É quase difícil de acreditar que os primeiros Routers de utilização comercial (equipamento que permite a interligação de diversas redes locais distintas por protocolo IP – Internet Protocol , possibilitando assim a existência e contínua expansão da maior rede de dados mundial – a Internet); só foi inventado em 1984 (protótipo) e lançado em versão comercial, em 1986 pela empresa Cisco Systems. Ainda não fez 40 anos, e já Angola era independente quando tudo começou nesta frente tecnológica, que hoje é tão importante na forma como vivemos, trabalhamos, aprendemos e nos entretemos!
Na sequência do trabalho pioneiro feito nos Estados Unidos pela DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) nos anos 70, o conceito inicial do que veio a ser o Router IP, foi descrito pela primeira vez em 1981 por Vint Cerf e Bob Kahn no artigo académico “A Protocol for Packet Network Intercommunication”. O documento delineou os princípios básicos do Protocolo de Internet (IP) e do Protocolo de Controle de Transmissão (TCP), que formam a base da internet moderna.
Mas mesmo antes de haver o protocolo IP e Routers para encaminhar entre redes e possibilitar a Internet, já unidades centrais de computação , que se conheciam como “Mainframes”, que no fundo eram para a altura uns “super-computadores” onde todo o processamento acontecia, e com as quais se comunicava com uns terminais constituídos por teclado e monitor, onde se fazia o “input” dos dados ou consultas, recebendo depois a resposta ou “output” nos limitados e pequenos ecrãs monocromáticos de fósforo verde. Muito usado na banca, por exemplo, com os terminais nas agências, e o Mainframe na sede.
A comunicação remota era feita dos terminais para o Mainframe (unidade de computação central), ponto a ponto, por protocolos anteriores ao protocolo IP e já obsoletos hoje em dia como por exemplo o SNA (Systems Network Architecture) desenvolvido pela IBM, ou o DECnet, desenvolvido pela Digital Equipment Corporation (DEC), empresa já extinta, pois foi comprada nos anos 80 pela Compaq, tendo esta última, por sua vez sido adquirida em 2002 pela HP (Hewlett-Packard). O Protocolo IP, não sendo proprietário, como o SNA e o DECnet eram, permitiu, com a ajuda da ISO (International Standards Organization) uniformizar e estandardizar o protocolo a usar, possibilitando assim uma rede global de dados como é a Internet.
Os grandes limitadores de outras alternativas na altura, eram o elevado custo, peso e tamanho dos computadores existentes (tinham que existir apenas de forma central os tais “Mainframes”) bem, como a limitação nas comunicações de dados, que na altura aconteciam “em cima” da rede de voz, ou seja na infra-estrutura que existia e se usava para as chamadas de voz do serviço telefónico fixo, e com a ajuda dos já há muito ultrapassados Modems (Modulator/DEModulator) que permitiam passar comunicações digitais de dados, “em cima” de redes e infraestruturas analógicas desenhadas e concebidas inicialmente para Voz analógica.
Com a evolução dos computadores para os PCs (Personal Computers), que surgiram em força nos anos 90, o poder de computação democratizou-se e distribuiu-se. Agora cada funcionário tinha um PC na sua secretária. Mas a velocidade das comunicações não acompanhou tão rápido… Assim o poder de computação ficou distribuído, e era preciso haver em cada escritório ou agência/filial não só os PCs, bem como os servidores locais. Com a informação distribuída desta forma, a gestão de backups era muito complexa, pois não se podia (ainda) fazer de forma expedita pela rede (não havia capacidade de largura de banda para tal). Estes sistemas distribuídos, tinham um maior custo de manutenção, implementação e gestão e dificuldades acrescidas, bem como as dificuldades em gerir e manter salvaguarda toda a informação da empresa.
Avançando depressa para irmos ao tema que nos propomos abordar, foi exactamente a evolução das redes de dados, em disponibilidade (tanto geograficamente, como também em serviço móvel e não apenas fixo), bem como em largura de banda aumentada, e cada vez com menor latência (tempo de resposta da rede) que permitiu, concentrar de novo o poder de computação e os serviços que precisamos de usar num ponto central, que chamamos milagrosamente e simplesmente, de “nuvem”.
Para a maioria dos utilizadores, empresariais ou particulares, é completamente indiferente se o servidor de e-mail que precisam de contactar para receber o seu e-mail do Gmail ou Outlook.com (o antigo Hotmail) ou até do e-mail da empresa, se encontra num Data Center, em Luanda, em São Paulo, ou em Miami. O importante para o utilizador e para as empresas é que os serviços que os seus funcionários precisam de aceder, estarem disponíveis, e que os custos de manutenção, implementação e operação sejam optimizados (o que é possível pela centralização das operações e sistemas).
Então, temos que o “Cloud Computing” ou mais simplesmente e em Português, a “Nuvem” refere-se à entrega de serviços de computação – incluindo servidores, armazenamento, bases de dados, serviços de rede, software, backups, entre outros – pela Internet (“a nuvem”) para possibilitar pelo facto de ser implementado centralmente em grandes Data Centers, usados por diversas empresas e particulares; actualizações mais rápida, recursos flexíveis e grandes economias de escala. Podemos usar a nuvem para aceder a recursos de tecnologia, como máquinas virtuais e armazenamento, pela Internet, pagando apenas o que se usar. Isto permite que se aumente ou diminua conforme necessário com agilidade operacional, e pague apenas pelo que se usar. Os serviços de Cloud Computing (a tal Nuvem) mais comuns são Infra-estrutura como Serviço (IaaS), Plataforma como Serviço (PaaS) e Software como Serviço (SaaS). Assim, podemos ter uma empresa, que para cada funcionário define que Infra-estrutura esse funcionário precisa de ter disponível, bem como quais as plataformas e Software precisa de usar, pagando a empresa apenas os recursos (capacidade e licenças) que forem consumidos e podendo ter a sua informação centralmente protegida em backups, em um ou mais Data Centres, inclusivamente geograficamente separados (Geo Redundancy) para garantir a disponibilidade dos dados mesmo em casos de fatalidade e falha num site físico em particular.
Alguns exemplos de fornecedores de serviços global de “Cloud Computing com, oferta de serviços públicos e generalizados na Nuvem, são os conhecidos, Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure e Google Cloud Platform (GCP) para referir os mais populares.
Como vimos em cima, existem várias vantagens de usar serviços na “Nuvem”, e podemos sumarizar as mais importantes:
1. ECONOMIA DE CUSTOS: O Cloud Computing, pode reduzir o custo da infra-estrutura e das operações de TI, a empresa pode pagar apenas pelos recursos que usa e aumentar ou diminuir conforme necessário, de forma mais ágil e célere (pois os servidores virtuais no fornecedor de serviço são simples de implementar) sem ter os custos de compra de hardware e software a nível permanente, e ter de gerir as implementações e actualizações bem como as renovações de Hardware.
2. ESCALABILIDADE: Os recursos de nuvem são altamente escaláveis e flexíveis, permitindo que as empresas se ajustem facilmente às necessidades de negócios em constante mudança e gerir melhor a flutuações operacionais concretas a cada momento.
3. AGILIDADE: A computação em nuvem permite a implantação mais rápida de novos Softwares/Aplicações e serviços, bem como inovação e experimentação e teste mais rápidos. O Go to Market, pode ser em muito reduzido, com significativa vantagem em custos e tempo de resposta.
4. FLEXIBILIDADE: A computação em nuvem permite o acesso remoto aos recursos, permitindo que os funcionários trabalhem de qualquer lugar com conexão à internet.
5. CONFIABILIDADE: Os fornecedores de serviços na nuvem, geralmente possuem vários Data Centers, oferecendo redundância e backups permitindo alta disponibilidade para as aplicações e dados das empresas clientes.
6. COLABORAÇÃO FACILITADA: Os serviços em nuvem podem ser facilmente compartilhados entre equipes e partes interessadas, facilitando a colaboração e a partilha de informações.
7. AMIGO DO AMBIENTE: Através da partilha centralizada e mais eficiente de recursos, resulta em menor consumo de energia e menores emissões de carbono
Ora, se por um lado há vantagens, também é importante rever que desvantagens pode haver neste modelo operacional.
8. PREOCUPAÇÕES DE SEGURANÇA: Armazenar dados e executar aplicações em servidores remotos pode gerar preocupações de segurança, como o risco de violação de dados ou acesso não autorizado a informações confidenciais. Para minimizar este risco, precisamos de usar encriptação end-to-end, e garantir que os dados e os backups também são guardados de forma encriptada.
O armazenamento de dados confidenciais em servidores externos pode aumentar as preocupações com a privacidade, principalmente se houver localização de dados num país diferente.
9. CONTROLE LIMITADO: Ao usar serviços em nuvem, dependemos da empresa de serviços para manutenção e actualizações, o que pode limitar o nosso controle e agilidade sobre o ambiente de produção (sobretudo nos casos de empresas que precisam de um uso mais avançado e personalizado de sistemas de tecnologia).
10. DEPENDÊNCIA DA INTERNET: A computação em nuvem requer uma conexão estável e fiável à Internet, o que pode ser um problema em áreas com conectividade limitada.
Claro que neste modelo a comunicação com os fornecedores de serviço é mandatória e deve haver redundância de alternativas , mas é um risco e um factor a ponderar, dependo do nível de serviço de dados que os utilizadores têm acesso na zona onde precisam de usar os sistemas na nuvem.
11. LIMITAÇÃO DO FORNECEDOR: Dependendo da empresa escolhida e dos serviços usados, migrar para um fornecedor diferente ou solução local pode ser difícil, caro ou impossível.
12. PROBLEMAS DE CONFORMIDADE (COMPLIANCE): Determinados sectores de actividade ou regiões podem ter regulamentos que proíbem ou limitam o uso de serviços na nuvem, por questões de compliance, por exemplo, o que pode afectar sua capacidade de usá-los, ou apenas poderem usar para parte dos seus dados e aplicações.
13. PROPRIEDADE LIMITADA: Nas utilizações de fornecedores de serviços na Nuvem, a empresa não possui a infra-estrutura e o software (que já vimos ter vantagens a nível de custos), apenas os aluga e, se o provedor fechar ou alterar suas políticas, você poderá perder o acesso aos seus dados e aplicativos (sendo um risco neste caso)
Em suma, vimos de onde começamos e como a evolução de tecnologias em paralelo (sistemas e redes de comunicação) nos permitiu chegar à possibilidade, que faz em muitos casos, sentido (económico e operacional) de usar serviços de fornecedores de Plataforma, Infa-estrutura e Software como serviços disponibilizados na nuvem (o tal “Cloud Computing”)
Por questões de disponibilidade, compliance, estratégia e segurança, pode ser preferível usar modelos híbridos (parte dos serviços na nuvem, outros em infra-estrutura própria, ou seja uma mistura de Public e Private Cloud), ou no limite, e em casos muito específicos, a opção (apesar das possibilidades e ganhos possíveis em agilidade e custo das opções na nuvem ou até de modelo Híbrido) de optar por uma clássica Private Cloud, que no fundo é equivalente às estruturas associadas ao passado, onde cada empresa planeia, implementa e mantêm a sua própria infraestrutura mesmo com custos mais elevados de implementação e operação, e menor agilidade operacional.
Cada caso é um caso, e por isso a importância de saber de onde viemos e para onde caminhamos, para adequadamente planear e aplicar o modelo que fizer mais sentido, a cada circunstância e desafio operacional.
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