África

RDCongo – Kinshasa IMPOTÊNCIA DAS TROPAS E UM “NÃO” AO DIÁLOGO

Escrito por figurasnegocios

Judith Suminwa, primeira- Ministra da RDCongo, promete pacificar Kivu-Norte, teatro da guerra civil. Mas, pouco depois da sua presença na região, os rebeldes do M23 ocupam Kanyabayonga, a 30 km de Goma, capital da província. Também tomam Miriki e Kimaka. A governante faz alusão ao equipamento das forças armadas do Estado (FARDC) com meios adequados. A investida do M23 parece ser, por isso, uma demonstração da supremacia em relação às FARDC. Enquanto o mediador no conflito, João Lourenço (chefe de estado Angolano), anuncia preparação de um encontro entre os presidentes da RDCongo e do Rwanda.

Texto: Manuel Muanza
Fotos: Arquivo F&N

PROMESSAS E FACTOS – Em visita a Kivu-Norte, foco da guerra, a primeira-Ministra Judith Suminwa prometeu “pacificar” a região afectada pelas acções armadas dos rebeldes do M23, segundo noticiou a Radio Okapi.

Dirigindo-se aos habitantes, disse ser tal pacificação uma solução aos problemas de segurança e humanitários. Também espera permitir o regresso das populações deslocadas às respectivas aldeias.

Suminwa reconheceu, porém, não dispor de “varinha mágica” para “fazer milagres”. Disse estar confiante na iniciativa do chefe de estado congolês, Félix Tshisekedi, aludindo à reforma do sistema de defesa e segurança lançada por este.

Na investidura, em Janeiro deste ano, para um novo mandato, Tshisekedi anunciou a reforma, prevendo a modernização das FARDC.

Em reacção, Radio Okapi veiculou comentários de formadores de opinião, entre os quais o do politólogo Christian Moleka. Este mostrou-se reticente quanto à eficácia da reforma, atribuindo tal receio à filiação partidária como critério de nomeação para cargos político-administrativos.

Apontando exemplos, Moleka disse: “Num país tão vasto os detentores de cargos de natureza política, administradores do território, chefes de sectores e outros, compõem a rede do sistema de segurança e informação”.

Para ele, faz falta uma lei do sistema de segurança “que deve conferir às FARDC uma doutrina, mas a lei ainda dorme nas gavetas do Parlamento”.

A referência do analista à doutrina das FARDC tem a ver com o facto de existirem vários oficiais acusados de espionagem a favor da rebelião nos últimos anos, afastados e conduzidos à justiça militar.

Os critérios de escolha de personalidades para cargos em áreas chave colhem unanimidade entre os críticos do regime de Kinshasa. Tshibangu Kalala é um deles. “Mulheres e homens certos no lugar certo para melhorar a governação geral do país” seria o procedimento para corrigir o sistema, segundo comentário à Radio Okapi.

A anunciada reforma do sistema de defesa e segurança por Félix Tshisekedi coincide com a retirada da missão da Organização das Nações Unidas (MONUSCO), podendo a iniciativa do governo ser lida como alternativa ao vazio deixado por contingentes compostos por 2.350 militares e polícias.

Implantada há vinte e dois anos, a MONUSCO retira-se do Congo depois de sofrer acusações de incapacidade para executar as suas obrigações, chegando a ser associada à cumplicidade com a rebelião.

Bintou Keita, chefe da MONUSCO, diz o contrário. Em balanço da missão, afirma ter protegido mais de três milhões de pessoas. “Ajudou a desmobilizar mais de 4 milhões e 600 combatentes e crianças associados aos grupos armados”, defendeu.

Segundo Keita, a MONUSCO ajudou a recolher e destruir “mais de 44.000 munições e explosivos”, além de ter “jogado um papel importante nos processos eleitorais, transportando 30.000 quilogramas de material eleitoral”.

SINAIS DE VITALIDADE DA REBELIÃO -A reiterada modernização dos ramos das forças armadas (FARDC) ainda se reflecte no terreno. A título de exemplo, a seguir à expressão do desejo de pacificar Kivu-Norte, veiculada pela primeira-ministra Judith Saminwa, os rebeldes do M23 lançaram ataques a 30 km de Goma, capital da província. Saminwa fez alusão aos recursos postos à disposição das FARDC.

A ocupação das localidades de Kanyabayonga (30 km de Goma),10

Miriki e Kimaka traduz-se numa demonstração da supremacia dos rebeldes no teatro da guerra, em Kivu Norte e desafia as capacidades das FARDC.

Em Kanyabayonga, civis abandonaram as aldeias mas alguns habitantes preferiram permanecer na localidade e fizeram mesmo estalar aplausos enquanto os rebeldes a tomavam de assalto, noticia Radio Okapi.

Segundo a mesma estação radiofónica independente, fontes da sociedade civil local atribuíram a atitude de civis perante os rebeldes “provavelmente ao medo”.

A PROMESSA E O CONCRETO – O facto de a primeira-ministra congolesa ter evitado concretizar o modo como se irá derrotar a rebelião, ao apontar ela própria a existência de várias milícias locais, indica a complexidade da situação e não deixa prever soluções a curto prazo.

As declarações de Saminwa semeiam também recuos em relação à possibilidade de procurar uma solução negociada ao conflito no Leste.

Numa recente edição em relação aos dizeres de Saminwa, a rádio francesa RFI formulou o seguinte título: “RDC: visita aos deslocados de Goma, primeira-ministra exclui negociar com o Rwanda”.

De acordo com a RFI, a governante terá reiterado indisponibilidade ao diálogo com Rwanda. “Penso que o chefe de estado foi claro: não iremos negociar com aqueles que nos agridem”, numa alusão à possível reunião entre Félix Tshisekedi e Paul Kagamé.

A RFI refere-se ao recente anúncio feito por João Lourenço (chefe de estado Angolano), em Abidjan, sobre preparativos para o encontro entre ambos os chefes de estado contendores.

Reacções da imprensa congolesa à promessa de Saminwa entendem ter a governante procurado consolar os civis. “Ela reconforta a população”, comenta Forum des As, explorando as palavras de Saminwa: “Estamos aqui, vocês não estão abandonados”.

O jornal Le Potentiel insinua que Judith Saminwa acolheu a simpatia dos habitantes do Kivu-Norte, mas as populações esperam pelos “resultados concretos”.

Especulando, Le Potentiel atribui às populações a opinião segundo a qual esperam da primeira-ministra um proceder “diferente, contrariamente aos antigos chefes de governo” que “efectuaram tantas viagens sem soluções aos verdadeiros problemas”.

Num despacho intitulado “Guerra no Leste..”, a agência noticiosa estatal ACP estima tratar-se de uma visita com a intenção de “ajustar as intervenções do governo” para a busca de soluções aos problemas locais.

Céptico em relação às soluções, o jornal La Prospérité lembra o crescente “activismo” dos grupos armados locais (incluindo M23) e estrangeiros (caso de ADF -Forças Democráticas Aliadas, extremistas islâmicos do Uganda), dizendo estarem já activos “há duas dezenas de anos”.

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