Larápio, nome atribuído a um pretor (juiz) romano (Roma Antiga) corrupto que, ao invés de julgar as sentenças de um modo isento, preferia vendê-las a quem melhor pudesse pagá-las: o seu nome era Lucius Antonius Rufus Appius e como costumava assinar as suas sentenças como L. A. R. Apius, o povo logo começou a usar a palavra Larapius como sinónimo de pessoas desonestas, como ladrões ou gatunos.
Será verdade? Ou apenas mais um daqueles casos de etimologia romântica, em que teses açucaradas, mas sem consistência histórica, circulam de boca em boca e muitas vezes vão parar em livros de divulgação…
Não faz muito tempo, e no meio de um evento de gente (bem) vivida no nosso País (possivelmente com a ajuda espirituosas bebidas), ouvimos um vocábulo hoje em desuso – larápio. Isto a propósito de ter surgido no ecrã de um canal de TV a imagem de um figurão de alto coturno da nossa sociedade. Uma senhora levantou a cabeça, disse para os presentes: se aquele que ali está for como o pai, é um larápio!
Ora, ao ouvir os detalhes da afirmação entendi reter a atenção no termo – larápio –, visto a considerar eficaz em termos semânticos para a viva imagem com o que, quase diariamente, tropeçamos em terras do mwangolé – ladroagem!
Bem sei, agora os larápios deram lugar aos cavalheiros de fato e gravata os quais, nos intervalos de almoços, nos gabinetes opacos onde gizam jogadas golpistas em que larapiam dezenas e dezenas de milhões de kuanzas (dólares, euros…), atirando para cima dos ombros dos contribuintes a responsabilidade de pagarem o escamoteamento dos lustrosos roubos.
Otchimunu, sim! (otchimunu=larápio, no planalto central, entre os Ovimbundos, em língua umbundo). Quem se apodera do que lhe não pertence é gatuno, ladrão, larápio, pilhante, sujeito, quando descoberto, a condenação de tribunais legalmente instituídos, consoante o montante ou valor do que se apropriou.
Angola tem demasiados larápios. E não me refiro ao pilha-galinhas ou quejandos. Que, na maioria dos casos, rouba para dar de comer aos filhos, à mulher ou à mãe doente. Que é, antes de ladrão, vítima de desemprego. Tantas vezes, não porque queira, mas por não conseguir. Por razões demasiados conhecidas de todos, mesmo que, maldosamente, ignorados.
A ladroagem de Angola, desde há poucas décadas, vai muito além de casos destes. É constituída por “colarinhos brancos”. Nem sequer correm riscos de pilha-galinhas, que ao entrarem em capoeira alheia sabe que pode ser apanhado, surrado, atirado para celas colectivas sobrelotadas, sem advogado que os defenda, condenados a futuro agravado de uma vida vazia de horizontes.
Os larápios de colarinho branco que infestam hoje Angola não roubaram, nem roubam, como recurso último, para salvar a vida de um ente querido, tão-pouco para dar de comer a filhos, mulher, mãe. Eles, que há meia dúzia de anos tinham pouco mais do que os pilha-galinhas, ou nem isso, pavoneiam-se em roupas caras, transportam-se em carros, iates e jactos privados por terras que nem de mapas conheciam… E tudo o mais (muito mais) que lhes incha o ego, desmedido!
Julgaram-se, actuaram e actuam como monarcas absolutistas. Ainda há quem se julgue e actue assim! De onde veio o dinheiro para todos estes amigos do alheio? Do erário. Pelo qual sentiam uma atracção desmedida. E, com “desvergonha de larápio”, se serviram dele como cofre particular.
Sempre levados pelas asas da impunidade. Até quando? Até quando? Estamos Juntos!
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