“Ao dar prioridade à agricultura, estamos a investir no nosso povo, a criar empregos, a capacitar os nossos jovens e mulheres, e a abrir oportunidades para as futuras gerações”.
Do discurso do Presidente da República de Angola, João Lourenço, na Cimeira Extraordinária da UA, ocorrida em Kampala (Uganda), sobre o CAADP. (João Feliciano, 2025: 9)

Por: Eugénio Costa Almeida*
A agricultura tem sido um pilar fundamental para as economias africanas, representando não apenas uma fonte vital de alimentos, mas também um motor de desenvolvimento social e económico. A declaração do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, sobre a necessidade de priorizar a agricultura nas decisões governativas africanas, ressoa com a realidade de muitos países do continente que lutam para encontrar um equilíbrio entre o crescimento económico e a segurança alimentar. A assinatura do Programa Integrado para o Desenvolvimento da Agricultura para África (2025-2036) (CAADP 25-36), na “Declaração de Kampala”assinado pelos Chefes de Estado e de Governo da União Africana, na Conferência extraordinária de Kampala, Uganda, ocorrida de 10 a 11 de Janeiro de 2025, representa um passo significativo em direção a essa prioridade, reconhecendo a agricultura como um componente essencial para o progresso sustentável dos Povos Africanos.
A Agricultura tem de ser considerada como pilar económico
A agricultura, no geral, e a agricultura africana, em particular, até pelas características peculiares que a nossa agricultura apresenta, deve ser vista como um importante pila económico. E neste aspecto devemos ressalvar que:
- É uma das principais Fonte de Renda e Emprego para a maioria dos países africanos, tal como recordou João Lourenço da Cimeira “a necessidade urgente de transformação agrícola no continente, apresentando uma visão estratégica com vista a impulsionar o sector como pilar para o desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e redução da pobreza em África” (Feliciano, 2025: 9). Estima-se que mais de 60% da população africana depende da agricultura para sua subsistência. O sector agrícola não só cria empregos directos nas áreas de cultivo, colheita e processamento, mas também gera empregos indirectos em áreas como transporte, comercialização e serviços. Investir na agricultura é, logo, investir na criação de empregos e na redução da pobreza;
- A agricultura tem um impacto significativo no Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países africanos. Ao aumentar a produção agrícola, os países podem melhorar suas economias, aumentar as exportações e, consequentemente, fortalecer suas moedas. A diversificação das culturas e a adopção de práticas agrícolas modernas podem levar a um aumento da produtividade, resultando em um crescimento económico sustentável;
- A agricultura é crucial para garantir a Segurança Alimentar. Muitos países africanos enfrentam desafios relacionados com a fome e a desnutrição. Investir em práticas agrícolas sustentáveis e em tecnologias que aumentem a produtividade pode ajudar a mitigar esses problemas, assegurando que as populações tenham acesso a alimentos suficientes e nutritivos. A segurança alimentar não é apenas uma questão de quantidade, mas também de qualidade, e a agricultura pode desempenhar um papel vital na melhoria da nutrição;
- O fortalecimento da agricultura pode levar ao Desenvolvimento de Cadeias de Valor locais. Isso significa que os produtos agrícolas podem ser tratados e processados localmente, aumentando seu valor e criando mais oportunidades de emprego. Por exemplo, a transformação de produtos como milho, arroz e frutas em alimentos processados não só aumenta a renda dos agricultores, mas também contribui para a segurança alimentar e a redução do desperdício e releva as exportações locais e nacionais.
A Agricultura deve ser vista como vector para o desenvolvimento social.
Se a nível económico a agricultura é um agente económico importante, não o é menos a nível do desenvolvimento social, como se verifica por:
. A agricultura tem um papel essencial na Redução da Pobreza, ao proporcionar emprego e renda, permitindo que as famílias melhorem as suas condições de vida. Além disso, uma maior produção agrícola pode levar a preços mais baixos para os alimentos, beneficiando as comunidades mais vulneráveis. Quando as famílias têm acesso a alimentos a preços acessíveis, a saúde e a educação das crianças tendem a melhorar, e, por essa via, eliminar o ciclo da pobreza;
- Com a agricultura há uma maior Empoderamento das Mulheres, já que é um sector onde estas desempenham um papel vital. Em muitos países africanos, as mulheres são responsáveis por uma grande parte do trabalho agrícola, seja no cultivo, na colheita e, ou, na comercialização dos produtos. Investir na agricultura pode, pois, ser uma forma de dar mais poder às mulheres, proporcionando-lhes acesso a recursos, formação e oportunidades de negócios. O empoderamento feminino é crucial para o desenvolvimento social, pois mulheres empoderadas tendem a investir mais na educação e na saúde de suas famílias;
- A agricultura pode contribuir para a Melhoria e Promoção da Educação e Saúde, permitindo às famílias que a elas têm acesso a uma alimentação adequada, pelo que são mais propensas a enviar seus filhos para a escola. Além disso, a produção agrícola diversificada pode melhorar a nutrição familiar, reduzindo a incidência de doenças relacionadas à má alimentação. Programas que vinculam a educação agrícola às escolas podem ensinar as crianças sobre práticas agrícolas sustentáveis, promovendo uma nova geração de agricultores conscientes;
- A agricultura pode servir como um factor de Coesão Social e Desenvolvimento Comunitário, promovendo o trabalho em equipa e a colaboração entre os membros da comunidade. Projectos agrícolas comunitários, como hortas comunitárias ou cooperativas, podem unir as pessoas em torno de um objectivo comum, fortalecendo os laços sociais. Além disso, esses projetos podem servir como uma plataforma para a educação e o intercâmbio de conhecimentos, promovendo o necessário desenvolvimento comunitário.
Apesar da importância da agricultura para o desenvolvimento social e económico, os países africanos enfrentam uma série de desafios. A degradação ambiental, as mudanças climáticas, a falta de acesso a tecnologias modernas e a escassez de infraestrutura são obstáculos significativos que precisam ser superados. No entanto, com investimentos adequados e políticas governamentais favoráveis, há uma oportunidade real de transformar o sector agrícola.
Daí que o CAADP 25-36, se for bem aplicado, deverá ser visto como uma iniciativa que visará enfrentar esses desafios, promovendo a colaboração entre os países africanos, a inovação tecnológica e a sustentabilidade. A implementação de práticas agrícolas sustentáveis, a promoção de tecnologias agrícolas modernas e o fortalecimento das cadeias de valor locais são passos cruciais para garantir que a agricultura continue a ser um motor de desenvolvimento no continente.
Ou seja, e resumindo, a agricultura é uma força poderosa para o desenvolvimento social e económico dos países africanos. Ao priorizar a agricultura nas decisões governativas, como ressaltado por João Lourenço, os líderes africanos têm a oportunidade de criar um futuro mais próspero e sustentável para suas populações, pelo que é de “importância vital mecanizar a agricultura, melhorar infraestruturas, certificar sementes e desenvolver o sistema de irrigação, a fim de melhorar a capacidade de exportação e garantir a autossuficiência e segurança alimentar no continente” (VOA Português, 2025).
A implementação de políticas que apoiem o sector agrícola, promovam a segurança alimentar e reforcem o poder das comunidades pode levar a um crescimento económico inclusivo e à redução da pobreza. Perante isto, a agricultura deve ser vista não apenas como um sector económico, mas como um elemento central na construção de sociedades mais justas e resilientes em toda a África.
Assim, os dirigentes africanos estejam virados e esta não seja só mais uma… “Declaração”!
Referências:
“Presidente angolano afirma que agricultura é a base do desenvolvimento da economia em África”; VOA Português, janeiro 11, 2025.
Dala, Edna. (2025). “Devemos colocar a agricultura entre as importantes prioridades das nações”; Jornal de Angola, edição 17684, de 12 de Janeiro de 2025, pág. 5.
Feliciano, João. (2025). “João Lourenço defende transformação da agricultura na Cimeira da União Africana”; O País, edição 3146, de 13 de Janeiro de 2025, pág. 9.
Quinones, Laura. (2024). “El Foro Mundial de la Alimentación de 2024 se clausura tras una semana de colaboración y compromiso en torno al tema ”Una buena alimentación para todos, hoy y mañana””; FAO, 18/10/2024; https://www.fao.org/newsroom/de-tail/world-food-forum-2024-closes-after-a-week-of-collaboration-and-commitment-to–good-food-for-all–today-and-tomorrow/es.
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