Yoweri Museveni lança contradiçõesao informar os ugandeses, em mensagem do ano novo, ter eliminado o grupo rebelde da ADF. O seu vizinho, Félix Tshisekedi, está convencido: Uganda continuará a participar na “operação Shujaa”, iniciativa militar conjunta contra a rebelião da ADF no solo da RDCongo. Activa, apesar da declaração contrária de Museveni, a ADF ataca no Leste da RDCongo. Em plena semana do Natal, rebeldes matam civis.
Texto: Texto Manuel Muanza ⁄Fotos: Arquivo F&N
“Crenças” de Museveni – Segundo Yoweri Museveni, presidente do Uganda, os rebeldes da ADF (Forças da Aliança Democrática) foram eliminados no País.
Dirigiu elogios às Forças de Defesa do Povo Ugandês (UPDFgovernamentais) e qualificou a população de “solidária” na luta contra “terroristas”.
Associou, também, o facto à morte do líder rebelde, Mussa Kamusu, durante a ofensiva do exército nacional, em Junho. Tombou numa ofensiva perpetrada pelas Forças de Defesa do Povo Ugandês (UPDF- governamentais) contra uma base situada no parque nacional de Kibale, no Uganda, a 27 de Dezembro de 2023.
Museveni elogiou, em mensagem do ano novo, as tropas leais ao seu governo, pelo facto de “em apenas alguns meses, todo o grupo (rebelde ADF) foi destruído”.
Contradições e guerra – O discurso de Museveni semeia contradições sobre a existência do grupo ligado ao Estado Islâmico, pois está a ser atribuída à ADF uma série de ataques, nas últimas semanas (em Dezembro 2024), em Beni, na RDCongo.
Sem surpresa e sem ser mera coincidência, Yoweri Museveni apontou o território da vizinha RDCongo como local de proveniência dos resistentes da ADF para investidas no Uganda.
Museveni, a nosso ver, pretendeu passar a ideia de ser o garante da tranquilidade dos ugandeses e justificar a insinuação segundo a qual ADF seria um problema interno das autoridades da RDCongo.
As entidades do vizinho Rwanda também têm utilizado tal argumento já conhecido, remetendo para o poder instalado na RDCongo a responsabilidade pela sobrevivência do outro movimento rebelde, o M23. Para Kinshasa, os insurrectos recebem apoio directo do Rwanda.
No plano diplomático, a actuação de Museveni difere do discurso destinado aos ugandeses. Por exemplo, Uganda e RDCongo estão ligados a uma operação conjunta contra ADF nas regiões do Leste da RDCongo.
A chamada “operação Shujaa” foi lançada conjuntamente a 30 de Novembro de 2021, envolvendo unidades das tropas dos dois países com a finalidade de eliminar a rebelião da ADF em Beni e Ituri.
Ambas as partes exprimem intenções de ver renovado o mandato dos comandos da operação.
Nos últimos meses, chefes militares mandatados por ambos os países organizam sessões regulares de balanço das actividades no terreno, conforme reporta a imprensa congolesa.
A nível da cúpula dos dois estados, Félix Tshisekedi (RDCongo) deslocou-se para Entebbe, em Outubro último, tendo discutido com Yoweri Museveni a situação da “operação Shujaa”.
Tshisekedi chegou a mostrar-se optimista quanto à possibilidade de o Uganda manter-se fiel ao compromisso de continuar a participar no processo conjunto de combate contra a ADF.
Guerra no leste – Enquanto isso, as formações rebeldes ADF e M23 mantêm-se activas na RDCongo.
Em plena semana do Natal, pelo menos 21 pessoas morreram em ataques atribuídos aos rebeldes da ADF às aldeias de Robinet e Kodjo, no Kivu-Norte, indica a agência noticiosa AFP.
De acordo com organizações civis, no total, mais de trinta civis foram mortos nos ataques da ADF, em Beni e Lubero, entre Novembro e Dezembro, informou a rádio RFI.
Citando fontes das Nações Unidas, o balanço eleva-se a 264 mortos, só em Beni e Lubero, em apenas quatro meses (Junho a Outubro). Outros combates são assinalados por iniciativa do exército da RDCongo contra a rebelião do M23, no Leste. Contudo, os resultados das operações das FARDC têm sido efémeros, a crer nos despachos dos correspondentes da imprensa francesa no país.
Algumas fontes citadas pela RFI atribuem os insucessos das actividades das FARDC à escassa presença das unidades das tropas governamentais em algumas regiões, assistindo-se à retomada pelo M23 das posições abandonadas.
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