Dossier

MORTE DO PAPA

Escrito por figurasnegocios

O Papa Francisco morreu, desapareceu do mundo dos vivos. A sua morte impõe ao Vaticano o dilema da eleição ou não do SU um sucessor como Jorge Burgoglio que economizava nos hábitos e esbanjava na disposição de erguer o catolicismo. Essa escolha será crucial para os destinos da Igreja.

Eram 8 horas em Angola no 21 de Abril, a Santa Sé anunciaria a morte de Jorge Maria Bergoglio, aos 88 anos, cuja causa é um AVC seguido de colapso cardiovascular. O pontífice se recuperava de uma dupla pneumonia e de sucessivas infecções respiratórias que o mantiveram durante 38 dias internado no Hospital Gemelli.Fragilizado, retornou ao quarto singelo da Casa Santa Maria,entre os muros do Vaticano. Coube ao camerlengo, o americano Kevin Joseph Farreli,na figura de chefe da igreja no período de vacância, fazer o anúncio ao mundo, diante das câmaras de TV.” Às 7h35 desta manhã, o bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do pai.Toda vida dele foi dedicada ao serviço do Senhor e da igreja.Ele nos ensinou a viver os valores do Evangélio com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.”

O mandato do Papa jesuíta, argentino, durou pouco mais de doze anos. Do ponto de vista da história do catolicismo é quase nada. Para o mundo de hoje, porém, premido pela velocidade da internet e pela estupidez das polarizações ideológicas, atalho para o preconceito, representou uma saudável eternidade. Talvez como nenhum outro,o “Papa simples”, como chegou a ser alcunhado depois de erguer os braços na varanda central da basílica romana em 13 de Março de 2013, tratou de questões terrenas-a esse aspecto, a um só tempo comezinho e corajoso, é que o distingue de seus antecessores. Não que ele tenha rompido com os pilares da igreja, um anátema impossível, e não haveria mesmo como fazê-lo, ao bulir com regras de dois milénios.

Ainda que não tenha sido o primeiro a provocar terramoto-João XXIII, nos anos 1960, chacoalhou os alicerces ao abandonar, inclusive,as missas em latim e autorizou os padres a virar e frente para os fiéis-foi o pioneiro no tempo de redes sociais, o nosso, em que tudo corre muito mais rapidamente, inclusive a lentíssima movimentação a ritmo de tartaruga da religião dos discípulos de Pedro, Francisco tocou em quase todos os temas de intenso debate. Não é o caso de dizer que houve avanços extraordinários-não houve-mas a firme mudança de tom precisa ser celebrada, e nesse aspecto há quem compare a sua trajectória com a de João XXIII, o “Papa bom”. O barulho de Francisco faz bem para a civilização, ainda que as portas abertas por ele cismem em fechar-se, por forças dentro e fora da Igreja atreladas ao conservadorismo. Na Argentina, por exemplo,o populista de direita Javier Milei chegou a chamá-lo de “demónio “embebido da briga política na terra natal de ambos.

 

A passagem de Francisco impõe uma pergunta: qual será o futuro da igreja depois dele? Não há resposta de um único tom. Convém, antes de mais nada, para compreender os passos do Papa a caminho do amanhã estabelecer a diferença entre dogmas e doutrinas.Os dogmas nunca serão cancelados ou descartados,embora possam ser ajustados ao longo do tempo. As doutrinas, sim, são alteradas, e foi o que ocorreu. Tratam, de modo geral, de moralidade, de questões comportamentais e de economia das sociedades, ao feitio de um manual de etiqueta. Nesses campos, o Papa representou oxigênio vital.Em um dos sínodos de seu tempo, incluiu leigos com direito a voto igual ao dos bispos, ao enfatizar o chamado sensus fidelium, o papel de gente comum nos ensinamentos oficiais. ”Para estabelecer com segurança o legado de um pontífice seria preciso esperar 100 anos. ”disse à Veja brasileira o teólogo James Hertz, da Universidade de Dayton,nos Estados Unidos. ”Mas ao abrir discussões ao redor de assuntos delicados,tabus inalcançáveis. Bergoglio inaugurou um capítulo real da vida da Igreja daqui para a frente. Como diria a minha saudosa mãe, uma vez que a pasta de dente está fora do tubo, é difícil colocá-la de volta.”

Atento as dificuldades, depois que saísse de cena, ele próprio pavimentou a estrada, na tentativa de encaminhar a Igreja ao modo como a imaginava para as próximas gerações. Com ele, a divisão tradicional entre congregações e conselhos, em que as primeiras reuniam a elite do clero e a segunda era relegada a sacerdotes de menor influência,foi abandonada, por ultrapassada. Em seu lugar,surgiram os discaterios(tribunais, em grego). A função primária da Curia deixou de ser burocrático-administrativa e passou a ser essencialmente pastoral, atuando em apoio a missão dos bispos.

E mais:em passo calculado, o colégio cardinalício que indicará o ocupante do Trono de Pedro foi cuidadosamente escolhido por Francisco, em movimentos que não chegam a ser ardilosos como os de Conclave,o sucesso de Holllywood, mas longe não passam. Os bastidores da Santa Sé são cruéis, e Francisco soube percorrê-los. Dos 135 cardeais aptos a votar, embora possa haver uma ou outra baixa por problemas de saúde,108 foram directamente designados por ele.

No restante, há 22 indicados por Bento XVI e cinco por João II. O grupo, que até 2013 era fundamentalmente europeu, agora tem composição heterogênea, com a chegada de africanos e latino-americanos. Há, no contigente, sete brasileiros. Existe, como de hábito, porque é ele quem faz o monge, risco de traições e desobediência, mas é como se o Papa que se foi pudesse controlar o escrutínio a caminho da fumaça branca. A ideia:ter alguém como ele,de mente aberta para questões como o acolhimento da diversidade de género, a compreensão dos que se divorciaram ou tiveram de abortar, o respeito à actuação feminina, mas sem mexer uma única palha no mundo dogmático da igreja.

Existe, contudo, a possibilidade de o pêndulo ir para o outro espectro conservador em movimento natural da história da religião católica-ou então parar no ponto do meio,em algum nome conciliador. Foi o que aconteceu, de algum modo, com a transferência do Anel do Pescador de João XXIII para Paulo VI, em 1963. ”Católicos teologicamente conservadores temiam que seu progressismo pastoral pusesse a doutrina em risco.Portanto, é possível que os cardeais escolham alguém que reforce mais explicitamente a doutrina católica e os ensinamentos morais existentes”.diz Cristina Traina, especialista em ética católica da Universidade Fordham, de Nova York.

Para onde quer que aponte o resultado da escolha, que deve demorar ainda pelo menos duas semanas, talvez um pouco mais,uma sombra incómoda deve pairar na reclusão da Capela Sistina de Michelângelo alguns dos cardeais foram acusados de envolvimento em escândalos sexuais, de pedofilia, e soa inaceitável que possam avançar nas votações antes de provar inocência. Francisco sabia disso, mas sempre teve noção da vagareza com que o mundo eclesiástico gira.Certa vez,a propósito,ele lembrou e riu(gostava de rir)de uma emblemática frase do arcebispo belga Frederic Francois Xavier de Merodi (1820-1874), conselheiro do Papa Pio XII “Fazer reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egipto com uma escova de dentes.

Um outro modo de imaginar a travessia é percorrer o que foi feito na última década. Francisco fez questão de escrever a respeito de sua missão com empenho-e evidente tradução para o povo comum,em volumes de evangelização do rebanho que encolheu nas últimas décadas. Lançou duas autobiografias e, por meio delas além das homilias-costurou a colcha de ideias. Não era um intelectual como o alemão Bento XVI, o Papa emérito, o primeiro a renunciar em 600 anos, alegando dificuldades para descer ao subsolo dos problemas do Vaticano.,incapaz de lidar com episódios de corrupção e pedofilia, embora tivesse fechado os olhos a diversos episódios. Bergoglio parecia ter deixado ontem a periferia de Buenos Aires.

A face empática, sensível a tormentas individuais, nunca significou, reafirme-se, pendor para menear preceitos seculares. Ele saiu em defesa de dar benção a uniões entre pessoas do mesmo sexo, mas demarcou fronteiras. ”O matrimónio é um dos sete sacramentos e prevê o casamento apenas entre homem e mulher. Isso é intocável “. – escreveu ele, que considerou “pecadores”os que conduzem arranjos diferentes, embora os acolhesse. ”Jesus ia ao encontro de gente que vivia na periferia existenciais,e é isso o que a igreja deveria fazer com a comunidade LGBTQIA.”. Em 2015, concedeu o perdão a grávidas que interromperam a gestação sem diminuir a esperada e natural aversão ao acto.”O aborto é um homicídio, gesto criminoso”. – anotou.

O que soava como gangorra era,na verdade, o caminho possível do poder de um homem cercado por intricadas circunstâncias,que evidentemente permanecem depois da sua morte. O contingente de católicos declina em pontos do Globo em que parecia inabalável, como no Brasil e Francisco revelava ter consciência da missão de aliar a veia humana ao pragmatismo em postura que não pode ser jamais abandonada.Observadores da marcha feminina,o argentino abriu janelas às mulheres nas engessadas estruturas eclesiásticas-a inédita presença delas no Sínodo dos Bispos de 2024,órgão consultivo da Santa Sé representou salutar avanço.

Como estão, agora, manter essa linha de progresso,caso ocorra retomada do tradicionalismo, o que não é impossível, embora improvável? Uma resposta ser intransigente com o que não pode voltar para atrás. Cutucar o vespeiro do abuso sexual infantil por sacerdotes, tema que Francisco encarou ao criar uma comissão interna para auditar igrejas e modernizar o código penal da Curia, é compulsória. ”Quem é considerado culpado por um tribunal deverá pagar a sua pena”. _ anotou o Papa, criticando clérigos bons de papo, mas incapaz de desatar o nó da hipocrisia. ”Ele mudou as regras de jogo”. – disse o jornalista italiano Fábio Marchese Ragona,coautor de uma das autobiografias papais. ”Nunca tinha visto um Papa se encontrar com um embaixador pedindo para interromper uma guerra,como fez no caso da Ucrânia por exemplo.”

Nos últimos dias de vida, do leito do Hospital Gemelli, conversou por telefone com os responsáveis pela paróquia da Sagrada Familia da Faixa de Gaza. Queria manter-se informado e apoiar uma causa que abraçou com especial empenho-sem deixar de condenar o terrorismo do Hamas e lamentar a postura agressiva de Israel. O próximo Papa, se quiser ter mais fiéis, ou evitar evasão, precisa de buscar essa direcção, de fragilidade para conversar com quem abandonou os templos do catolicismo, em busca de diálogos. ”O momento é incerto, diante dos inúmeros acontecimentos que marcam o cenário global. Ainda assim ,a igreja permanece como instituição dinâmica e resiliente”. – diz Michel Dillon,sociólogo da Universidade de New Hampahire e autora do livro Catholic Identity Balancing Reason, Fath and Power.

Desde o princípio, quando percebeu que caminhava para perder a paz íntima, feito Papa pelo seus pares no Conclave, Bergoglio rascunhou a trilha que seguiria-e de génese participou Dom Cláudio Hummes (1934-2022), ex-arcebispo de S.Paulo, amigo pessoal do portenho, O próprio Francisco contou como decidiu pela alcunha que o faria eterno, ao anúncio do nome ungido pelo Conclave. Das páginas da autobiografia lançada em 2025. ”O escrutínio é uma coisa um pouco chato de acompanhar, parece um canto gregoriano, só que muito menos harmoniaComecei a ouvir Bergoglio, Bergoglio, Bergoglio,… o cardeal Cláudio Hummes, brasileiro, prefeito emérito da Congregação para o Clero, que estava sentado a minha esquerda, deu um leve tapa no meu ombro. ”Não se preocupe, faça como o Espírito Santo.Cheguei aos 69 votos e entendi.

(…) Quando o meu nome foi pronunciado pela septuagésima vez explodiu um aplauso, enquanto a leitura dos votos continuava. Não sei quantos foram exactamente no final ,não conseguia ouvir mais nada,o barulho encobria a voz do escrutinado. Nesse momento, enquanto os cardeais ainda aplaudiam e o escrutínio seguia, o cardeal Hummes, que estudara no seminário franciscano de Taquari, no Rio Grande do Sul, levantou-se e veio me abraçar: ”Não se esqueça dos pobres”- disse-me. Aquela frase me marcou,eu a senti na minha carne. Foi ali que surgiu o nome de Francisco.

Seu sucessor, ao guiar o povo, tem de ser, sim, um pouco como ele,-ao modo de um Francisco II. E bom, portanto, ficar com uma metáfora singela de Bergoglio, amante do futebol.

Quando alguém se empenha muito em alguma causa, dizemos :Está a dar a alma. Assim foi Francisco,o Papa que deu a alma em nome da justiça e da diversidade. De humanismo de que a Igreja precisa de se alimentar.

Com estratos tirados da revista brasileira Veja.

OS 3 PAPAS NEGROS ESCONDIDOS
NA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA

Sempre se acreditou que nunca houve um papa negro na história da igreja católica, tal igual que inúmeras informações a respeito de posições estratégicas em vários campos do saber sobre os negros, foram ocultadas.
Revirando arquivos num site, descubro com espanto que 3 papas Africanos lideram a Igreja Católica desde o Vaticano.

Aqui estão eles nesta imagem:

• O primeiro chama-se São Vitor o 14° Papa depois de São Pedro, em 189 depois de Jesus. Ele serviu por 10 anos e morreu em 199 depois de Jesus.
• O segundo chama-se Saint Miltiad, tornou-se o 32° papa depois de São Pedro, em 311 depois de Jesus.
Ele morreu em 14 de janeiro de 314 depois de Jesus e canonizado. A propósito, a liturgia do 10 de dezembro é celebrada em sua honra, mas aos fiéis não serão informados que esse papa é negro.
• Finalmente o terceiro tem o seu nome Gelasius Ist, tornou-se papa em 19 de novembro de 492 depois de Jesus. Ele morreu em 19 de novembro de 496 e canonizado em 21 de novembro do mesmo ano.
Estiveram nestas posições num período crítico da história do catolicismo e da humanidade, dada os temas sobre racismo que ainda imperava em muitas nações, cogita-se por isso que após as suas mortes, por razões diversas vierem a ser apagados dos registos.

Por:Kazinga Afonso Kabamba/GRH-Técnico Processamento
Fonte: BBC Brasil,2022
Fonte: buscas Google
Via:Helder Castel.
Imagem:Relacionada


Na hora do adeus ao Papa Francisco:
O MEU TESTEMUNHO!

Lema: Miserando ataque elegendo (olhou-o com misericórdia e o escolheu)

Quando há doze anos, naquele 13 de Março de 2013, o fumo branco no Vaticano anunciava ao mundo a eleição do 266º Romano Pontífice com o nome de Francisco, postei um comentário no meu mural do facebook onde manifestei, como cristão e católico, gratidão a Deus pela dádiva de um novo Papa e expectativa quanto às reformas dentro da Igreja católica (sancta et semper reformanda). O meu voto era que o novo Papa transformasse o seu báculo de Pastor universal em vassoura para fazer uma limpeza na cúria vaticana onde estavam acoitados abutres trasvestidos de sotaina e envolvidos em escândalos, tramóías, intrigas, jogos de poder, perfídia, inter alia. O ambiente turvo então vivido na Igreja, nessa altura, estava marcado pela imprevisível e intempestiva renúncia do Papa Bento XVI, na sequência de intrigas internas na cúria e o escândalo do vazamento de documentos reservados à Santa Sé, ao qual se convencionou designar por vatileaks. Uma grande nuvem assombrava o novo pontificado de Jorge Bergoglio, o segundo Cardeal mais votado no conclave que elegeu o Papa Bento XVI em 2005, o qual viria a suceder poucos anos depois como se o destino tivesse sido já traçado, não fosse uma obra do Espírito Santo.

Tendo em conta esse ambiente tenebroso então vivido dentro da Igreja, especula-se que o Papa Bento XVI terá praticamente amadurecido a sua decisão de renunciar a 17 de Dezembro de 2012 depois da leitura da parte final do relatório de uma comissão criada para trabalhar no esclarecimento dessa tramóía. Embora se tenham apelado problemas de saúde, creio que a renúncia foi “forçada”, mesmo tendo sido “voluntária”. Sempre que há um conclave para a eleição de um novo Papa, os Cardeais fazem uma análise prévia dos principais desafios da Igreja e do mundo. Pelo que o escrutínio é precedido de orações para que Deus suscite um Papa à altura dos desafios identificados.

O Cardeal Bergoglio, ao aceitar a eleição para a cátedra de Pedro, tinha ciência e consciência das disputas e crispações internas na Igreja, sobretudo na cúria romana. Tinha também diante si o manto lúgubre dos escândalos de abusos sexuais por membros da hierarquia católica exaustivamente empolados pela imprensa sensacionalista. Desde a escolha do nome (Francisco) aos primeiros gestos e palavras na sua primeira aparição ao mundo, deu para perceber que estávamos perante um Papa reformador que pretendia trazer para o interior da Igreja uma “revolução franciscana”(suave mas audaz). A sua recusa de habitar no vetusto palácio apostólico, preferindo os aposentos da casa de Santa Marta, o despojamento de algumas indumentárias papais tradicionais, mantendo apenas a sotaina branca, o anel, a mitra, a cruz peitoral (simples) e o solidéu branco, eram sinais de que a escolha do nome Francisco (em alusão a S. Francisco de Assis) não era snobismo, mas um programa de vida: simplicidade, humildade, dedicação aos pobres, aproximação às periferias sociais, etc. Em pouco tempo, passou a ser um Papa “polémico” que estava a causar irritação aos sectores “conservadoristas” da Igreja católica. O seu ímpeto reformista e progressista criou desagrado a altas figuras da hierarquia. Alguns combateram-no abertamente até à exaustão. Mas ele nunca recuou. Francisco trouxe uma lufada de oxigénio dentro do ambiente bafiento do Vaticano através das “vassouradas” silenciosas mas audazes que foi realizando pelos seus gestos, atitudes, acções, palavras e decisões.

O Papa Francisco não teve cerimónias em levantar o véu da acrimónia e das principais chagas que assolam a mais alta hierarquia católica da cúria romana. Num encontro de saudação aos membros da cúria romana, em Dezembro de 2014, Francisco identificou e denunciou as 15 doenças que enfermam a cúria romana, tendo proposto uma autocrítica sobre o “complexo dos eleitos”, o exibicionismo e a vaidade. Não vou aqui reproduzir as 15 chagas dos eclesiásticos – já disponíveis nas redes sociais – mas são coisas muito duras ditas com afecto mas com frontalidade e franqueza. Considerou que «uma cúria que não faz autocrítica e que não trata de melhorar é um corpo doente». Nas suas pregações e discursos, Francisco dizia coisas muito profundas com uma linguagem simples e acessível. Em vários extratos das suas intervenções encontramos até provocações desconcertantes. Usando linguagem coloquial num encontro com os fiéis em Roma, disse que «o cristão que não se considere pecador, é melhor que não vá à missa.» E ainda «os que vão à missa para aparentar que são melhores que os outros, melhor que fiquem em casa. Não há espaço para eles na Igreja.»

Francisco actuou como um Papa livre dos códigos romanos, o que não significa que tenha sido um anarquista. As suas palavras, muitas vezes espontâneas, saíam-lhe do coração e não andava muito preocupado com os floreados teológicos estandardizados de que andam apegados os monsenhores da cúria romana. Aos eleitos também deixou mensagens fortes quando dizia que «a Bíblia e a história da Igreja mostram-nos que, muitas vezes, os próprios eleitos, com o passar do tempo, começam a pensar, a crer, e a comportar-se como donos da salvação e não como beneficiários, como controladores dos mistérios de Deus e não humildes distribuidores, como alfandegários de Deus e não como servidores do rebanho que lhes está confiado.» Francisco instou várias vezes aos pastores da Igreja para se deixarem impregnar «pelo odor das ovelhas.»

O Papa Francisco procurou resgatar aquela mística de uma Igreja impregnada pela radicalidade evangélica na sua aproximação e abertura a TODOS – encarnação do rosto misericordioso de Deus que abomina o pecado mas acolhe o pecador -, uma Igreja que vai ao encontro do coração da pessoa humana para compreender e não para condenar. A revista francesa «Paris Match», na sua edição M 02533 – 3964, traz à estampa esta manchete: «FRANÇOIS, LE PAPE QUI A RÉVEILLÉ L’ÉGLISE». Nada mais certo. Francisco é, de facto, o Papa que despertou a Igreja e recuperou muitos cristãos cuja fé estava à beira do abismo. A revista reserva 44 páginas para homenagear o Papa Francisco retratando várias facetas do seu pontificado. Diz a revista: «Contre la “mondialisation de l’indifférence”, il s’était levé avec ses armes: un verbe simple et ce sourire qui parlaient aux coeurs». As suas armas perante a mundialização da indiferença foram a palavra simples e o sorriso que falavam aos corações. Foi com essa mística que Francisco conseguiu abraçar as periferias do mundo.

Era este, então, o Papa que a Igreja precisava nesta época? Em relação aos desafios internos da Igreja, não tenho dúvida alguma. Quanto aos desafios globais actuais, reservo-me a analisar em uma outra instância tendo em conta a sua complexidade. Entretanto, uma questão que não se cala: Francisco foi suficientemente ouvido dentro da Igreja? Não creio. Temos ainda algumas resistências quer na mais alta hierarquia, quer no seio dos fiéis. Os frutos do seu magistério pontifício e das suas reformas ainda têm de fazer caminho. Temos de aplicar aqui a parábola do semeador: «Ecce exiit qui seminat, seminare» (saiu o pregador evangélico a semear). Há as sementes caídas ao longo do caminho e as aves comeram-nas; houve ainda as sementes caídas em sítios pedregosos que desabrocharam mas logo queimaram-se e secaram; outras caíram entre espinhos, cresceram e afogaram-nas; finalmente as que caíram em boa terra e deram fruto: umas cem; outras, sessenta; outras, trinta por um (Cf. Mt 13, 1-23). Tenho fé que as sementes caídas em boa terra com o magistério de Francisco não irão com ele à sepultura: a Igreja já não será a mesma de há doze anos! Há um legado progressista que fica que o próximo Papa não vai poder ignorar ou desfazer. Este é um assunto para o qual pretendo voltar oportunamente. Por ora, gratidão a Deus pela obra realizada por intermédio desse humilde servus servorum Dei. Gratias agimos tibi propter magnam gloriam tuam! Requiscat in pace! Amén!

Por: Raul Tati

FUNERAL DO PAPA FRANCISCO EM ROMA

O Funeral do Papa Francisco, foi realizado no dia 26 de Abril, um acontecimento que reuniu centenas de milhares de pessoas em Roma e na sua maioria fiéis católicos, na Praça de São Pedro, no Vaticano, e muitas outras distribuídas por parques, ruas, largos e avenidas de Roma.
Delegações de todo o mundo, integradas por Chefes de Estado e de Governo, académicos, homens das artes, líderes políticos, antigos governantes, representantes de diferentes confissões religiosas, culturas, correntes filosóficas e tendências, enfim, uma panóplia inabarcável de sensibilidades, marcaram presença em Roma para o último adeus a um dos Papas mais notáveis do nosso tempo, enquanto milhões de outras pessoas acompanharam, em plataformas de comunicação global, o acontecimento.
A República de Angola foi representada ao mais alto nível, na pessoa do seu Chefe de Estado, João Lourenço, que chegou a Roma na véspera. Com o Presidente, esteve a Primeira Dama da República, Ana Dias Lourenço.

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