Vítor Norinha
Jornalista
A queda do consumo em mercados grandes como a Europa, EUA e China está a ter um impacto significativo na produção automóvel, que em termos da Europa ocidental descerá 3,9%, segundo uma análise do segurador Crfédito y Caución. Em termos de evolução da produção de automóveis e componentes globais a queda será e 0,5% em 2024, o que contrasta com a recuperação de 11% registada no ano anterior e que trazia a embalagem do movimento de consumo pós-Covid.
Em termos de risco de crédito os níveis são elevados na Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Hungria, Itália, Polónia, Suíça, Turquia e Reino Unido, enquanto nos países ibéricos o risco é moderado. Também há altos níveis de risco de crédito no Canadá e Brasil.
As projeções para 2025 são moderadamente favoráveis com a expetativa de que a indústria automóvel global cresça 2,1% em 2025, apoiada por políticas públicas a nível monetário mais flexíveis, incluindo descida dos juros, e ainda pela ligeira recuperação do poder de compra das famílias. E se há boas notícias em termos globais, a Europa ocidental continua com problemas, com projeções de crescimento modestas na produção automóvel, que não irá além dos 1,6%. Estas projeções poderão entrar num plano inclinado, ou seja, poderão mesmo ter crescimento negativo se o plano de Donald Trump – de impor taxas aduaneiras suplementares a produtos europeus e chineses – avançar. As políticas protecionistas têm impacto muito negativo devido às cadeias de abastecimento diversificadas.
O segurador realça que se assiste a um aumento dos atrasos de pagamento e às insolvências em mercados como a Alemanha, Itália e Reino Unido. Por outro lado, as indústrias automotivas têm vindo a adaptar-se com o fim anunciado dos motores a combustão, mas o segurador avisa que há fornecedores de nível 2 e 3, ou seja, aqueles que fornecem componentes ao nível 1, que poderão não ter meios tecnológicos e/ou financeiros para subir na cadeia de valor. E, nesse caso serão forçados a abandonar o mercado e criarão maiores disrupções. A Crédito y Caución acredita que as perspetivas de vendas dos veículos elétricos continuarão boas, embora as vendas tenham caído na Europa e continua a acreditar que em 2030 as vendas dos elétricos representarão 59% das vendas totais de carros. Diz ainda que neste momento de mudança de ciclo tecnológico, muitos fornecedores de veículos a combustão terão de evoluir e evitar a obsolescência e a extinção. Conclui o segurador que na transição para veículos elétricos o produtor chinês tem mais vantagens do que o europeu, devido ao preço e à capacidade de adaptação às mudanças nas condições do mercado. O conjunto de incertezas pode beneficiar a produção de veículos híbridos que tem sido uma aposta do Japão. No futuro será a China e a Índia a liderar o crescimento económico pela via do consumo por parte da classe média.
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