Ponto de Ordem

O LEGADO DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Escrito por figurasnegocios
Victor Aleixo
victoraleixo12@gmail.com

Em tão escassas linhas, torna-se quase impossível fazer-se um balanço sobre o vastíssimo legado deixado por José Eduardo dos Santos ao longo de trinta e oito anos de vigência como Presidente da República. Em rigor, ele teve sucessivos mandatos, democraticamente eleito ou não, mas uma meta conseguiu atingir com o sucesso que todos reconhecem : o de ter sido o protagonista de um feito histórico que os angolanos jamais esquecerão e que, quase por unanimidade, o intitularam como tendo sido o Arquiteto da Paz.

Foram longos os anos de guerra, de sofrimento, de conflitos entre várias gerações de políticos e militares; parece impossível estabelecer um clima de harmonia e reconciliação nacional. A Pátria permaneceu desunida, profundamente dividida e ferida, não só devido aos interesses internos como externos, até que a 4 de Abril de de 2002, a chamada clarividência, serenidade e a capacidade de “saber ouvir” e fazer sentir emanaram do líder que acabou por vencer a guerra e criou um clima propício para que os adversários se abraçassem. Estava instalada a paz e reabertos os caminhos para a instauração de um clima de reconciliação.

Entretanto, uma mancha enorme sufocaria este percurso longo de JES como a figura mais responsável pela gestão da coisa pública. Conseguiu sair pela porta grande da história, mas a herança deixou muito a desejar em termos de transparência na gestão dos dinheiros públicos.
Na hora da sua saída, o país , em 1917, estava mergulhado num verdadeiro caos económico e financeiro, as populações mais pobres e o tecido social completamente roto, fruto da corrupção, do nepotismo e da impunidade vigentes; estas foram as marcas mais negras herdadas do Presidente que até então permanecia quase que intocável, fechado num palácio preenchido por gente que não soube lidar com os cofres do Estado, entre os quais contavam-se familiares próximos e alguns dos seus principais colaboradores directos. Esta gente protagonizou um rombo de centenas de biliões de dólares, colocando o Estado, as suas instituições e as populações de rasto e envergonhados perante as nações do mundo inteiro.

José Eduardo dos Santos acomodou-se, confiou nos “futunguistas”, desleixou-se. E foi formando ao longo dos últimos anos do seu “reinado” um sistema governativo que, mais cedo do que tarde, produziria consequências nefastas para a economia e as finanças do país. Resultado, deixou a governação em cacos, um país mais endividado, sem credibilidade alguma. Isto teve uma causa: a corrupção que dizia que se devia combater porque era o pior mal depois da guerra; pelo contrário, deixou que ela se enraizasse e corroesse os alicerces de uma nação ainda mal recuperada pelos estragos causados pelas “guerrinhas” internas entre os que no partido podiam mandar e os que deviam obedecer na vigência de um regime/sistema, onde vingava quem detinha o poder de mandar cumprir as famosas “ordens superiores”.

José Eduardo dos Santos faleceu no passado dia 8 de Julho por doença, em Espanha. Antes, numa das suas raras entrevistas, revelou que o recordassem como um “Bom Patriota”, pois que seja feita a sua vontade, sobretudo por aqueles que conseguiram implantar junto de si e dos seus a intriga, a bajulação, o nepotismo, enfim a corrupção.

É preciso dizer que nos últimos anos do seu consolado, já se notava que o Presidente não era capaz de controlar o que for em termos de gestão dos recursos financeiros do país. Não foi fácil sobreviver à tanta e farta gente gananciosa ….

Que a sua alma descanse em paz!

Sobre o autor

figurasnegocios

Deixe um comentário