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Manuel Fernandes Presidente da Casa-CE: POLITICAMENTE O PAÍS ESTÁ SER MAL DIRIGIDO

Escrito por figurasnegocios

Manuel Fernandes, Presidente da coligação CASA-CE critica a governação de João Lourenço que “não sabe o porquê do povo que reivindica cuidados da pobreza e da fome” e sugere medidas que sustentam a dinâmica de servir como dirigente do País.
De 52 anos, nasceu no dia 8 de Fevereiro de 1972, é licenciado em Gestão de Empresas e pós graduado em docência universitária, Manuel Fernandes abraçou a política na década de 90 como Presidente do partido PALMA-Nova Angola e actualmente está como Coordenador da CASA-CE, o terceiro a seguir de Abel Chivukuvuku e Mendes de Carvalho “Miau” que saíram da coligação.
A seguir a entrevista de Manuel Fernandes indagado, por e-mail.

Por: Victor Aleixo/Fotos: Arquivo F&N

Manuel Fernandes, Presidente da coligação CASA-CE

Revista Figuras & Negócios (F&N). Como político atento, como está Angola política e socialmente?

Manuel Fernandes (M.F.). Bom, politicamente, o País está a ser mal dirigido, porque o actual chefe do Executivo, não sabe estabelecer prioridades nas políticas governativas, com acções que impactam positivamente aos cidadãos. Ex: num momento tão difícil como este, a prioridade da governação seria o combate à fome e à pobreza, o desemprego, a contenção da inflacção e a depreciação da moeda para valorizar os rendimentos da classe trabalhadora, para satisfazer as necessidades de consumo das famílias. Adoptar medidas de austeridade da despesa pública, para poupar recursos e aplicar no que é necessário. Ao invés disso, o titular do Executivo entende aumentar a estrutura de custos do Estado, através da nova divisão administrativa do País, aumentando o número de Províncias e de Municípios e Distritos, numa altura em que o País está empobrecido. Até seria desejável partir-se para a concretização das autarquias e face ao contexto poderia se adoptar o princípio de autarquias supra Municipais. Mas tudo isso, só para desviar atenção dos cidadãos face ao quadro económico que o País atravessa e da pressão para concretização do poder local, através das autarquias Municipais.

Do ponto de vista social, a situação está péssima, porque hoje o País tem uns poucos milionários, uma pequena classe média baixa, muitos pobres e maioritariamente miserável. Falta de emprego, temos infra-estruturas hospitalares mas com um sistema de saúde precário, um sistema de educação débil e que não consegue acertar em termos de qualidade, a população activa maioritária é desempregada. Enfim…não é esta Angola que os nossos ancestrais sonhavam quando empunharam em armas para libertá-la da colonização.

Estamos perante uma escravatura doméstica, onde o cidadão, o nacional é pisoteado de todas as formas pelo empregador expatriado, sem nenhuma protecção do Estado. O mais caricato, é que é isso que resta ao angolano (papel de serventia e mal pago) infelizmente.

F&N – Partido da situação aguenta gerir o País sozinho?

M.F.: Volvidos quase 50 anos de independência dá para ver que o MPLA está completamente esgotado e já não tem soluções ao quadro que o mesmo mergulhou o País. Basta ver, que em termos de Planos de desenvolvimento nacional, desde o CEF na altura de mudança do sistema de economia planificada para economia de mercado até ao actual, todos falharam. E o mais caricato, antes de gizar outro plano, devia-se fazer balanço de execução do anterior, para ver as razões que levaram a não alcançar os objectivos e metas previstas. Penso que se houvesse humildade da Parte do Partido dominante, ter-se-ia avançado para um amplo debate nacional,  com a participação de cidadãos de todas matrizes políticas e da sociedade civil, para repensar Angola nos variados domínios, em especial a económica e social. Mas, como não é possível, resta-nos trabalhar para em 2027 concretizar-se uma mudança profunda na condução dos destinos do País, com novos actores políticos de matriz diferente do MPLA.

F&N – Recentemente, ouvi o senhor a criticar o Presidente da República que o acusa de cínico. Procede?

M.F.: Sim procede. Porque o Presidente JLO não sabe ouvir. Eu participei, a título de Convidado, na Conferência 100 Makas, organizado pelo célebre economista Carlos Rosado de Carvalho, depois de tanta reflexão face aos temas apresentados pelos diversos prelectores, onde se fez o diagnóstico económico e social do País, a conclusão há que se chegou é que há ideias, e muitas delas já apresentadas aos seus colaboradores mais próximos, outros já manifestaram vontade de apresentar tais ideias ao titular do Executivo, mas o Presidente responde com um silêncio tumular. E às vezes, nem se digna se quer acusar a recepção da carta ou do expediente.

F&N – A CASA-CE era muito activa na Assembleia Nacional, depois das eleições de 2022 a vossa acção murchou. O que se passou com vocês?

M.F.: Bom, a CASA-CE era a terceira força no Parlamento. Com base aos resultados eleitorais que nos foram atribuídos, perdemos a representatividade Parlamentar. Face ao quadro difícil que remete a organização como extra-parlamentar e face a alguns constrangimentos ligados à vandalização de alguns imóveis em 7 Províncias por supostos delegados de listas, onde estavam domiciliadas as nossas estruturas Providências e outras Municipais, tivemos que reflectir e estabelecemos prioridades. Foi assim que tivemos que fazer o levantamento de todo passivo da Coligação. Daí, entendeu-se que a prioridade era recuperar o património destruído e devolver aos legítimos proprietários. Não foi fácil porque a CASA-CE deixou de receber apoio financeiro do Estado, tal como antes. Pelo que tínhamos que encontrar alternativas para isso.

Felizmente conseguimos, neste momento, estamos à procura de um imóvel à altura das nossas capacidades, para instalarmos a nossa sede nacional, visto que actualmente, temos trabalhado nas redes dos Partidos membros. Mas vale dizer também, que deixamos de ser uma Coligação com estruturas idênticas de um Partido, tal como no passado, para uma Coligação de concertação política. O trabalho de mobilização, enquadramento, estruturação e implantação em todo território nacional e a formação de quadros, deu-se aos Partidos membros. O entendimento é de que, a Coligação não é uma mera junção de siglas, mas sim a conjugação de esforços e sinergias face aos objectivos eleitorais preconizados.

F&N – É verdade que no seu consulado, os integrantes da Coligação estão descontentes e inclusive alguns ameaçam sair e actuar sozinho?

M.F.: Em todas organizações democráticas, não há unidade de pensamento e é perfeitamente normal. Até faz parte da natureza humana, a insatisfação e discórdia. Até Jesus Cristo que veio para nos libertar, foi mal entendido e crucificado. Quanto mais nós!…. Mas vale dizer que tal descontentamento não é tão grande como se diz. Visto que a CASA-CE era de 5 nomeadamente  PADD-AP, PPA, PNSA, PDP-ANA  e PALMA- Nova Angola  E há pouco menos de 5 meses o Partido PDP-ANA é o único que retirou-se da Coligação e a trilhar outros ventos, tentando fazer aliança com um projecto político chumbado pelo Tribunal Constitucional. Os demais 4 Partidos estamos juntos. Pode haver um ou outro militante de um dos Partidos insatisfeito, mas não tanto assim.

F&N – O caso Bloco Democrático é original e vocês discutiram sobre a participação ou não? Abel Chivukuvuku saiu da CASA-CE e levou muitos membros para criarem outro Partido. O que aconteceu concretamente?

M.F.: Bom, sobre o BD não concretamente do que  se refere. Visto que a adesão do BD à CASA-CE foi discutida, tal como do PDP-ANA em 2017 pelos 4 Partidos que fundaram a CASA-CE em 2012, os mesmos que se mantem até hoje. A saída do BD da CASA-CE não foi discutida, visto que tal facto ocorreu quando se desenhava a constituição da FPU, o BD foi contactado para fazer parte e aceitou. Nós não fomos contactados e tivemos que nos organizar para participar através da CASA-CE nas eleições de 2022. Quanto a saída do Dr. Abel, foi resultado de incompreensões entre os Partidos Políticos e os independentes. Visto que, nas concentrações para a criação da CASA-CE, viu-se a possibilidade de transformar a mesma em Partidos Políticos. Mas muita coisa não correu bem e três Partidos dos quatro que constituíam a Coligação, desistiram da ideia. Foi daí, que o Dr. Abel perdeu confiança e partiu para a criação de Partidos. Mais tarde e na sequência dos desentendimentos, houve necessidade de recorrer ao Tribunal Constitucional à busca de esclarecimento e face a isto o acórdão produzido, em resposta a situação, deu razão aos Partidos em termos de decisão política. Ou seja, o Presidente tinha o papel de gerir consensos mas as decisões e a composição dos órgãos, tinha que ser com base a vontade dos Partidos. Bom o Dr. Abel, vendo este resultado em que tinha que partilhar poderes com os líderes Partidários, ficou desmotivado e giriu bem a situação até que os Partidos entenderam que era preciso evoluir para um outro passo. Bom, como resultado, todos os quadros vindos com o Dr. Abel e muita juventude mobilizada ao longo dos 5 anos, entenderam seguir e dar força ao projecto do Dr. Abel Chivukuvuku.

F&N – E o Miau que substituiu Chivukuvuku saiu doente ou você maquinou a Coligação e pôs-se Presidente?

M.F.: De forma alguma. Eu não pensava ser o Presidente da CASA-CE tão cedo. Mas surgiram várias correntes internas, com destaque para o Secretariado Executivo Nacional, do braço Juvenil e depois dois Líderes de Partidos membros, a persuadir -me tanto para assumir a liderança. Tudo por causa da filosofia de trabalho imposta, que era diferente da era do Dr. Abel, a CASA-CE estava quase que inactiva. A dinâmica na interacção, na acção e reacção, quase que desapareceu. E entendeu-se chamar o Presidente para este mudar a filosofia de trabalho, afim de resgatar a mística, caso contrário que colocasse o lugar à disposição. O Presidente, Almirante Miau, na altura, entendeu demitir-se. Chamou a imprensa e fez a comunicação. Posteriormente, criamos uma comissão eleitoral, coordenadas pelo Dr. Justino Pinto de Andrade, na altura Presidente do BD, que conduziu todos os trabalhos e fui eleito por maioria esmagadora, com uma abstenção apenas. No entanto, não sou de fazer golpes para atingir resultados. Como dizia Mahatma Ghandi “não ofusque a luz da lâmpada de outrem para que a sua brilhe”

F&N – E agora, a CASA-CE mantém-se e vocês vão lutar nas próximas eleições?

M.F.: Bom, neste momento a CASA-CE é uma Coligação de concertação política. Os Partidos têm a responsabilidade de fazer o trabalho de casa, para que em 2027, querendo os Partidos concorrerem coligados pela CASA-CE ou num outro instrumento político que venha criar, haver confiança de que os resultados serão alcançados face ao trabalho árduo desempenhado pelos Partidos. Falo por PALMA-Nova Angola de que sou Presidente, está empenhado. Acredito que os outros Partidos também estão empenhados nessa dinâmica.

F&N – Como se define politicamente? É casado ou vive maritalmente?

M.F: Sou um guerreiro por Angola e servidor pelos Angolanos. Quanto ao meu estado civil, a pergunta chega à boa altura. Casado.

F&N – Tem filhos certamente, o que os incentiva?

M.F.: A estudar e amantes da leitura. Porque a formação é uma propriedade individual. Eu não me preocupo em deixar bens para os meus filhos, mas sim o conhecimento para ele estar à altura de servir o País e realizar-se pessoalmente para o seu bem e da sua família.

A leitura é muito importante porque quem lê, aprende sempre e quem não lê é um analfabeto letrado e ultrapassado pelo tempo.

F&N – Tanto Abel Chivukuvuku quanto Miau vocês relacionam-se?

M.F.: Eu não tenho problemas com nenhum dos dois. Dou-me bem com o Almirante Miau, que por sinal é meu compadre porque ele é padrinho de casamento da minha filha, e sempre que eu tiver necessidade de o abordar para um assunto qualquer, mesmo até de dimensão política, falamos. Ao Dr. Abel, apesar de um pouco mais distante em relação ao Almirante Miau, mas também não tenho problemas de relacionamento.

O interesse é nacional e por isso, a dinâmica política pode nos levar a cruzar e trilhar o mesmo caminho rumo à salvação de Angola para realização do Angolano.

 

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