Por Sousa Jamba
Em 1991 estive em Amesterdao, capital da Holanda, num jantar com um senhor que trabalhava para uma empresa que organizava investimentos em várias partes do mundo. O senhor me disse que África passaria a ter nenhum valor económico no mundo porque a Europa do Leste, sem o Comunismo, iria atrair os grandes capitais. Três décadas depois há quem diga que as sanções contra a Rússia e a guerra na Ucrânia é uma grande oportunidade para o continente Africano — muitos investidores internacionais vão querer alternativas aos recursos naturais da Rússia. Já que a Rússia e a Ucrânia produzem cerca de trinta e três por cento do trigo no mundo, há quem diga que chegou o momento de dar-se um grande impulso à agroindústria em África. Tudo isto pode ser; a verdade é que o continente Africano só poderá prosperar se houver um comércio regional vibrante.
Em muitas localidades no leste de Angola (na fronteira com a Zâmbia) existem lojas cheias de produtos produzidos na Zâmbia: drinques suaves; bebidas alcoólicas (incluindo produzidas na Zâmbia); vários tipos de comidas processadas. Na Zâmbia, sendo um grande produtor de sementes, as lojas estão cheias deles; há agricultores que vêm do interior de Angola para comprá-las. No norte de Angola existem vários mercados informais em que produtos acabam na República Democrática do Congo.
Praticamente em cada centro onde há actividades comerciais na África Austral existe alguém que compra e vende dólares; já vi situações em que comerciantes mauritanianos dão empréstimos através das autoridades tradicionais para o cultivo de feijão e eles depois passam a vender. Temos aqui efectivamente um banco! E este banco, do comerciante na aldeia, é mais eficiente; alguém não tem que estar na fila por horas e existe o fenômeno do emprestador conhecer muito bem o seu cliente.
Este todo potencial da região só poderá ser desbravado se houver reformas muito sérias nos países em questão . Fala-se muito da criação de climas propícios para se fazer negócios: acabar com burocracias desnecessárias, afunilamentos e obstruções nos processos administrativos. Esta transformação da cultura organizacional não vai ser fácil. O senhor do ministério com a tarefa de legalizar empresas vê o seu posto como a grande fonte de rendimento que vai lhe fazer uma fortuna. Há um país na região onde alguém tem que pagar para o visto na Europa; ao chegar no país, na imigração, tem que se pagar mais uma outra quantia para as autoridades. Há investidores que não se importam ter que pagar estas quantias — os lucros que resultam das suas operações podem aguentar tais custos; mas há organizações que não podem com tais arranjos.
Nos Estados Unidos existe uma lei que proíbe qualquer empresa subornar oficiais de um outro país para adquirir negócios. Existem também vários grupos no continente a monitorar as práticas que minam os esforços contra a corrupção. Na República Democrática do Congo, as empresas de mineração são seguidas atentamente por organizações internacionais que vão insistindo que deveria existir mais transparência na gestão dos contratos. É preciso que haja vontade política para se garantir um bom clima de negócios.
Depois há, também, a questão da infraestrutura. Botswana está exportando carvão mineral usando os portos de Moçambique. Existe o Caminho de Ferro do Namibe que de momento finda em Menongue — se alguém estender a linha até Botswana, haveria muitas actividades económicas ao longo desta linha lá. A própria província do Cuando Cubango em Angola poderia ter muitas vantagens económicas de uma infraestrutura deste género.
Algo que deveria acontecer também na África Austral é uma coordenação regional na criação das potencialidades de recursos humanos. No sector das minas, por exemplo, até agora tudo é dominado por técnicos Sul Africanos. As universidades Sul Africanas estão a formar engenheiros para trabalharem em várias minas da África Austral. O que é que está acontecendo nos outros países? Será que existe estratégias para se formar técnicos locais para operarem nas minas? Ligado á isto existe também a importância do surgimento de empresas locais que vão poder gerir as minas. Há uma necessidade para o surgimento de consórcios de mineração. Em várias partes da África Austral existe minerações artesanais; há vezes que as multinacionais, com concessões dadas pelo governo, deslocam as populações criando várias tensões. Se houvesse programas em que os mineiros artesanais fossem treinados para trabalhar de uma forma mais profissional, existiriam muitos recursos minerais na África Austral que,por sua vez, trariam bons fundos para ajudar no esforço da erradicação da pobreza.
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