Política

Angola fora do mapa do terrorismo em África

Burkina Faso, República Democrática do Congo (RDC), Somália, Mali e Camarões são os países do continente africano onde o flagelo do terrorismo mais afeta populações, instituições públicas e infraestruturas críticas, de acordo com o relatório “African Union Counter Terrorism Centre”, relativo do 2º trimestre deste ano. Angola está fora deste flagelo.

A AUCTC, ou African Union Counter Terrorism Centre, e que publica um boletim trimestral sobre os incidentes ligados a terrorismo, está integrado no organismo da União Africana. Visa gerar informação que possa levar à tomada de decisões com o objetivo de derrotar o terrorismo e violência extrema em África. Neste relatório relativo ao 2º trimestre do ano os analistas contabilizam 1003 ataques, de que resultaram 4818 mortos, sendo que 2757 eram civis e um pouco mais de um milhar eram militares ou pessoal de segurança. No mesmo período foram mortos igualmente um milhar de terroristas. Embora todo o continente africano esteja a ser assolado pelo flagelo do terrorismo com base na tentativa de controlar territórios ricos em pedras preciosas, madeiras e outras commodities valiosas e de sequestrar populações que são empregues na exploração mineira e como soldados, há zonas particularmente afetadas. Dos países de expressão portuguesa apenas Moçambique está a ser alvo de ataques terroristas na zona norte, concretamente em Nampula.

Mas é a zona do Sahel onde se registaram 37% dos ataques e 56% dos mortos ligados ao terrorismo. Outras zonas de forte incidência de conflitos são o Corno de África e a Região dos Grandes lagos.

Os civis são o principal alvo das organizações terroristas, seguindo-se os militares, e são usadas armas pequenas e ligeiras em 71% dos incidentes que ocorreram no trimestre em análise,  segundo a AUCTC. No mesmo período foram registados 53 casos de rapto e 406 casos em que foram feitos reféns, sendo que estes incidentes aconteceram maioritariamente no Burkina Faso, RDC, Camarões, Mali, Moçambique, Nigéria e Somália. De entre os grupos terroristas que sofreram maiores baixas destacam-se  o JNIM com perdas de 982 elementos, seguido do Al-Shabaab, o ISWAP, o ISGS, o Boko Haram, o ASWJ e o ADF/ISCAP. No mesmo relatório é evidenciado que os maiores desafios em África a nível de segurança e desenvolvimento humano são atribuídos ao terrorismo e à violência extrema, mas os analistas consideram que a paz e a estabilidade pode ser assegurada, com o desenvolvimento local e uma boa governança das Autoridades locais, desde que suportadas na segurança das populações e na capacitação para um desenvolvimento económico sustentável.

Informações detalhadas indicam que no 2º trimestre o maior número de ataques ocorreu no Burkina Faso, Camarões, RDC, Mali e Somalia, mas foi no Mali onde foram mortos mais terroristas, enquanto foi no Burkina Faso e na Somália onde morreram mais militares e equipas de segurança. O maior número de baixas entre os civis ocorreu no Burkina Faso e na RDC. Durante o período em análise e relativamente a Moçambique, o único país de expressão portuguesa onde existe terrorismo, foi em Cabo Delgado onde aconteceu o último ataque, com forças armadas moçambicanas e ruandesas a defrontarem os terroristas do ASWJ.

Cerca de 77% dos ataques ocorreram em zonas críticas deste tipo de violência, concretamente na Bacia do Lago Chade, no Corno de África, no Sahel Central e na Região dos Grandes Lagos. E cerca de 91% dos mortos aconteceu naquelas que são consideradas as zonas de epicentro do terrorismo.

Aumento de mortos

No 2º trimestre deste ano e em comparação com o trimestre anterior o número de mortos, vítimas de violência extrema e de sequestros, aumentou 50%, segundo o relatório. Registou-se um número significativo de ataques na África Central e no sul do continente, sendo que na África Austral o número de mortos aumentou 70%.

A zona do Sahel foi a região mais afetada por estes incidentes, com a JNIM, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin, um grupo sucedâneo da Al-Qaeda, a intensificar as operações contra as forças militares e de segurança do Burquina Faso e do Mali. No Niger o principal grupo terrorista é o ISCG, Islamic State in the Greater Sahara. Comparativamente com outras regiões de África, o Níger tem uma situação relativamente estável, muito embora na região de Diffa o grupo Boko Haram e o ISWAP têm mantido as comunidades locais sob stresse. Na Bacia do Lago Chade têm-se reduzido as incursões dos grupos terroristas Boko Haram e do ISWAP, ou Islamic State West Africa Province. Ainda na Bacia do Lago Chade o país mais afetado continua a ser os Camarões com as mesmas forças a manterem incursões. A Nigéria regista um declínio do número de ataques terroristas, com os casos a cairem 40% no 2º trimestre deste ano versus o trimestre anterior.

Na costa oeste de África há países onde o risco de terrorismo e violência existe, caso do Benin, Costa do Marfim, Gana, Guiné, Senegal e Togo. Registaram-se incidentes recentes no Benin e no Togo. O Burundi continua a sofrer com o terrorismo com suspeitas sobre o grupo Red Tabara e cujos objetivos é infraestuturas públicas e cidadãos civis. No Quénia registou-se um crescimento marginal de incidentes, enquanto na Somália os incidentes cairam 30% entre os dois primeiros trimestres do ano. Difícil é a situação na República Democrática do Congo e sobre a qual a comunidade internacional se mantém indiferente, quando a violência está a aumentar.

Na zona do Magreb, que inclui todos os países do norte de África, há uma relativa estabilidade, recordando o relatório que a actividade de contra-terrorismo das Autoridades na Argélia resultou na liquidação de células da Al-Qaeda na região do Magreb islâmico. No sul do continente africano o grupo ISM, ou Estado Islâmico de Moçambique e que na gíria local é conhecido por ASWJ, Ahlu Sunnah Wal Jamaah, é o único a atuar. Este grupo posicionou-se no nordeste da província de Cabo Delgado, fazendo ataques esporádicos em Nampula. Este grupo continua resiliente muito embora sofra contra-ataques das forças regulares de Moçambique, Tanzânia e Ruanda. Os analistas da União Africana sublinham que o Governo moçambicano necessita de assistência internacional para manter a região estável, alertando que enquanto o norte de Moçambique não estiver seguro, toda a região estará em risco de violência extrema.

Sobre o autor

figurasnegocios

Deixe um comentário