Por: António Rodrigues (Jornalista)
Vou escrever para quem quer ententer e, por isso vai ler de cima a baixo, mas vou escrever também para os que não se darão ao trabalho de ler, mas percebem, do que vou tratar neste texto e de tudo.
A campanha positiva da selecção nacional de honras em futebol, despertou e produziu no País, assim como além fronteiras, um cortejo gigantesco de emoções, de solidariedade, fraternidade e de empatia que só o desporto em geral e o futebol em particular, são capazes de conseguir.
Nesse painel de nacionalismo e de patriotismo encontraram-se na roda os novos optimistas, os antigos pessimistas, desconhecidos, treinadores de bancada e políticos cujo conhecimento, crenças e deveres nunca deram sequer para saber um nome dos nossos Palancas Negras, tão pouco compreender ou valorizar a importância social do fenómeno desportivo que atinge o apogeu nas selecções nacionais, mas cuja cadeia inicia nos clubes, qual verdadeiro embrião do desenvolvimento desportivo de qualquer País real.
Qualquer que venha a ser o próximo resultado, já é garantido que Angola sairá deste CAN 2023 entre as oito melhores selecções do Continente africano, nesta prova, o que não deixa de ser um bom cartão de visitas ou de missão diplomática exitosa para uma Nação que precisa reencontrar-se com suas gentes e com as demais Nações respeitadas e prestigiadas no concerto das Nações Africanas.
Afinal o futebol é capaz de fortalecer o sentimento de orgulho de cerca de 35 milhões de angolanos e juntar nessa paixão todos os extratos sociais, crenças religiosas ou ideologias políticas que mais afastam, separam ou segregam do que unem.
Que, com mais essa descarga emocional o País não se esqueça que no desporto também estão os equilíbrios duma Pátria que não sobrevive só das suas fartas riquezas naturais, da parca produção ou do diminuto turismo.
Que este CAN traga a medida certa para não sermos nem 80 nem oito, que seja um termómetro capaz de medir a temperatura nos sítios certos para um diagnóstico real duma actividade popular e genética, mas que do ponto de vista sócio económico pode ser melhor e chegar a ser rentável se percebermos que além de investirmos na produção nacional é preciso dar a primazia aos clubes, num ciclo profissional a curto médio prazo, uma direcção que garanta ocupação com obrigação académica, desconto para a segurança social e um equilíbrio salarial obrigatório que não beneficie os afortunados e prejudique os que são obrigados a sacrifícios e de mão estendida para receber míseros Kwanzas de esmola mensal, quando do orçamento geral do estado continua a sair milhões para desperdiçar em despesas inventadas, ficando empobrecida a maioria que suporta a tarefa quase sempre ignorados, agravado com o facto de jogadores e treinadores estrangeiros, sem retorno fiscal de arrecadação de impostos para os cofres do Estado.
Entra ano e sai ano, muda-se a legislatura e a distração pacóvia parece eternizar no topo que mergulha noutros relvados naturais ou sintéticos principescamente.
Certo é que já vimos vitórias em campeonatos do Mundo, exemplo o de futebol com muletas ou amputados, já assistimos consagrações noutras modalidades individuais e colectivas, falta é ver um processo político e desportivo que permita encarar o desporto com pernas para andar, no presente e no futuro, porque do passado ficaram exemplos tão pequenos de passeatas, prémios monetários de responsabilidade governamental conforme a lei determina e contribuições esporádicas de particulares que oportunisticamente às vezes cheiram a “banga fucula” ou se desvalorizam na “graxa” para preservar o tacho.
Quer se goste de uns, quer não se goste, os exemplos da Academia do 1° de Agosto, as formigas do Cazenga, escola Macove assim como as escolas de futebol do Zango e Norberto de Castro, só para citar algumas, infelizmente todas em Luanda, tal como acções a favor do desporto nas comunidades e desporto escolar são com certeza, e em minha opinião, obras e projectos iniciados que deviam merecer apoios estatais fiscalizados e replicados pelo País.
A chegada aos quartos de final do CAN 2023 não pode só servir para demonstrar a força do futebol e todos nos perfilarmos, pelas redes sociais ou espaços de antena dos órgãos de comunicação social públicos ou privados.
Gostaria de poder ver e acreditar num projecto sólido, estruturado e executado com medidas e passos certos, para chegar a antepenúltima fase de uma competição, africana ou Mundial não fosse um oásis da boa ou má fase, mas que fosse sim um ciclo regular, como exemplos que abundam pelo planeta terra a fora.
A ver vamos depois do CAN, que venha a Nigéria.
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