Por: Édio Martins
(edio.martins@netcabo.pt)
À primeira vista, pode parecer estranho a associação que é feita no título desta crónica – escrúpulos e quilates – e, por isso, nos parágrafos seguintes, vamos “desembrulhar” essa aparente “estranheza”.
Em latim, “escrúpulum” designava uma pequena pedra afiada. Ela costumava dar problemas aos legionários (soldados) romanos durante as suas longas caminhadas. Pequenas pedras entravam nas suas “caligae”, sandálias abertas, entre a sola e o pé, causando desconforto recorrente.
Os “escrúpulos” colocavam então os legionários perante uma escolha: sofrer, continuando em frente, ou parar para a tirar, correndo o risco de diminuir a marcha da coluna e sofrer as repreensões dos seus superiores.
Pouco a pouco, a expressão “ter escrúpulos” saiu do campo militar para se referir a qualquer interrogação sobre a conduta a adoptar.
Tribunos, generais, senadores que iam a cavalo ou eram carregados de cama (liteira), assim como os poderosos de hoje, não tinham escrúpulos.
Na mesma época (Antiguidade Clássica), a alfarroba (Ceratonia siliqua), uma árvore cujas sementes são extremamente uniformes em peso (cerca de 0,20 g), foi usada pelos gregos antigos como uma unidade de medida para pesar metais preciosos.
A uniformidade no peso dessas sementes fazia delas uma escolha ideal para esse fim. Essa prática foi posteriormente adotada pelos árabes, que passaram a usar o termo “quilate” (do grego “kerátion”, que significa “chifre pequeno” ou “semente de alfarroba”) para se referir à medida.
O termo “quilate”, que atualmente conhecemos como uma medida de pureza de ouro e peso de pedras preciosas, chegou à língua inglesa no século XV, derivado da palavra francesa “carat”, que por sua vez veio do italiano “carato”.
Ambas essas palavras têm origem no termo árabe “qīrāṭ”, que, como no grego, também fazia referência às sementes de alfarroba usadas como padrão de peso.
Na Grécia e Roma antigas, o quilate era uma unidade de peso comum, dada a consistência das sementes de alfarroba, que facilitava transações comerciais, especialmente com metais preciosos.
Como se juntam, nos tempos de hoje, os escrúpulos (ou a falta deles) e os quilates?
Em Angola (à semelhança de outras latitudes) o elo de ligação é (são) a ELITE.
É, cada vez mais, “pornograficamente” evidente que os diamantes angolanos são um negócio que, apenas, rende a uma elite governamental (e a estrangeiros), enquanto os proventos pouco ou nenhum impacto têm na economia nacional.
Mais aberrante ainda: os factos confirmam e qualquer observação local – nas Lundas – não deixa dúvidas, que os resultados da produção de diamantes não beneficiam as pessoas, sobretudo nas regiões onde são produzidos, a região leste tem um nível elevado de desemprego, um nível grande de pobreza extrema e isto é um paradoxo… mesmo a participação dos diamantes na balança de pagamento não tem relevância, ou tem uma relevância muito “envergonhada”.
Como tudo isso é possível? É resultado da falta de escrúpulos e da ganância “despertada” pelo muitos e bons quilates que a terra angolana “dá à luz” e que se sintetizam numa mesma classe: a ELITE, às décadas sombra do poder!
Porquê? Estamos Juntos!
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