Por Vítor Norinha
O aviso é do Fundo Monetário Internacional (FMI) que diz que há riscos acrescidos para a estabilidade financeira mundial. A origem está nos conflitos geopolíticos, e, sobretudo, na tempestade criada pela imposição de tarifas alfandegárias pela Administração Trump.
Desde o chamado “Dia da Libertação”, a 2 de abril último, promovido pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que o mundo anda às avessas. Os primeiros 100 dias foram de turbulência, com Trump a impor tarifas alfandegárias recíprocas.
Avanços e recuos de Trump como modelo de negociação está a deixar países, mercados financeiros e gestores de empresas sem rumo. Nos EUA apareceu uma expressão engraçada de qualificação das atitudes do Presidente Trump, o TACO,” Trump Always Chickens Out” e que numa tradução literal à portuguesa é o mesmo que dizer que Trump se acobarda sempre. O Presidente já reagiu e não gostou, mas tem tido savoir-faire. Considera que longe de cobardia, esta é uma forma de negociar tarifas recíprocas, algo que o Trump quer alterar e que deixaram ao longo do último meio séculos os EUA em constante défice comercial anual. Os números da dívida externa norte-americana são avassaladores e atingiram os 122,3% do PIB em 2023, o que contrasta com a média de 81% na União Europeia.
TACO ou modelo de negociação? Inclinamo-nos para a segunda hipótese, mas a expressão é de Robert Armstrong que a escreveu no Financial Times, no início deste ano, para sustentar os ziguezagues da imposição de tarifas absurdas e despois descidas ou, como acontece com a União Europeia na atualidade, há um interregno até julho. Mas Trump fez saber, entretanto, que no início de junho imporia tarifas de 50% sobre determinados produtos importados da Europa, mas acabou por dar mais umas semanas aos negociadores europeus para chegarem a um acordo e a nova data para conclusão das negociações é 9 de julho. Com a UE há tarifas de 25% sobre o aço, alumínio e derivados, 25% sobre os automóveis e peças para viaturas, a par de uma tarifa base de 10% aplicável a todos os parceiros comerciais. Na UE esta tarifa de 10% poderá aumentar para 20% (e não 50% como Trump ameaçou) depois de terminarem as negociações de julho. Portugal não está diretamente exposto a estes tarifários, tendo em conta que apenas entre 8% a 10% das suas exportações são feitas para os EUA, mas acaba por expor 80% das suas exportações a esta guerra comercial tendo em conta as cadeias logísticas e de triangulação de negócios. Isto é algo que está a gerar preocupação e que levou o primeiro Governo de Montenegro a criar modelos de compensação para estes exportadores.
Entretanto, há fortes restrições comerciais com o México e com o Canadá, enquanto a administração americana chegou a acordo de novas tarifas com o Reino Unido e com a China.
Tribunal bloqueia
A volatilidade dos mercados financeiros e a dificuldade dos investidores em acomodarem as eventuais alterações de preços pelo efeito das tarifas recíprocas, levou a que um tribunal comercial federal impedisse Trump de impor tarifas, invocando uma Lei de Poderes de Emergência. Os juízes alegam que Trump excedeu a sua autoridade, deixou a política comercial dos EUA dependente dos seus caprichos e desencadeou o caos económico, de acordo com informações veiculadas pela agência de notícias Associated Press.
Com efeito, as tarifas devem ser aprovadas pelo Congresso, mas o Presidente diz ter o poder de agir porque os défices comerciais do país representam uma emergência nacional, mas as tarifas impostas a praticamente todos os países do mundo abalaram os mercados e criaram condições para o aumento da inflação dentro dos EUA. Aliás, uma das maiores cadeias de retalho dos EUA, a Walmart, disse não ter condições para acomodar o aumento de preços e decidiu pela subida dos preços junto dos consumidores, o que foi motivo de critica por parte do Presidente Trump.
Os juízes que querem bloquear as medidas de Trump, defendem que a Lei dos Poderes Económicos de Emergência Internacional, datada de 1977, não autoriza a utilização de tarifas, desde longo porque o défice comercial não cumpre a moldura legal que diz que uma emergência tem de ser desencadeada por uma ameaça invulgar e extraordinária. Ora, os défices comerciais acontecem repetidamente há 49 anos no país. Entretanto, a equipa de Trump recorreu da decisão judicial, argumentando que o tribunal extrapolou a sua autoridade. A equipa jurídica de Trump insiste que existem défices comerciais significativos que criaram uma “emergência económica nacional”. Refere a CNN Internacional que a resposta de Trump criou mais incerteza nas empresas e nos consumidores e a batalha comercial que se avizinhava passou a ser uma batalha legal prolongada. Aquela decisão judicial afeta as tarifas do “Dia da Libertação” e pode obrigar as tarifas a ficarem congeladas se se tornarem definitivas, mesmo antes de os EUA conseguirem fechar acordos comerciais com os vários blocos económicos do mundo.
Trump tem, entretanto, de se defender de outros “ataques” domésticos, nomeadamente com tudo o que se passa com a sua criptomoeda, a memecoin, pois tem promovido jantares e palestras com compradores e investidores desta moeda digital, sendo que o próprio e a família beneficiam deste negócio. Para os seus detratores isto atinge a administração da Casa Branca em termos de ética, pois há lucro pessoal e da sua família.
Por ouro lado, cumprindo uma promessa que havia feito há semanas, Elon Musk está de saída do Governo americano, onde coordenava o departamento da “Eficiência Governamental, o DOGE, e que visava a redução da burocracia e dos gastos federais. Musk vai dedicar-se aos seus negócios, tanto na vertente aeroespacial, como na automotiva, onde tem perdido dinheiro com a queda de vendas dos automóveis elétricos Tesla. Mas antes de sair fez duras criticas ao projeto fiscal e orçamental de Trump e diz que irá prejudicar os objetivos do programa que liderou, exatamente na redução da despesa. Em declarações feitas na CBS, Musk disse o projeto de lei do Presidente aumenta o défice e faz subir a despesa pública. Trump quer promover novos cortes de impostos, a par do financiamento para a gestão de fronteiras e uma nova política para a imigração e, em contraste, propõe cortes na segurança social e nos programas de assistência.
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