Economia & Negócios

Competitividade europeia precisa de 800 mil milhões de euros todos os anos

Vítor Norinha
Jornalista
vnorinha@gmail.com

A estimativa é do antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que afirma que a recuperação da competitividade da União Europeia (UE) em face dos EUA e da China vai obrigar a investir 5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos 27 Estados-membros todos os anos, ou seja, cerca de 800 mil milhões de euros.

Com esta estratégia, Draghi considera que a produtividade da UE irá aumentar 6% dentro de 15 anos. A par do investimento do setor público e privado, Draghi diz que a competitividade vai obrigar à emissão regular de dívida conjunta, algo que os países que são o motor da Europa não concordam.

O relatório elaborado neste verão de 2024, por peritos liderados pelo economista italiano e antigo presidente do BCE – Banco Central Europeu, resultou de um pedido da Comissão Europeia e tem como objetivo identificar e colmatar as fragilidades do bloco económico europeu perante os desafios de liderança mundial a nível empresarial, de inovação e de tecnologia que EUA e China dominam. Refere Draghi que a competitividade europeia desapareceu há 20 anos e alguns setores industriais estão particulamente expostos, caso do sector automóvel. Num survey citado no mesmo documento, cerca de 60% das empresas europeias afirmam que o grande obstáculo ao investimento é da regulamentação e 55% das PME têm nesta mesma regulamentação o seu maior desafio. Isto é tanto verdade que desde 2008 cerca de 30% dos unicórnios criados na UE preferiu continuar a trabalhar nos EUA.

Por outro lado, a UE tem de ter um objetivo e um plano em termos de alterações climáticas pois o impacto sobre a economia pode vir a ser catastrófico, assim como terá de reforçar o sector da Defesa, com avisos dos EUA nesse sentido, e ainda assegurar a logística. Diz Draghi que a UE deve continuar com o modelo do PRR, ou Plano de Recuperação e Resiliência que foi adoptado pós Covid-19 e que permite a emissão de instrumentos de dívida comuns que serão usados em investimentos colectivos. Refere ainda que esse investimento comum dos Estados-membros da UE deve começar por se centrar nas redes energéticas, enquanto é necessário colmatar a fragmentação dos mercados de capitais e inverter os fracos níveis de poupança.

Defende Draghi um aumento da dívida comum acompanhada por uma trajetória sustentável da dívida nacional e, nesse aspecto, o país que apresenta pior performance é a França, com um rácio de dívida sobre o PIB bem superior a 3%. A vontade política é essencial para se proceder à execução destes objetivos.

A recuperação da actividade económica deve centrar-se no tema da descarbonização, pois Draghi considera que a descarbonização é uma oportunidade de crescimento. No plano deste gestor está a produção de energia limpa e a promoção de tecnologias de economia circular, pois ambas permitem reduzir o preço da energia.

A questão demográfica é critica pois o crescimento não será apoiado pelo aumento da população e na UE dos 27 a espectativa é de que até 2040 a população activa se reduza em dois milhões de pessoas todos os anos e, alerta, que a conjugação da fraca produtividade com perda de população significa que apenas haverá condição para manter o PIB constante até 2050 e isso é insuficiente para suprir as necessidades que vão surgindo.

Um outro desafio é a Defesa pois face à conjectura geopolítica a UE terá de investir mais do seu PIB para este setor, e isto acontece pela primeira vez desde a II Guerra Mundial e, mais uma vez, temos a questão da competitividade. Os dados que existem indicam que o bloco europeu é o segundo que mais investe em defesa , mas isso não se reflecte na força da capacidade industrial do setor. A fragmentação do mercado é uma das dificuldades e que impede a produção em escala.

Neste relatório sobre a competitividade da UE conclui-se que é necessário colocar em andamento uma nova política industrial que reduza o fosso com os EUA e a China, mas o investimento a preços actuais é superior aquele que foi o investimento do Plano Marshall pós II Guerra Mundial. Mas há números preocupantes e que foram evidenciados numa crónica de Lorenzo Bernaldo de Quisós, na revista económica do jornal espanhol El Mundo, quando revela que a diferença do Produto (PIB) entre os EUA e a UE passou de 15% para 30% entre 2002 e 2023 e ainda que a produtividade da economia da UE em face dos EUA caiu de 95% para 80%, para além de que todas as indústrias tecnológicas revelam uma perda  em relação aos EUA e China. Entre as primeiras 50 companhias mundiais apenas quatro são europeias. A China está a conseguir controlar os fornecimentos de terras raras e as cadeias logísticas, o que irá dificultar ainda mais a competitividade europeia.

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