Sociedade

Marcolino Moco: ESTA INDEPENDÊNCIA FOI E É PARA TODOS?

Escrito por figurasnegocios

Aqui no FB, alguém afirmava, com ares de censura triunfante, que os da UNITA não aceitam que estamos independentes. Não acredito que os da UNITA concordem com esta afirmação, só pelo facto de que desde a independência, há 48 anos, nunca governaram.

Por: Marcolino Moco /Fotos: Arquivo F&N

Ninguém pode afirmar que não estamos independentes. Há, de facto, uma independência formal que ninguém pode negar que foi proclamada, internamente, e reconhecida internacionalmente. Mas, há um problema: entre o formal proclamado e o real vivido, pode existir uma grande diferença e, no caso, há.

Poucos saberão que a independência formal da África do Sul, em relação à Grã-Bretanha, teve lugar em1961, praticamente, na mesma altura que as independências de maioria negra de grande parte dos países africanos subsaarianos. Entretanto, ajudado pela coloração de pele de beneficiários brancos dessa independência, não foi difícil identificar onde estava o mal. Isso terminaria em 1994, com o triunfo do projecto do ANC, iniciado em 1912.

Em Angola, em 1975, a independência formal foi igualmente proclamada de forma unilateral, por apenas um movimento de libertação nacional que, nunca por nunca, poderia representar todas as camadas comunitárias do país. Eu, pessoalmente, tendo reflectido sobre isso ainda como membro do próprio MPLA, pensava que essa situação pudesse ser superada, no fim da guerra civil, sob a liderança de JES. Não aconteceu.

No primeiro dia em que me encontrei com o novo PR, JLO, na base do discurso que então desenvolvia, ainda em 2017, disse-lhe, depois dos cumprimentos, duas coisas: 1º, que lhe agradecia aquele encontro com um PR angolano, o que já não me acontecia desde 1998; 2º, que pressentia que pela primeira vez iria viver numa Angola verdadeiramente independente e para todos. Há muito tempo, como sabem, que constatei que me enganei.

Hoje, até uma parte de afeiçoados ao MPLA, que dividiram honrarias e negócios com muitos dos actuais governantes, já não vivem a mesma independência real como a dos acuais donos do poder. Filhos e filhas do próprio JES e outros homem e mulheres de muitos defeitos como os meus e os de JLO, fugiram de Angola ou ninguém sabe bem do seu estatuto actual. Diz-se que ontem o falecido presidente Santos, que passou pacificamente o poder a JLO, não mereceu uma pequena referência em relação ao projecto do chamado Aeroporto Internacional Dr. AAN, quando bem ou mal (para mim até mal, em relação ao que seriam as prioridades correctas) foi iniciado no seu tempo.

Pelo que se vê, o leque de beneficiários desta independência vai-se tornando cada vez mais estreito. Com isso, não se pode contar com este país a libertar as suas energias a favor do seu desenvolvimento e das ânsias e esperanças dos mais jovens. Até à insustentabilidade total.

Por tudo isso e como não sou pessimista, como alguns insinuam, continuarei alinhado a mais velhos e mais jovens, partidários e não partidários, que acham que podemos criar uma Angola diferente. Que comece pelo reconhecimento dos erros comuns do passado, que passe pelo pedido de perdão formal por todos nós que, eventualmente, prevaricamos no calor da precipitação dos acontecimentos e prossiga na abertura de caminhos para um Futuro melhor para todos.

Assim, sim. A independência será para todos, independentemente de quem esteja a governar.

 

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