Activista refere que vasta costa marítima angolana, com uma extensão de 1.650 quilómetros, carece de iniciativas que procurem salvaguardar a espécie protectora do peixe. São as tartarugas, hoje transformadas em alimentos para famílias em zonas ribeirinhas, que dão cabo das alforrecas, os <<papões>> das larvas de peixes. Após o salvamento de milhares de mães, equipa do Cambeú assume que poderia ter feito melhor em quase dez anos de vigência.
Texto: Marcos Pontes António / Fotos: Arquivo F&N
O berçário em funcionamento no Lobito, até agora o principal símbolo da luta pela preservação da tartaruga marinha, o Projecto Cambeú vai juntar dois outros, ambos na cidade de Benguela, mas todo esse esforço é resumido numa <<gota no oceano>> quando analisados os riscos de extinção da espécie e a dimensão da costa angolana.
Com a apresentação, no último mês, dos projectos para os dois berçários, um na Praia Morena e outro bem ao lado, na Unidade de Protecção de Individualidades Protocolares (UPIP), foi aberta a temporada 2025/26, mais uma sob o signo de protecção dos ovos e das tartarugas-bebês.
O da Praia Morena, que será patrulhado num raio de acção de dez quilómetros, produzirá mais fêmeas, ao passo que o da UPIP, numa sala fresca, estará para reproduzir mais machos.
Segundo a coordenadora do Cambeú, Sónia Ferreira, tudo isto na perspectiva dos equilíbrios no ecossistema marinho. “Cresci aqui na Goa [imediações da Praia Morena] há quarenta anos, havia muita tartaruga, hoje quase nem há. Dos cinco tipos, existem apenas a Oliva e a Gigante”, lamentou a activista, ressaltando que têm sido dizimadas para consumo humano.
Apontando a pesca indiscriminada como um adversário, revelou que o Projecto Cambeú, em oito anos de existência, devolveu ao mar mais de 76 mil tartarugas e salvou bebês e mais de quinhentas mães.
“Com mais apoios, tínhamos feito muito melhor, sempre na perspectiva de minimizar os riscos de extinção nesta enorme costa do País”, adiantou Sónia Ferreira, ao salientar que, entre os patrulheiros na Praia Morena, estarão estudantes do curso de Biologia do Instituto Superior Ombaka.
Ela alerta que Angola precisa de iniciativas similares, capazes de controlar a mortalidade e o desenvolvimento da espécie até o regresso ao seu habitat.
Sónia Ferreira defende mais sensibilização comunitária, com a comunicação social presente, e avisa que a carne de tartaruga não é nutritiva.
A temporada de desova arranca agora em Outubro, prolongando-se até Fevereiro.
Com menos tartarugas, aumenta a população das alforrecas (sua presa), que se alimenta de larvas de peixe, significando esta equação menos pescado à mesa dos cidadãos.
O Projecto Cambeú tem o apoio da ACQUA, empresa que reabilita o sistema integrado de distribuição de água da província de Benguela.
Em nome da empresa, o engenheiro Rafael Campilo, um cidadão brasileiro, explica que se trata de “iniciativa bonita”, idêntica a uma que decorre no seu País.
“Mais do que a participação financeira para a construção dos berçários, isto promove o intercâmbio entre Angola e o Brasil”, justificou.



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