aceitaram o princípio de um encontro com provável discussão sobre um cessar-fogo.

Mohamed Hamdan Daglo (“Hemedti”) foi adjunto de Abdel Fattah al-Buran até 15 de Abril, quando eclodiram os confrontos pelo controlo do poder no Sudão.

O entendimento obtido pelo IGAD, Organização Regional do Corno de África, está a ser considerado como passo importante por ter havido insucessos de várias tentativas de proximação desde o começo da guerra, há sete meses.

Abdel Fattah al-Buran (chefe de estado-maior do Sudão) procura obter a recolha para as áreas de acantonamento dos efectivos das Forças de Apoio Rápido, comandadas por Mohamed Hamdan Daglo “Hemedti”, segundo Sudan Tribune.

O comando das Forças de Apoio Rápido, por sua vez, deseja a detenção dos colaboradores do antigo regime de Cartum. Ambas as posições poderão dilatar as discussões e instalar o risco de prolongamento do conflito.

Contudo, o general Abdel al-Buran impus algumas condições: as milícias devem abandonar os imóveis que ocupam e transformam em bases militares em cidades e vilas. Para ele, tal pré-requisito faz parte do acordo de 11 de Maio de 2023 e deve ser respeitado.

Recentemente, o Departamento de Estado americano acusou ambos os generais de crimes contra a humanidade no Sudão. Antony Blinken fez alusão à violência e morte de prisioneiros da parte dos contendores, num comunicado citado pela imprensa americana.   Responsabiliza as forças de Mohamed Hamdan Daglo “Hemedti” pelo terror contra mulheres e crianças, incluindo violência sexual, sobretudo contra os sobreviventes do genocídio de Darfour (que aconteceu há 20 anos).

Blinken fala mesmo de limpeza étnica e crimes contra a humanidade atribuídos às Forças de Apoio Rápido.

Guerra e comida no Burkina Faso – No Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar, promete intensificar a guerra contra os grupos terroristas.

Traoré disse contar com empresas e trabalhadores para estes apoiarem os esforços da guerra.

Em discurso, num acto de comemoração do 63º aniversário da independência, o capitão pediu aos terroristas a depositarem as armas, mostrando firmeza e determinação nos preparativos para os liquidar, indicou o diário Sidwaya.

Reformas das Forças Armas burkinabes estão em curso, visando uma actuação concertada dos vários ramos.

Recentemente, sete batalhões de intervenção rápida concluíram a formação, tendo iniciado o envio de alguns para as posições desenhadas pelo comando das operações. Cinco outros batalhões estão na fase de instrução, além de batalhões de intervenção aerotransportados já formados.

A junta abasteceu os ramos das forças armadas com equipamentos modernos, facto sublinhado pelo próprio capitão Ibrahim Traoré, ao admitir o facto de “a guerra ter um custo”. Preveniu os cidadãos para sacrifícios devidos aos esforços da guerra, tratando-os como “camaradas”.

Entre as medidas pensadas por Traoré para financiar a guerra está a retenção na fonte de descontos ao pessoal da função pública e do sector privado, segundo a publicação Burkina24. Os fundos daí advindos servirão para incrementar em 35 % o prémio às unidades VDP (Voluntários para a Defesa da Pátria), espécie de milícias governamentais criadas para travar os jihadistas, logo após eclodir a onda terrorista, em 2019. Os subsídios aos VDP incluem a assistência social e seguro de vida, conforme indicou Traoré.

No plano económico, Traoré lançou um programa de intensificação da produção agrícola a ser apoiado pela indústria local de transformação. Prometeu colocar meios e equipamentos à disposição dos produtores. Fixou como meta a autossuficiência alimentar no ano de 2024.

RDCongo: Tshisekedi tranquiliza  – Félix Tshisekedi, vencedor (73,41 por cento) das eleições na RDCongo, promete restabelecer a paz no Kivu-Norte, província controlada em parte pela rebelião do M23.

Falando à população, em comício de pré-campanha, na cidade de Goma, Tshisekedi disse estar próxima uma vitória contra os rebeldes, voltando a acusar o vizinho Rwanda pelo apoio à insurreição. “Falta pouca coisa para vencer definitivamente os agressores”, prometeu Félix Tshisekedi, citado por Actualité CD.

Num momento de caça aos votos para as eleições, lançou: “Confiem em mim e eu dar-vos-ei a libertação total” da província de Kivu-Norte.

Investidas dos grupos rebeldes e conflitos comunitários continuam a afectar o país. Em Tshopo (Kisangani), quatro civis morreram e mais de cinco ficaram feridos num ataque armado, indica a publicação em linha Actualité Congo. O ataque obrigou mais de 2400 pessoas a abandonarem as respectivas aldeias, procurando refúgio na comuna de Mangobo (Kisangani).

O processo eleitoral, cujos resultados foram validados pela corte suprema a 9 de Janeiro de 2024, foi marcado por episódios de hostilidade. Acusações de bloqueio às actividades da oposição por parte do regime de Tshisekedi ensombraram o processo eleitoral. Martin Fayulu queixou-se de sabotagem no acesso ao combustível para os aviões. O prémio Nobel da paz, Denis Mukwege, também enumerou vários actos hostis.

A generalidade da imprensa congolesa e o consórcio de instituições dos observadores (Symocel) reportaram a destruição de materiais publicitários instalados nas ruas e pertencentes aos opositores a Tshisekedi. Num comunicado, Symocel descreveu factos como a interdição de comícios públicos e impedimentos à mobilidade dos candidatos.

Mesmo depois das eleições, a guerra e a violência intensificaram, apesar das promessas do vencedor, Félix Tshisekedi.

A igreja católica denunciou a militarização da região de Katanga (Sul), praça forte do candidato não eleito Moïse Katumbi.

O secretário da comissão de justiça e paz da igreja católica, abade Benoît Mukwanga, descreveu assassinatos, detenções, actos de intimidação e raptos atribuídos às unidades da polícia e das forças armadas em Katanga.

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