O actor e realizador Tomás Ferreira “Walter” defendeu um forte investimento do Estado no cinema, por ser uma indústria que melhora a imagem de Angola no exterior e aumenta o patriotismo e a empregabilidade.
Falando sobre o estado do cinema angolano, no contexto dos 50 anos de Independência Nacional, considerou necessário ter-se uma visão oportunista e estratégica da indústria cinematográfica, que, apesar de ser cara, traz um prestígio internacional e desenvolvimento social e económico do país.
Realçou que, sem olhar para a perspectiva financeira, o Estado, nesse momento, constitui o único que poderia ganhar com o investimento no cinema, mediante a definição de tipos de realidades, estórias e histórias que vão ser contadas, para a melhoria da imagem e, ao mesmo tempo, resolver outros problemas, como o desemprego e a delinquência.
“O Estado precisa investir forte no cinema e em outras artes, com temas de moralização da sociedade e da consciência dos jovens, voltadas à educação, redução da delinquência ou para o apelo ao trabalho, com foco no amor à Pátria”, sinalizou.
Tomás Ferreira disse ter muitas dificuldades em prever o futuro do cinema angolano, por depender do interesse na execução das políticas públicas favoráveis à área da sétima arte.
“Eu não estou a ver um privado a colocar dinheiro nisso, por muito que se venham inventar uma lei do mecenato (…). O Estado é que tem que abrir, primeiro, essa porta e os entes privados, quando perceberem que o sector é rentável e tem retorno, virão logo a seguir”, frisou.
Referiu que, para este desiderato, Angola não terá problemas de actores, pois possui muitos jovens talentosos que, mesmo sem formação, gravam boas novelas, daí que, se fossem produções regulares ou sequenciais, o país estaria distante em termos de ficção no continente africano, como acontece na Nigéria.
Com 38 de carreira na televisão, contou que Angola fez cinema, entre 1975 e 1978, desde filmes e documentários, com equipamentos cinematográficos da era colonial, tendo registado uma paragem e retomado na década de 1990, com um financiamento pontual da União Europeia, que resultou na produção de quatro obras dos realizadores angolanos Gamboa, Maria João e outros.
Os filmes e documentários feitos no período pós-independência, conforme o cineasta, eram para os fins de mobilização política, social, promoção da cultura local, de educação, sem a necessidade de imitar as tendências estrangeiras
E, depois, no seu entender, nunca mais se fez cinema, mas, sim, décadas de ficção, de histórias, de séries e mini-séries, entre outras, na medida em que a sétima arte é uma indústria que se assenta no tipo de tecnologia e um equipamento cinematográfico próprio.
Esclareceu que Angola nunca deixou de fazer ficção nestes 50 anos de Independência Nacional, de contar estórias e trazer muitas realidades para as telas, com equipamentos audiovisuais e o envolvimento de várias gerações, asseguradas pela Televisão Pública de Angola (TPA), até a década de 2000.
Afirmou que o país possui um enorme acervo cinematográfico desde a Independência até agora, que precisa ser melhor conservado, por se tratar de fitas e não o digital como é actualmente, tendo em conta que possuem muita história de Angola para ser contada aos jovens.
Tomás Ferreira “Walter”, com uma carreira de 38 anos em televisão, faz parte da lista das personalidades a serem condecoradas pelo Presidente da República, João Lourenço, no contexto dos 50 anos de Independência Nacional, a comemorar-se a 11 de Novembro próximo, pelo contributo indelével prestado à Nação. De 59 anos de idade e nascido no bairro Marçal, município do Rangel, província de
Luanda, Tomás Ferreira possui mais de 20 curtas-metragens, mini-séries e séries, como “Vanda Lemos”, “Um homem nunca chora”, “Caminhos da vida”, “O ninho”, “Feliz ano”, “Caminhos cruzados”, “Angola chama-te”, entre outras historietas escritas e dirigidas, assim como vários prémios.
O reformado da TPA desde 2020, onde começou a trabalhar aos 17 anos de idade, tendo sido, para além de actor, realizador, guionista e apresentador de programas como Janela Aberta, Carrossel, Stop Sida e tantos outros, exerceu vários cargos na estação pública.
Recentemente, terminou a gravação, em Portugal, da série “Sobreviventes”, num projecto da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), para além de participar, recentemente, no filme angolano “Onde está Deus?”, gravado e produzido no Huambo, entre outros projectos em carteira.
Actualmente, para além de estar presente em muitos projectos de jovens locais e ministrar várias formações é presidente da mesa da Assembleia-geral da Associação do Cinema do Huambo.
Por: Venceslau Mateus
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