Dossier

INVESTIR NAS MULHERES É APOSTAR EM CONQUISTAS

Escrito por figurasnegocios

O Dia Internacional da Mulher comemora-se desde 1910 por decisão dos participantes numa conferência realizada na Dinamarca. Pretenderam dessa maneira homenagear o grupo de 129 operárias têxteis de Nova Iorque, Estados Unidos da América que, a 8 de Março de 1857, protestou de forma vigorosa contra o patronato. A redução da jornada laboral de 16 para 10 horas diárias e o aumento do salário das mulheres que, não obstante a carga de trabalho intensa, recebiam menos de um terço do que os homens, foram as principais reivindicações para a greve. Em represália contra a “ousadia”, os patrões trancaram as amotinadas dentro da fábrica. Muitas delas morreram carbonizadas na sequência de um incêndio.

Por: Luísa Rogério (Jornalista)
Foto: Arquivo F&N

Luísa Rogério

O rastilho da acção das “Mulheres de Março” propagou-se pelo mundo. Hoje, exactos 167 anos depois, as questões associadas a emancipação da mulher, entretanto designada por equilíbrio no género, figuram na agenda política internacional. Anotadas as excepções que envergonham a humanidade, até em países que circunscrevem a mulher ao papel de procriar e de cuidadora do lar já se discute o universo feminino fora do âmbito tradicional.

Os propósitos ganham relevo na Constituição da maior parte dos países que conferem aos direitos da mulher a dignidade de direitos humanos. Este ano, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a Organização das Nações Unidas aplaude o facto de mulheres e meninas terem alcançado grandes feitos “demolindo barreiras, desmantelando estereótipos e impulsionando o progresso rumo a um mundo mais justo e igualitário”. Na sua mensagem anual, o Secretário-geral da ONU, António Guterres, ressalta, no entanto, os obstáculos enfrentados por milhares de milhões de mulheres e meninas como a “marginalização, injustiça e discriminação, enquanto a persistente epidemia de violência contra as mulheres desgraça a humanidade”.

De facto, o mundo ainda reflecte milénios de relações de poder dominadas pelos homens, progresso sob ataque, e reacção violenta contra os direitos das mulheres, conforme sublinha Guterres. O lema deste ano, “investir nas mulheres”, implica apostar em programas com vista a impulsionar a inclusão e a liderança das mulheres na economia. São desafios à escala global que, consubstanciados em políticas públicas exequíveis podem contribuir significativamente para mudar estatísticas desoladoras.

Ao redor do mundo somam-se conquistas motivadoras. Cresce o número de mulheres em espaços outrora considerados redutos exclusivamente masculinos. Em África, onde a pobreza se confunde com um rosto feminino, apesar das persistentes assimetrias, em menos de cinquenta anos registaram-se mudanças notáveis, a começar pela estrutura do poder. A liberiana Ellen Johnson Sirlef, galardoada com o Prémio Nobel da Paz, foi a primeira mulher eleita Chefe de Estado. Cumpridos dois mandatos, passou o testemunho e converteu-se em palestrante que ilumina plateias com a sua presença. A sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma, primeira mulher eleita presidente da União Africana, Wangari Mutari, a primeira africana premiada com o Nobel da Paz, inspiram gerações de mulheres. A senegalesa Fatmata Samoura, Secretária Geral da FIFA de Maio de 2016 até finais do ano passado, foi a primeira mulher a ocupar o cargo e, igualmente, a primeira pessoa não europeia a exercer uma das funções mais importantes do desporto mundial. Caso para dizer: a luta é árdua. Mas continua. Esperança é um nome feminino!


A MULHER E A SOCIEDADE

Este tema pode ser abordado por diferentes prismas, mas um deles é o mais importante e relaciona-se com as políticas públicas. A análise e discussão das políticas públicas para a redução da pobreza cujo rosto em África é o da mulher. Na abertura da 68ª Sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que muitas mulheres e meninas enfrentam uma batalha crescente pelos seus direitos fundamentais, tanto em casa quanto nas suas comunidades. Guterres reforçou dados que apontam como as mulheres globalmente são mais vulneráveis a sofrer com a pobreza. “a pobreza tem o rosto de uma mulher” disse. Quantas vezes já ouvimos estas palavras? E como mudar este quadro pondo em prática tudo o que se diz nesses areópagos? Há várias acções promovidas pelos governos africanos e nomeadamente pelo angolano, mas não conseguimos descortinar uma comunidade que mantenha o bem-estar que elas deviam promover. Fui reler alguns artigos e retirar deles, as ideias, com as quais me identifico.

Por: Maria Luísa Fancony / Fotos: Arquivo F&N

As Políticas públicas e os resultados – Sabemos que acções isoladas e fragmentadas muitas vezes não são suficientes para enfrentar os desafios complexos relacionados com a pobreza.  Ao promover a redução da pobreza, a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento sustentável, as políticas públicas desempenham um papel fundamental na construção de uma sociedade mais equitativa e justa. Elas têm o potencial de transformar vidas, romper ciclos de desigualdade e proporcionar um futuro melhor para todos os cidadãos. Portanto, é imprescindível que os governos e a sociedade em geral reconheçam a importância dessas políticas e se engajem na sua elaboração, implementação, monitoramento e avaliação, visando construir um mundo mais inclusivo e com melhores condições de vida para todos. Estas são afirmações de especialistas em análises internacionais da questão. Um dos grandes problemas que as economias africanas enfrentam é o comércio informal praticado por mulheres em 80% dos casos.

PRÁTICAS TRADICIONAIS – Ebele Okoye, farmacêutica nigeriana e promotora do projecto social Women Board’s AMAD, destacou este problema: “As estatísticas mostram que há duas vezes mais mulheres abaixo do limiar da pobreza do que homens”. Okoye, que recebeu este ano o Prémio Harambee Espanha para a Promoção e Igualdade das Mulheres Africanas, salienta também que “os homens na cultura africana tendem a ter uma posição mais privilegiada”.  O estudo sobre as mulheres detém-se também sobre o peso da tradição.  Realizou-se em Cartum, Sudão, o primeiro seminário sobre práticas tradicionais que afectam a saúde de mulheres e crianças, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS). Cinco anos mais tarde, foi fundado o Comité Inter-Africano sobre Práticas Nocivas que Afectam a Saúde das Mulheres e das Raparigas. Este organismo é uma plataforma para coordenar todos os programas realizados por ONG nacionais que procuram pôr fim à prática da mutilação genital feminina.

EDUCAÇÃO – Todas estas questões são abordadas em muitos encontros internacionais e não me parece que a situação das mulheres, grosso modo, se modifique, salvo em casos muito particulares. Há aquelas acções promovidas por ONG’s dirigidas a comunidades especificas e que obtêm algum resultado, sempre muito discutível no que toca à sua durabilidade. Há uma questão que é fundamental para o desenvolvimento da sociedade – a educação. Os dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) reflectem a importância de manter o investimento na educação. Alguns dos indicadores são os seguintes:

– Os países da África Subsaariana gastam em média 22 % de despesas públicas em educação;

– O rácio para o ensino primário é de 70 %, embora existam disparidades significativas entre países e regiões;

– Foram feitos progressos significativos na igualdade entre rapazes e raparigas no ensino primário;

– A alfabetização é uma das áreas onde se registaram maiores progressos, tanto entre jovens como entre adultos, com rácios de 78 % e 67 %, respectivamente. Embora os valores mais baixos se encontrem nas zonas rurais, e particularmente entre as mulheres, é de notar que a alfabetização feminina está a crescer na África subsariana, a uma taxa de 3,81%  entre os adultos, e ainda mais rapidamente entre as mulheres jovens;

– Preferência masculina em relação às mulheres, taxas de pobreza, falta de recursos… são algumas das barreiras que as mulheres africanas enfrentam no que toca à educação.

Nas palavras da promotora do projecto social AMAD, Ebele Okoye: ” alguns dos problemas que as mulheres africanas enfrentam podem ser resolvidos através da educação. A educação não é uma garantia, mas uma mulher educada é frequentemente mais susceptível de conhecer e lutar pelos seus direitos. São também mais capazes de ter um certo grau de independência para desenvolver as suas vidas e carreiras.”.

Na mesma linha, África Gonzalez descreve os benefícios da educação e formação formais: “Há um estudo da Organização Mundial de Saúde que salienta que quanto mais as mulheres completam o ensino secundário, menos provável é que as suas famílias sofram de desnutrição, porque são mais capazes de perceber como cuidar delas, alimentá-las… Compreendem a importância da saúde e têm um acesso mais fácil a estes serviços.”

Como observámos os conferencistas, os decisores refugiam-se nestas conclusões que são verdadeiras, mas no dia a dia das nossas cidades, vilas e aldeias nada disso se constata.

FORMAÇÃO INTENSIVA E ACOMPANHAMENTO – Essas políticas abrangem uma ampla gama de medidas e programas que visam melhorar as condições de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade económica, mas elas, na sua maioria, continuam sem ter acesso a recursos básicos e a oportunidades de desenvolvimento. Na minha modesta opinião essas políticas só resultam se as administrações se aproximarem de facto, das populações. As administrações e a sociedade civil e porque não as organizações partidárias também.  É necessário um esforço conjunto para enfrentar os desafios complexos associados à pobreza e garantir que as políticas sejam adequadas e eficientes.

No nosso caso, elas, as mulheres que vemos todos os dias, não são o objecto das conferências e dos colóquios, porque para elas são necessárias, outras ferramentas. É preciso mexer na sua vida diária. Elas não querem conversas sobre o empoderamento, porque elas dominam o negócio pequeno do dia a dia. Aquele que não progride. Dá sempre a mesma coisa, ou coisa alguma. Quantos anos serão necessários para que as mulheres constem efectivamente das acções diárias dos governantes a nível local. Se se investir nas mulheres e raparigas marginalizadas pode-se levar a uma mudança transformadora é minha convicção.

COM QUE MULHER NOS DEVEMOS PREOCUPAR?

No passado dia 8, RUDO KAYOMBO que é queniana e directora para África de uma ONG, falou dos desafios que afectam as mulheres que vivem na pobreza, falou dessas questões a que me refiro.  Diz ela que os governantes podem impulsionar o capital humano, melhorar a igualdade de género e expandir as oportunidades económicas inclusivas. Uma abordagem que tem funcionado em vários países consiste em fornecer às pessoas que vivem em situação de pobreza extrema um bem produtivo (como vacas, cabras ou materiais para o comércio em pequena escala, como uma máquina de costura), apoio para satisfazer as suas necessidades básicas e formação intensiva durante um período de cerca de dois anos. Realço formação intensiva durante dois anos.

Faz tempo que não participo em reuniões. Reuniões para discutir políticas, para repetir ideias e chavões e fazer o documento final para ser aprovado. Participei em muitas no país e no estrangeiro. Resultados? Meus? Maior conhecimento do assunto tratado. E das destinatárias? Confesso que não sei, se as conclusões das reuniões são aplicadas e acrescentam alguma coisa na vida das pessoas. Estamos em Março e vamos pensando na mulher. Depois das homenagens nos dias 2 e 8, agora são as reflexões que se impõem à sua posição nas nossas sociedades. Quando olhamos para o número de mulheres que estão na rua ficamos a saber que o futuro dos nossos filhos e netos não está garantido. A mulher africana e em particular a angolana tem um longo caminho a percorrer. Assoberbada pela premência das necessidades imediatas,  sem outro horizonte que não seja o de resistir para fazer sobreviver a família, não tem sonhos para além de pequeninos desejos. As reflexões que se fazem voltam-se para a violência doméstica, para a inserção da mulher no trabalho, para questões ligadas à filosofia feminista, mas nada disso atinge aquela mulher que dorme à frente do hospital onde está internado um parente ou aquela outra que fica todo o dia numa esquina para vender umas quantas frutas. Com que mulher nos devemos preocupar? Com a funcionária, a professora, a médica, a secretária? A maior parte das mulheres angolanas tem a sobrevivência da família, às costas. O índice de analfabetismo continua a ser maior entre as mulheres.

A maior parte das mulheres informadas e com capacidade de intervenção, tem outros rumos de afirmação que passam pela estabilidade profissional e a consequente satisfação material das necessidades que são sempre maiores. Pensamos que as organizações de base,  se devem preocupar com as questões mais rudimentares da vida das mulheres. Devem tornar-se assistentes sociais, indo de cada em casa, indo de família em família transmitir ideias, corrigir erros de educação das crianças,  orientando a limpeza e saneamento das suas casas, tentando incutir ideias de desenvolvimento. O desenvolvimento básico das mulheres é um tema crucial para um futuro sustentável.

As mulheres são mais propensas a sofrer os efeitos adversos da falta de energia e de água, por exemplo. “Um novo enfoque de desenvolvimento requer uma nova concepção de mundo, ou seja, a desconstrução do paradigma de desenvolvimento centrado na riqueza, para incluir as necessidades básicas das pessoas, principalmente, as das mulheres”. O empoderamento, deve ter como principal foco, as centenas e centenas de mulheres que estão na rua à procura de sustento e não progridem da bacia no chão para uma pequena banca, numa qualquer esquina da nossa cidade. É vê-las jovens e mais adultas de bacia (as famosas banheiras) à cabeça ou na ilharga, atravessando a estrada ou sentadas nos passeios. Junto delas, crianças seminuas, brincam no solo. São centenas de mulheres desconhecidas das autoridades das zonas ondem moram. São todas elas! Aquelas com que nos cruzamos e que ao fim do dia ainda com ananases na bacia nos abordam ao chegarmos a casa, cansados e sem paciência para as ouvir e comprar duas ou três laranjas. E aquelas que vemos deitadas e mesmo adormecidas, nas esquinas ao lado das bacias com a fruta. Dia após dia, sem que a quitanda melhore com uma bancada rudimentar e as frutas lindas arrumadas e chamativas.

É a essas mulheres que eu dedico estas reflexões. Cansada de falar sobre os problemas que afectam as mulheres, pensei ser útil lembrar esse exército por vezes barulhento nas discussões com os fiscais, homenageado em canções, mas cujo desenvolvimento tarda, arrastando o desenvolvimento para metas que não consigo visionar.


“PENSAMENTOS AVULSOS SOBRE OS DESAFIOS DA MULHER NA COMUNICAÇÃO SOCIAL E NA DIPLOMACIA EM ANGOLA, RIVALIDADES E TRIVIALIDADES”

Desde tempos remotos que rodamos a bolsa, para a esquerda e para a direita e, ficamos, porém com a nítida sensação de que da cepa torta não saímos nunca, ou que damos dois passos em frente e outro atrás! No lugar comum nos mantemos, como se travássemos uma luta inglória! De pura frustração!

Por: Sara Fialho /(Jornalista)Foto: Arquivo F&N

Com uma infância feliz até aos quatro anos de idade, passando pela prisão dos pais, nacionalistas políticos; comendo o pão que o diabo amassou e trilhando caminhos de uma adolescência e juventude engajadas na revolução, com vista à independência, todas essas vivências serviram para forjar, talhar as mulheres que muitas de nós hoje somos! E não nos arrependemos, todavia lamentamos por determinados estados de situações.

Todavia, continuamos a desbravar as mentes mais conservadoras, ao nível das famílias primeiro, depois profissional e, por fim, na sociedade. Isso significa desflorestar essas mentes, no que tange ao nosso crescimento pessoal, ao desenvolvimento paritário da Mulher, com a mesma equidade, um termo muito em voga, mas que muitos desconhecem o seu real sentido.

Vamos lá à uma ajudinha, rebuscando o dicionário: equidade significa imparcialidade, igualdade, justiça ou rectidão! E, aqui focalizamos os doze desafios da mulher, respaldados na Convenção Universal dos Direitos da Mulher!

É verdade, que hoje assistimos a presença da mulher em lugares cimeiros da vida nacional, como nos sectores económicos, socioeconómicos, políticos, militares, aéreos, astronómicos, entre muitos outros, como também na Comunicação Social.

Porém, faltam muitos mais, para sustentar e sublinhar que o lugar da Mulher “é onde ela quiser estar e ser” com respeitabilidade, dando-se e fazendo-se respeitar, na sua essência, nas suas capacidades profissionais, académicas e sociais, enquanto mãe, esposa e companheira, sem necessitar que homem algum lhe continue franqueando portas.

Mas para tal e, desde a nossa ancestralidade, que o machismo masculino nos obriga à demonstração das nossas capacidades em dobro, ou duplamente sofrida, em casa e fora dela! Depreenda-se, uma realidade nada fácil, em todos os sectores da vida nacional. Salva-nos, vezes sem conta, a nossa visão periférica de gestão de muitas batalhas simultâneas, dentro de casa, no serviço e fora deles!

Desde Nzinga Mbandi, Amina, Dihya Kahina, Ranavalona ou Nandi ka Bhebhe às nossas mães e à outras futuras mulheres, que vimos multiplicando em nós, essas fortes e determinadas mulheres africanas da nossa história comum, que não baixaram a cabeça, não deixaram em mãos alheias, dando estampa da sua resistência, da sua determinação, ousadia, coragem e da sua resiliência.

Na diplomacia e, especificamente na Comunicação Social não é diferente. A mulher tem de professar essas qualidades, sob pena de se apagar, de se anular, transformando-se numa mera secretária, moça de recados ou um bibelô de ostentação, de ornamentação dos seus superiores hierárquicos.

Exemplos existem-nos para elucidar o acabado de referenciar. A mulher não pode prender-se à estereótipos, por causa de filhos, maridos e medos! Em muitos casos tem de saber viver sozinha, buscar alternativas de crescimento na profissão, sem virar costas à rivalidade e competitividade feminina. Sequer a gravidez e, novamente os filhos podem servir de empecilhos, para a sua afirmação profissional.

Tal não significa que tenha de abdicar deles (marido e filhos), mas tem de planificar a vida, no sentido de eles permanecerem ao seu lado, sem impedir o seu crescimento profissional. É muito sacrifício, é! Mas lá o dobro ou duplo sofrimento, o duplo esforço de que vimos tratando. Todavia, só desse modo surge o respeito, o reconhecimento de todos!

Hoje, mais do que nunca, às mulheres mães, jornalistas, diplomatas, administradoras e políticas se coloca o repto de dar voz ao que tiverem vontade de expressar, no espaço de tempo e lugar escolhido de absoluto livre arbítrio, sem medos do apontar do dedo, da subtileza da aprovação de outrem, desde que juntos possamos partilhar pensamentos ou reflexões, a bem da sociedade.

Todos trabalhamos, temos afazeres quotidianos, profissionais e particulares, andamos, como os demais, na azáfama da vida, somos muito ocupados, mas temos tempo para pensar em coisas, as mesmas provavelmente que muitas outras pessoas, reflectir sobre elas e colocar em papel, nas redes sociais, nos debates de Rádio, TV ou em Tertúlias de amigos, a sua análise, a sua experiência. E, acreditem, são tantas as coisas a serem ditas…por certo, algumas inéditas ou outras invulgares. O importante é partilhar um, em centenas de temas, com os que nos cercam. Um privilégio para quem pode receber o legado.

  NÃO CUSTA NADA… ALGUMAS ESTÓRIAS DE VIDA!

Sobre as nossas zongolices!

… Cai a noite, e com ela todos os gatos se tornam pardos! Assim dita um provérbio milenar. E quando todos parecem sonhar, enrolados no seu manto escuro, eis que surge entre os quadrúpedes, um maldito de um vigia zongola, que sabe tudo de todos, nalgum lugar deste mundo cão.

E o que dizer da madrugada, que cedo dá lugar às manhãs das nossas arrelias ou desditas no trânsito, em casa, no trabalho, nas faltas disso e daquilo, mas também de coisas boas…tão boas, como uma boa praia, das muitas e belas, apesar de por vezes sujas, que o nosso país tem! Uma maravilha, uma delícia!

A esse propósito de praias, que tal empreenderem-se mais campanhas para as tornarmos cada vez mais limpas, aprazíveis ao lazer de cada dia, de férias, de relaxe ou simplesmente de verdadeiro “pombal do amor”, como um dia cantou o kota Burity?!

Aliás em matéria de maravilhas ou riquezas naturais, o país tem muito, muito mais do que petróleo e diamantes! Tem Mussulo, tem Sangano, tem Caota e Caotinha, tem Baía Azul, tem Santiago, enfim, para só citar algumas das mais belas praias deste belo e grande país, que todos nós, os angolanos e os sentidos como tal, mais deveríamos amar e preservar, querê-lo como lugar para se viver.

Mas, à hora em que alguns dormem, outros trabalham e, ainda “outros algum”, como dizia um conviva de meu pai, nem pouco mais ou menos, falar de praias?! E, porque não sonhar com elas? O sonho…comanda a vida! E aqui chegados, vale recordar, que quem canta, seus males espanta, assim como sorrir, remoça a idade, rejuvenesce!

E, em verdade verdadeira vos afianço, que sorrisos se precisam cada vez mais! Andamos tão amargos, tão contra o mundo, tão agressivos no nosso quotidiano, que soe dizer-se à boca pequena, que “só Jesus para nos salvar!”

Mas, já que tudo vira moda, e às vezes até pela negativa, que tal voltarmos a velhos hábitos e costumes, como saudarmos as pessoas com quem cruzamos, muitas vezes no mesmo lugar, com um educado “Bom-dia”, agradecermos um bonito gesto ou simples ajuda, com um gentil “Muito obrigado”; se pisarmos ou dermos um encontrão em alguém, que tal um pedido de “Desculpas”, sem briga?! Não custa nada e mais, gentileza, gera gentileza!

Também podemos optar ou lançar a moda de parar uns segundos, para dar lugar ou a vez a alguém; levantar e oferecer a cadeira a uma senhora, a uma gestante, vulgo grávida, a um idoso, a um deficiente ou simplesmente a alguém mais necessitado, mais cansado mesmo. NÃO CUSTA NADA! Digamos BASTA, a tanto baixo nível!

Como NÃO CUSTA NADA, MESMO, reitero, vale também parar uns segundos e tirar o chapéu, quando diante de um cortejo fúnebre ou de um féretro; dar passagem ou prioridade a uma ambulância, sem que esta tenha de fazer aquele estardalhaço ensurdecedor; deixar de cuspir, urinar ou defecar de forma despudorada, nas ruas, enfim!

Poderia citar um sem número de pequenas /grandes atitudes, que somadas e praticadas por mais pessoas, ajudaria e muito a mudar o nosso mundo, ajudaria qual bola de neve, ao crescimento e direccionamento de todos para o trilho, o caminho do bem. Se…a moda algum dia pegar, com certeza que sairemos todos a ganhar, a maior preciosidade da vida, que é fazer o BEM, sem olhar a quem!!

Como uma verdadeira corrente de amor ao próximo, tentemos todos ser um pouco loucos, obsessivos por gentilezas, para assim gerarmos mais e mais gentilezas! Não custa nada, começar agora, hoje mesmo, para que outros continuem, amanhã!!!

Façam-me o favor de copiar o belo, de que a vida tem de mais e mais belo, em pequenos e quase insignificantes gestos. Bem hajam, os que assim fizerem! No amanhã MELHOR, serão lembrados!.


ELEVAÇÃO DE MAIS MULHERES NOS TRÊS PODERES NA VISÃO DE PAULA FERREIRA

“Apenas vemos quantidade e enquanto esta quantidade não produzir qualidade, significa que a manipulação e a submissão são factos a serem considerados”.

Por: Paula Ferreira / Texto e Foto

A nossa abordagem em torno de quatro questões colocadas à quatro mulheres, sobre o desempenho das que no nosso novo/velho poder foram elevadas para o exercício de elevados cargos ao nível dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judicial) e também da esfera política, que logicamente não se encerra aqui, conclui com as respostas que recebemos de Paula Ferreira, uma benguelense de gema.

De nome próprio Maria Paula de Alexandre Ferreira, “Paula Ferreira” é natural do Dombe Grande (município da Baía Farta), mas foi como bancária, sector ao qual estive ligada por 39 anos consecutivos, escritora e activista social em prol da defesa dos benguelenses com engajamento que passou pela Associação das Acácias Rubras, que se destacou nesta sociedade e não só, mas também com acções no âmbito da valorização da mulher e, sobretudo, da juventude e da criança, bem como noutras que por cerca de três décadas uniram o(a)s ombakistas em torno dos seus princípios, valores e anseios.

Também com passagem pelo Ensino, Paula Ferreira publicou, em 2004 a sua primeira obra literária intitulada“O Coração tem como o Mar as suas Tempestades”, que agrega um conjunto de poemas que “ilustram o seu potencial e a sua forma peculiar de colocar no papel o que lhe vai na alma”, sequenciada com uma segunda, lançada há cerca de dois anos, com o título “Sentimentos de mim, de ti e de todos nós”, com 55 poemas, um dos quais, nos impele para a seguinte “Reflexão”:

Ó, gente que só sabeis incriminar

Vós que nada fazeis para gente ajudar

Porque será que vós tanta gente culpais

Sem perceberem que com gente chocais…

É com essa cidadã, que espalha a sua ternura, o seu contagiante sorriso e fala leve como uma pena, exalando o perfume das flores que cultiva e com as quais conversa, que concluímos essa ronda sobre uma temática que reputamos de elevada importância e que não se esgota aqui.

Resta-nos agradecer Mihaela Webba, Cesaltina Abreu, a Ana Clara Guerra Marques e a Paula Ferreira pela disponibilidade e por demonstrarem que o diálogo (como este promovido por um homem) é saudável para a nação e é, sim, possível. Não há que ter medo.

Seguem-se, assim, as perguntas que formulamos e as respostas de Paula Ferreira:

 O que ganhou a nossa política e a governação de forma geral, com a integração de mais mulheres, ao abrigo do princípio do equilíbrio do género?

Não consigo visualizar nada de melhorias com o equilíbrio do género na nossa política de uma forma geral. A nível de números (quantidade), em si, penso já ser um dado adquirido e visível sem quaisquer dúvidas. Há que reconhecer algumas iniciativas dirigidas nesse sentido. Mas, a nível de poder e da tomada de decisão, a mulher não se faz sentir. Não noto mudanças. A sua visibilidade é irreal. Acredito que existam algumas iniciativas com projectos inovadores, mas que não entram em produção, por não serem abrangidas na tomada de decisões, no acesso aos recursos, na avaliação, acompanhamento e no controlo da execução.

Há, de facto, uma abordagem diferente em torno dos diversos assuntos, particularmente de âmbito social, tendo em conta o sentimento maternal e afectivo que caracteriza a mulher, como fonte geradora de vida?

Deveria haver sim uma abordagem diferente. Sem dúvida que já há alguns sinais de evidências do papel da mulher na sociedade, exigindo o respeito pelo direito de poder exercer os seus próprios direitos. Mas não vemos sinais, pela concretização da justiça e progresso social que o país necessita. É um processo com poucos avanços e muitos recuos, tendo por isso muito por caminhar. Há que dar o passo em frente, para se poder anular o pensamento de que a mulher entra para a política para diminuir a qualidade da política. Creio na existência de factores de desigualdade económico e social que, de certa forma, agrava este desequilíbrio de uma forma considerável, sem deixar de ter em conta a responsabilidade. Sente que com esse equilíbrio e até pelo facto de se ter uma mulher como vice-presidente da República, outra como presidente da Assembleia Nacional, para além de no Tribunal Constitucional, em diferentes departamentos e daquelas na liderança ou co-liderança de partidos a abordagem dos assuntos melhorou, se comparado com anos anteriores de predominância masculina?

 Aqui está o maior problema. Como já me referi, apenas vemos quantidade e enquanto esta quantidade não produzir qualidade, significa que a manipulação e a submissão são factos a serem considerados. A predominância masculina continua a ser uma realidade. Eu não quero acreditar que estas mulheres presentes no topo, não possam fazer melhor para o seu próprio país, por falta de competência. A falta de movimentos sociais, a alteração das próprias mentalidades, o problema socioeconómico da mulher e sem tocar no próprio conceito da História que quase que limita os traços de personalidade associados ao estereótipo feminino, em nada abonam na designação da igualdade. A inclusão de mulheres governamentalmente deverá ser um caminho aberto para uma sociedade livre, para um desenvolvimento sustentável, multiplicando o crescimento socioeconómico do país e seu respectivo progresso, o que até à presente data nada se sente nos vários domínios onde estrategicamente estão mulheres no topo.

O que esperava mais delas (se é que esperava) como intervenção política, administrativa, cultural, desportiva e social?

  A intervenção da mulher na sociedade em si, não deve ser apenas um bibelô que se coloca numa estante qualquer e fica à mercê de quem lá o coloca. A luta pela emancipação da mulher, obriga com que ela se organize e aumente a sua responsabilidade perante si e perante as restantes. Sinceramente, eu esperava muito mais, principalmente nas áreas da saúde, educação, do desporto, com destaque para o escolar e social, onde qualquer coisa que se faça emite visibilidade de imediato. E não precisa de grandes projectos para o efeito. É só ter vontade e alguma disponibilidade financeira.


ANA CLARA GUERRA MARQUES E O DESEMPENHO DAS MULHERES NO PODER

“Os problemas do nosso país não residem no facto das lideranças serem masculinas ou femininas, mas na ausência de estratégias realistas de investimento nas pessoas, por forma a termos quadros (a todos os níveis e em todos os sectores motores) com capacidade para desempenhar as suas funções de forma honesta, humilde, profissional e competente”.

Por: Ana Clara Guerra Marques / Foto: Arquivo F&N

No rescaldo do Março/Mulher, a nossa terceira convidada é Ana Clara Guerra Marques, bailarina, coreógrafa e uma das pioneiras  e fundadora da Companhia de Dança Contemporânea de Angola já lá vão quase 33 anos.

É igualmente uma destacada estudiosa e pesquisadora de danças tradicionais e populares angolanas e não só (é a única investigadora a trabalhar sobre as danças de máscaras do povo Cokwe) utilizando os elementos recolhidos para a criação de uma linguagem própria e contemporânea para a dança angolana, que experimenta em inúmeras obras lançadas como “A propósito de Lueji (1991), Mea culpa (1992), Imagem & movimento (1993), Palmas, por favor! (1994), Neste país (1996), Uma frase qualquer…e outras (frases) (1997), Agora não dá! ‘tou a bumbar … (1998), Os quadros do verso vetusto (1999), Peças para uma sombra iniciada e outros rituais mais ou menos (2009), O Homem que chorava sumo de Tomates (2011) e Solos para um Dó Maior (2014)”.

Ana Clara Guerra Marques teve à sua responsabilidade a coordenação coreográfica dos espectáculos de abertura e encerramento do Taça Africana das Nações Orange (CAN-Angola) em 2010, foi a coreógrafa e Directora Artística dos espectáculos de abertura e encerramento do Festival Nacional de Cultura e Artes FENACULT 2014.

É Mestre em Performance Artística – Dança e Licenciada em Dança – Pedagogia, é membro individual do CID (Centro Internacional de Dança) da UNESCO. Em 1995 recebeu o prémio “Identidade” e em 2006 foram-lhe atribuídos o “Diploma de Honra do Ministério da Cultura” e o “Prémio Nacional de Cultura e Artes” na categoria Dança, pela sua contribuição nos campos do ensino, criação artística, investigação e cultura do seu país. Em 2011 recebeu o “Diploma de Honra da União Nacional dos Artistas e Compositores Angolanos (UNAC), na categoria de “Pilar da Dança”.

Ana Clara Guerra Marques é, de facto, uma autoridade e sobre o papel e contribuição das mulheres, fala com propriedade.

O que ganhou a nossa política e a governação de forma geral, com a integração de mais mulheres, ao abrigo do princípio do equilíbrio do género?

Depois de tantas lutas ao longo dos tempos pela liberdade e igualdade de direitos das mulheres em relação aos homens, naturalmente que é uma vitória vermos, em todo o mundo (e também em Angola), mulheres liderando. Este facto torna-se mais relevante, se tivermos em conta que, em alguns contextos sociais as mulheres ainda são, de forma legitimada por culturas e governos, vítimas de um sem número de formas de abuso e violência.

Na nossa sociedade, onde o machismo continua a ser uma presença, é importante que mulheres se destaquem em lugares de liderança. Todavia, sou de opinião que ser mulher não é condição chave para um desempenho competente. Assim, acho que temos em lugares importantes de direcção mulheres que possuem e mulheres que não possuem as competências políticas, académicas e profissionais requeridas para as responsabilidades que lhes foram atribuídas, justamente por ser “obrigatório” atingir quotas de mulheres em postos de chefia. Acho que ganhamos um maior número de mulheres dirigentes mas, nem por isso, melhores resultados imediatos, dado que as fragilidades do nosso país e a sua resolução não estão, na minha humilde opinião, relacionadas com as questões de género.

Há, de facto, uma abordagem diferente em torno dos diversos assuntos, particularmente de âmbito social, tendo em conta o sentimento maternal e afectivo que caracteriza a mulher, como fonte geradora de vida?

Sinceramente, não sei se há. Não sei apenas pelo facto de, a menos que cientificamente esteja provado que, por esses aspectos, as mulheres se tornam mais competentes, eu não gosto de entrar por essa espiral de suposições e subjectivismos românticos em relação às mulheres. Vejo e defendo que cada ser humano tem as suas valências, independentemente do género. Naturalmente não podemos esperar o mesmo de todos, já que as nossas capacidades natas são distintas; por isso o desempenho de todos e de cada um de nós é importante em algum lugar. Também acho que não podemos dirigir um país apenas com afectos (que são, cada vez menos, uma exclusividade feminina). Infelizmente, pois a natureza predadora humana não o permite

É preciso empoderar as mulheres? É! Porquê? Porque além de possuírem as mesmas capacidades intelectuais que os homens, nos países menos desenvolvidos elas ainda são subalternizadas pelas práticas machistas.

As mulheres que lideram são um exemplo para a luta de outras? Sim! Então vamos colocar mulheres em lugares de liderança para elas se sentirem autoconfiantes e exemplares? Não! Para ocuparem lugares de decisão (ou quaisquer outros) têm de ter competência e mérito em primeiro lugar!

 Sente que com esse equilíbrio e até pelo facto de se ter uma mulher como vice-presidente da República, uma mulher como presidente da Assembleia Nacional, para além de outra no Tribunal Constitucional, em diferentes departamentos e daquelas na liderança ou co-liderança de partidos a abordagem dos assuntos melhorou, se comparado com anos anteriores de predominância masculina?

Continuo a defender que mulheres capazes devem ocupar lugares de decisão. Mas acredito que os problemas do nosso país não residem no facto das lideranças serem masculinas ou femininas, mas na ausência de estratégias realistas de investimento nas pessoas, por forma a termos quadros (a todos os níveis e em todos os sectores motores) com capacidade para desempenhar as suas funções de forma honesta, humilde, profissional e competente. Se a base funcionar, homens ou mulheres governarão com maior conforto e facilidade. A pirâmide constrói-se da base para o vértice.

 O que esperava mais delas (se é que esperava) como intervenção política, administrativa, cultural, desportiva e social?

Delas e deles! Continuo a esperar uma maior proximidade com as pessoas comuns, para que se percebam quais os grandes problemas das “pessoas pequenas”; continuo a esperar que se dê maior espaço aos técnicos que, de facto, além de uma formação sólida, possuem experiência comprovada, um conhecimento vivido nas suas áreas de intervenção e visões progressistas de como o país poderia progredir em sectores onde é urgente intervir, designadamente, na educação, nas artes e na protecção dos direitos de todos. Continuo a esperar que se pare de descartar quadros por razões políticas, de cor da pele, porque são sinceras nas suas opiniões ou porque se “ouviu dizer que são intragáveis”. Continuo, enfim, à espera que todos nos descalcemos e trilhemos, sob a mesma chuva intensa, os caminhos de lama com a coragem de enfrentar os erros do presente, para a construção de um amanhã que poderá ser realidade ainda hoje; Com todos os homens, mulheres, (outros) animais e plantas!


AS DEZ MULHERES MAIS INFLUENTES

Ana Dias Lourenço, Carolina Cerqueira, Fernanda Renée, Yola Semedo, Nadir Tati, Azenaida Carlos, Cláudia Púcuta, Vera Daves, Lotti Nolika e Mahaela Webba
A selecção das dez mulheres mais influentes da “Figuras & Negócios” enaltece as realizações de personalidades que arregaçaram as mangas e se tornaram num exemplo nas áreas de actuação. Uma homenagem a Março, mês da Mulher

Por: Pedro Cunha Manuel
Foto: Arquivo F&N

 1 – ANA DIAS LOURENÇO – Primeira Dama

Á Ana Dias Lourenço aplica-se na perfeição o pensamento segundo o qual a mulher nada deve ao homem em potencial intelectual, político e gestão, quando se lhe dão as mesmas oportunidades. Dona de um intelecto e capacidade de gestão notáveis é, seguramente, a angolana que mais alto galgou na esfera da política e da economia a nível global. Na sua passagem, por exemplo, pelo Banco Mundial notabilizou-se como vice-presidente do Conselho de Administração do Comité de Ética e do Comité de Recursos Humanos, e Directora Executiva do Conselho de Administração e Coordenadora da Reabilitação de Infra-estruturas dos projectos financiados, em representação do círculo de Angola, Nigéria e África do Sul.

Entre 2002 e 2003, foi presidente do Conselho de Ministros da SADC, cargo que voltou a ocupar no período 2011-2012.

Além de economista, especializada em Gestão de Projectos e de Políticas Macroeconómicas, há outro lado da vida  de Ana Dias Lourenço que é levado muito a sério. Devota da religião católica, é o rosto da  campanha “Nascer Livre para Brilhar”  uma iniciativa da União Africana, da Organização das Primeiras-Damas Africanas (e de parceiros, para abordar a crescente complacência na resposta à SIDA em África) que ajudou a  reduzir, até finais de 2022, a taxa de transmissão vertical do VIH-SIDA em 15 por cento, contra os 26 por cento de 2018, ano de lançamento do programa. Ao mesmo tempo,  o tratamento de gestantes portadoras de VIH-SIDA nos hospitais especializados subiu de 54 por cento (2019) para 75 por cento (2021).

Ana Dias Lourenço manifesta um interesse especial na educação da juventude angolana. Recentemente, esteve na cidade do Luena para dar início à construção de uma escola da rede Liceu Eiffel, na província do Moxico, um  projecto, que vai receber financiamento de empresas petrolíferas parceiras do Bloco 32 (ANPG, Total Energies, Sonangol, ExxonMobil e Galp), cujo objectivo é acolher cerca de 150 jovens. Durante o evento, a Primeira-Dama incentivou as empresas já referenciadas a expandirem a rede de ensino por todo o país, com atenção especial para Luanda, onde está concentrada a maioria da população, sobretudo os jovens.

Ana Dias nasceu em Luanda em 1957, é casada desde 1986 com o Presidente João Lourenço, com quem se uniu em matrimónio, cuja cerimónia ocorreu no Cine Calunga, em Benguela, na altura, ainda, Governador da província.

Quem a conheceu durante a época da faculdade, certamente, lembra-se da fluência em inglês, francês e em espanhol de Ana Dias Lourenço

 2 – YOLA SEMEDO –  Cantora

Uma das mais populares cantora angolana de sempre, Yola Semedo começou a cantar  na década de 1980 com os Impactus 4, um grupo fundado pelo pai, um exímio instrumentista de origem cabo-verdiana. O vigor e a exuberância da música, agressiva variante da rebita, e sobretudo o seu comportamento extravagante transformaram-na imbatível nos palcos. A concorrência ambiciona destroná-la, mas isso parece não passar de um sonho. A cantora, nascida no Lobito venceu vários prémios ao longo da sua carreira e tornando-se na artista nacional mais premiada de sempre.

Em 1995, recebeu o prestigioso prémio de Voz de Ouro de África; em 2007, foi laureada como Diva da Música e Diva do Momento. Em 2015, brilhou no Angola Music Awards e conquistou quatro prémios: Melhor Álbum do Ano, Melhor Artista Feminina, Melhor Semba e Melhor Kizomba. Além disso, ela é embaixadora da ONUSIDA em Angola, casou-se em 2012 com seu produtor, Carlos Dias, em Windhoek, na Namíbia. A cerimónia foi simples, apenas com a presença de familiares e amigos próximos, longe dos holofotes.

3 -LOTTI NOLIKA – Governadora do Huambo

Nascida no município do Bailundo, há 64 anos,   integra o Executivo liderado por João Lourenço, desde 2020, como  governadora da província do Huambo, considerada a segunda maior praça política do País, depois de  Luanda.

Antes de se tornar líder, foi assessora do Ministério da Administração do Território, administradora dos municípios de Caála e Ucuma, vice-governadora do Huambo, directora provincial da Família e Promoção da Mulher e membro do Conselho da República.

Mãe de três filhos, nos tempos livres gosta de actividades de campo (agricultura), de ler  e ir às compras. Muitas vezes, até sozinha.

É formada em Ciências de Educação, na especialidade de linguística Inglesa, e  gosta de dizer que “acredita ser possível recuperar o lugar daquela província do Sul como o celeiro de Angola”.

A composição do Governo Provincial, liderado por  Lotti Nolika, exprime claramente a intenção de diminuir a quantidade de alunos fora do sistema de ensino. A governante propôs a construção de 23 novas escolas com 24 salas de aula, destinadas ao ensino primário, para além de sete institutos politécnicos. Isso visa aliviar a sobrecarga de estudantes por turma e garantir que mais crianças sejam incluídas no sistema educacional.

4 – CLÁUDIA PÚCUTA – Actriz

Claúdia Púcuta tornou-se conhecida da maioria  dos angolanos ao conquistar o troféu de Melhor Actriz da África Austral nos prémios Sotigui do Burkina Faso, pelo personagem “Domingas”, do filme “Nossa Senhora da Loja do Chinês”, da produtora Geração 80. Na verdade, o filme, que teve a estreia mundial no Locarno Film Festival na Suíça, já havia rendido à Cláudia Púcuta  a distinção na categoria de Melhor Actriz, na 2ª edição do Prémio Unitel Angola Move.

O reconhecimento público parece estar a render à actriz dos grupos Super Pakata e do Elinga uma atenção especial por parte do mundo do Teatro.

Em Dezembro do ano passado, Cláudia Púcuta esteve  na 2ª edição do Festival do Mar Vermelho (Festival Red Sea), que se realizou na cidade de Jeddaah, na Arábia Saudita. Nascida na cidade de Luanda em 1982, Cláudia Púcuta desenvolveu  ao longo dos anos uma forma de fazer teatro inspirada, em larga escala, na simbologia mágica da ruralidade angolana.

Convidado a  opinar sobre  Cláudia Púcuta, o ministro da Cultura , Filipe Zau, fez o elogio  da Cultura angolana: “Parabéns pelo seu relevante percurso cinematográfico e pelo seu desempenho em prol da Cultura Nacional.”

5 – FERNANDA RENÉE – Ambientalista      

Fernanda Renée nasceu, há 31 anos, no Lobito, cidade propícia a mangais – ecossistema de enorme importância para a protecção costeira, à segurança alimentar, para a conservação e refúgio da biodiversidade.

Foi neste município da província de Benguela que Renée costumava observar as árvores de mangue a crescer num ambiente salgado, como viveiros naturais de peixes, camarões e caranguejos, que abrigam aves migratórias. Esse cenário inspirou-a a fundar um projecto dedicado à protecção dos mangais, chamado Otchiva, termo em Umbundu, que em português significa “Zona Húmida” .

Em curto período de tempo, o Projecto Otchiva conseguiu reflorestar mais de 200 mil mangais  nas cidades de Luanda, Lobito, Benguela e Soyo, chamando a atenção de ambientalistas ao redor do mundo.

Formada em Engenharia de Petróleo, Fernanda Renée, entre 2021 e 2023, recebeu prémio na Nacional de Direitos Humanos, concedido pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, com reconhecimento de Jovem Campeã da Conservação de Zonas Húmidas pelo Comité Permanente da Convenção Ramsar e também como Ambientalista da Família Real Britânica (Prémio Earthshot), além de ter sido eleita Embaixadora Mundial para as Zonas Húmidas pela ONU.

É a mais nova conselheira de João Lourenço em assunto de Ambiente,  mas este cargo parece não a inibir  de continuar a  lutar contra a destruição de mangais em vários pontos do País. Exemplo? Recentemente, sugeriu ao Governo a criar legislação específica sobre a protecção dos ecossistemas dos mangais e de crédito de carbono.

6 – VERA DAVES – Ministra das Finanças

Vera Esperança dos Santos Daves de Sousa tornou-se em 2019, aos 35 anos, na primeira mulher angolana a assumir o cargo de Ministra das Finanças, à data secretária de Estado para as Finanças e Tesouro.

Casada, nasceu em Luanda, em 1983, constam no seu currículo os cursos de Técnicas e Práticas Bancárias, Instituto de Formação Bancária de Portugal, de Mercado de Obrigações e Instrumentos Derivados (ICAP) e  de Liderança (OF Consultores), de Gestão do Tempo (OF Consultores), depois de terminar  a licenciatura em  Economia na Universidade Católica de Angola.

Politicamente, conservadora e economicamente liberal, Vera Daves teve um papel decisivo no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), ajudando a liderar um difícil e importante diálogo que  resultou no empréstimo de 3.700 milhões de dólares do FMI para apoiar as reformas em curso no País.

Em 2023,  Vera Esperança dos Santos Daves de Sousa foi honrada no Gana com o prémio de “Ministra das Finanças Africana do Ano” concedido pelo African Banker Awards, em reconhecimento à sustentabilidade financeira demonstrada e à  habilidade em lidar com desafios económicos globais significativos no contexto actual.

7 – CAROLINA CERQUEIRA Presidente da Assembleia Nacional

Carolina Cerqueira é também a primeira mulher angolana  a  tornar-se presidente da Assembleia Nacional. O cargo, que lhe foi confiado, pareceu a muitos excessivos. Mas, não. É vista como uma das mais influentes da sua geração. Licenciada em Direito, com predominância para Ciências Político-Jurídicas, desempenhou, entre funções de relevo, os cargos de Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA, Ministra da Cultura, Ministra de Estado para a Área Social e ainda Ministra da Comunicação Social

Discreta e pertinente, tornou-se uma figura, em quem os deputados olham com confiança, acreditando ser a pessoa certa para o cargo   de presidente da Assembleia Nacional.

Nascida no Cuanza- Norte, em Outubro de 1956, Carolina Cerqueira foi casada com o cardiologista …., um dos médicos mais reputados do País, entretanto já falecido.

8 – NADIR TATI – Estilista

Nadir Lusiane Casimiro Tati, ou simplesmente Nadir Tati, é a primeira angolana e africana no ramo da moda a vestir uma actriz de cinema para os prestigiados Óscares em Hollywood. A actriz em questão foi Rachel Mwanza, da República do Congo, indicada ao prémio de Melhor Filme Estrangeiro em 2013.

Nascida em Luanda, a 2 de Setembro de 1974, Nadir Tati é uma presença obrigatória em qualquer selecção de estilistas de moda de destaque, área em que deu os seus primeiros passos na África do Sul, que iniciou como modelo e, posteriormente, destacou-se como estilista. Em quatro anos seguidos, de 2010 a 2014, a estilista foi honrada com o Prémio de Melhor Criadora de Angola. Em 2011 e 2012, foi reconhecida como Diva da Moda de Angola, além de ter sido eleita Diva do Momento em 2012, ano em que recebeu dois prémios no mesmo evento.

Os designs de moda têm como principal fonte de inspiração o continente africano, almejando o reconhecimento não apenas nacional, mas também internacional. A crítica estrangeira a considera uma das figuras mais proeminentes na história da moda africana, devido ao seu talento, determinação e persistência.

9 – MIHAELA WEBBA – Deputada

Entre os dirigentes da UNITA, é comum a discrição como se o brilho do líder ofuscasse à volta. Uma das excepções é  Mihaela Ezsebet Neto Webba Kopumi

A jurista, especialista em Direito Constitucional, cujo seu lema, como gosta de dizer, é “ Insistir, persistir, não desistir até conseguir”, tem na atenção aos pormenores, um dos caracteres mais prodigiosos, não deixando nada ao acaso.

Casada com Alcebiades Kopumi, um dos líderes do partido do Galo Negro, Mihaela Webba, que usa o Instagram para compartilhar assuntos sociais e políticos com os seus seguidores.

10 – AZENAIDE CARLOS – Andebolista

Na selecção nacional de andebol, Azenaide Carlos não é tratada pelo nome próprio. As colegas chamam-na por “Zica” alcunha que demonstra o grande poder físico da defesa. O andebolista é incansável e não pára de correr enquanto estiver em campo.

À semelhança das outras jogadoras angolanas, Azenaide, de 33 anos, começou a mostrar a sua classe nos estádios onde são realizados os campeonatos nacionais da modalidade. Depois de jogar três épocas no 1º de Agosto (entre 2000 e 2003) e seguiu para o Pedro de Luanda. Como profissional, Azenaide deu o salto para o Bera-Bera (Espanha) e, a seguir, para RK Podravka (Croácia), clube onde brilhou durante duas temporadas e onde se sagrou campeã croata. Em 2023, assinou o contrato da sua vida: transferiu-se para o Rapid Bucareste, da Romenia e rapidamente conquistou o estatuto de titular indiscutível

Natural de Luanda em Junho de 1990 é uma das andebolistas mais premiadas da história, acumulando vários prémios.

 

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