Economia & Negócios País

Angola ganha milhões com a última viagem do presidente dos EUA

Escrito por figurasnegocios
Vítor Norinha
Jornalista

Joe Biden fez a última viagem de Estado, e o país escolhido foi Angola. Não foi mero acaso, mas antes uma manifestação daquilo que tem sido e continuará a ser a política norte-americana que dará mais atenção aos países africanos e colocará entraves à penetração de interesses chineses. A preocupação não é apenas de Biden mas será também a preocupação do presidente eleito, Donald Trump.

A história desta viagem começa pelas curiosidades: é a última viagem de Biden e a sua primeira viagem ao continente africano, e é a primeira viagem de um presidente norte-americano a Angola, colocando um ponto final na história de há meio século quando os EUA não apoiaram o MPLA na luta de libertação. O interesse dos EUA por África recomeçou em 2021 e esta visita coincide com o interesse no Corredor do Lobito, no âmbito da Parceria do G7 para as “Infraestruturas e o Investimentos Globais”, e cujo objetivo é competir com a China. Recorde-se que Luanda irá acolher a Cimeira Empresarial EUA-África em meados de 2025 e que reunirá líderes mundiais. O único senão é Trump trocar as voltas à agenda deixada por Biden.

O Corredor do Lobito é o grande motivo para esta deslocação a Angola pois esta linha férrea tem um concorrente de grande valor, a Tazara, ou Tanzania Zambia Railway Authority, que irá ligar Kapiri Mposhi, na Zâmbia Central, a Dar es Salaam, no índico, e que é um concorrente ao Corredor de Lobito no transporte de minérios extraídos na República Democrática do Congo. Este projeto tem o apoio da China a nível de financiamento e desenvolvimento.

Os EUA pretendem que toda a logística dos minérios do Congo sejam orientados para o Atlântico e não para o Índico, onde é clara a influência chinesa. O Corredor do Lobito ligará esta cidade angolana à Zâmbia e passará pela RD do Congo e tem tido o apoio do EUA e da União Europeia e, aquilo que é esperado é que Trump continue com este objetivo, pois o seu inimigo comercial é a China. A operação de apoio e a decisão das Autoridades de Angola em aceitar esta assistência não é tomada de forma leviana, pois os investimentos da China em Angola nos últimos 20 anos criar um “buraco” em termos de dívida ao país asiático da ordem dos 17 mil milhões de US dólares, cerca de 40% da dívida externa de Angola. E sabemos que a China não permitiu benesses quanto aos prazos de amortização da dívida. A presidência de João Lourenço foi a ignição para uma aproximação dos EUA a Angola, ao alterar o modelo ideológico do seu antecessor. Sem esquecer que Lourenço tem um apreço particular pelos EUA, algo que o levou a adquirir em 2013, uma propriedade no Maryland. Lourenço tentou reduzir a proximidade do país à China e à Rússia e nas Nações Unidos votou favoravelmente a condenação da Rússia pela anexação de território ucraniano.

Milhões em investimentos

Com investimentos colossais na infraestrutura ferroviária cuja primeira fase envolveu 1300 milhões de US dólares com construção nova e muita reabilitação, o projeto vai passar para uma segunda fase que acrescentará 800 km e onde os EUA são relevantes em termos de investimento, disse Helaina Matza, a coordenadora da Parceria para Infraestrutura e Investimento Global no departamento de Estado norte-americano, num encontro com jornalistas. Haverá outros investimentos na vertente da saúde, da segurança alimentar e dos agronegócios. Relembramos que na África subsaariana, Angola é o 4º parceiro comercial dos EUA. Frances Brown, Assistente Especial do Presidente Biden disse, na mesma conferência, que Angola é “um parceiro estratégico e líder regional”. O Presidente João Lourenço destacou a importância da visita nos contactos para investimentos fora do setor petrolífero, numa entrevista que deu ao The New York Times. Aliás, para João Lourenço esta visita é uma vitória diplomática e a sua concretização era um dos seus objetivos quando assumiu a liderança do país em 2017, e que passava pelo estreitamento das relações comerciais e financeiras com os EUA. Deste tipo de parceria têm vindo grandes volumes de investimento, nomeadamente a construção e operação da refinaria de petróleo no Soyo, ou ainda o mega-projeto de energia fotovoltaica “Rural Elecrification Project”. O maior investimento é o Corredor do Lobito, que ligará esta cidade portuária ao “cinturão” do cobre na Zâmbia, e ainda às minas de cobalto no sul da RD do Congo. Este projeto terá um custo total estimado de 1600 milhões de US dólares e que tem contribuições, para além dos EUA, ainda da UE e do Banco Africano de Desenvolvimento. O objetivo é contrariar as intenções de domínio da China dentro da chamada “nova Rota da Seda” que visa abrir e/ou consolidar mercados ricos em commodities.

Sobre o autor

figurasnegocios

Deixe um comentário