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ARBITRAGEM NO GIRABOLA E O BENEFÍCIO DA DÚVIDA

Escrito por figurasnegocios
Texto: Ladislau Fortunato (Jornalista e Realizador) / Fotos: Arquivo F&N

O futebol angolano viveu neste fim de semana um dos seus momentos mais controversos e desconcertantes da presente edição do Girabola. Numa altura em que o campeonato se encontra na sua fase mais crítica, onde cada ponto pode decidir o título ou a permanência na primeira divisão, a arbitragem voltou ao centro das atenções — não pela positiva.

O jogo entre o Wiliete de Benguela e o Interclube de Luanda, disputado no Estádio de Ombaka, ficou marcado por um episódio que, mais do que levantar suspeitas, atirou a credibilidade da arbitragem angolana para um campo perigoso. Quando se esperava que os ventos de mudança promovidos pelo Conselho Central de Árbitros começassem a surtir efeito, a realidade mostrou-nos um caminho ainda turbulento.

A marcação de um pênalti duvidoso, que deixou todos — adeptos, analistas e até os próprios jogadores — perplexos, alimentou discussões acesas e colocou, com razão, a arbitragem sob escrutínio. Não estamos aqui a ignorar que o erro é parte do jogo, inerente à natureza humana. Mas é igualmente importante reconhecer que quando o erro se reveste de recorrência e incoerência, ele deixa de ser um acidente e passa a ser um problema estrutural.

Chocou ainda mais o facto de que em campo estavam árbitros considerados entre os melhores do país. Isso torna a decisão ainda mais difícil de digerir.

Quando os protagonistas do apito não conseguem assegurar justiça dentro das quatro linhas, é natural que se levantem vozes desconfiadas — especialmente quando a envolvência da recta final do campeonato traz consigo batalhas acirradas tanto pelo título como pela sobrevivência.

Sem a presença do VAR, que internacionalmente tem servido como importante ferramenta para corrigir erros e mitigar injustiças, o Girabola continua vulnerável a decisões que podem alterar o rumo de toda uma temporada. Soma-se a isso o controverso modelo de pagamento dos árbitros pelas próprias equipas — um arranjo que, se não é mal-intencionado por natureza, acaba por criar terreno fértil para suspeitas e teorias sobre manipulação de resultados.

Não se pode ainda tentar justificar o cenário com a penalidade mal executada por Kaporal, o artilheiro do campeonato. Embora tenha desperdiçado a cobrança, e de certa forma reequilibrado os ânimos com a sua falha, o erro já estava cometido. A justiça no futebol não se mede apenas pelo resultado final, mas pela legitimidade dos processos que o constroem.

Fica então o apelo: que o momento vivido no Ombaka não seja tratado como mais uma falha passageira, mas como um sinal de alerta. É urgente modernizar a arbitragem angolana, protegê-la de interesses externos e reforçá-la com meios tecnológicos que garantam maior transparência e confiança.

Nesta jornada, e com tristeza, sou forçado a conceder o benefício da dúvida — não por convicção, mas por falta de alternativas. Que ganhe o melhor, sim, mas que esse “melhor” não dependa da apatia dos árbitros nem da ausência de justiça em campo.

 

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