Erika Nelumba defende o respeito pelas escolhas das mulheres, aquém aconselha para serem fortes e resilientes perante as adversidades sociais.
“Não tenhamos medo dos nossos desafios diários e deixemos de julgar. Precisamos aprender a respeitar as escolhas das outras mulheres”, diz a artista.
Nesta entrevista, Erika Nelumba refere que a mulher consegue conciliar vários papéis, mas enfrenta um desafio muito maior do que os homens. “Uma vez que também pesa sobre nós um julgamento mais severo”, explica.
Por: Venceslau Mateus /Fotos: Arquivo NET
Figuras&Negócios (F&N)- Autora de vários sucessos do mercado musical angolano, Érika Nelumba é uma referência na música angolana. A que se deve este sucesso?
Erika Nelumba (EN)– Muito trabalho (…).
F&N – Conseguiu hoje firmar-se no mercado musical angolano. Do se lembra do início da sua carreira?
EN- Tenho boas lembranças, como estar em estúdio e inicialmente não saber como tudo aquilo funcionava. Na minha visão de uma jovem de 17/18 anos, era tudo muito novo.
F&N -Conseguiu atingir o objectivo preconizado?
EN-Penso que sim, na medida em que consegui impactar muitas vidas com as minhas músicas.
F&N – Que balanço faz da sua carreira?
EN- Ainda é cedo para fazer balanços. Acredito que tenho ainda muitas coisas para fazer.
F&N – A aposta na música foi a melhor solução para o seu projecto pessoal? Porquê?
EN- Nos meus projectos de vida iniciais nunca houve música, embora ache que sempre fui cantora. A música é algo que acabei por descobrir e por descobrir-me.
F&N – Qual tem sido a fonte de inspiração para o trabalho que apresenta ao público?
EN- O meu dia-a-dia em geral. Sou muito observadora, então acabo também por inspirar-me em outras pessoas.
F&N – Como olha para o mercado musical angolano?
EN – Já temos bastante quantidade, que naturalmente, acabou gerando mais qualidade.
F&N – O que gostaria de ter feito e ainda não conseguiu até hoje?
EN- Muitas coisas. Já que estamos a falar de música, um grande show Erika Nelumba.
F&N – Ao longo dos seus anos de carreira artística, o que fez de errado e se arrepende de o ter feito?
EN- Talvez ter subestimado o meu talento.
F&N – Profissionalmente, onde se encaixa a doutora Erika Nelumba e a cantora Erika Nelumba?
EN- Cada uma tem a sua hora e o seu momento. Na minha visão, não há separação entre as duas. Fazem parte da mesma pessoa.
F&N – Tem sido fácil a coabitação das duas personalidades mais o de mãe e mulher?
EN- Fácil não. De maneira alguma. Mas estou acostumada a pequenos e grandes desafios.
F&N – Na sua trajectória musical, qual foi o momento em que percebeu que deveria abordar nas suas letras e músicas o tema da mulher na sociedade? Teve algum momento da sua vida que te fez reflectir sobre isso?
EN- Tenho reflectido sempre. Acho que a mulher angolana limita-se bastante ao papel de companheira/esposa. Isso é bom, mas somos muito mais do que isso.
F&N – Qual o maior desafio para você, como mulher, na indústria musical?
EN-É justamente conciliar vários papéis. Penso que para um homem é mais fácil trabalhar fora. Já a mulher enfrenta um desafio muito maior, uma vez que também pesa sobre nós um julgamento mais severo.
F&N – Falando das mulheres na música, desde o início deste percurso solo até agora, o contexto da música mudou muito?
EN- Penso que não (…).
F&N- Mudando de assunto, como caracteriza a actual situação da mulher angolana?
EN- Penso que devemos confiar e desenvolver ainda mais o nosso potencial, profissionalmente falando.
F&N – Acha que são as mulheres que, algumas vezes, também não lutam pelos seus direitos?
EN- Tudo começa porque muitas mulheres sequer conhecem os seus direitos. Então, acho que ainda muito trabalho a ser feito neste sentido.
F&N -Qual mensagem deixa para todas as mulheres angolanas?
EN- Sermos fortes e resilientes. Não tenhamos medo dos nossos desafios diários e deixemos de julgar. Precisamos aprender a respeitar as escolhas das outras mulheres.
DISCOGRAFIA
Para além do CD “Polivalente”, 2019, que destacaremos a seguir, Érika Nelumba gravou, “Pensando em ti”, 2003, disco com o qual foi distinguida pelo “Top Rádio Luanda” na categoria, “Voz revelação”. No CD estão alinhadas as canções, “Arrependimento”, seu primeiro grande sucesso, “Palavras”, “Apostar em mim”, “Ser audaz”, “Não sei o que fazer”, “Quero o teu perdão”, “Meu jeito” e “Amar-te. Na sequência, surgiu, em 2008, o CD, “Agora sim”, com os temas, “Tchilar”, “Diz porquê” , com participação especial de Johnny Ramos, “Filha de Deus”, “Não vou parar”, “Onde estás”, com participação especial de Gutto, “Quando estamos bem”, “É tão bom”, “If I could”, “Vem comigo”, “Interlúdio”, “Luz que brilha em mim” e “Eu sei”, que teve a participação especial de João Branco.
PERFIL
Cantora, compositora e médica, Erika Nelumba iniciou a carreira musical em concursos de música em 2001 e rapidamente foi descoberta pelo produtor, Betomax, proprietário da produtora homónima, onde gravou o seu primeiro álbum de originais, com destaque para a canção, “Arrependimento”, seu primeiro grande sucesso.
Em 2002, com apenas dezanove anos de idade, participou e venceu o concurso musical “Voz do ano”, organizado pelo “Karaoke” do cinema Karl Marx, tendo-se revelado nas categorias, “Voz da semana” e “Voz do mês”, e arrebatou, em 2003, o “Top Rádio Luanda”.
Embora tenha conseguido um sucesso assinalável com a gravação do seu primeiro CD, a sua carreira sofreu um período de silêncio voluntário, para concluir a licenciatura em Medicina pela Universidade Jean Piaget, em Luanda, facto que ocorreu em 2008.
Erika Nelumba interrompeu, novamente, a música por motivos académicos, de 2011 a 2015, para concluir a especialização em Dermatologia, pela Universidade de São Paulo, Brasil. No dia 11 de Maio de 2018, o Instituto Camões-Centro Cultural Português acolheu um concerto intimista de Erika Nelumba, com participação especial de Selda, Walter Ananás e Mago de Sousa, ocasião em que revisitou os sucessos da sua carreira, clássicos da Música Popular Angolana e canções conhecidas da música internacional.
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