Economia & Negócios

Comércio mundial está a aumentar entre parceiros geograficamente próximos

Vítor Norinha
Jornalista

Fenómenos de desglobalização que refletem o nível de conflitos comerciais e belicismo mundial, estão a criar novas condições para o comércio mundial. E um dos novos pressupostos é o aumento dos negócios e das exportações entre parceiros geopoliticamente próximos, conclui uma análise da Allianz Trade, referente às previsões para o comércio mundial.

A história não é recente, mas as propostas avançadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de que irá aumentar as tarifas sobre as importações chinesas e outras importações estratégicas, tem sido o “drive” para iniciativas com vista a novas parcerias comerciais. Trump promete tarifas de 10% para produtos importados da Europa e 60% para produtos chineses, mas a Allianz Trade estima tarifas de 25% para as importações chinesas e 5% para o resto do mundo, excluindo Canadá e México, o que, a acontecer, irá diminuir o valor global nominal das transações. Estimam estes analistas que o crescimento do comércio mundial em 2026 será de menos 0,6 pontos percentuais, já que a maioria das medidas entrará em vigor na segunda metade de 2025. Antecipam um impacto no comércio mundial da ordem dos 67 mil milhões de US dólares entre 2025 e 2026, que afetará sobretudo a China e a União Europeia (UE), especialmente nas áreas do fabrico automóvel, equipamentos de transporte e metais. Em retaliação a China e a UE atingirão as indústrias farmacêuticas, o setor automóvel, a metalurgia, o agroalimentar e a maquinaria dos EUA.

Diferente será um cenário de guerra comercial total com os tais 10% de taxas para a UE e 60% para a China e em que as perdas no comércio mundial será de 2,4 pontos percentuais do crescimento nominal. Neste caso os mais afetados serão a China, Canadá e México com perdas acumuladas e exportações da ordem dos 217 mil milhões de US dólares em 2025 e 2026, mais do que todo o PIB português. Ana Boata, Head of Economic Research da Allianz Trade, diz que este último cenário é pouco provável.

África mais próxima da China

A geoeconomia tem levado a um distanciamento entre EUA e China, quase a um primeiro cenário de desglobalização, com a China a exportar mais para os parceiros que estão geograficamente próximos, caso da Rússia, Singapura, Vietname, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita e, refere a mesma fonte, que nesta geografia o comércio aumentou dois pontos percentuais e representou 60% do comércio global nos últimos dois anos, sensivelmente o período que dura a invasão da Ucrânia pela Rússia.

E, sublinha a análise da Allianz Trade que embora os EUA e a UE “partilhem uma posição comum sobre questões geopolíticas, os interesses económicos não estão alinhados”, sendo que a UE tende a seguir o exemplo dos EUA quando este impõe tarifas, embora com um “delay” de 1 ano. A UE pode sofrer com as divisões internas, já que são 27 Governos a pensar e com estratégias próprias, procurando a China e os EUA acordos bilaterais que acabam por melhorar as suas posições negociais contra o bloco comunitário.

As expetativas globais é de o comércio crescer menos do que a média, sendo que os fluxos comerciais mundiais estão a tornar-se mais complexos e a aumentarem seis vezes, quando comparados com os anos da pandemia. Mas há economias a beneficiar desta guerra comercial e deste potencial aumento de tarifas, caso da Índia, Vietname, Malásia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos que se podem tornar os polos comerciais da próxima geração, com as suas quotas comerciais a aumentar 1 ponto percentual nos próximos cinco anos. Refere Françoise Huang, Senior Economist for Asia and Pacific and Trade da Allianz Trade, que aqueles países para se afirmarem terão de investir 120 mil milhões de US dólares em infraestruturas portuárias. Para Portugal as contas estão feitas e num cenário de manutenção do status quo, Portugal teria um crescimento real das exportações de bens e serviços de 1,5% em 2025 e 1,9% em 2026, e uma previsão de 3,2% em 2024. Em números finais isto significa que haveria ganhos acumulados nas exportações em 2025/26 de 11 mil milhões de US dólares. No entanto, se avançar a imposição de tarifas dos EUA da ordem dos 10%, Portugal terá uma redução dos ganhos em exportações em 2025/26 para algo próximo dos oito mil milhões de US dólares.

A escolha que se coloca no futuro é os lados que cada país irá escolher para fazer negócio, com a maioria das nações africanas e asiáticas mais próximas da China, enquanto países como o Canadá, Austrália, Coreia do Sul, ou mesma a Grécia, a estarem tão próximas dos EUA, como da China.

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