Texto: Manuel Muanza (Jornalista)
⁄ Fotos: Arquivo F&N
Confrontos directos entre as forças armadas governamentais e rebeldes da coligação AFC-M23, na província de Kivu-Sul, contrariam, no dia seguinte, as boas intenções de alcançar a paz inscritas na declaração assinada em Doha (Catar). Bolsas de outras organizações rebeldes recusam-se a aderir ao processo de desarmamento, lançando ataques, tais como o grupo de milícias intitulado “Zaire”, na província de Ituri.
Certa imprensa vê em Doha a “vitória” do presidente Félix Tshisekedi. A oposição política prefere cautela.
INTENÇÃO E REALIDADE – O governo de Kinshasa e a coligação rebelde M23-AFC assinaram uma declaração de princípios, em Doha (Catar), perspectivando o fim da guerra no Leste da RDCongo.
Deseja-se que as forças armadas governamentais (FARDC) e o braço armado da coligação rebelde M23-AFC- RDF cessem os combates.
A coligação compõe-se da AFC (Alliance des Forces du Changement), M23 (Mouvement 23 Mars) e RDF (Forces de Défense Rwandaise).
A possibilidade de um cessar-fogo imediato, preconizada pela declaração, ainda que venha a concretizar-se, estará longe de restabelecer a paz no país.
“Logo a seguir à declaração de princípios, combates rebentam entre M23 e Wazalendo”, titula a Rádio Okapi numa alusão ao fracasso do processo de pacificação.
O grupo “Wazalendo” (“patriotas”, em Swahili) abarca milícias de autodefesa constituídas por civis unidos e armados, no Kivu-Norte e Kivu-Sul, com a intenção de defender as suas localidades dos ataques de outros grupos de milícias ou formações rebeldes.
Do ponto de vista ideológico, os “Wazalendo” assumem-se abandonados pelas tropas governamentais e auto-proclamam-se “patriotas” face às agressões perpetradas por estrangeiros, sublinhando a fé pela restauração da soberania nacional.
“Um dia depois da assinatura da declaração de princípios entre a RDCongo e a coligação AFC-M23, combates violentos estenderam-se no Kivu-Sul, na região de Mulungu”, segundo a mesma fonte.
O governo terá de enfrentar outros focos de instabilidade. A títulode exemplo, o anúncio da declaração de Doha seguiu-se dos confrontos intensos entre as FARDC e um grupo rebelde intitulado “Zaire”, em várias localidades de Búnia, província de Ituri, noticiou a rádio Okapi captada por “F & N”.
As milícias do “Zaire” estão coligadas com a chamada Convenção para a Revolução Popular (CRP), organização dirigida por Thomas Lubanga, que evolui em Ituri e visa derrubar o poder instalado em Kinshasa.
A CRP resiste aos apelos para aderir ao programa de desarmamento e pacificação.
Sinais concretos do lançamento de um diálogo entre a rebelião coligada e Kinshasa deveriam ter nascido depois do acordo de paz havido entre a RDC e o Ruanda, a 27 de Junho, em Washington.
A esperança foi alimentada pelo facto de o Ruanda estar acusado de patrocinar o M23 e de utilizar o território vizinho para a extracção de minérios.
A implementação do espírito de Washington favoreceria a restauração da soberania da RDCongo nas regiões ocupadas pelo M23 e alegadamente exploradas por Ruanda.
O princípio da extensão da administração do estado para as zonas ocupadas pela rebelião, em Kivu-Norte e Kivu-Sul, foi retomado na recente declaração de Doha. Tal deve acontecer depois de um futuro acordo de paz, conforme prevê a letra do texto de Doha.
CRENTES E PESSIMISTAS – O jornal Le Phare considera a declaração de Doha uma “vitória” do presidente Félix Tshisekedi, enquanto o semanário La Reférence Plus prefere esperar que as próprias vítimas directas da guerra, populações do Leste, sintam elas próprias os frutos da paz.
A coligação “Lamuka” (Despertai), principal conclave de partidos da oposição política, limitou-se a apelar para a urgência da paz. O porta-voz de “Lamuka”, Prince Epenge, afirmou ser “prioridade absoluta” toda a iniciativa conducente ao “engajamento colectivo”.
TENTATIVAS DE DESARMAMENTO- Na província de Tangahyika, milícias do grupo armado Fimbo na Fimbo aderiram ao programa de desarmamento e reintegração na comunidade.
Michel Bitonto, líder do grupo, dialogou com representantes das agências da ONU e da OIT a este propósito.
O programa de reintegração dos combatentes, lançado a 9 de Julho, é financiado e gerido por um consórcio integrado pelo UNICEF, FAO e OIT. Está em fase piloto em Kalemie e Nyunzu, província de Tanganyika.
O gesto de Fimbo na Fimbo está longe de representar um avanço no processo de pacificação da RDCongo.
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