Sociedade

EMPURRAR COM A BARRIGA AS AUTARQUIAS PODE SER A PIOR DAS SOLUÇÕES!

Escrito por figurasnegocios

Desde que se manifestou publicamente, mais concretamente no discurso de abertura do Ano Político, em acto realizado em Luanda, no princípio de Fevereiro, que não se vislumbra o alinhamento entre o desejo expressado e as acções condicentes a tão importantes declarações.


Texto: Rui Kandove i /Fotos: Arquivo F&N

No seu discurso, o Presidente do MPLA remeteu para o Parlamento a obrigação de acelerar a lei da institucionalização das autarquias, deixando o repto para os dois grupos parlamentares: “Os que são deputados é que dizem ‘vamos exigir as autarquias’, quando o que há a fazer, nesta fase, é concluir o pacote legislativo, precisamente no local de trabalho deles! Estes que estão a dizer que vão exigir, o local de trabalho deles é no Parlamento. A missão deles é produzir leis”.

É evidente que essas declarações, em circunstâncias normais, poderiam ser entendidas como uma orientação política ao seu grupo parlamentar, mas tendo em conta a especificidade e delicadeza do dossier, nenhum deputado em sã consciência teria o atrevimento de iniciar o “debate” sem uma orientação política expressa. Ou seja, o Presidente do Partido deveria, caso fosse intenção, deixar claro que as autarquias constituem uma prioridade. Essa não clareza, que mais se aproxima a ambiguidade, embaraçou a construção da narrativa da divisão político-administrativa, como testemunhado no Parlamento. Entretanto e em função do empurra e puxa, alguns pontos para reflexão :

  • Será mesmo que é culpa da AN ou dos Deputados a não conclusão do pacote legislativo autárquico, se no mesmo momento em que JLO endossou o pacote já se estava na iminência de discutir o projecto sobre a DPA?
  • Se, efectivamente, a culpa fosse da AN e dos Deputados, a bem do interesse público, e se até, ao que parece, o Presidente tem o maior interesse, não bastaria ao GP- MPLA apresentar um projecto de Lei?
  • Ficamos todos atentos àquelas declarações políticas e a política do país, e percebeu-se uma ligação estranha de uma alegada intenção de conclusão do pacote legislativo autárquico do Presidente do MPLA que, na qualidade de titular do direito à iniciativa legislativa, apresentou à AN, a proposta de Lei de Alteração Político Administrativa. Afinal quem é que não quer que se aprove já a Lei que visa institucionalizar as autarquias?
  • O discurso no parlamento demonstra claramente quem não quer. Demonstra quem são aqueles que não compreendem que o sofrimento do povo não encontra na divisão político administrativa o caminho de solução mais do que nas autarquias.
  • A comunicação de um dirigente político sobretudo feita num discurso deve ser cuidadosa e meticulosamente bem concebida para evitar a sua descredibilização.
  • A CEAST, sem medo de nada, com a frontalidade típica de servos de Deus reiterou, o que várias pessoas sérias têm dito. O regime de administração territorial autárquica em Angola é urgente até para se debelar um sem número de problemas sociais que até agora não foram resolvidos e, certamente, não o serão com a Divisão Político-Administrativa.
  • Alias, com sobriedade, devemos nos questionar se com o modelo de transferência de verbas (irrisórias), baixo nível de investimento privado, pouco incentivo à agricultura, orçamentos deficitários, vamos mesmo fazer melhor do que faríamos nas autarquias?

É bom sublinhar, no entanto, e justiça lhe seja feita, foi o Presidente do MPLA, nas vestes de Chefe de Estado, no início do seu primeiro mandato, que fez lembrar aos conselheiros de estado sobre a necessidade da implementação das autarquias. Contudo , sete anos se passaram e até hoje, nem água vem, nem água vai.

 

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