O retorno do estilo de dança Dizanda, considerada a mãe do Semba, e o surgimento do Sambalage marcaram o Carnaval de Luanda, cujos desfiles voltaram, dois anos depois, à pista da Nova Marginal. Dizanda é uma dança caracterizada por uma marcha acelerada e rodopiada, seguida de ligeiras flexões, em que os bailarinos evoluem no centro da roda.
Trata-se de um estilo de dança que se notabilizou nos primeiros períodos do Carnaval, juntamente com a Varina, Cidrália, Kazukuta e o Semba, as marcas mais expressivas do Entrudo desde 1978.
Durante a performance da Dizanda, a roda dos executantes é constituída, igualmente, pelos restantes membros do grupo e pelos seus simpatizantes. Os instrumentos musicais de suporte resumem-se a um tambor grande, designado ngoma, com ajuda de banqueta e dois tambores menores.
Foi, de resto, com essas combinações, que o grupo carnavalesco Twabixila fez ressurgir a Dizanda, na Nova Marginal, chamando a atenção dos críticos de arte e da vibrante plateia nas bancadas.
A agremiação, primeira a passar no desfile central, foi a única que se apresentou com esse estilo de dança, tendo recebido aplausos da assistência. A apresentação do grupo ficou marcada não só pelo retorno da Dizanda, como também do seu enredo, que retratou o dia-a-dia dos bairros de Luanda.
No entanto, outra nota positiva foi o surgimento de um estilo de dança quase desconhecido: o Sambalage, dançado pelo União Povo da Quissama. Palmas e assobios acompanharam o desfile, que arrancou por volta das 17 horas, quando o sol já se retirava, timidamente, e dava lugar à noite.
Turistas rendem-se – O regresso da folia na Nova Marginal de Luanda, com fantasias e enredo típico da cultura angolana, atraiu e conquistou os vários turistas estrangeiros. Mexendo o pé, a cabeça ou mesmo o corpo todo, os turistas vibraram a cada detalhe do som do semba, da dizanda, cabecinha e sambalage, ao mesmo tempo que aplaudiam a ginga, a dança e compasso harmonizado dos dançarinos dos grupos concorrentes.
As mensagens, o vestuário bastante colorido foram, de igual modo, aspectos atractivos para os visitantes de várias nacionalidades. Entre os presentes na Nova Marginal encontramos o haitiano Constant Mothersil, residente nos Estados Unidos, que veio especificamente a Angola para ver de perto a beleza da cultura angolana retratada pelos grupos carnavalescos.
Constant Mothersil manifestou-se satisfeito, principalmente pela dança, musicalidade e vestuário usado pelos grupos, garantindo regressar em 2024 para continuar a levar a cultura angolana nos Estados Unidos.
Já o Francês Romam Serviz, de 15 anos de idade, que veio pela primeira vez ao país acompanhado de seus pais, disse ter vindo especificamente para a folia do Entrudo, mostrando satisfação pela organização e as danças.
Para Marcos Alvarrson, sueco de nacionalidade, que assistiu pela primeira vez o Carnaval de Luanda, disse que a festa superou as suas expectativas. Marcos Alvarrson considerou ser uma folia bastante convidativa e atractiva, pelo que irá regressar em 2024, acompanhado de outros amigos.
Figuras públicas vivem timidamente o Carnaval – Ao contrário de outros períodos, particularmente o do surgimento dos blocos de animação (2000/2003), na presente edição, quase nenhum grupo conseguiu atrair e mobilizar famosos para o grande desfile central.
Até antes da pandemia, em 2020, a folia de Carnaval vinha juntando artistas de diferentes segmentos das artes, que ajudaram a levar luz, cor e emoção aos desfiles. Este ano, as figuras públicas estiveram em número reduzido na pista, onde 13 grupos lutaram, palmo-a-palmo para arrebatar o prémio.
Entre os artistas que reforçaram os desfiles, esteve a jornalista Mara Dalva, porta-bandeira do União Mundo da Ilha, um dos mais carismáticos do Entrudo de Luanda. A jornalista é um dos famosos que se envolvem com regularidade nesta mega festa cultural, desde a criação do Bloco Azul, no começo do novo milénio.
O desfile contou ainda com outros famosos. É o caso do também apresentador Pedro Belo que destacou a importância da maior festa cultural angolana e defendeu a sua maior valorização.
O União Recreativo Kilamba também levou à Nova Marginal gente de grande popularidade, como o músico Dom Caetano que foi o intérprete da sua canção. O mesmo esteve vibrante durante todo o desfile, tendo ajudado a colorir uma manifestação cultural que durou mais de seis horas e meia. O músico considera importante que outros cantores também dessem cara com suas canções.
Já a também cantora Yola Semedo, que acompanhou todo o desfile, disse ser importante a participação e apoio de toda classe cultural. “Não importa se estivermos na pista ou nas bancadas, o importante é dar o nosso apoio e fazer da nossa maior festa cultural uma verdadeira festa, com o apoio de todos”, finalizou.
Grupo conquista o seu terceiro troféu
UNIÃO RECREATIVO DO KILAMBA LEVA TÍTULO PARA O RANGEL
O Grupo União Recreativo do Kilamba venceu, conquistou o título na classe A do Carnaval de Luanda, edição 2023. Em segundo lugar ficou o Grupo União Jovens da Cacimba, com 728 pontos, em terceiro o União Kiela, com 720 pontos, o quarto o União Njinga Mbandi, com 719 pontos, enquanto o União Povo da Quissama ocupou o quinto lugar, com 698 pontos.
O primeiro classificado da classe A recebe como prémio cinco milhões de kwanzas, o segundo três milhões, o terceiro dois milhões, o quarto um milhão 500 mil e um milhão para o quinto colocado.
O Recreativo do Kilamba conquistou o terceiro título, depois dos alcançados em 2018 e 2019. Fundado em 2015, o colectivo é comandado por Poly Rocha, e tem como rei Domingos Manuel e rainha Lourdes António.
“KABOCOMEU” SOBE PARA O PRIMEIRO ESCALÃO
O grupo União Operário Kabocomeu, do município do Sambizanga, venceu a classe B do Carnaval de Luanda, com 677 pontos. Com este resultado, o histórico grupo, que representa a dança Kazucuta, regressa à classe A do Carnaval de Luanda.
Na segunda posição ficou o União Petrolíferos, com 684 pontos, em terceiro o União do Cazenga, com 644 pontos, em quarto o União Kazucuta do Sambizanga, com 620, e em quinto o União Jovens do Kapalanga, com 614 pontos.
Na classe B, o primeiro classificado vai receber três milhões de kwanzas, o segundo dois milhões, o terceiro um milhão, o quarto 750 mil e o quinto 500 mil. Os cinco primeiros classificados desta classe ascendem à classe A do Carnaval.
Do município de Viana
“VIVEIROS NZINGA MBANDI” REVALIDA TÍTULO INFANTIL
O grupo Cassules Viveiros do Nginga Mbandi, do município de Viana, revalidou o título na classe infantil do Carnaval de Luanda. Na classe infantil, que teve a participação de 16 grupos, o primeiro classificado será premiado com dois milhões de kwanzas, o segundo com um milhão, o terceiro com 750 mil, o quarto com 500 mil e o quinto 300 mil kwanzas.
Em segundo lugar ficou o grupo Cassules Amazonas do Prenda com 823 pontos, em terceiro o Cassule Café de Angola com 684 pontos, enquanto o Cassules Jovens da Cacimba, com 676, e Cassules dos Petrolíferos, com 621 pontos, ocuparam os quarto e quinto lugares, respectivamente.
Na classe infantil, que teve a participação de 16 grupos, o primeiro classificado será premiado com dois milhões de kwanzas, o segundo com um milhão, o terceiro com 750 mil, o quarto com 500 mil e o quinto 300 mil kwanzas.
Na marginal, o grupo Viveiros do Njinga A Mbande fez uma homenagem à Rainha que dá nome ao colectivo, pela sua tenacidade na luta contra o colonialismo português.
A agremiação, com 120 integrantes, dançou estilo a Cabecinha. Viveiros do Njinga a Mbande, que foi fundado em 2015, desfilou sob o tema “Rainha Njinga a ” e comandado por Gelson Arsénio, Rei Justino António, Rainha Maria Carlos.
ALMA DO CARNAVAL DO ANTIGAMENTE NO TEMPO
O carnaval é uma brincadeira de se levar bastante a sério. Muito à sério mesmo, porque expressão de vida e de cultura. Pelo menos, este é o lema que norteia o União Recreativo do Kilamba (URK), o justo vencedor da renhida edição 2023 da maior festa popular de Angola. Se depender de Poly, o carnaval de Luanda não vai morrer. Antes pelo contrário. Para além de se munir de espírito de carnaval, Poly mantém acesa a chama dos verdadeiros foliões e fazedores de carnaval do antigamente no tempo, com a esquebra de ter ambição, visão e sentido de aventura dos homens dos novos tempos.
Por: Albino Carlos/ Fotos: Arquivo NET
Ao apresentar a vida social e cultural, económica e política, religiosa e simbólica do nosso Povo, o União Recreativo do Kilamba do meu Rangel mostrou que de facto o Carnaval é o maior quadro antropológico e sociológico de Angola.
Fazendo jus à alma dos angolanos que comungam da ideia de que o carnaval é a festa da evocação da morte e da vida, sobretudo a celebração da vida e dos seus desvarios, o URK venceu e convenceu não só porque dançou o carnaval sob a égide de um tema e um tema global e desafiante tanto quanto a globalidade do Carnaval na representação da vida que se representa e se interpreta a si própria na sua forma livre e utópica, mas porque é um grupo carnavalesco que não brinca em serviço.
Sendo o carnaval um texto completo, as cores das vestimentas e dos adereços libertavam magia de arco-iris, a sincronia nos movimentos e a harmonia rítmica entre todos os sectores do grupo era proporcionar à qualidade performática de cada um dos seus elementos e o domínio da geografia dos espaços da pista é coisa séria, muito séria mesmo, sendo que o comandante e a corte, ao invés de fazerem teatro para gáudio da tribuna principal ou exibirem-se de forma desligada do grupo, comunicavam-se no ritmo e na expressão corporal no desempenho do papel de batuta.
O URK também mostrou qual era a diferença de música angolana de carnaval e música no Carnaval. A aposta nas mulheres e no povo em geral revela que sabe do ofício e respeita a tradição, pois desde sempre que a mística da performance das mulheres é trunfo de ouro do Carnaval de Luanda, tal qual a falange de apoio.
A vitória do URK tem nome próprio: ORGANIZAÇÃO e EMPENHO. E tem sobrenome de peso: Poly Rocha.
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