Tal como anunciado pelo Presidente da República, no seu último pronunciamento sobre o Estado da Nação, Angola contará, em breve, com uma unidade de refino de ouro bruto, a ser erguida no Pólo Industrial de Viana (PIV) em Luanda, cujos trabalhos de construção estão com um grau de execução de cerca de 35%, prevendo-se a sua conclusão para o segundo semestre de 2024. Trata-se de uma iniciativa do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, através da empresa GEOANGOL, empresa detida pela ENDIAMA-EP.
Texto: João Chimuco * /Fotos: Arquivo NET
Paralelamente aos trabalhos de construção, estão em curso os processos de aquisição dos principais equipamentos no exterior do País, bem como a certificação inicial e capacitação de técnicos nacionais, ocorrendo de momento, na cidade do Porto em Portugal a formação de 23 jovens angolanos nas mais diversas especialidades.
Com o arranque deste segmento industrial, todo o ouro bruto produzido no país poderá ser localmente refinado, acrescento valor à matéria-prima e estimular o surgimento no sector de serviços que suportam este tipo de empreendimento, através do conteúdo local.
No entanto, vale destacar que a refinação do ouro desempenha um papel crucial em vários segmentos de importância económica, financeira e industrial, e com a implantação deste empreendimento certamente contribuirá para o processo de diversificação económica, para o aumento do emprego e para arrecadação de receitas fiscais a favor do Estado.
Porquê implantar a Refinaria de Ouro em Luanda?
Para que exista actividade de extracção ou exploração mineira é necessário que se proceda, inicialmente, a descoberta de uma jazida mineral que são concentrações em volume específico de material de ocorrência natural, onde podem ser extraídos minerais de valor económico e com lucro. Durante o processo de sua descoberta ou viabilização destas jazidas são imprescindíveis serviços de suporte à actividade de prospecção e pesquisa mineral, como é o caso da sondagem mineira e serviços de análises laboratoriais, permitindo a amostragem ao pormenor, bem como melhor conhecimento sobre as características químicas e físicas das amostras, concorrendo para o cálculo de recursos e reservas, isto é, a avaliação qualitativa e quantitativa dos depósitos minerais.
Estes serviços também podem ser implementados após a concentração ou beneficiamento dos minerais, como é o caso nos metais preciosos, que devem ser refinados, fazendo recurso a refinarias de metais preciosos, que é o local onde os metais passam por um processo de purificação e fundição por formas a permitir a sua correcta aplicação nos mais variados segmentos industriais e dos mercados (joalharia, tecnologia, bancos, mercados financeiros, etc.)
Foi nesta perspectiva que no ano de 2013, a administração da extinta FERRANGOL, em conjunto com empresas privadas nacionais, decidiu criar a empresa GEOANGOL, S.A., que é uma empresa de domínio público, vocacionada na prestação de serviços laboratoriais e de sondagem mineira, serviços bastante carentes naquela ocasião, no nosso país.
Quando a antiga Ferrangol planeou, estrategicamente, implementar o projecto Geoangol S.A, decidiu fazê-lo por fases, sendo a 1ª fase a que contemplou os serviços laboratoriais e de sondagem mineira, ambas implantadas em dois terços da área adquirida e infraestruturada, por si para o efeito, tendo sido reservada a restante área para a expansão dos seus negócios futuros, prevendo-se na ocasião a implantação de uma refinaria para metais preciosos, tão logo se justificasse a sua necessidade.
E, porquê refinaria de ouro?
O ouro é um metal precioso, cuja ocorrência no nosso país encontra-se distribuída por diversas províncias de norte ao sul, com destaque para Cabinda, Bengo, Cuanza Norte, Huambo e Huíla.
Actualmente, nestas parcelas do território nacional, é possível encontrar empresas mineiras detentoras de direitos mineiros de exploração, muitas delas já em produção, cujos trabalhos de prospecção, pesquisa e avaliação, tiveram o seu início no ano de 2010 e prosseguem até a data.
Para comercialização do ouro, as empresas mineiras devidamente licenciadas, ainda nas minas, submetem o minério extraído, que geralmente vem associado a outros minérios, a um processo de tratamento com o propósito de adequá-los às especificações exigidas pelos mercados, geralmente, apresentados em forma de barras. Apesar de passar por este processo de beneficiamento e fusão através de pequenos fornos eléctricos que resultam em barras doré, ainda assim o produto obtido é considerado ouro bruto, necessitando por isso, um maior grau de purificação até alcançar os 99,99 %, o que só acontece em processos nas refinarias.
No segundo semestre de 2022, foi divulgado pelos órgãos da Comunicação Social nacional e internacional o lançamento, por Sua Excelência Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Dr. Diamantino Pedro Azevedo, da primeira pedra para a construção da primeira Refinaria de Ouro de Angola, um empreendimento da Geoangol S.A., localizado no Pólo Industrial de Viana (PIV), na Província de Luanda.
A decisão de implantar uma refinaria obedece a determinados pressupostos de natureza estratégica, económico-financeira, política e sobretudo à produção de matéria-prima para abastecê-la.
Actualmente, as províncias da Huíla e Cabinda são as que mais produzem ouro no nosso país, ainda assim não tem produção em quantidades suficientes e nem outros pressupostos fundamentais que justifiquem a implantação de uma refinaria nestas parcelas do território nacional. Em princípio, o melhor local para se implantar uma refinaria para purificar metais preciosos não é, necessariamente, junto das minas, mas sim, junto aos aeroportos internacionais (pois, grande parte do ouro destina-se a exportação); junto aos mercados financeiros, bancários, bolsistas; onde existe abundante oferta de mão-de-obra qualificada; locais com muita segurança e fácil mobilidade de factores; lugares com infraestruturas laboratoriais, logísticas, etc. Aliás, eis aqui alguns dos factores que contribuíram para que a antiga Ferrangol tivesse tomado a decisão de implantar a Geoangol S.A., no local em que se encontra.
Portanto, vale ressaltar que a decisão de construir a 1ª Refinaria de Ouro de Angola nas actuais instalações da Geoangol S.A., obedeceu a factores de carácter estratégico, económico e financeiro desta empresa que tem sabido aproveitar um nicho de mercado bastante apetecível, lógico, isto associado aos demais factores supramencionados.
Com a implementação da refinaria de ouro de Angola, cuja previsão de funcionamento está estimada para o segundo semestre de 2024, a Geoangol S.A., irá abrir mais 30 postos de trabalho directos, 23 dos quais para jovens angolanos recém-formados que de momento beneficiam de formação no exterior do país.
A primeira refinaria de ouro em implementação no nosso país irá contribuir para a diversificação da nossa economia, assim como agregar valor ao nosso ouro, que deixará de ser exportado em forma de matéria-prima e passará a ser feito como produto elaborado.
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