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Engenheiro António Venâncio: DECIDI CANDIDATAR-ME A PRESIDÊNCIA DO MPLA PORQUE VI QUE NÃO TEMOS LÍDER

Escrito por figurasnegocios

António Venâncio, Engenheiro que faz tempo na construção do PaÍs, não aparenta o estilo de partido da actualidade. Afinal ele é polÍtico e integrante do MPLA, queria concorrer no pleito eleitoral pela presidencia do partido que proclamou a independência da República de Angola.
A partir desta constatação Venáncio, que não está na super-estrutura do MPLA, ganhou amigos e inimigos mas o seu olhar é indicador que “não temos lÍder na actividade partidária”.

Acompanhe, caro leitor a entrevista que o jornalista Victor Aleixo fez ao Eng. António Venáncio que na literatura e no jornalismo tem a capacidade de Kanzala Filho.

Entrevistado por: Victor Aleixo
Fotos: Arquivo F&N

 F&N- Engenheiro Venâncio o Congresso extraordinário do MPLA sempre realizou-se e agora?

A.V.: – Tenho sempre um projecto de vida voltado para o sucesso pessoal mas sobretudo para construir obras que sejam duradouras e atravessem gerações beneficiando-as como um importante legado.Para ajudar a melhorar a vida das pessoas mais carenciadas da minha terra e dos cidadãos do mundo em geral, é preciso enfrentar os desafios que a vida nos impõe com coragem e determinação.

O meu propósito agora, sem perder os conhecimentos da engenharia, participar humildemente na construção de um mundo melhor perseguindo uma causa que seja nobre:no caso, a democratização do meu partido,o MPLA, e, por via deste, garantir uma verdadeira democratização do meu País.

F&N – Vamos lembrar o tempo: quando foi que o Engenheiro decidiu avançar para a eleição presidencial do MPLA?

A.V.– Decidi avançar para uma candidatura antes mesmo do ano da realização do nosso VIII Congresso, quando em 2016 José Eduardo dos Santos revelou ao país e ao mundo que iria abandonar definitivamente a vida política. Mas só em 2021 declarei oficialmente a minha pretensão em candidatar-me ao cargo de Presidente do MPLA.

Falei com alguns mais velhos do partido, em sede dos quais obtive a garantia de que seria apoiado, uma vez que seria um passo gigante na direção da democracia interna, um ambiente desejado desde há muito para melhorar o prestígio do nosso  partido. Depois formalizei a minha pretensão em candidatar-me junto da minha organização de base, CAP, assim estabelecem os estatutos, junto da estrutura provincial e finalmente junto da sede nacional, na subcomissão de candidaturas então coordenada pela camarada Luísa Damião.

F&N – Foi uma conversa de bar ou de família?

Presumo, a partir daí houve correntes de apoio e de contestação. Correto?

A.V.– Foi uma conversa séria.

Na altura, o antigo representante de negócios da República de Angola em Cuba, Luís Kiambata foi dos primeiros meus mais velhos que me recebeu em sua casa, e com quem conversei demoradamente tendo me incentivado bastante a seguir em frente e se ofereceu a prestar-me toda assessoria que fosse necessária para ajudar-me nos aspectos ligados as questões africanas. A partir daí entendi que a ânsia numa democratização do MPLA era enorme, efusiva a começar mesmo pelos veteranos do partido.

Conheci Luís Kiambata em Cuba, nos anos 70 e sempre o admirei como um verdadeiro patriota, um herói vivo, aquele que um dia,de modo intrépido, desviou para o Congo um avião dos portugueses com toda coragem e bravura de um angolano guerrilheiro. Estavamos ainda em plena luta pela libertação de Angola.

Também conversei com toda família e pessoas com potencial intelectual de alta confiança, os quais me encorajaram bastante a prosseguir o caminho.

F&N – O senhor é empresário ligado a política ou um político que se refugia no empresariado?

A.V. – Sou um político que vem desde 1973 lutando pelo seu país ainda integrado no Movimento Popular de Libertação de Angola numa célula clandestina, tendo me custado uma breve passagem pela PIDE, polícia política do colono português, preso na cadeia de S.Paulo. Em 1974/75 passei pelo DOM Regional do MPLA, em 1976 e dediquei-me aos estudos  dentro e fora do país, por 10 anos, onde licenciei-me em engenharia e obtive o grau de Mestre em Ciências Técnicas no ano de 1988.

Hoje, depois de haver participado na vida profissional e sido nomeado Assessor principal no Ministério das Obras Públicas, onde prestei serviço durante 37 anos.Fui empresário e docente universitária, fundei um Centro de Formação mas depois regressei a política.

A minha pretensão é motivada pelo desejo de ajudar a melhorar o desempenho político do meu partido e,a partir deste, dedicar minhas melhores forças na liderança do meu país.Pretendo tornar Angola numa referência em África e no mundo pois dispõe de tudo para o ser,faltando-lhe apenas uma boa liderança.

F&N-E agora, não receia que o punem por causa da impugnação do VIll Congresso extraordinário ou a actual direção lhe humilhe? Ou vai pedir perdão pelo acto?

Como está as suas relações com o Presidente do MPLA e com o Presidente da República?

A.V.-Eu nunca me interessei em ocupar qualquer cargo na superestrutura do partido, primeiro porque tinha sob minha responsabilidade afazeres  na docência e na engenharia, sendo que estivemos em guerra e era necessário garantir a reconstrução material do País. Integrado como quadro sênior do Ministério das Obras Públicas era incompatível o gabinete de projectos e obras com o exercício exclusivo da política.Segundo, porque confiei bastante nos meus antigos camaradas, jovens com os quais participei activamente, ainda desde a JMPLA e até no MPLA partido, tendo acreditado que eles fariam acontecer a tal Angola com a qual juntos sempre sonhamos.

Infelizmente, muitos destes meus antigos colegas e camaradas preferiram escolher as mordomias, o enriquecimento e o conforto dos gabinetes do partido, muitos dos quais afastaram-se do nosso povo ou perderam aquele ímpeto revolucionário dos anos 80, 90 em diante.

Com Agostinho Neto ainda houve algum trabalho verdadeiro,nos anos de 1974,1975 e parte do ano 1976 quando parti para Cuba e eles ficaram no partido. Com José Eduardo dos Santos pouca coisa mudou mas depois, não sei o que passou com aquele ímpeto inicial e cruzei-me com eles já feitos milionários e pouco dados à causa da democracia e do real desenvolvimento do país.Foi para mim um grande choque e uma dura emoção de tristeza. Notei que o meu povo havia sido abandonado por muitos dos meus antigos camaradas e companheiros de luta. Perderam a noção dos valores democráticos, da humildade, da simplicidade, da união entre angolanos e da Concórdia nacional. Os quadros formados viram os seus caminhos impedidos não podendo servir o País com os melhores conhecimentos adquiridos em Angola e no estrangeiro. Matou-se a meritocracia e menosprezou-se a competência e o conhecimento. Partiu-se para a bajulação e o endeusamento do líder como forma de ascensão na vida.

Pautou-se pela inversão de valores e mesmo ainda hoje conta muito a ostentação gratuita de riqueza, a intriga intrapartidária, a futilidade material, a vaidade e o egoísmo pessoal em muitos dirigentes do meu glorioso. E por isso que preconizo um período de purificação do partido através de eleições internas e a emulação de cérebros, coisa que os que lá estão acomodados não querem permitir. Por isso fazem congressos irregulares e fora da ordem estatutária, que depois lhes servem  de tampão. Mandam aprovar leis e orçamentos que em nada ajudam a tirar o nosso povo da pobreza e da miséria e em nada contribuem para a infraestrutura do País para gerarmos empregos em grande escala.

Muitos deles são hoje uns verdadeiros anti-democratas. Morreu muito daquele meu MPLA que havia deixado em meados dos anos 70,antes de eu partir para o estrangeiro.Os nossos jovens têm estado a pagar muito caro devido a esta inversão de valores. Falta-nos a todos um líder que consiga conciliar bem os interesses da Nação com os interesses individuais da nossa elite política partidária, hoje muito envelhecida em termos de valores.

F&N – Ouvi de si que enfrentou barreiras e sabotagens para o destruir. Conte-nos essa história com peripécias à mistura.

A.V.-Era previsível encontrar barreiras e impedimentos, e até deduzi que viriam ameaças, mas estas não aconteceram felizmente. Tratando-se de um processo de viragem histórica, do autoritarismo partidário para a democracia interna, era previsível esta resistência toda. Os membros do CC e do Bureau Político estão satisfeitos com os lugares que ocupam e o conforto é total. Um processo de democracia interna vai mexer com os seus actuais lugares.Por isso  estão empenhados em criar fortes barreiras e impedimentos, mesmo sob pressão dos tribunais da República.

Muitos provavelmente não vão ceder fácil, ainda que tenham que violar os nossos estatutos. O que me inquieta verdadeiramente é o facto de que até o Presidente do partido não está nada simpátizado com a democratização do partido,com múltiplas candidaturas,embora isto seja compreensível mas que nada acrescenta nos necessários níveis reputacionais de um líder.

No cômputo geral, os membros cessantes do meu partido não querem sair em 2026, querem ficar.Incluindo praticamente todos sem exceção. Mas vão ter de sair, os militantes de base não permitirão que fiquem na liderança eternamente. Vão ter de aceitar a aplicação prática dos nossos estatutos, sobretudo os seus artigos 31, 107, 112 e 114,este último que fala da campanha eleitoral interna entre candidatos. Os cessantes vão ter de aceitar concorrer, não lhes convém que sejam forçados pelo Tribunal, à pedido das grandes massas de militantes nas várias bases do partido.

F&N-Insisto:o Senhor vai continuar como empresário da construção ou vai se transformar como político engajado?

A.V. – Vou estar apenas na política almejando concorrer às presidenciais do meu país para salvar o meu povo e garantir o bem-estar dos angolanos nos dois mandatos que a Constituição garante.

F&N-Ainda o VIII Congresso do MPLA que o Senhor tentou impugnar.Participou ou nos bastidores o Senhor deu comícios?

A.V. – Terminou o VIIIo congresso extraordinário do partido mas trata-se de um conclave impetravel cujas deliberações estão sujeitas à impugnação por ter sido convocado de modo irregular. O processo da sua impugnação entra agora na sua segunda e derradeira fase da qual penso sairmos bem-sucedidos, embora possa consumir algum tempo.

F&N – Já o perguntei: não receia que o punem por causa da impugnação do Congresso extraordinário ou a actual direção lhe humilhe? Ou vai pedir perdão pelo acto?

A propósito, como está as suas relações com o Presidente do MPLA e com o Presidente da República?

A.V.-Não há motivo nenhum para receios com punições contra militantes que fazem recurso aos seus direitos de militantes tais como previsto nos nossos estatutos. A inexperiência partidária neste sentido já foi vencida em 2021, quando recorri também ao Tribunal Constitucional por violação de direitos, não só enquanto militante, mas também e sobretudo como cidadão angolano com direitos civis e políticos protegidos pela Constituição da República.

As minhas relações com o Presidente do partido  são de concorrência interna, onde o Presidente leva consigo algumas vantagens devido ao cargo que ocupa actualmente e cujo mandato só termina em 2026 com a realização do IXo Congresso ordinário.

Eu diria que estas relações com o Presidente do partido são de respeito mútuo como militantes e correm no domínio partidário com base nos estatutos do MPLA. Todavia, as relações com o Titular do poder executivo não são boas, porque são intermediadas por um enorme aparato de auxiliares e assistentes,uma grande parte dos quais não se reveem nas minhas expetativas democratizantes e colocam todos os entraves possíveis  que ao meu ver deviam ser profícuas e construtivas. Veja por exemplo o caso do Projecto Rio Luanda que os seus auxiliares não permitem que o apresente ao Chefe do Executivo e não nos dão espaço para singrarmos profissionalmente. São eles que orientam a minha exclusão de todos negócios de Estado que formatavam a minha carteira empresarial de negócios, o que resultou em altos prejuízos para a minha empresa.

F&N – Sabe que o Presidente João Lourenço cada vez mais ganha prestígio internacional e fundamentalmente no continente africano? O que acha que ele concorreu e ganhou a presidência da UA (União Africana) a partir de 2025?

Com isso, o senhor não tenta o cargo de Presidente do MPLA?

A.V. – O que faz ganhar estes títulos tão prestigiantes? Duvido que sejam os indicadores econômicos e sociais que alguém carrega consigo do seu país. Não acredito nestes títulos nem precisarei deles algum dia. O único título de prestígio internacional  de que algum dia me orgulharei será um título de reconhecimento de que no meu País acabei com os pobres que recolhem alimentos nos contentores de lixo ou nas ruas; que todas crianças do meu País tem escolarização gratuita garantida; que a saúde pública e o saneamento básico é uma realidade no meu País; que as crianças não sofrem de desnutrição aguda; que erradiquei o paludismo no meu País; que uni os angolanos e logrei uma distensão política de Angola genuína; que libertei os órgãos da comunicação social do Estado tornando-os profissionalizados, imparciais e ao serviço da Concórdia e da promoção da tolerância e do amor ao próximo; que promovi o amor ao conhecimento e que fiz da competência e da méritocracia um facto; que instrui  meu povo nos melhores valores da convivência social; que as liberdades e os direitos fundamentais dos angolanos estão garantidos.

São estes indicadores que me interessariam. Fora disso, para mim nada contaria. Nada quero para mim, pessoalmente. O meu pai ensinou-me a entregar-me a causas nobres e justas para fazer crescer o próximo. Não para tirar proveito pessoal em detrimento da felicidade de um povo  enquanto líder. E para isso que luto para liderar os angolanos.

F&N – O Kanzala Filho, cronista da sociedade escrevendo inclusive nas publicações da Etnia-Comunicação “morreu” ou esta a descansar?

A.V. – O Kanzala Filho  tem o seu tempo próprio e não tarda a regressar novamente ao grande palco da política nacional. E será na vertente econômica, política e sobretudo social.

F&N – Engenheiro Venâncio o Congresso extraordinário do MPLA sempre realizou-se e agora?

A.V.-Tenho sempre um projecto de vida voltado para o sucesso pessoal mas sobretudo para construir obras que sejam duradouras e atravessem gerações beneficiando-as como um importante legado. Para ajudar a melhorar a vida das pessoas mais carenciadas da minha terra e dos cidadãos do mundo em geral, é preciso enfrentar os desafios que a vida nos impõe com coragem e determinação.

O meu propósito agora, sem perder os conhecimentos da engenharia, participar humildemente na construção de um mundo melhor perseguindo uma causa que seja nobre: no caso, a democratização do meu partido, o MPLA, e, por via deste, garantir uma verdadeira democratização do meu País.

F&N – Vamos lembrar o tempo: quando foi que o Engenheiro decidiu avançar para a eleição presidencial do MPLA?

A.V. – Decidi avançar para uma candidatura antes mesmo do ano da realização do nosso VIIIo Congresso, quando em 2016 José Eduardo dos Santos revelou ao país e ao mundo que iria abandonar definitivamente a vida política. Mas só em 2021 declarei oficialmente a minha pretensão em candidatar-me ao cargo de Presidente do MPLA.

Falei com alguns mais velhos do partido, em sede dos quais obtive a garantia de que seria apoiado, uma vez que seria um passo gigante na direção da democracia interna, um ambiente desejado desde há muito para melhorar o prestígio do nosso  partido. Depois formalizei a minha pretensão em candidatar-me junto da minha organização de base, CAP, assim estabelecem os estatutos,junto da estrutura provincial e finalmente junto da sede nacional, na subcomissão de candidaturas então coordenada pela camarada Luísa Damião.

F&N – Foi uma conversa de bar ou de família?

Presumo, a partir daí houve correntes de apoio e de contestação. Correto?

A.V. – Foi uma conversa séria.

Na altura, o antigo representante de negócios da República de Angola em Cuba, Luís Kiambata foi dos primeiros meus mais velhos que me recebeu em sua casa, e com quem conversei demoradamente tendo me incentivado bastante a seguir em frente e se ofereceu a prestar-me toda assessoria que fosse necessária para ajudar-me nos aspectos ligados as questões africanas. A partir daí entendi que a ânsia numa democratização do MPLA era enorme, efusiva a começar mesmo pelos veteranos do partido.

Conheci Luís Kiambata em Cuba, nos anos 70 e sempre o admirei como um verdadeiro patriota, um herói vivo, aquele que um dia,de modo intrépido, desviou para o Congo um avião dos portugueses com toda coragem e bravura de um angolano guerrilheiro. Estavamos ainda em plena luta pela libertação de Angola.

Também conversei com toda família e pessoas com potencial intelectual de alta confiança,os quais me encorajaram bastante a prosseguir o caminho.

F&N – O senhor é empresário ligado a política ou um político que se refugia no empresariado?

A.V. – Sou um político que vem desde 1973 lutando pelo seu país ainda integrado no Movimento Popular de Libertação de Angola numa célula clandestina, tendo me custado uma breve passagem pela PIDE, polícia política do colono português, preso na cadeia de S.Paulo. Em 1974/75 passei pelo DOM Regional do MPLA, em 1976 e dediquei-me aos estudos  dentro e fora do país, por 10 anos, onde licenciei-me em engenharia e obtive o grau de Mestre em Ciências Técnicas no ano de 1988.

Hoje, depois de haver participado na vida profissional e sido nomeado Assessor principal no Ministério das Obras Públicas, onde prestei serviço durante 37 anos. Fui empresário e docente universitária, fundei um Centro de Formação mas depois regressei a política.

A minha pretensão é motivada pelo desejo de ajudar a melhorar o desempenho político do meu partido e,a partir deste, dedicar minhas melhores forças na liderança do meu país. Pretendo tornar Angola numa referência em África e no mundo pois dispõe de tudo para o ser, faltando-lhe apenas uma boa liderança.

F&N – E agora,não receia que o punem por causa da impugnação do VIllo Congresso extraordinário ou a actual direção lhe humilhe? Ou vai pedir perdão pelo acto?

Como está as suas relações com o Presidente do MPLA e com o Presidente da República?

A.V. – Eu nunca me interessei em ocupar qualquer cargo na superestrutura do partido, primeiro porque tinha sob minha responsabilidade afazeres  na docência e na engenharia, sendo que estivemos em guerra e era necessário garantir a reconstrução material do País. Integrado como quadro sênior do Ministério das Obras Públicas era incompatível o gabinete de projectos e obras com o exercício exclusivo da política. Segundo, porque confiei bastante nos meus antigos camaradas,jovens com os quais participei activamente, ainda desde a JMPLA e até no MPLA partido, tendo acreditado que eles fariam acontecer a tal Angola com a qual juntos sempre sonhamos.

Infelizmente, muitos destes meus antigos colegas e camaradas preferiram escolher as mordomias,o enriquecimento e o conforto dos gabinetes do partido, muitos dos quais afastaram-se do nosso povo ou perderam aquele ímpeto revolucionário dos anos 80, 90 em diante.

Com Agostinho Neto ainda houve algum trabalho verdadeiro, nos anos de 1974, 1975 e parte do ano 1976 quando parti para Cuba e eles ficaram no partido. Com José Eduardo dos Santos pouca coisa mudou mas depois, não sei o que passou com aquele ímpeto inicial e cruzei-me com eles já feitos milionários e pouco dados à causa da democracia e do real desenvolvimento do país.Foi para mim um grande choque e uma dura emoção de tristeza. Notei que o meu povo havia sido abandonado por muitos dos meus antigos camaradas e companheiros de luta.Perderam a noção dos valores democráticos, da humildade, da simplicidade, da união entre angolanos e da Concórdia nacional. Os quadros formados viram os seus caminhos impedidos não podendo servir o País com os melhores conhecimentos adquiridos em Angola e no estrangeiro. Matou-se a meritocracia e menosprezou-se a competência e o conhecimento. Partiu-se para a bajulação e o endeusamento do líder como forma de ascensão na vida.

Pautou-se pela inversão de valores e mesmo ainda hoje conta muito a ostentação gratuita de riqueza, a intriga intrapartidária, a futilidade material, a vaidade e o egoísmo pessoal em muitos dirigentes do meu glorioso. E por isso que preconizo um período de purificação do partido através de eleições internas e a emulação de cérebros, coisa que os que lá estão acomodados não querem permitir. Por isso fazem congressos irregulares e fora da ordem estatutária, que depois lhes servem  de tampão. Mandam aprovar leis e orçamentos que em nada ajudam a tirar o nosso povo da pobreza e da miséria e em nada contribuem para a infraestrutura do País para gerarmos empregos em grande escala.

Muitos deles são hoje uns verdadeiros anti-democratas. Morreu muito daquele meu MPLA que havia deixado em meados dos anos 70, antes de eu partir para o estrangeiro.Os nossos jovens têm estado a pagar muito caro devido a esta inversão de valores. Falta-nos a todos um líder que consiga conciliar bem os interesses da Nação com os interesses individuais da nossa elite política partidária, hoje muito envelhecida em termos de valores.

F&N – Ouvi de si que enfrentou barreiras e sabotagens para o destruir. Conte-nos essa história com peripécias à mistura.

A.V. – Era previsível encontrar barreiras e impedimentos, e até deduzi que viriam ameaças, mas estas não aconteceram felizmente.Tratando-se de um processo de viragem histórica, do autoritarismo partidário para a democracia interna, era previsível esta resistência toda. Os membros do CC e do Bureau Político estão satisfeitos com os lugares que ocupam e o conforto é total. Um processo de democracia interna vai mexer com os seus actuais lugares.Por isso  estão empenhados em criar fortes barreiras e impedimentos, mesmo sob pressão dos tribunais da República.

Muitos provavelmente não vão ceder fácil, ainda que tenham que violar os nossos estatutos. O que me inquieta verdadeiramente é o facto de que até o Presidente do partido não está nada simpátizado com a democratização do partido, com múltiplas candidaturas, embora isto seja compreensível mas que nada acrescenta nos necessários níveis reputacionais de um líder.

No cômputo geral, os membros cessantes do meu partido não querem sair em 2026, querem ficar. Incluindo praticamente todos sem exceção. Mas vão ter de sair, os militantes de base não permitirão que fiquem na liderança eternamente. Vão ter de aceitar a aplicação prática dos nossos estatutos, sobretudo os seus artigos 31, 107, 112 e 114, este último que fala da campanha eleitoral interna entre candidatos. Os cessantes vão ter de aceitar concorrer, não lhes convém que sejam forçados pelo Tribunal, à pedido das grandes massas de militantes nas várias bases do partido.

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